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Navegantes da injustiça

Jadeilson Cruz

Graduado em Filosofia e graduando em Comunicação Social/Jornalismo, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

De acordo com uma pesquisa do IBGE divulgada em abril de 2021 e realizada no quarto trimestre de 2019, cerca de 78,3% dos brasileiros estão conectados à internet. As pessoas utilizam o espaço virtual para pesquisas, compras de produtos, comentários em portais de notícias, acesso a plataformas e muito mais.

Nem todos que navegam na internet cometem injustiças, mas muitos praticam atos condenáveis. Há pessoas que no convívio social aparentam ser adoráveis e respeitosas; porém, na web, criam perfis falsos e descarregam todo o ódio acumulado. Elas sentem prazer em humilhar e menosprezar os outros.

O maluco da internet pode ser um vizinho, um parente, um professor, um colega de trabalho ou qualquer outra pessoa que você conheça. O ambiente virtual é uma oportunidade para que muitos pairam aquilo que por anos foi gestado odiosamente.

No Livro II da obra A República, de Platão, o personagem Glauco faz referência ao mito: Anel de Giges, ao falar sobre a justiça e a injustiça. Giges era um pastor a serviço do rei da Lídia. Certo dia se apossou de um anel mágico e conquistou o poder da invisibilidade.

Seduziu a rainha e com ela conspirou contra o monarca Lídio, matou-o e assim obteve o poder.

Antes de encontrar o anel mágico, Giges, o Lídio era um homem comum, aparentemente bom e justo, que vivia pacatamente. Também participava mensalmente da assembleia dos pastores, que levantava informações sobre os rebanhos do rei. E quase não era notado pela sociedade.

Glauco é bastante claro ao sugerir que, para o ser humano, a injustiça é muito mais vantajosa do que a justiça. Desse modo, a comparação entre Giges e o internauta não é absurda. O indivíduo que anonimamente, na internet, humilha e menospreza o outro, liberta-se de algo sufocante. No dia a dia muita gente tem medo de se expor e externar os preconceitos que carrega dentro de si. Assim, um perfil anônimo é como um anel mágico que possibilita poderes extraordinários.

A web está empesteada de pessoas raivosas e dispostas a macular a honra alheia. Esses indivíduos atacam os outros simplesmente por não aceitarem o diferente, e assim, invisíveis e poderosos tramam contra os que consideram impuros e indignos de viver na mesma sociedade que eles.

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Qual a(o) vice ideal na chapa de Lula em 2022?

Depois da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, anulando todos os processos da Lava Jato que condenaram o ex-presidente Lula (PT), um novo cenário eleitoral está posto para 2020.

Elegível, Lula pode ser candidato a presidente ou cabo eleitoral de luxo de algum petista, como Fernando Haddad, além de outro nome a definir pelo partido.

Concretamente, o PT terá candidatura própria e resta saber qual será a(o) candidata(o) a vice-presidente. Assim, a palavra final será de Lula, sendo ele candidato ou não.

Diante das lições do passado e da conjuntura atual, alguns critérios para a definição da chapa devem ser colocados na balança:

1 – critério político-partidário: Lula deve buscar um(a) vice fora do campo democrático-popular; ou seja, tende a dialogar com as forças do centro-direita onde precisa ampliar as bases e o eleitorado, visto que já terá a fidelidade do setor progressista no eventual segundo turno polarizado contra a extrema direita;

2 – perfil da candidatura: o PT precisa de um(a) companheiro(a) de chapa da direita liberal para acalmar o mercado, garimpando aliança com um nome do Centrão menos degenerado, algo como uma nova edição de José Alencar;

3 – sinalização para o mercado: os critérios anteriores são imprescindíveis para uma declaração de paz ao mercado, de tal forma que o nome, o partido e o perfil sejam degustados pela elite econômica internacional que controla as instâncias de poder;

4 – aspecto geográfico: o(a) vice precisa ser as regiões Sudeste, Sul ou Centro-Oeste, onde o campo democrático-popular tem mais rejeição, visto que o Nordeste já é um território onde o petismo e o lulismo navegam com certa facilidade;

