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Dia do Ouvinte de Rádio é comemorado hoje

21 de setembro é o Dia Estadual do Ouvinte de Rádio no Maranhão, instituído pela Lei nº 8.925, publicada no Diário Oficial do Estado em 12 de janeiro de 2009, sancionada pelo então governador Jackson Lago.

A criação da efeméride foi uma iniciativa da Sociedade dos Ouvintes Maranhenses de Rádio (Somar), na gestão do saudoso João Carlos Silva Gomes.

O projeto que instituiu a data foi apresentado pelo deputado estadual Pavão Filho.

Lei do Dia do Ouvinte foi sancionada na gestão Jackson Lago

De acordo com a justificativa, no Dia Estadual do Ouvinte de Rádio o Governo do Maranhão, através da Secretaria de Estado de Comunicação Social, em parceria com entidades representativas da categoria, deve promover círculos de debates, fóruns, seminários, entre outras atividades.

Quem está na foto?

A imagem ilustrativa é dos familiares e vizinhos do servidor da Caema e ativista socioambiental Marcos Silva (ex-PSTU).

O registro é de 1969, no povoado Baixa da Negra, em Buriti Corrente, no município de Caxias, região leste do Maranhão.

O pai e a mãe de Marcos Silva seguram filhos no colo.

Já Marcos Silva, à época com 3 anos de idade, está sentado no banquinho segurando um aparelho de rádio.

Os demais são vizinhos.

A magia do rádio, ainda vivo em outras mídias sonoras (podcast por exemplo), está na memória e nas atualizações das diversas formas de consumir os meios de comunicação.

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Rádio e agricultura familiar: cultivo de hortaliças muda a realidade do povoado Flexeira, nos Lençóis Maranhenses

Rádio comunitária como indutora do desenvolvimento local. Esse objetivo está sendo alcançado através da parceria entre a Secretaria de Estado da Agricultura do Maranhão (Sagrima) e a Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço). A iniciativa vem mudando a realidade do povoado Flexeira, em Humberto de Campos, na região dos Lençóis Maranhenses.

Flexeira é pioneiro na implantação do projeto “Mulheres semeando quintais”, que consiste na produção de hortaliças nas áreas livres dos fundos das casas do povoado.

Os quintais que eram apenas terrenos baldios agora produzem alface, tomate, cebolinha, coentro, cheiro verde, quiabo, entre outros. O projeto já funciona em 17 quintais. Toda a produção é aproveitada para consumo e venda do excedente pelas famílias.

A Sagrima viabilizou kits de irrigação e assistência técnica para orientar todo o processo de preparo da terra, manejo das sementes, plantio e monitoramento dos cultivos.

A ideia de cultivar os quintais partiu do diretor da Abraço Maranhão, engenheiro Fernando Cesar Moraes, em diálogo com a rádio comunitária Mapari 87.9 FM, sediada em Flexeira. A emissora coordenada pela professora Lauri e Erick Viegas abraçou a ideia e foi fundamental no trabalho da comunicação visando sensibilizar a comunidade para aderir ao projeto (veja vídeo abaixo).

Dona Licinha partilha a alegria do projeto com a professora Lauri e Erick Viegas, da rádio comunitária Mapari FM

A proposta foi acatada e aperfeiçoada na Sagrima, à época sob a gestão do secretário Luiz Henrique Lula. “Percebemos o potencial da parceria envolvendo a produção de alimentos e a mobilização local através da rádio comunitária e logo designamos a nossa equipe para acompanhar o projeto, viabilizando todas as condições materiais e assistência técnica”, destacou Lula.

O engenheiro Moraes sonha em multiplicar o projeto para outras emissoras comunitárias e criar uma cadeia de produção de alimentos saudáveis, gerando renda e segurança alimentar para milhares de famílias no Maranhão.

Veja depoimentos de integrantes do projeto “Mulheres semeando quintais”

“Ver as famílias e especialmente as mulheres fazendo sementeiras, canteiros, plantando, colhendo e vendendo o excedente dá uma alegria danada e a certeza de que para combater a pobreza, a insegurança alimentar, gerar trabalho, renda e dignidade para o povo das comunidades rurais, precisamos de tão pouco”, comemorou José de Mesquita, coordenador da equipe técnica da Sagrima.

Imagem destacada / Pastor Teorodo, entusiasta do projeto, colhe alface em seu quintal

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Carta do II Seminário Comunicação e Poder no Maranhão

Nós, organizações que participamos do II Seminário de Comunicação e Poder no Maranhão, dias 27 e 28 de julho de 2022, reafirmamos a importância do debate e da ação em torno da democratização da mídia. Trata-se de um tema fundamental no Brasil, gerando dois eventos em nosso estado, num intervalo de cinco anos.

E estamos convictos da necessidade de começar a pensar, desde já, num terceiro seminário de Comunicação e Poder no Maranhão, a ser realizado no segundo semestre de 2023. 

Ao fazer o debate, levamos em conta que o Brasil hoje é marcado por uma extrema-direita que avançou, assumindo um protagonismo num campo político conservador.  Esse avanço se deu por uma estratégia de comunicação que, a partir de modernas tecnologias e muito dinheiro investido, vem disseminando violência, incluindo ódios e mentiras.  

É uma comunicação que mobiliza parte da sociedade brasileira, atingindo questões fundamentais,  passando por todo tipo de  ataque às possibilidades democráticas, incluindo as tentativas de apagamento de uma memória dolorosa da nossa história.

Essa comunicação de extrema direita ganha força num país marcado por um cartel de comunicação empresarial, com grandes emissoras de TV, que são de direita, movidas por interesses econômicos dos ricos, que defendem privilégios, em clara oposição as pautas de cunho popular.  

E ao tratar de Comunicação e Poder, particularmente no Maranhão, apontamos algumas prioridades: 

1 – Organização e consolidação de projetos jornalísticos que possam produzir conteúdos comprometidos com a classe trabalhadora, com justiça social, direitos humanos, igualdade racial,  gênero e orientação sexual, preservação do meio ambiente e reforma agrária. Isso significa ter referências sólidas de uma comunicação contra-hegemonica.    

2 – Seguir investindo e tentando ampliar o trabalho de formação política, com a produção coletiva de conhecimento e troca de experiências, na perspectiva de formar novos e antigos comunicadores populares, para ocupação de diferentes espaços.

3 – Estimular a comunicação oriunda das periferias, dos povos e comunidades tradicionais, comprometida com a diversidade da classe trabalhadora, das lutas por terra-território e bem viver, a partir de suas múltiplas organizações, movimentos e coletivos. 

