Nas cidades mais antigas do Maranhão, os orelhões e o velho posto telefônico da Telma (Telecomunicações do Maranhão S.A.) ainda fazem parte da paisagem.
Em Primeira Cruz, município localizado no território dos Lençóis Maranhenses, o posto da ex-Telma serviu de sede para uma rádio comunitária (Oceânica FM) entre 2002 e 2012 e hoje é utilizado por um formato “híbrido” de comunicação: um sistema de som via cabo (Stúdio 90°) e a rádio 90° na web.
Veja no vídeo abaixo como tudo aconteceu e as emissoras atuais em funcionamento.
Caixa de som distribui a programação das rádios via cabo e web no Centro de Primeira Cruz. Imagens e edição: Marizélia Ribeiro
O local é também uma estação de produção de vinhetas, spots e peças publicitárias em geral para os estabelecimentos comerciais e eventos.
As emissoras e a estação foram fundadas e são gerenciadas pelo radialista Orlando Brandão. O batismo de 90° é alusivo a um dia de trabalho, quando ele gravava uma peça publicitária e, devido ao calor intenso, saiu do estúdio banhado de suor.
Nesse vídeo, com imagens e edição de Marizélia Ribeiro, conversamos com Orlando Brandão sobre a comunicação local em Primeira Cruz.
Imagem destacada / radialista Orlando Brandão conversa com Ed Wilson Araújo, tendo ao fundo um antigo orelhão no ex-posto da Telma, em Primeira Cruz. Foto: Marizélia Ribeiro
O 26º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) começou a divulgar os resultados das oficinas realizadas durante a programação.
Um dos trabalhos – o Jornal da Tarde (ouça aqui) – reúne notícias e comentários dos participantes da oficina “Do rádio de pilha ao podcast”, ministrada pelo jornalista e professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Ed Wilson Araújo.
Durante a oficina, realizada na tarde de segunda-feira (10), os(as) participantes acessaram as técnicas básicas de produção da notícia para o rádio, redigiram textos e fizeram a locução utilizando o gravador de voz do aplicativo WhatsApp.
Cada notícia foi elaborada com pautas reais dos fatos relacionados aos sindicatos e de outros movimentos sociais onde os participantes da oficina atuam.
A oficina foi planejada para, ao final, produzir um radiojornal refletindo a realidade de várias regiões do Brasil onde a comunicação popular e sindical está presente produzindo conteúdo. Os(as) participantes atuaram como repórteres correspondentes das suas cidades de origem.
O uso do gravador de voz do WhatsApp serviu para demonstrar o potencial das ferramentas tecnológicas que estão na palma da mão e nem sempre são exploradas pelos movimentos sociais.
As notícias gravadas foram disponibilizadas em um grupo de mensagens denominado “Rádio NPC” e posteriormente formatadas em um radiojornal, com edição de Waldecir Bitencourt, radialista e assessor de Comunicação do Sindicato dos Servidores Públicos Federais (Sindsep) do Amapá.
O 26º Curso Anual do NPC prossegue nos dias 11, 14 e 15 de dezembro com o tema central “Planeta terra: comunicação e estado de emergência”.
Em 2020, devido à pandemia covid19, todas as atividades do curso (palestras e oficinas) estão sendo realizadas on line.
O apagão no Amapá revela as contradições do modelo de desenvolvimento predatório na Amazônia. Com tanta água, sol e outros recursos naturais abundantes, falta logo energia?!
Essa região do Brasil vem sendo depredada pela busca insana de lucro dos “investidores” interessados unicamente na expropriação das riquezas, desprezando os modos de vida e a sobrevivência de brasileiros muito especiais.
Em 2010 viajei de barco no trecho Belém – Macapá. Foram 27 horas navegando pelos rios a Amazônia. Nessa aventura fiz uma reportagem sobre a migração de maranhenses para a Amazônia. Leia aqui
Barco navega 27 horas num mar de água doce
Chegada ao porto de Santana, no Amapá
Muitos desses migrantes são “rodados” nas fazendas do Maranhão e do Pará, trabalhando no roço da juquira e em tantas outras atividades, algumas em condições análogas à escravidão.