5 – gênero e religião: Lula sempre foi atento às questões de gênero, tanto que escolheu Dilma Roussef para sucedê-lo, devendo ficar atendo novamente a uma candidatura a vice feminina, no estilo da senadora Katia Abreu, vinculada ao agronegócio na região Centro-Oeste;

6 – religiosidade: a onda conservadora cresceu no eleitorado e tem papel fundamental nas decisões, a tal ponto que um nome originário do segmento evangélico possa ser colocado na balança para compor a chapa em 2022;

7 – densidade eleitoral: embora colocado em último lugar na lista dos critérios, “ter voto” é tudo em uma eleição, sendo um aspecto somatório de todos os anteriores mas sempre transversal na definição do nome, em qualquer cenário;

Os critérios listados são pensados na fotografia do cenário atual, mas podem ser modificados na dinâmica da conjuntura, sempre vulnerável aos fatos novos e aos movimentos internos e externos das forças políticas, econômicas e culturais em trânsito no espaço público.

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A FALTA QUE O CENSO FAZ

Luiz Eduardo Neves
Yuri Costa

Publicado originalmente no Caderno Opinião (O Estado do Maranhão) – 01/05/2021

Com grande atraso, o Governo Federal aprovou o orçamento para 2021 no último dia 22 de abril. Nele há cortes financeiros substanciais, que, dentre outras coisas, inviabiliza a realização do Censo Demográfico previsto para este ano. É importante lembrar que em 2019 a atual administração federal, por meio do Ministério da Economia, já havia proposto uma supressão de 25% nos recursos para a produção do recenseamento, originalmente orçado em R$ 3,2 bilhões, provocando grande mal estar entre os técnicos do IBGE, forçados a readequar métodos de coleta, como a diminuição drástica de perguntas nos questionários da pesquisa, aplicados nos mais de 70 milhões de domicílios do país.

A retirada de perguntas nos questionários em comparação a recenseamentos passados – o básico em 2010 teve 34 questões, agora possui 26; o de amostragem, na pesquisa anterior, tinha 112 quesitos, na proposta atual apenas 76 pontos – evidencia grave retrocesso no que tange às informações de variáveis coletadas, já que ocasionará uma ruptura das séries históricas, gerando grandes obstáculos na formulação de políticas públicas e na produção científica de um modo geral. A tendência é que apareçam verdadeiros pontos-cegos estatísticos, dificultando a interpretação e compreensão de fenômenos da realidade nacional.

O Censo Demográfico é o mais extenso, minucioso e completo levantamento de coleta de dados sobre os habitantes que residem no território brasileiro. Dele resultam importantes informações, expressas em forma de textos, gráficos, tabelas, quadros e mapas. O Censo traça um perfil socioeconômico da população, para que o poder público tenha à sua disposição os meios necessários para fomentar políticas destinadas a diversos setores, como os da saúde, educação, segurança, trabalho, habitação, direitos humanos, infraestrutura, assistência social e cultura.

É um trabalho de grandes proporções e envolve uma diversidade de cientistas em sua elaboração. Estatísticos, geógrafos, cartógrafos, economistas, sociólogos e historiadores são alguns dos especialistas que se debruçam sobre dados e informações múltiplas, como mortalidade, idade, renda, esperança de vida, escolarização, fecundidade, migrações, religião e etnia. A cada nova coleta, com periodicidade decenal desde 1940, foi possível perceber as muitas transformações do Brasil, algo viável graças ao aperfeiçoamento de métodos e técnicas de coleta e análise.

A atual gestão pública federal é adepta da racionalidade neoliberal, baseada no discurso da eficiência, liberdade e “enxugamento” do Estado, definidos agora por novas técnicas e competências com vistas na consolidação e expansão de formas mais avançadas do capitalismo no Brasil, reveladas através das políticas de austeridade, da retirada de direitos dos trabalhadores, do avanço do agronegócio em direção à Amazônia e da venda do patrimônio nacional a preços módicos para grandes empresas internacionais, sejam elas do ramo petrolífero, energético e/ou logístico, tudo em detrimento do interesse público e do bem estar da população.