4 – Avançar na ampliação de uma rede de solidariedade, com ações conjuntas de comunicação.

5 – Democratizar o orçamento público. Comunicação é um direito. E é inaceitável que o suado dinheiro do contribuinte, de um povo empobrecido, seja quase que exclusivamente destinado aos cofres de poderosos grupos comerciais, que já são naturalmente financiados pelo agronegócio, bancos privados, mineração, grandes empresas. O investimento público tem que garantir liberdade de expressão, pluralidade de vozes, possibilitando a quebra do silêncio diante das diferentes formas de violência, rotineiramente promovidas por elites econômicas, estruturas oligárquicas, latifúndio, agronegócio.

Núcleo Piratininga de Comunicação (RJ)

Agência Tambor

Associacão Brasileira de Rádios Comunitárias do Maranhão — ABRAÇO-MA

Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão

Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultoras e Agricultores Familiares do Maranhão – FETAEMA

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Sindicato dos Bancários do Maranhão

Fóruns e Redes de Cidadania do Maranhão

Sindicato dos Urbanitários do Maranhão

Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias do Maranhão Pará e Tocantins – STEFEM

Associação Nacional de História – Sessão Maranhão

Caritas Brasileira Regional Maranhão

Movimento pela Soberania Popular na Mineração

Rede de Agroecologia do Maranhão – RAMA

Forum Maranhense de Mulheres

Carabina Filmes

Levante Popular da Juventude

Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa do Maranhão – Sindisalem

APRUMA – Seção Sindical do ANDES-SN

Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado do Maranhão – SINDSEP/MA

Sindicato dos Servidores do Judiciário Federal e do MPU no Maranhão – SINTRAJUF

Sindicato dos Profissionais do Magistério da Rede Pública Municipal de São Luís – Sindeducação

Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência no Estado do Maranhão – SINTSPREV

Central Única dos Trabalhadores (CUT-MA)

Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-MA)

CSP Conlutas

Movimento de Defesa da Ilha

São Luís, 28 de julho de 2022.

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Ana Jansen: a rainha em carne e osso e as lendas sobre a poderosa líder política do Maranhão no século 19

Uma versão sintética dessa reportagem foi publicada no TAB Uol.

Motivado por um ódio incomensurável, o comendador e negociante Antonio José Meireles importou da Inglaterra centenas de penicos de louça, tendo ao fundo a fotografia da sua maior desafeta, de tal modo que os usuários pudessem defecar e urinar sobre a imagem dela.

A venda dos urinóis no armazém do comendador foi um sucesso. Entusiasmado com a empreitada, Meireles só não contava com a peripécia da sua algoz. Ela própria acionou emissários para comprar todos os penicos. E quando não restava nenhum exemplar, mandou um grupo de 30 escravos à porta do comendador e, armados com potentosas estacas de pau, estraçalharam os urinóis até virarem pó.

O episódio real, contado na obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello, é um entre tantos conflitos em que Ana Joaquina Jansen Pereira (1787 – 1869) triturou adversários até a humilhação.

Donana Jansen, Dona Ana Jansen, Donana ou Nha Jança, batizada Ana Joaquina de Castro Jansen, nasceu em São Luís e tinha ascendência nobre de uma família que entrou em decadência.

Herança, prole e poder

Pobre, já era mãe solteira antes do primeiro relacionamento com o coronel português Isidoro Rodrigues Pereira – o homem mais rico do Maranhão. Com ele, na condição de amante, teve cinco filhos antes de casar e mais uma depois do matrimônio.

Quando o coronel faleceu, deixou para Ana Jansen um grandioso patrimônio em terras, dinheiro, imóveis e escravos. Afortunada, ela virou uma personagem central no cenário político e econômico do século 19 na Província do Maranhão.

Habilidosa nos negócios, soube multiplicar a riqueza e associar o dinheiro à política, impulsionando sua família ao núcleo da elite local. Durante quase 40 anos exerceu influência total sobre escravos, desembargadores, chefes de polícia, cobradores de impostos, intelectuais, jornalistas e parlamentares.

Imponente sobrado era o QG da matrona. Foto: Adriano Almeida

O local privilegiado para a tomada de decisões era o suntuoso palacete da rua Grande, no Centro de São Luís, em eventos regados a música e banquetes. “Dia e noite ferviam ali dentro as tricas políticas e os enredos privados da terra”, registrou Jerônimo de Viveiros (p. 80) na obra “Ana Jansen, Rainha do Maranhão”.

Conservadora na política, subversiva nos costumes

Na memória coletiva, o imaginário sobre Ana Jansen está povoado de relatos sobre uma mulher perversa que mandava torturar e matar seus escravos e cometia atrocidades contra os seus inimigos.

A doutora em História Econômica (USP), Marize Helena de Campos, compreende Ana Jansen além do maniqueísmo. “Ela atravessa a história como uma mulher que desafiou regras, lugares, modelos e discursos. Considero um erro qualificá-la como vilã ou heroína. Há que se considerar o contexto em que Ana Jansen viveu e vivenciou seu poder, ideias e práticas”, enquadra.

Ao ficar viúva, antes dos 30 anos de idade, foi companheira do desembargador Francisco Carneiro Pinto Vieira de Melo, gerando mais quatro filhos, sem casar.

Do segundo casamento, com um negociante sediado em Belém do Pará, Antonio Xavier da Silva Leite, não teve descendentes.

Para a doutora em História e professora da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), Elizabeth Abrantes, a liderança política e o poder econômico de Ana Jansen incomodavam os homens no contexto de uma sociedade patriarcal, misógina e escravista. “Ela exerce papéis não previstos para o sexo feminino e por isso vai ter muitos opositores, sendo alvo de uma série de boatos, intrigas, calúnias e difamações que vão contribuir para a construção do imaginário negativo que se tem até hoje”, explica.

As lendas e a política real

Não há registros de processos judiciais contra Ana Jansen por morte ou tortura de escravos, diferente do rumoroso julgamento da baronesa Ana Rosa Viana Ribeiro, acusada de torturar e matar um menino negro de oito anos de idade, em 1876.

“As violências do escravismo são injustificáveis, embora fossem parte do sistema. Por isso, algumas histórias atribuídas a Ana Jansen sequer têm racionalidade, como por exemplo mandar matar e jogar os escravos em um poço. Ela era uma comerciante e empresária muito perspicaz e jamais iria ‘jogar dinheiro fora’ ou desperdiçar um patrimônio”, pondera Abrantes.