Nas embarcações que diariamente cruzam as águas amazônicas há muitas histórias, a exemplo dos irmãos personagens dessa reportagem que se conectaram depois de 20 anos desgarrados.
Francisco, a sobrinha e Miriam: cartas e o rádio reconectaram a família
Ao longo da viagem muitas cenas da exploração de recursos naturais podem ser observadas, como a extração e transporte de madeira e a atuação de empresas de capital transnacional operando no território amazônico.
Nas águas dos rios amazônicos é possível observar como a economia se movimenta nos lugares remotos
Em meio a tanta água e riqueza, a história de muitas famílias revela o Brasil profundo, marcado pela violência contra o meio ambiente, condições de trabalho degradantes e a interferência direta do capital internacional na soberania do nosso país.
Na próxima reportagem sobre a minha viagem ao Amapá vou escrever sobre as belezas da capital Macapá, localizada na beira do rio Amazonas.
Nesses tempos de pandemia, quando a televisão brasileira está prestes a comemorar 70 anos de implantação, as transmissões dos jogos de futebol, sem público, estão frias.
O espetáculo futebolístico na tela ocorria em dupla força expressiva: o espetáculo dentro de campo e o festival de reações nas arquibancadas.
Sem as torcidas, as TVs têm de se contentar com os mosaicos e faixas, imagens meramente ilustrativas.
Já o “velho” rádio consegue dar uma sensação de ao vivo permanente nas transmissões, graças ao uso dos efeitos sonoros das torcidas.
Em várias emissoras, a criatividade exalta as emoções da torcida no som ambiente funcionando como background, alguns até modulados de acordo com a intensidade dos lances.
Os efeitos sonoros funcionam como os ruídos das torcidas e “colorem” a narrativa dos locutores.
Assim, a magia do rádio dá um show nas transmissões, enquanto a TV, com a imagem das arquibancadas vazias, vive o jejum de público nas arenas e perde audiência também para o streaming.
A Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no Maranhão começou a distribuir hoje para as emissoras filiadas a série de programas com orientações sobre a pandemia do novo coronavírus.
Com o nome “Rádio Abraço Saúde”, os programas radiofônicos contêm informações e dicas sobre os sintomas da doença, as formas de contágio, orientações sobre as medidas emergenciais que devem ser tomadas pela pessoa sintomática e o reforço sobre a importância do isolamento social, entre outros conteúdos.
No formato de perguntas e respostas, os primeiros programas contam com a participação da professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), médica infectologista Maria dos Remédios Carvalho Branco, doutora em medicina tropical e saúde internacional.
De forma didática, ela responde às perguntas essenciais com o objetivo de orientar os ouvintes sobre as formas de prevenção, cuidados e as providências fundamentais que devem ser tomadas pela população, como o uso de máscaras e a higienização das mãos com álcool gel e água e sabão.
A iniciativa da Abraço Maranhão, em parceria com a Agência Tambor, visa disponibilizar conteúdo radiofônico em linguagem acessível à maioria da população e reforça o papel das rádios comunitárias no enfrentamento da pandemia.
Além da participação dos programas da Abraço, a médica Maria dos Remédios Carvalho Branco já mantém um site com um diversos conteúdos sobre a pandemia (acesse aqui)
Os programas têm roteiro do presidente da Abraço Maranhão e professor da UFMA, Ed Wilson Araújo; locução e edição de Marcio Calvet; participação especial de Lanna Gatinho; e consultoria do engenheiro Fernando Cesar Moraes. Antes de formular as perguntas para a médica Maria dos Remédios Carvalho Branco a produção do programa fez uma sondagem junto a alguns radialistas de emissoras comunitárias para saber quais eram as dúvidas mais frequentes dos ouvintes.
Quem vive apaixonado por rádio AM sabe como é difícil encarar a morte de Roberto Fernandes, vítima do novo coronavírus nesta terça-feira 21 de abril. No momento em que escrevo passa na tela do computador o filme da minha vida de ouvinte, boa parte dela acompanhando os dois programas mais expressivos ancorados por esse grande profissional: Roda Viva, na Educadora AM; e Ponto Final, na Mirante AM.
Com tantos dispositivos sofisticados de comunicação, eu ainda sou do tipo que acorda e liga o velho aparelho portátil todos os dias. Ouvir rádio é como rezar, comer e beber. É um alimento indispensável no cotidiano.