Por isso, testemunha-se hoje uma ofensiva sem precedentes contra intelectuais vinculados ao pensamento crítico, como professores e cientistas, aqueles que produzem conhecimentos, fazem denúncias e buscam a verdade. Não verdades absolutas, mas aquelas passíveis de debates, críticas e, sobretudo, comprovação. O imenso quantitativo de dados gerados pelo Censo Demográfico é uma poderosa ferramenta para pesquisadores, pois auxilia na busca da compreensão e transformação da realidade brasileira, frequentemente camuflada, distorcida e manipulada por uma ideologia hegemônica, que comanda e interfere sistematicamente nos processos de subjetivação de variados grupos sociais.

A não realização do Censo em 2021 e a baixíssima expectativa de que ele aconteça no ano vindouro constituem um duro golpe na já debilitada afirmação da cidadania no Brasil, ainda mais em tempos de pandemia. Dito de outra forma, sem o Censo é impossível construir proposições que almejem combater problemas estruturais inerentes à sociedade brasileira, como as desigualdades socioeconômicas, expressas pela concentração de renda, agravamento da fome, aumento do desemprego e da informalidade, expansão de habitações precárias e da violência no campo e na cidade.

Luiz Eduardo Neves é geógrafo e professor da UFMA.

Yuri Costa é Historiador, Defensor Público Federal e professor da UEMA

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Agência Tambor celebra três anos com programa especial

Neste mês de abril de 2021, a Agência Tambor, de São Luís do Maranhão, completou três anos!

O projeto é parte de uma experiência acumulada, vindo de uma longa caminhada do jornalismo alternativo e da comunicação livre, popular e comunitária.

Nesse 1º de maio – Dia do Trabalhador – a Tambor estará lançando oficialmente seu canal no YouTube.

Nesse dia, teremos um programa especial, a partir das 10h.

O tema do programa será: *Comunicação, Democracia e Religião no Brasil*

Apesar de todo o imenso desassossego e de todas as perdas causadas pela pandemia, nós seguimos diariamente com a nossa ação.

E estamos convidando você para seguir conosco!

Participe!

Acompanhe nosso programa do dia 1º de maio!

E inscreva-se desde já no nosso canal!

Vamos seguir lutando pela democratização da comunicação no Brasil!

Saiba mais sobre a Tambor no www.agenciatambor.net.br

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1º de Maio: movimentos sociais arrecadam alimentos para doação às comunidades carentes

Diversos sindicatos, associações, ONGs e organizações de direitos humanos realizam a campanha “Comida para quem tem fome – 1º de Maio Solidário”, data alusiva ao Dia dos Trabalhadores e Trabalhadoras.

O objetivo é arrecadar alimentos para comunidades e grupos em situação de vulnerabilidade social. Uma parte será entregue ao Fórum de Segurança Alimentar e o restante será destinado a iniciativas diversas que serão posteriormente divulgadas.

A primeira etapa da Campanha acontece de 20 de abril a 5 de maio, de duas formas: doação de 1 kg de alimento não perecível ou de qualquer quantia em dinheiro (em conta bancária), que será revertida para o mesmo fim. 

Iniciativa reúne parceria de várias organizações pela solidariedade

“Vamos comemorar o Dia dos Trabalhadores e Trabalhadoras de forma especial na pandemia. Embora quase todas as categorias enfrentem muitas dificuldades e ataques nesse momento, sabemos que a solidariedade é irmã da luta. E estamos de mãos dadas para combater a fome e a injustiça social”, justificam as entidades promotoras da campanha.

COMO DOAR

A doação em alimentos pode ser entregue no Posto Central de Coleta, localizado no Solar Cultural da Terra – Rua Rio Branco nº 420, Centro, próximo à Praça Deodoro, ao lado da Caixa Econômica ou em outro posto de arrecadação oferecido pelas entidades promotoras da Ação, divulgados por cada uma delas.