Computa-se à influência de Ana Jansen a decisão do coronel Isidoro Pereira de doar 2.000$000 (dois contos de réis) à Santa Casa de Misericórdia para criar a Roda dos Enjeitados ou Casa da Roda, projeto filantrópico de acolhida dos bebês de mulheres pobres ou que não podiam fazer o reconhecimento da maternidade porque seriam concebidas fora do casamento.

No Brasil do século 19 só havia dos partidos: o liberal Bem-te-vi e o conservador Cabano.  À época, para alcançar os seus objetivos, as elites lançavam mão dos métodos usuais em uma província escravocrata do Brasil imperial, quando o poder era exercido mediante chantagens, coações, violência física, fraudes eleitorais e corrupção generalizada.

Uma frustração marcante

Embora fosse fiel ao império, a matrona sofreu um revés na sua maior pretensão.

Acostumada a colecionar vitórias contra políticos, homens ricos e intelectuais, Ana Jansen engoliu uma derrota amarga quando teve negado o pedido para obter o título de Baronesa de Santo Antônio junto ao imperador D. Pedro II, em 1843. Entre os argumentos e documentação apresentados no pleito, ela demonstrou a sua atuação para sufocar os rebeldes da Guerra da Balaiada (1838 -1841), o maior levante popular da Província do Maranhão, e a contribuição junto às forças do império na Revolução Farroupilha (1835-1845), no sul do Brasil.

Ela não foi baronesa de direito, mas de fato era a “Rainha do Maranhão”, exercendo o matriarcado em uma sociedade patriarcal.

Entre as suas vítimas constou ainda o político e intelectual Candido Mendes de Almeida, tirado à força de um navio quando tentava largar para o Rio de Janeiro, onde tomaria posse na Assembleia Geral Legislativa. Ele fora ainda desafiado para um duelo à bala pelo filho da matrona, o comandante da Guarda Nacional Isidoro Jansen Pereira. Mendes compareceu ao desafio, mas o adversário, ausente, mandou um recado avisando que o conflito seria resolvido “no cacete” em outro momento.

A vida transborda para os jornais

Em 1843 ela retaliou o ilustrado escritor e professor de grego Francisco Sotero dos Reis, demitindo-o da direção do tradicional Liceu Maranhense. Reis era articulista do periódico “A Revista”, gazeta cabana, adversário do jornal “O Guajajara”, controlado pela família de Ana Jansen.

Não satisfeita, estendeu a perseguição a Nunes Cascais, dono da tipografia onde “A Revista” era impressa. Ele foi sabotado por diversos métodos até ser despejado do sobrado onde funcionava a oficina do jornal. “Na época, era desgraça ser parente de Cascais”, registrou Viveiros (p.42)

Na percepção do doutor em História (Universidade Federal Fluminense) e professor da Universidade Estadual do Maranhão, Marcelo Cheche Galves, os jornais da época representavam a imprensa artesanal e pré-capitalista. “As publicações viviam da política, não se pagavam com as tiragens ou anúncios e tinham vida efêmera. Eram engajados e defendiam abertamente as suas posições sem a preocupação com a ideia de neutralidade”, especifica.

A edição de 6 de junho de 1840 o jornal “O Guajajara” estampava na primeira página: “…na sua decima taquarada fez huma fala energica contra os dezordeiros e insurreição dos pretos, e expendendo fortes razões, concluio sem rebuço: Guerra e mais guerra, aos rebeldes e pretos levantados.”

O alvo do ataque eram os “balaios”, referência ao apelido de um dos líderes da Guerra da Balaiada, Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, artesão que fabricava um tipo de cesto de palha denominado “balaio”.

A guerra da água

A “Rainha do Maranhão” monopolizava a distribuição de água na capital da província, em sociedade com o empresário espanhol Santos José da Cunha. Seus escravos coletavam nas fontes ou chafarizes e vendiam o líquido de casa em casa, em pipas sobre carroças puxadas a burro.

Na época retornava de Paris o recém-formado engenheiro Raimundo Teixeira Mendes e logo vislumbrou um projeto de canalização da água em São Luís. Seu empreendimento visava ao lucro e oferecer o serviço mais ágil e higiênico.

Diante da ameaça do concorrente, Ana Jansen armou o combate, narrado por Viveiros: “Ainda não tinham decorridos oito dias da inauguração da Companhia de Águas do Rio Anil, e aparecia boiando nas águas do depósito do Campo do Ourique um gato morto, já em putrefação. Os negros da Rainha espalhavam a notícia – gato morto na caixa d’água -, que o povo repetia pelas ruas da cidade.” (p. 49).

Chafariz no Palácio Cristo Rei, no Largo dos Amores, remonta à época em que não havia água encanada na cidade. Foto: Adriano Almeida.

Depois do gato sucederam outras sabotagens. Enquanto a água encanada faltava, as carroças seguiram abastecendo a população por mais 15 anos. Teixeira Mendes faleceu e o empreendimento faliu. Só em 1874 uma nova empresa assumiu o projeto e conseguiu distribuir água encanada para a cidade.

E quando a serpente acordar…

Ana Joaquina Jansen Pereira Leite morreu aos 82 anos, em 11 de abril de 1869. Foi sepultada no cemitério dos Passos (hoje Estádio Municipal Nhozinho Santos). Deixou em testamento a recomendação para celebrarem 200 missas de corpo presente. Sua vida marcante foi adaptada para o teatro na peça “Ana do Maranhão”, da escritora Lenita Estrela de Sá, e ganhou versões para leitores infantis dos autores Beto Nicácio e Wilson Marques.

A serpente na Lagoa da Jansen é uma das marcas da cidade. Foto: Adriano Almeida

Dos seus 11 filhos, dez foram concebidos sem casamento. A prole computa ainda 53 netos e 14 bisnetos. Uma das suas descendentes, Terezinha Jansen, destacou-se no cenário da cultura popular do Maranhão.

Entre fatos, lendas e mistérios, a Rainha do Maranhão vive no imaginário da população. Uma das fabulosas histórias remete à “carruagem fantasma” de Ana Jansen, que altas horas da noite parte de um cemitério puxada por mulas sem cabeça, guiada por um cocheiro negro decapitado. Esse arquétipo seria a expiação dos pecados da matrona pelas supostas maldades praticadas em vida.

Centro Histórico de São Luís é cenário de lendas. Foto: Adriano Almeida

Na famosa Lagoa da Jansen, cartão postal de São Luís, flutua a grandiosa escultura de 74 metros da “serpente encantada”, ilustrando uma cobra gigante que cresce ao longo dos séculos nos subterrâneos da cidade. No imaginário das lendas, a serpente remete ao sebastianismo.