E na minha caminhada de ouvinte muito tempo foi dedicado a Roberto Fernandes. Bem antes do meu primeiro emprego de jornalista em Assessoria de Comunicação eu já curtia os programas jornalísticos e as transmissões esportivas no radinho de pilha do meu pai, em nossa pequena quitanda, na Feira do João Paulo.
A feitura da pesquisa, elaborada com tantas fontes no trabalho de campo, teve em Roberto Fernandes um manancial de informações. Aquele homem ocupado e importante era sobretudo um cara generoso que me recebeu uma tarde no seu apartamento para uma longa conversa sobre rádio com 1 hora e 39 minutos de duração (ouça aqui).
Todo esse relato serve para falar da minha gratidão e do meu respeito por Roberto Fernandes. Eu aprendi muito ouvindo ele. E quantas vezes tive a chance de falar no seu programa sobre temas de interesse público.
Entre tantas alegrias que Roberto Fernandes proporcionou à sua audiência, quero registrar a primeira vez que um ouvinte e fã (veja acima) falou no rádio com seu locutor preferido. Seu Nildo, um homem simples, morador da comunidade Taboa, na ilha de Mangunça, em Cururupu, é um dos “invisíveis” que só tem o rádio como amigo e companheiro naquelas comunidades onde nem a luz elétrica chega.
No outro vídeo (abaixo), seu Vaguinho, morador da ilha de Guajerutíua (Cururupu), fala sobre a importância do rádio AM ao longo de toda a sua vida.
Sempre digo para meus alunos que um dos segredos do sucesso na mídia é ter os pés no chão. Roberto Fernandes era famoso, reconhecido e celebrado, mas nunca deixou de ser um profissional simples, tranquilo, honesto e com a dose certa de humildade.
Quando ele mudou de emissora, saindo da Educadora AM para a Mirante AM, houve uma verdadeira comoção no rádio. Muitos ouvintes telefonaram para lamentar, reclamar, criticar e até chorar, argumentando que o estilo e a liberdade do apresentador não seriam mais os mesmos quando ele fosse trabalhar no Sistema Mirante de Comunicação.
A audiência tinha certo receio do que poderia acontecer com Roberto Fernandes trabalhando na rádio do sistema de comunicação de propriedade da família liderada por José Sarney.
Ele mudou de empresa, mas seguiu as suas referências éticas construídas ao longo de uma carreira sólida e respeitável. Na Mirante AM/Globo manteve a simplicidade e o carisma que cultivou na sua antiga casa – a Educadora, pertencente à Igreja Católica.
Aquele homem que tinha o poder da voz e a posição institucional do locutor carregava também uma característica fundamental do comunicador – saber ouvir.
Tanto no programa Roda Viva quanto no Ponto Final ele preservou o bom trato junto à audiência, sabia considerar os diferentes níveis de posicionamento dos ouvintes, sempre respeitando o senso comum e a fala mais elaborada, sabendo ser duro quando necessário, porque o rádio é também o lugar das discordâncias.
Ele não era apenas um jornalista e radialista, era uma instituição nesse meio de comunicação tão importante para a cidadania e a democracia.
A voz de Roberto Fernandes silenciou, mas a sua força espiritual no rádio segue vibrante, servindo de exemplo e referência para outros tantos profissionais, ouvintes e às novas gerações de radialistas.
Democracia e cidadania nas ondas sonoras estarão entre os temas do evento organizado pela UFMT e Unemat em conjunto com o Grupo de Rádio e Mídia Sonora da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação)
Estão abertas as inscrições para o IV Simpósio Nacional de Rádio que será realizado nos dias 5, 6 e 7 de maio de 2020 no Campus Cuiabá da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). É possível fazer a inscrição como ouvinte e para apresentação de trabalhos pelo site https://simposioradio2020.wixsite.com/simposio.
O tema do evento será os “100 anos de rádio no Brasil e a relação do meio com a democracia” e contará com pesquisadores de todo o país. Os debates terão como foco a produção de pesquisas sobre a radiodifusão e o consumo crescente de conteúdos em áudio e em plataformas de podcasts no Brasil nos últimos anos.