Devido às medidas sanitárias, se o doador não quiser sair de casa para levar o alimento até o Solar Cultural da Terra, pode fazer a colaboração em dinheiro. Veja abaixo os dados bancários:

Banco do Brasil

Agência: 2972-6

Conta: 14.220-4

Cooperativa Central de Reforma Agrária no Estado do Maranhão/CCA-MA – CNPJ: 03.074.764.0001/10

Chave PIX celular: 98991051658 Qualquer dúvida, entre em contato com uma das entidades promotoras pelo celular ou pelo email: campanhacontraafome@gmail.com

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O rádio AM está morrendo: Galinho Maravilha, Roberto Fernandes e os silêncios …

Abril despedaçado no rádio do Maranhão. Em 21.04.2020 faleceu Roberto Fernandes. Pouco mais de um ano depois (28.04.2021) perdemos Carlos Henrique, o popular “Galinho Maravilha”. Ambos tombaram na batalha contra a covid19.

O sentido da perda é coletivo. Familiares, amigos, colegas de profissão, pesquisadores e a imensa audiência ficaram órfãos de duas vozes marcantes na comunicação de massa.

O “Programa do Galinho” foi uma das experiências mais longevas no rádio com o mesmo apresentador – Carlos Henrique – atuando durante 50 anos na rádio Educadora AM 560 Khz.

Memórias do Galinho Maravilha: uma lenda do rádio

Em meio século, das 6h às 7h da manhã, ele comandou um programa preservando quase todas as características do rádio antigo: música, recados e avisos para os ouvintes espalhados pelo Maranhão afora, utilidade pública e umas pitadas de humor.

Carlos Henrique manteve sua audiência fiel ao longo de toda uma vida. Qual o segredo de tanto sucesso? Muitos fatores podem ser listados, mas um deles era perceptível: a linguagem simples. Galinho conversava com seus ouvintes. Era espontâneo. Só isso.

Roda Viva e Ponto Final

Roberto Fernandes tinha uma carreira profissional consolidada no Jornalismo. Ele foi um dos criadores do formado de programa radiofônico aberto à participação dos ouvintes, quando ainda trabalhava na rádio Educadora AM, onde passou longa temporada ancorando o “Roda Viva”, antes de mudar para a Mirante AM.

Na época, a mudança de emissora foi motivo de comoção por parte da audiência. Muitos ouvintes chegaram a cogitar que Roberto Fernandes não teria a mesma liberdade editorial se trocasse a emissora católica progressista pela rádio sob controle da oligarquia liderada por José Sarney.

Mas Roberto soube manter equilíbrio profissional e brilhou também como âncora no “Ponto Final”, onde a sua voz ficou eternizada na crônica diária denominada “Mensagem do Dia”, transformada em podcast e exibida atualmente na abertura do programa.

Silêncio e migração

As partidas de Carlos Henrique (78 anos) e Roberto Fernandes (61 anos) ocorrem no curso de novas transformações no rádio. Os locutores emblemáticos estão indo embora junto com as emissoras AM, em fase de migração para a FM.

Das seis AM outrora sediadas em São Luís (Educadora 560 Khz, Mirante 600 Khz, Difusora 680 Khz, Capital 1180 Khz, Timbira 1290 Khz e São Luís 1340 Khz) restam apenas três: Educadora, Mirante e Timbira.

A Difusora migrou para a Nova FM e a São Luís agora é Massa FM. A rádio Capital foi desativada após a destruição dos transmissores.

O rádio AM chegou a ser homenageado pelo grupo carnavalesco Turma do Saco, em um samba muito criativo.

Alô! Alô! Bom dia!
Um aviso pro interior
No programa do “Galinho”
Carlos Henrique anunciou
Me traz um cavalo com cela e outro na cangalha
Pra levar a carga
Que a Turma do Saco mandou.