O rei de Portugal, Dom Sebastião, desaparecido em 1578, no Marrocos, ressurge nas noites de lua cheia na forma de um touro encantado com uma estrela na testa, cavalgando sobre as dunas da Ilha dos Lençóis, em Cururupu, a 200 km da costa ocidental do Maranhão. Se alguém tocar na estrela, a serpente acorda em São Luís e a cidade desaparece tragada pelas águas.

Presente na obra do padre Antônio Vieira, o sebastianismo transborda para os cantos ritualísticos do tambor de mina (ouça aqui):

Rei, ê Rei
Rei Sebastião,
Rei, ê Rei
Rei Sebastião,

Quem desencantar Lençóis
Vai abaixo o Maranhão

IMAGEM DESTACADA: Imagem do livro ‘Perfil de Ana Jansen’ (1985), de Waldemar Santos / Imagem: Reprodução.

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O sermão de Flavio Dino a Carlos Brandão

O governador do Maranhão recentemente empossado, Carlos Brandão, só não faz uma boa gestão se não quiser. Conselhos não lhe faltaram, na memorável noite de 31 de março de 2022, durante o espetáculo de despedida do governador Flávio Dino, estrela no palco do Teatro Arthur Azevedo.

Muitas singularidades marcaram o discurso do então governador, em especial as recomendações e as lições transmitidas ao gestor que assume o Palácio dos Leões.

Como toda peça retórica, o discurso foi ornado com os fins de agradar, comover e convencer, tais quais as provas ética, patética e lógica, conforme ensinam os doutos na arte de pregar.

Naquela platéia lotada, quase todos estavam agraciados e comovidos, mas nem todos convencidos.

Um ouvinte, em especial, acomodado confortavelmente na primeira fila da platéia, precisava escutar o sermão com bastante acuidade sonora e visual – Carlos Brandão.

Flávio Dino caprichou na prova lógica do sermão porque ele se dirigia a uma pessoa muito diferente. Carlos Brandão é um típico político de direita, conservador, feito de matéria estranha ao barro teórico, à militância e às práticas políticas vinculadas aos ideais iluministas.

https://www.youtube.com/watch?v=kgvXJ4n1DyM
O discurso do governador Flavio Dino está
disponível no tempo 2:50:00 do vídeo.

Daí o esforço do governador para convencer o seu interlocutor privilegiado.

Eivadas de passagens bíblicas, duas passagens do discurso merecem ênfase.

A primeira referenciou o Sermão da Montanha e as Bem-Aventuranças, contendo o núcleo duro da pregação, quando Flávio Dino disse para Carlos Brandão olhar nos olhos do povo e abrir o coração para transformar a política em uma ação profundamente amorosa.

Em outras palavras, recomendou a prática dos princípios da justiça, amar o próximo como a si mesmo, honestidade, paz, misericórdia, caridade, perdão e não servir a dois senhores.

Assim está escrito no Sermão da Montanha: “Ninguém pode servir a dois senhores porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro” (Mateus: 6:24)

Cuidado com o diabo!

A segunda ênfase, conectada à primeira, foi uma advertência e diz respeito aos residentes exóticos do Palácio dos Leões. “No palácio habitam muitos seres que estão lá há séculos. Os piores são os fantasmas que arrastam correntes da escravidão do povo. Não pode deixar os fantasmas tomarem conta, porque eles estão lá para isso, estão lá para tentar. O diabo existe, fortíssimo, e costuma soprar em ouvido de governador, prefeito e presidente”, advertiu Dino.

E completou: “[…] o diabo fica por acolá dizendo ‘tu é o cara, tu é poderoso, olha como tu é bom’. Aí a pessoa começa a acreditar e quando ele olhar já não é mais ele mesmo. Ele se tornou no seguidor do mal e deixou de ser um servidor público, deixou de ser gente (pessoa).”

Quando tomou posse no primeiro mandato, em 1º de janeiro de 2015, Flavio Dino proferiu um Sermão aos Leões, dirigindo-se às enigmáticas e impolutas esculturas guardiãs do palácio do governo.

Leia aqui ou abaixo o meu artigo sobre o Sermão aos Leões

Passados 7 anos e três meses, em dois mandatos consecutivos, ele se despede sugerindo a continuidade do caminho, das ações e das práticas por ele implantadas no Maranhão.

Carlos Brandão está devidamente alertado sobre os fantasmas e os demônios, inquilinos perpétuos do Palácio dos Leões. “As tentações são grandes, mas o bem vence o mal”, sacramentou Dino.

Padre Antonio Vieira, no Sermão da Sexagésima, ensina que a eficácia do sermão está na capacidade de comover os ouvintes, levando-os à reflexão, mobilizando suas paixões com o objetivo de convertê-los:

“De maneira que o frutificar não se ajunta com o gostar, senão com o padecer; frutifiquemos nós, e tenham eles paciência. A pregação que frutifica, a pregação que aproveita, não é aquela que dá gosto ao ouvinte, é aquela que lhe dá pena. Quando o ouvinte a cada palavra do pregador treme; quando cada palavra do pregador é um torcedor para o coração do ouvinte; quando o ouvinte vai do sermão para casa confuso e atônito, sem saber parte de si, então é a preparação qual convém, então se pode esperar que faça fruto”.

Vieira discorre ainda sobre os ouvintes difíceis de converter:

“Os piores ouvintes que há na Igreja de Deus, são as pedras e os espinhos. E por quê? – Os espinhos por agudos, as pedras por duras. Ouvintes de entendimentos agudos e ouvintes de vontades endurecidas. Os ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vêm só a ouvir sutilezas, a esperar galantarias, a avaliar pensamentos […]. Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um entendimento agudo pode ferir pelos mesmos fios, e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quando as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra.”

Não se sabe se o ouvinte Carlos Brandão saiu do Teatro Arthur Azevedo catequizado e convencido ou se as palavras de Flávio Dino entraram por um ouvido e saíram pelo outro, como se costuma dizer no Maranhão.

O certo é que o recado, as lições, os conselhos, as advertências e todas as partes do sermão vibraram até a praça João Lisboa.

Veja abaixo o texto Sermão aos Leões, escrito na posse de Flávio Dino em janeiro de 2015

SERMÃO AOS LEÕES: GOVERNADOR FLÁVIO DINO PREGA O
SÉTIMO MANDAMENTO NO MARANHÃO

Dia de trabalho: Flávio Dino toma posse anunciando
17 medidas de impacto no Maranhão. Foto: Francisco Campos

No céu, um drone e a lua em quarto crescente. Na terra, um mar de gente. 

Essas foram as testemunhas da posse do governador Flávio Dino (PCdoB).