“Esse será um evento que marca a excelência da pesquisa
acadêmica em rádio e mídia sonora no Brasil. É também uma oportunidade de
mostrar as potencialidades do meio que completa 80 anos de transmissões aqui em
Cuiabá em um Estado que respira rádio com muitas pesquisas e produções acadêmicas
e do mercado de radiodifusão sonora”, destaca o professor da UFMT que integra o
comitê organizador, Luan Chagas.
O evento surgiu do Grupo de Rádio e Mídia Sonora da
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares em Comunicação (Intercom) e
chega à quarta edição no Estado de Mato Grosso após passar pela Bahia, Rio
Grande do Sul e Paraíba. A organização é do Departamento de Comunicação da UFMT
em conjunto com o Departamento de Jornalismo da Unemat e os programas de
pós-graduação em Comunicação e Estudos de Cultura Contemporânea..
“As parcerias são sempre importantes e necessárias.
Então, pensar um evento da magnitude do Simpósio Nacional de Rádio de forma
conjunta indica um fortalecimento do diálogo entre as instituições e,
consequentemente, uma articulação mais intensa entre as propostas de ensino,
pesquisa e extensão desenvolvidas pela UFMT e a Unemat. Pensando
especificamente em rádio e mídia sonora, representa uma união de forças para
estudar e compreender o cenário dessa mídia no estado de Mato Grosso”,
argumenta a professora do curso de jornalismo da Unemat de Tangará da Serra,
Roscéli Kochhann.
Cronograma do Evento
Submissão dos Resumos Expandidos: até 9 de março de 2020
Divulgação dos trabalhos selecionados: 20 de março de 2020
Limite para realização e pagamento da taxa de inscrição para
expositores: 20 de março de 2020
Alunos
dos cursos de Rádio e TV e Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
concluíram o segundo semestre de 2019 com a produção de programas educativos
sobre Tratamento Fora de Domicílio (TFD).
Os
programas foram elaborados em parceria com a Defensoria Pública do Maranhão, visando
orientar e esclarecer os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e a população
em geral sobre o TFD – uma política pública do Ministério da Saúde (MS) que
garante auxílio financeiro para atendimento médico de pacientes portadores de
doenças que não têm tratamento no município de origem.
Embora seja um direito, instituído pela Portaria nº 55 do Ministério da Saúde, o TFD é pouco conhecido e divulgado. Devido à carência de informação, a Defensoria Pública buscou apoio no Curso de Comunicação da UFMA com o objetivo de elaborar conteúdos educativos sobre o Tratamento Fora de Domicílio, em formatos de programas de rádio, televisão e impresso.
Capa da cartilha sobre TFD servirá para orientar a população
Os
conteúdos foram preparados pelos alunos ao longo do segundo semestre de 2019
com a orientação dos professores de quatro disciplinas: Direção de Televisão;
Jornalismo de Revista; Sonorização e Trilha Sonora; e Roteiro para Rádio,
ministradas respectivamente pelos professores Josie Bastos, Bruno Ferreira,
Carlos Benalves e Ed Wilson Araújo.
Ao
longo das disciplinas os estudantes experimentaram vários gêneros e formatos de
mídia sonora e audiovisual como vídeos para TV aberta e redes sociais, podcast,
programas educativo-culturais, jingles, dramas, spot e cartilha.
Os programas de rádio podem ser acessados nesses links: TFD 1, TFD 2, TFD 3 e TFD 4.
Os
defensores Jean Carlos Nunes e Benito Pereira da Silva Filho estiveram na UFMA
e prestaram todas as informações técnicas e jurídicas para subsidiar as
produções dos estudantes. Outras fontes consultadas foram usuários do TFD e
gestores da Secretaria de Estado da Saúde: a chefa do Departamento de
Tratamento Fora de Domicílio (TFD), Geovana Moreira; e a assessora jurídica
Janyr Carvalho.
Sobre o TFD
Se
um paciente morador do município “x” precisa fazer tratamento de hemodiálise e
essa especialidade não é oferecida na referida cidade, o enfermo pode solicitar
o acesso ao recurso assegurado no TFD para fazer o deslocamento até uma unidade
de saúde em outra cidade, onde o tratamento é ofertado.