Ouça o samba completo aqui

A letra dessa música traduz o papel fundamental do rádio na integração geográfica e afetiva da sua audiência. Nos anos 1960 e 70, quando muitas pessoas saíram do continente para morar em São Luís, em busca de trabalho ou formação profissional, uma das formas de “falar” com os parentes do interior era através do rádio, por meio de recados, cartas e avisos locutados nas vozes das “lendas” como Roberto Fernandes e Carlos Henrique.

Daqui a alguns anos o rádio AM ficará apenas na memória dos seus protagonistas. A migração é uma realidade como tantas outras mudanças processadas nas comunicações ao longo do tempo.

No entanto, o rádio vai sobreviver de outras formas. Ele não morre, apenas muda, faz adaptações e ressignificações, incorpora as novas tecnologias e segue em frente.

Viva Roberto Fernandes! Viva o Galinho Maravilha!

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STF determina que Governo Federal realize Censo 2021

Nesta quarta-feira (28), o Supremo Tribunal Federal deferiu liminar que determina a adoção de medidas voltadas à realização do Censo 2021.

Por meio de suas redes sociais, o governador do Maranhão, Flávio Dino, comemorou a decisão do STF. “O Supremo acolheu a ação do Governo do Maranhão e determinou que o governo federal realize o Censo. Vitória do direito constitucional à informação, do respeito à ciência e da legalidade”, disse Dino.

Na última segunda-feira (26), o Ministério da Economia oficializou a informação de que o censo estaria cancelado. 

Para o Supremo, o censo, realizado historicamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), permite mapear as condições socioeconômicas de cada parte do Brasil. “E, então, o Executivo e o Legislativo elaboram, no âmbito do ente federado, políticas públicas visando implementar direitos fundamentais previstos na Constituição Federal”, diz o documento. 

O Estado do Maranhão ajuizou, contra a União e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ação cível originária, com pedido de tutela de urgência, visando sanar irregularidades ante omissão em formalizar atos administrativos e alocar recursos para a realização do censo demográfico no ano de 2021.

O estado afirma legitimidade e interesse, aludindo à perda de receitas tributárias e à dificuldade, em razão da falta de dados, de formular e executar políticas públicas.

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Livro reúne obra do escritor Astolfo Marques

Produção do professor Matheus Gato traz os contos de Astolfo Marques (1876-1918), autor crítico da Abolição da escravidão e abre caminho para uma nova compreensão do 13 de Maio no Brasil

Entre os primeiros lançamentos da editora Fósforo, está o inédito livro O Treze de Maio: e outras estórias do pós-Abolição, de Astolfo Marques, organizado por Matheus Gato. A obra confronta dois imaginários opostos e persistentes sobre os significados do 13 de Maio no Brasil. De um lado, a velha e influente narrativa que concebe o fim da escravidão como uma espécie de dádiva da Princesa Isabel, anulando o protagonismo das camadas populares e dos movimentos sociais, para edulcorar a ação do estado e das elites dirigentes. Mas também questiona a narrativa da Abolição enquanto “farsa” e “mentira” que constituiu a política cultural dos movimentos negros brasileiros desde a segunda metade do século 20.

Matheus Gato

Astolfo Marques fez literatura a partir da matéria viva de uma República jovem e da derrocada dos sonhos pós-Abolição ao escrever na virada do século 19 para o 20, na periferia do Brasil. Uma literatura daqueles que ansiavam pela liberdade e encontraram um Brasil desigual e hierárquico. Homem negro e livre de um tempo em que libertos e escravizados conviviam em todo o país, Astolfo escreveu histórias capazes de flagrar o momento e seu caráter cambiante sem poupar contradições e complexidades

O Treze de Maio reúne uma seleção de 17 narrativas breves concentrada no retrato das reverberações do fim da escravatura em uma região especialmente vitimada pela brutalidade, como foi o Maranhão. Publicada na tinta fresca da imprensa nacional, a ficção de Astolfo chegou a ser entendida pela crítica de seus dias como um mero espelho irrefletido dos tempos. E, não à toa, por pouco não foi completamente apagada, permanecendo restrita aos arquivos históricos da imprensa maranhense até que o sociólogo e pesquisador Matheus Gato resgatasse e reunisse pela primeira vez os contos desse grande escritor brasileiro, cujo humor e sagacidade machadianos já deveriam há tempos integrar nosso repertório literário, ou como diz o escritor Paulo Lins, que assina o prefácio dessa edição, um autor que “deve figurar como um clássico”.
 