Da sacada do Palácio dos Leões, após o ritual de transmissão da faixa, o novo governador falou sobre religião e política, lembrou os esquecidos, mandou um recado ao Brasil e pregou aos leões.

O sétimo mandamento – não roubarás! – atravessou toda a fala do governador.

DISCURSO E PRÁTICA

Durante a posse na Assembleia Legislativa, Flávio Dino decretou em fala: “Não vamos mais permitir que a corrupção continue roubando os sonhos do povo do Maranhão.”

Entre as medidas anunciadas no Palácio dos Leões, o governador assinou um decreto que suspende os pagamentos à empreiteira Constran, uma das empresas investigadas na operação Lava-Jato, que trouxe à tona a denúncia de pagamento de propina para a quitação de precatórios no Maranhão.

Outra medida assinada cria a Secretaria de Transparência e Controle, os olhos e ouvidos da utilização do dinheiro público.

No item fim dos privilégios, o governador anunciou a venda da Casa de Veraneio – símbolo da ostentação nas farras babilônicas da oligarquia.

MUDANÇAS

Virando a página do passado: sarneísta Arnaldo Melo
passa a faixa de governador a Flávio Dino. Foto: Francisco Campos

Em nome de Deus, Dino agradeceu pela vitória e anunciou um tempo de esperança, alegria, amor e fé no transcendente.

Para o novo governador, há uma relação intrínseca entre política e religião, porque ambas são atravessadas por valores, princípios e fé. 

É preciso religar o que estava separado – o governo e o povo.

Mudança, a palavra-chave da campanha e da posse, não é necessariamente dos políticos, mas da política.

Embalado pelo desejo de uma nova forma de governar, o governador anunciou e assinou 17 medidas de impacto. A posse foi um dia de trabalho. “O Maranhão tem pressa. As necessidades do povo não podem esperar”, enfatizou Dino.

O balanço geral das medidas anunciadas enfrenta os problemas emergenciais do Maranhão: combate à corrupção, atenção aos pobres, foco nas 30 cidades com pior IDH, erradicação da fome, fim das escolas de taipa e palha, reforço no sistema de segurança, valorização da agricultura familiar e à atenção básica na Saúde.

Apontando ao cenário nacional, Dino assegurou que o Brasil vai voltar e respeitar o Maranhão como terra de gente honesta e trabalhadora. “Viveremos um novo momento, do estado-problema ao enfrentamento dos problemas”, frisou.

DIÁLOGO COM OS LEÕES

Flávio Dino avisa os leões que não mais vão
rugir contra os pobres do Maranhão

Quando abriu o discurso falando de Deus e religião, Dino tinha um propósito: finalizar com o sermão aos leões, simbolizados nas duas imponentes esculturas fixadas na entrada do palácio-sede do governo do Maranhão.

Nos 50 anos de mandonismo da oligarquia Sarney, costumava-se bradar que os leões nunca tinham perdido uma eleição, referindo-se à máquina de fazer votos, inspirada na força (financeira) das feras.

Em 2014, os bichos perderam.

Ao final do discurso, o governador invocou a ironia e chamou os leões ao diálogo. “Quero dizer aos dois leões, o da direita e o da esquerda, que eles não vão mais rugir contra o povo do Maranhão. Eles não serão mais alimentados às custas da tortura do povo”, avisou.

“Prezados leões, vocês nunca mais vão rugir para os pobres do Maranhão”, sacramentou.

O sermão e a música Oração Latina, de Cesar Teixeira, hino das lutas libertárias, compuseram a épica da posse.

ADVERTÊNCIA

Quadrilhas organizadas e desorganizadas que furtaram o dinheiro público e pretendem dar continuidade a esta prática nefasta, tremei!

O governador declarou guerra à corrupção e proclamou a República no Maranhão.

Foi esse o registro da posse.

É verdade. E dou fé.

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Canibalismo político no Maranhão

Um dos desfechos da obra “Dom Quixote”, do escritor Miguel de Cervantes, narra o combate entre o Cavaleiro da Triste Figura e o Cavaleiro da Lua Branca.

As regras da batalha convergiram para que o derrotado reconhecesse a amada do vencedor como a mulher mais bela e formosa do mundo.

O desafio é muito pertinente às façanhas de Dom Quixote ao longo do livro, no qual ele reitera com veemência ser Dulcinéia de Toboso a detentora do título de formosura universal e insuperável, algo sagrado e jamais conquistado por qualquer outra dama.

Os combatentes viam na luta uma forma de possuir a força do oponente derrotado. Não se tratava apenas do resultado (ganhador ou perdedor), mas do triunfo como incorporação da vitalidade do oponente pelo vencedor, passando este a ser o detentor da força do outro.

Observe o arremate do Cavaleiro da Lua Branca, ao interpelar Dom Quixote, o Cavaleiro da Triste Figura:

“Venho lutar convosco e fazer-vos conhecer e confessar que minha senhora, seja quem for, é, sem comparação, mais formosa do que a vossa Dulcinéia de Toboso. Se confessardes essa verdade, sereis poupado, mas, se quiserdes a luta e eu vencer, não quero outra satisfação senão que deixeis as armas e vos abstenhais de lutar, recolhendo-vos a vossa casa, onde ficareis durante um ano, sem pegar na espada nem buscar aventuras. Ao contrário, se vencerdes, minha cabeça ficará ao vosso inteiro dispor e serão vossas as minhas armas e meu cavalo.
Minha fama passará também a ser a vossa […]” (Dom Quixote, p. 284)

O sentido de incorporar, anexar e adicionar para si a força e a fama do outro está presente também na prática das culturas arcaicas, a exemplo do canibalismo. Embora esteja situado num tempo muito distante do cenário político institucional da modernidade, o canibalismo serve de ilustração para situar a violência como meio para impor a dominação.

A ação de devorar o adversário vencido implicava em nutrir-se do corpo do inimigo para anexar o sentido da vitória na batalha. O triunfo do vencedor poderia também ser ostentado em exibir no corpo ou na sua lança algum artefato dos restos mortais do derrotado: um osso, a mão ou a caveira inteira, por exemplo.

Lutar, matar, devorar e exibir eram formas de teatralizar e materializar a violência. O vencedor tornava-se assim mais forte e poderoso não só matando, mas comendo a carne e exibindo algum esbulho do algoz eliminado.