A realocação do paciente é coordenada pelo serviço de Regulação do SUS (Sistema Único de Saúde), a partir de critérios como a disponibilidade de vagas. O recurso consiste em uma ajuda de custo para viabilizar despesas com transporte, hospedagem e alimentação, inclusive do acompanhante, caso necessário.
Defensor Jean Nunes explica o passo a passo do TFD
Para
a coordenadora do Curso de Comunicação, Luiziane Saraiva, a parceria com a
Defensoria Pública é duplamente interessante. “Pela ótica da responsabilidade social,
a academia presta serviço à comunidade, devolvendo parte do investimento que
vem sendo feito e, para o grupo de estudantes que participaram do projeto, foi
uma oportunidade de aprendizado e aplicação dos conhecimentos adquiridos em
sala de aula”, explicou.
O
chefe do Departamento de Comunicação, Carlos Benalves, destacou que parcerias
como esta são muitos importantes para a UFMA como um todo pois, além de dar
vazão às produções feitas pelos alunos e pelos professores, contribui
diretamente com uma questão social específica e reafirma o papel das
universidades públicas.
Pelos alto-falantes da Voz Tupi muita gente namorou e até casou. A música de Odair José Pare de tomar a pílula era “febre”. Havia também os animados shows de calouros que revelaram talentos musicais nos bairros de São Luís
Antes do
surgimento da rádio comunitária Bacanga FM, no Anjo da Guarda, houve pelo menos
três serviços de alto-falante no bairro: Voz Tupi, Voz Montecarlo e a Rádio
Popular. No início da década de 1970, a Voz Tupi foi a principal referência de
comunicação local utilizando equipamentos de propagação da voz – microfone,
amplificador e alto-falante. Nesse interstício surgiu ainda a Voz Montecarlo. A
partir de 1988, durante uma década (até 1998), foi a vez da Rádio Popular dominando
os “ares” do Anjo da Guarda e adjacências.
Originada
no bairro Lira, a Voz Tupi chegou no Anjo da Guarda após o rumoroso incêndio
nas palafitas do Goiabal, em 1968, que provocou o primeiro grande deslocamento
populacional para a região Itaqui-Bacanga.
Memórias e emoções de José de Ribamar Furtado sobre a Voz Tupi
O radialista José de Ribamar Furtado, 63 anos, também conhecido no meio radiofônico como Ribinha, lembra um bordão marcante falado pelo advogado Jurandir Sousa : “Voz Tupi, 20 anos no ar servindo bem a comunidade”. Furtado começou a trabalhar na Voz Tupi logo no início da década de 1970, como operador, assim que a emissora chegou no Anjo da Guarda.
Segundo
o radialista, a amplificadora cresceu junto com o bairro e foi uma prestadora
de serviço para os moradores. “Era uma escola e ajudou muito na minha caminhada
no rádio no Maranhão. A Voz Tupi era chamada o cacique
suburbano e teve como donos iniciais o advogado Jurandir Sousa,
Vadico e Oliveira”, recordou.
Já o bancário
aposentado Raimundo Silva Pereira Neto
morou no Lira e no Anjo da Guarda, onde chegou em novembro de 1969. Nos dois
bairros recorta as memórias da Voz Tupi, liderada por Wlademir de Oliveira
Silva, o Vadico, e Jurandir Sousa. Nas duas amplificadoras a música dominava a
programação, mas elas repercutiam também os acontecimentos do bairro, avisos,
informes, utilidade pública, anúncio de aniversário e falecimento de moradores,
notas sobre o dia-a-dia da comunidade e propaganda do comércio local.
No Anjo
da Guarda a amplificadora funcionava nas proximidades do Teatro Itapicuraíba. “Era
um cômodo onde tinha o estúdio e um poste de madeira com o alto-falante. Existia
um grupo de músicos do Anjo da Guarda (Chiquinho, Seu Doca, Vavá). Eles
anunciavam ‘daqui a 15 dias vai ter um programa de calouro’ e as pessoas se
inscreviam e no dia montavam o palco, passavam as músicas e era convidada uma
equipe para fazer o julgamento. Havia muita participação popular”, enumerou
Neto, reiterando que os programas de calouros eram o aspecto mais emblemático.