Os personagens de Astolfo empregam a língua falada, a língua viva, maranhense e brasileira. Mostram-nos, em suas andanças narrativas, um escritor interessado nas “alegrias, frustrações e desafios da vida cotidiana da gente negra e pobre”, mulheres que fazem da praça pública sua casa e domínio, operários nordestinos e militantes abolicionistas que desejam, mais que tudo, a quebra de estruturas, “pessoas para quem a cidadania também se exerce na festa”, como escreve Matheus Gato, “quando a música e a noite tomam o lugar das rotinas do trabalho diário, nos chinfrins e pagodes dos arrabaldes, mas também naqueles momentos de devoção e de fé”.

Em seu retrato pulsante da vida anônima, Astolfo Marques denuncia um Brasil que flerta, em discurso e ação, com uma república urbana e importada, mas que abriga em sua cartografia humana as marcas e as consequências de um passado que ainda se faz presente.

Sobre o autor:
Raul Astolfo Marques nasceu em São Luís do Maranhão em 1876 e morreu em 1918 na mesma cidade. Escritor, jornalista e tradutor, publicou contos e crônicas nos principais periódicos maranhenses à época e os livros A vida maranhense (1905), De São Luís a Teresina (1906), Natal (quadros) (1908) e A nova aurora (1913). Autodidata, trabalhou como contínuo na Biblioteca Pública do Maranhão, foi um dos fundadores do grupo de intelectuais Oficina dos Novos, que deu origem à Academia Maranhense de Letras, da qual foi membro.

Sobre o organizador:
Matheus Gato nasceu em Campinas, São Paulo, em 1983, e viveu até a juventude em São Luís do Maranhão. Em 2002, ingressou na Universidade Federal do Maranhão onde se dedicou à mobilização estudantil por ações afirmativas e políticas de cotas. Com doutorado e pós-doutorado pela Universidade de São Paulo, foi visiting fellow no Hutchins Center for African and African American Studies da Universidade Harvard em 2017 e 2018. É professor do Departamento de Sociologia da Unicamp, pesquisador do Núcleo Afro\Cebrap e coordenador do BITITA: Núcleo de Estudos Carolina de Jesus (IFCH-Unicamp). É autor do livro O Massacre de Libertos: sobre raça e república no Brasil (Perspectiva).

Ficha técnica
Título: O Treze de Maio: e outras estórias do pós-Abolição
Autor: Astolfo Marques
Organização: Matheus Gato
Prefácio: Paulo Lins
Número de páginas: 208pp
Formato: 13,5 x 20 cm
Acabamento: brochura
ISBN: 978-65-89733-04-1
ISBN Ebook: 978-65-89733-05-8
Preço: R$54,90
Preço ebook: R$34,90
Data de livraria: 13/05/2021
Editora: Fósforo

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Justiça Federal manda suspender reunião do Conselho Universitário convocada irregularmente para mudar o Estatuto e o Regimento Geral da UFMA

Uma liminar da 13ª Vara Federal Cível, em ação ajuizada pela Apruma (Associação dos Professores da Universidade Federal do Maranhão), suspendeu a reunião do Conselho Universitário (Consun) que seria realizada terça-feira (27) com o objetivo de alterar o Estatuto e o Regimento Geral da instituição.

No seu despacho, o juiz Juiz Federal Substituto da 2ª Vara, respondendo pela 13ª Vara, Pedro Alves Dimas Junior, deferiu o pedido da Apruma para suspender a convocatória e cancelar a realização da reunião do Consun prevista para 27 de abril.

“Determino, também, à UFMA que se abstenha de remarcar a referida sessão extraordinária antes de corrigir as irregularidades apontadas”, frisou o magistrado.