Apenas ilustrativamente, o canibalismo é presente na política institucional, em determinadas circunstâncias, quando o vencedor adiciona a si a força e a fama do outro. A constituição do inimigo, por sua vez, é parte da lógica da política, fundada no conflito como alimento na busca pelo poder. Diz o filósofo coreano Byung-Chul Han, em “Topologia da violência”, p. 97:

“Quanto mais nítida e unívoca for a imagem do inimigo, mais claros serão os contornos da própria configuração. A imagem do inimigo e a imagem do si-mesmo condicionam-se mutuamente, provocam seu surgimento mútuo. As energias destrutivas dirigidas contra o outro têm efeito construtivo na formação de um si-mesmo firmemente delimitado e demarcado.”

Até mesmo quando a política aparenta conciliação ou paz, a violência está presente. No contexto agonístico, um aparente entendimento como sinal de pacificação pode ter nos bastidores o uso da força por meio das ações do governo ou de uma expectativa de governar. A paz visível pode ser fruto da violência oculta.

As práticas violentas na política manifestam-se com excessiva visibilidade nos períodos eleitorais, quando as forças partidárias e outras da sociedade civil se organizam em uma impressionante mobilidade para formar coligações, definir candidaturas, cooptar lideranças, eliminar obstáculos, agregar aliados e defenestrar concorrentes, silenciar e/ou bloquear situações adversas etc.

É o momento da(s) tática(s) eleitoral(is), sempre sintonizada(s) na(s) estratégia(s) de cada exército no desenrolar das batalhas que compõem a guerra.

Reiterando. A política é uma atividade essencialmente violenta. Na guerra, por exemplo, os objetivos militares estão sempre submetidos aos interesses políticos, ensina Carl Von Clawsevitz.

Para além do bem e do mal, a política é dotada de uma intensa mobilidade das forças e dos grupos que disputam poder. Assim, o vencedor impõe as suas vontades e o medo, o respeito, os seus interesses e existência através da violência.

Esses cenários são visíveis nas três “eras” lideradas respectivamente por Vitorino Freire, José Sarney e Flávio Dino, cada qual com as suas especificidades e objetivos, os dois primeiros bem distintos do último, para demarcar as diferenças.

O tamanho do inimigo derrotado também influencia na visibilidade do vitorioso. José Sarney ficou grande porque amalgamou a força de Vitorino Freire.

Flávio Dino virou uma referência nacional porque derrotou e agregou a potência da última e quase cinquentenária oligarquia do Brasil.

Apesar das distinções, o exercício da política no Maranhão tem entre os símbolos mais representativos os leões do Palácio do Governo. Eles são a conotação do canibalismo na política em carne e osso, sem artificialidades.

Os leões movem montanhas, modificam cenários, alteram a correlação de forças, silenciam os concorrentes, enaltecem os áulicos; enfim, definem quase tudo.

Aqueles felinos, guardiões do palácio, ilustram a metáfora de Dom Quixote e a prática do canibalismo.

Devido à força descomunal dos leões, o Maranhão vive o instigante momento da transição, quando a mudança não se instalou totalmente e a renovação geracional e das ideias ainda transita no passado.

Imagem destacada / vista panorâmica do Palácio dos Leões / Fonte: iStock

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UFMA presta homenagens alusivas aos 200 Anos da Imprensa no Maranhão

Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no
Maranhão é uma das organizações contempladas

Fonte: Portal Padrão /UFMA

Nessa terça-feira, 21, em comemoração aos 200 Anos da Imprensa no Maranhão, a Universidade Federal do Maranhão realizará a solenidade de entrega da Comenda dos 200 anos de Fundação da Imprensa no Maranhão. O evento ocorrerá no Centro Pedagógico Paulo Freire, com início às 18h, com transmissão no Canal Institucional da UFMA, no YouTube.

Contar dois séculos de história da imprensa maranhense é uma missão ambiciosa que surgiu como um tributo ao primeiro jornal fundado na cidade de São Luís – O Conciliador do Maranhão. À frente dessa empreitada, a Universidade Federal do Maranhão, com o apoio da Fundação Josué Montello, da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap) e da Vale, tem realizado uma série de eventos que fazem parte da programação do projeto 200 Anos de Imprensa no Maranhão.

A realização desse evento e das ações realizadas ao longo do ano é fruto da união entre as entidades que viabilizaram à Diretoria de Comunicação da UFMA organizar e efetivar atividades que homenageassem esse marco histórico, que teve início no dia 15 de abril de 1821, data de circulação do primeiro exemplar de O Conciliador.

As festividades estrearam na data emblemática para o projeto. Foi na noite do dia 15 de abril de 2021, por meio do Canal Institucional da UFMA, no YouTube, que ocorreu a abertura oficial do bicentenário.

Dentro da programação, a Diretoria de Comunicação lançou WebStoriePodcastsLongForm e um Documentário. Para encerrar o ano do bicentenário da imprensa no Maranhão, a Universidade homenageará cinquenta profissionais distribuídos nas categorias Votação Popular, Pesquisadores, Empreendedores, Produção Jornalística, Jornalista, Outros Profissionais e Homenagem Especial.

Confira a lista dos agraciados por categoria

Votação Popular

Douglas Pinto

Douglas Pires Cunha

Edvânia Kátia Sousa Silva

Jailson Mendes

José Tribuzi Pinheiro Gomes (Bandeira Tribuzzi) – in memoriam

Luiz Carlos da Cunha

Lukas Carvalho

Marcos Saldanha

Mário Linconl

Paulo Melo Sousa

Pesquisadores

Josefa Melo e Souza Bentivi Andrade (Zefinha Bentivi)

Marcelo Cheche Galves

Sebastião Barros Jorge

Empreendedores

Associação Brasileira de Rádios Comunitárias no Maranhão (Abraço-MA)

José Ribamar Bogéa – in memoriam

José Sarney

Moacyr Sposito Ribeiro

Pedro Freire

Sergio Antonio Nahuz Godinho

Produção Jornalística

Célio Sérgio Serra Ferreira

Dreyfus Nabor Azoubel – in memoriam

Hipólito César Vieira Ferreira (César Hypolito)

Jornalista

Alberico Carneiro

Benedito Bogéa Buzar

Bernardo Coelho de Almeida – in memoriam

David Peres

Djalma Silva Rodrigues

Félix Alberto Gomes Lima

Herbert Fontenele Filho – in memoriam

José de Jesus Louzeiro – in memoriam

José Raimundo Rodrigues

José Raposo Gonçalves da Silva (Amaral Raposo)

José Ribamar Gomes (Gojoba)

Josilda Bogéa – in memoriam

Manoel dos Santos Neto

Marcelo Rodrigues

Marcia Maria de Paiva Coimbra

Nascimento Moraes Filho – in memoriam

Neiva Moreira – in memoriam

Othelino Nova Alves – in memoriam

Pergentino Holanda Silva

Raimundo Jurivê Pereira de Macedo – in memoriam

Raimundo Nonato Borges

Ribamar Correa

Roberto Fernandes – in memoriam

Sebastião de Almeida Negreiros

Sidney Pereira

Outros Profissionais

Francisco Melo Filho  – in memoriam

Chafi Braide Júnior

Homenagem Especial

Curso de Comunicação UFMA – São Luís

Fonte / Portal Padrão UFMA / TextoSansão Hortegal / Revisão: Jáder Cavalcante

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Conheça o “Bacuri do PDT”, uma lenda no cerrado maranhense

O mundo da política no Maranhão tem muitos relatos instigantes e curiosos. Um deles é narrado pelo radialista e líder comunitário James Barros, nascido no povoado Tabocas, importante localidade na zona rural de Barreirinhas, cidade referência nos Lençóis Maranhenses.

Quando não havia a rodovia MA-402, o percurso para chegar a Barreirinhas era feito pela MA-225, acessada no Baixo Parnaíba à altura de Urbano Santos e/ou São Benedito do Rio Preto.

A MA-225 ainda está viva na memória do povo do cerrado e nessa estrada, ainda percorrida na atualidade pelos moradores das comunidades, muita coisa aconteceu.

As reuniões políticas e eleitorais, por exemplo, tinham um ponto de referência ao longo da rodovia – um frondoso pé de bacuri, fruta das mais deliciosas do cerrado.

No tempo das campanhas, à sombra da frondosa árvore, os partidários de Leonel Brizola batizaram a planta de “Bacuri do PDT”, o point da política.

“O batismo da planta foi de Luiz Lisboa da Silva, o Luis Moura. Inspirado na flor do bacuri, ele gravou no tronco da graciosa árvore a sigla PDT, legenda que tem no seu logotipo uma rosa vermelha, representando valores humanistas e democráticos”, explicou James Barros.

James Barros e as memórias do “Bacuri do PDT”

Os moradores das redondezas se deslocavam até o “Bacuri do PDT” para as reuniões. Iam a pé, de cavalo ou jumento, em caminhões, paus de arara e carros menores. O motivo era um só – debater a política e tomar as decisões.

Hoje o fluxo na MA-225 é pequeno, mas a estrada ainda é muito usada pelos lavradores e extrativistas do cerrado. O “Bacuri do PDT”, que já testemunhou muitas pelejas, do alto da sua majestade, é testemunha das mudanças na região. Uma delas, muito perigosa, é a invasão da monocultura de eucalipto já na fronteira entre Urbano Santos e Barreirinhas.

Esse tema – o impacto do agronegócio – será tratado em outra postagem. Aguarde.

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Símbolo da violência no campo recebe homenagem da Assembleia Legislativa do Maranhão

A região do Baixo Parnaíba, no leste do Maranhão, está transformada em uma espécie de feudo da família Introvini, poderosa corporação do agronegócio que há dez anos destrói os recursos naturais e a vida de muitas pessoas.

Neste começo de dezembro, o fazendeiro André Introvini, cercado de seus “funcionários”, ameaçou um casal de idosos no povoado Carranca, em Buriti de Inácia Vaz. Pela enésima vez, o cawboy violenta a família de Maria Rita dos Reis Lira (66 anos) e Vicente de Paulo Costa Lira (65 anos).

André Introvini, de blusa branca, ameaça os idosos Vicente e Maria Rita

André já é figura conhecida pelos seus métodos agressivos usados para coagir, pressionar, humilhar e ameaçar os moradores e fundadores das comunidades rurais com o objetivo de ampliar as plantações do agronegócio.

Veja aqui reportagem sobre os sojicultores no Baixo Parnaíba, inclusive com despejo de veneno que atingiu gravemente uma criança

Ele ainda não foi condecorado pelos atos grotescos, mas no Maranhão onde tudo pode a Assembleia Legislativa concedeu o título de Cidadã Maranhense à sua irmã Gisela Introvini, em cerimônia realizada dia 25 de novembro de 2021.

Gisela Introvini, a homenageada, lidera as mulheres do agronegócio

A proposição da homenagem é de iniciativa do deputado Fabio Braga (Solidariedade). Durante a condecoração, no lustroso plenário do legislativo maranhense, o parlamentar enalteceu as qualidades da agraciada, técnica em Agropecuária e Engenharia Agrônoma, formada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná.

Fabio Braga: orgulho pela homenagem

O deputado destacou especialmente as qualidades de Gisela no intuito de (pasmem!) “promover o desenvolvimento sustentável” e disse estar lisonjeado pela honraria. Ela, idem.

Gisela Introvini é a presidente da Associação das Mulheres do Agronegócio e comanda a comissão organizadora da maior feira do agronegócio do Maranhão – a Agrobalsas.

Parte da elite do Maranhão compareceu à cerimônia e aplaudiu a laureada.

Enquanto isso, de Balsas ao Baixo Parnaíba, o Maranhão está tomado pelas práticas medievais de violência em todos os sentidos.

Fotos / JR. Lisboa – Agência Assembleia

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Agronegócio avança com violência(s) na região do Baixo Parnaíba

Por Ed Wilson Araújo

No intervalo do Jornal Nacional, da Rede Globo, milhões de brasileiros assistem à propaganda de louvação do agronegócio. Ele é pop, é tech, é tudo!

Os filmes publicitários muito bem feitos levam a crer no milagre da lavoura, projetando na audiência os sentidos de prosperidade, sucesso, lucros, méritos, satisfação e nacionalismo.

Mas, esse Brasil que dá certo na tela da TV é muito diferente da realidade dos moradores cercados pelos campos de soja.

No povoado Carrancas, a 19 Km da sede do município Buriti de Inácia Vaz, homens e mulheres de várias gerações, nascidos e criados nas chapadas, sentem no corpo inteiro e na mente as violências provocadas pelo agronegócio nos 16 municípios do Baixo Parnaíba, seguindo o curso da BR-222 e adjacências, na região leste do Maranhão.

Um dos dramas é narrado pela família de Maria Rita dos Reis Lira (66 anos) e Vicente de Paulo Costa Lira (65 anos).  A casa onde vivem e criaram sete filhos e 10 netos está cercada de campos de soja onde antes havia florestas de buriti, pequi, caju e uma variada fauna irrigadas por rios, riachos e córregos.

Casal de idosos, Vicente e Rita sentem a agonia do território cercado. Imagens: Ed Wilson Araújo

Após quase 20 anos de presença do agronegócio nessa região, quase tudo está destruído, restando alguns moradores que se recusam a vender as suas terras ou resistem diante das tentativas de apropriação ilegal de áreas onde os pequenos agricultores e extrativistas viviam e produziam bem antes da chegada dos fazendeiros.