Na ação, a assessoria jurídica da Apruma sustentou que a tentativa de fazer mudanças estatutárias e regimentais não permitiu tempo viável para o debate na comunidade universitária, pois as propostas foram apresentadas com apenas uma semana de antecedência.

Saiba mais aqui

Os advogados argumentaram ainda que as mudanças pretendidas para o Estatuto e o Regimento Geral não poderiam ser apreciadas na mesma reunião porque a convocação para a alteração de ambos os documentos em apenas uma sessão viola os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

A assessoria jurídica do sindicato amparou o seu pedido no fato de que o processo administrativo de alteração do regimento geral corria em sigilo, afrontando o princípio da publicidade; e, logo no art. 1º da proposta de mudança estatutária, “há previsão de alteração da UFMA para fundação de direito privado, enquanto o Estatuto atual trata a UFMA como fundação de direito público.”

O pedido foi baseado também no Art. 9º da Lei 5.152/1966, que autorizou a instituição da UFMA, determinando que o Estatuto da Universidade deve ser submetido à apreciação do Conselho Federal da Educação para fins de aprovação do Poder Executivo.

Antes da divulgação da decisão judicial, houve um recuo da Administração Superior da UFMA. No final da tarde de hoje, o Gabinete da Reitoria da UFMA divulgou uma nota oficial informando que a reunião do Conselho Universitário está adiada.

A nota pode ser interpretada como um tipo de recuo tático da Reitoria, que teria tomado conhecimento da decisão judicial e se precaveu para não ser surpreendida por uma ordem para cancelar a reunião do Consun.

Houve, portanto, duas vitórias da comunidade universitária: política e jurídica.

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UFMA: mobilização da comunidade universitária adia a reunião do Consun

Uma nota oficial do Gabinete da Reitoria da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), distribuída na tarde de hoje (26), informa que a reunião do Conselho Universitário (Consun) convocada para terça-feira (27) está adiada.

“Por solicitação de membros do CONSUN, em especial diretores de centro, de mais tempo para consultar, analisar e discutir os documentos, resolve adiar a 111ª Sessão Extraordinária do Conselho Universitário/CONSUN, marcada para o dia 27 de abril, às 8 horas, na Plataforma Google Meet”, esclareceu a UFMA.

Segundo a nota, a Reitoria “estabelecerá cronograma e metodologia que atendam ao processo de consulta aos documentos e a sua consequente deliberação coletiva, em nova reunião do CONSUN, a ser oportunamente marcada.”

A reunião iria apreciar mudanças profundas no Estatuto e no Regimento Geral da UFMA, sem consulta prévia aos professores, estudantes e técnicos administrativos.

As propostas de alteração estatutária e regimental não foram submetidas aos órgãos colegiados da Universidade e seriam votadas intempestivamente na reunião dos conselheiros.

Ao tomar conhecimento das alterações, os três segmentos da UFMA questionaram o método imposto pela Reitoria para mudar o Estatuto e o Regimento Geral à revelia das assembleias dos cursos, dos conselhos de centro e dos fóruns de estudantes e técnicos administrativos.

A Associação dos Professores da UFMA (Apruma), seção sindical do Andes, mobilizou a categoria para questionar a forma como a Administração Superior tentava impor mudanças na gestão da instituição. Em nota distribuída nos meios de comunicação, a entidade afirmou que as alterações propostas “tramitaram em sigilo e sem respaldo jurídico”, constituindo “uma afronta à autonomia universitária.”

“Em tempos de aulas remotas, mortes de servidores e estudantes, as propostas alteram o caráter público e estatal da UFMA, centralizam no reitor todas as decisões, que passa a ter maior poder que o Conselho Universitário. A prioridade, agora, é a vida e a luta por recursos públicos para a Educação Pública, que sofreu corte de 3,8 bilhões de reais”, enfatizou a Apruma.

A entidade seguirá em mobilização para que qualquer mudança na gestão da UFMA seja feita com base no diálogo, ouvindo todas as partes interessadas, assegurando os princípios da democracia, transparência e autonomia universitária.