A situação do casal Lira é parâmetro para todos os pequenos produtores da agricultura familiar, os povos e as comunidades tradicionais atingidos pelo agronegócio.

Para eles, todo dia é uma agonia vivenciada por diversos tipos de violência: assédio, ameaças e coação para a venda de terras e/ou grilagem dos territórios, perseguição quando fazem o roçado, poluição de veneno (herbicida) pulverizado por aviões ou despejado pelas máquinas agrícolas (tratores), desmatamento ilegal, extermínio das nascentes, poluição da água e das outras fontes de alimentos, denúncias criminais de fazendeiros contra os trabalhadores rurais, entre tantas outras agressões e violações de direitos humanos.

Ouça aqui o podcast com Vicente de Paula Costa Lira

Há também um tipo de violência visual. Dói nos olhos a sensação de estar cercado por imensos desertos, sem vida, com o futuro sempre ameaçado por novas expansões da fronteira agrícola baseada na monocultura.

Vizinho de Carrancas, o povoado Araçá ficou conhecido no mundo todo em abril de 2021 quando viralizaram as imagens da pulverização aérea de agrotóxicos, atingindo o menino André Lucas, de 7 anos de idade, vítima de graves queimaduras em todo o seu corpo.

Cenas do agronegócio em Buriti: áreas desmatadas avançam cada vez mais. Imagens: Ed Wilson Araújo

Diversas organizações que atuam na defesa dos camponeses classificam o uso de coquetéis de veneno como uma guerra química do agronegócio para eliminar as comunidades tradicionais e deixar os territórios livres para a expansão da monocultura de soja, eucalipto e milho, entre outros cultivos à base de herbicidas.

O menino André Lucas foi o caso mais visível; no entanto, a presença e/ou ameaça de uso dos herbicidas é uma constante na vida dos moradores cercados pelos campos de soja na região.

Para o integrante da Coordenação Estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Edivan Oliveira dos Reis, os impactos do agronegócio ocorrem pelo menos em quatro dimensões: ambiental, política, econômica e na cultura camponesa. Veja o vídeo abaixo:

Edivan Reis: o agronegócio na região vem desde a década de 1980

Os fazendeiros atendem por um sobrenome – Introvini – família de sojicultores que tem como principais personagens o pai Gabriel e o filho André.

De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), no episódio de Araçá, os proprietários das fazendas usuárias de pesticidas, os sojicultores Introvini, “não possuíam licenciamento ambiental da atividade de pulverização aérea, o que motivou embargo da atividade e também auto de notificação e infração no valor de 273 mil reais”.

Ainda segundo a Sema, “a investigação continuou com equipes da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos (SEDIHPOP), Secretaria de Saúde (SES), Secretaria de Segurança Pública (SSP-MA) e Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Maranhão (AGED), em parceria com a Diocese de Brejo, Prefeitura de Buriti, Câmara Municipal e o Ministério da Saúde, em visita à sede da empresa para coleta de amostras de agrotóxicos e apreensão de documentos que serão utilizados na continuidade da apuração de ocorrência de crimes ambientais.”

Nesse cenário, a violência psicológica é uma tensão permanente. A força e o autoritarismo do agronegócio espalham seus tentáculos sobre as instituições, causando até mesmo a inversão de papeis, quando os agressores (fazendeiros) usam o aparelho coercitivo do Estado contra as vítimas (trabalhadores rurais).

Vicente de Paulo Lira é um entre tantos casos de moradores originais do cerrado já denunciados criminalmente e intimados a depor perante autoridades policiais pelo simples fato de utilizarem os seus territórios para o cultivo de roças necessárias à sobrevivência; no entanto, foram acusados de suposto “crime ambiental”.

Nas áreas do agronegócio, os fazendeiros constituem um poder tão violento que atropela as instituições formais, restando às comunidades o apoio de organizações não governamentais. Uma delas, o Fórum Carajás, atua há 10 anos no Baixo Parnaíba, prestando apoio em projetos de produção sustentável, na organização e solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Segundo o presidente do Fórum Carajás, jornalista Mayron Régis Borges, a entidade tem por principal objetivo acompanhar os impactos dos grandes empreendimentos na vida das comunidades e no meio ambiente. “O Fórum Carajás nasce como um espaço de discussão de temas sócio-ambientais e elaboração e disseminação de documentos relativos a esses temas. As ações desenvolvidas pelo Fórum Carajás datam do começo de 2010 com a discussão em torno da preservação do bacuri para chegar em 2021 desenvolvendo projetos de segurança alimentar e criação de pequenos animais”, pontuou Borges.

Vicente resiste na roça de mandioca, uma das formas de preservar e produzir no território. Imagem: Mayron Regis

O avanço da monocultura de soja, milho e eucalipto coloca o Maranhão na segunda posição em casos de conflitos agrários, vitimando 137.515 famílias, segundo o Relatório “Conflitos no Campo Brasil 2020”, produzido pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). O registro está na página 29: “Os dez estados da Federação mais conflituosos se estabeleceram da seguinte maneira: Pará em primeiro lugar, com 168.546 famílias envolvidas em conflitos; em segundo, o Maranhão, com 137.515. Nesse sentido, os dois Estados alternam suas posições. A Bahia é o terceiro, com 85.874 famílias; Amazonas, que não aparece com número de ocorrências elevado, fica em quarta posição, com 63.731; o Mato Grosso, em quinto, com 63.525; em sexto lugar, Roraima, com 55.571; em sétimo, Rondônia, com 49.257; em oitavo, Acre, 47.281; em nono, Pernambuco, com 45.865; e em décimo, Mato Grosso do Sul, com 38.108.”

Além da violência contra os recursos naturais e às formas de vida dos moradores originários de vários territórios conflituosos, os assassinatos de lideranças que atuam na resistência assustam. Somente em 2021, nove execuções já foram computadas contra homens e mulheres do campo no Maranhão.

A pistolagem é a etapa final do processo de invasão e domínio das terras, quando os obstáculos da resistência política são eliminados a bala.

Enquanto isso, as denúncias seguem. Durante uma entrevista coletiva realizada em 17 de novembro de 2021, várias entidades representativas de camponeses, extrativistas, indígenas, quilombolas, pastorais sociais, pescadores, povos e comunidades tradicionais, acolhidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB – Regional Nordeste 5) sincronizaram um pedido de socorro com uma frase emblemática: “A gente está morrendo”