“Pra mim aquilo já era o estímulo da produção da arte popular. A Voz Tupi
estimulava isso através da música”, enfatizou.
Cacique suburbano
A expressão “cacique” era uma referência à cultura indígena. No bairro Coréia, por volta da década de 1950, havia a amplificadora Voz Guarani, conforme o relato de Ligia Oliveira Belfort (reveja aqui)
Provavelmente,
as denominações indígenas dos serviços de alto-falante seguiam a lógica dos
Diários Associados, de Assis Chateaubriand, que designavam as emissoras
filiadas sempre com referência às etnias. No Maranhão, a rádio Gurupi e depois
a Timbira são exemplos dessa tendência.
José de Ribamar Furtado conta que foi levado para a amplificadora por Haroldo Viana. “Eu comecei como operador. A Voz Tupi tinha dois pratos (toca discos) e por ali eu comecei a aprender a colocar a emissora no ar. Havia um amplificador de 75 watts, a válvula. Com a ida do Haroldo Viana para Brasília eu passei a ser locutor também. Aos poucos fui tomando consciência da responsabilidade que eu estava abraçando para que essa aprendizagem me levasse até o rádio”, explicou.
José de Ribamar Furtado: do alto-falante ao rádio profissional, trabalha atualmente na Câmara dos Vereadores de São Luís
Espalhadas
em diversos bairros de São Luís, as amplificadoras geralmente apresentavam como
principal produto a programação musical e nos fins de semana os animados “shows
de calouros”. Segundo Furtado, os concursos de cantores amadores na Voz Tupi
eram oportunidades para revelar novos talentos musicais que tinham dificuldade
de inserção nas rádios.
Em algumas ocasiões, a Voz Tupi fazia a retransmissão das partidas de futebol ou inseria os jornais falados das emissoras profissionais de rádio AM, mas os hits davam o tom na programação. “O essencial era tocar os sucessos. Quando chegou aquela música de Odair José, “Pare de tomar a pílula”, ave maria, era legal”, comemorou, explicando que os discos (LPs de vinil) eram comprados nas lojas ou distribuídos pelos produtores e propagandistas das gravadoras.
Odair José era um dos cantores mais tocados na Voz Tupi
A escritora Lourdes Lacroix, no livro “São Luís do Maranhão Corpo e Alma” registra a existência das amplificadoras desde janeiro de 1930 na capital, quando “a Casa Autovictor, situada na Praça João Lisboa, inaugurou um serviço de altofalante com o objetivo de projetar artistas locais.” (Lacroix, 2012, p. 520)
Embora
já houvesse emissora profissional de rádio AM instalada em São Luís desde o
início dos anos 1940, os serviços de alto-falante ou voz ainda tinham uma
relativa importância nos anos 1970. “Havia uma disputa fantástica pela
audiência entre as rádios profissionais, mas existia um apelo popular porque a
gente tinha nosso espaço através dos serviços de alto-falante, apesar da força
do rádio AM no Maranhão”, esclareceu Furtado.
As
formas de arrecadação ocorriam mediante a cobrança pela veiculação de mensagens
comemorativas, anúncio de produtos dos estabelecimentos comerciais, divulgação
de festas e eventos em geral.
No Anjo
da Guarda a Voz Tupi funcionava diariamente das 11h às 13h e das 17h às 19h.
Excepcionalmente aconteciam as alvoradas musicais para homenagear um
aniversariante. Nessas ocasiões a emissora tinha uma transmissão específica às
6h da manhã com oferta de músicas e mensagens ao homenageado.
Audiência e namoro pelo alto-falante
A interação com a audiência era ativa. “A comunidade sempre participou de maneira direta ou indireta, principalmente através de carta e mensagens. Sempre teve essa aproximação entre o trabalho da voz e o ouvinte. Era tão participativo que todas as vezes que falecia alguém e a gente tocava a música “El silencio” gerava expectativa para saber quem havia falecido. O bairro inteiro parava”, detalhou o radialista Furtado.
Música El silencio deixava o bairro em suspenso para saber quem morreu
Pelos alto-falantes da Voz Tupi muita gente namorou e até casou. A veiculação de mensagens afetivas ou o oferecimento de música aproximava as pessoas pela emoção. “Eu casei com a minha primeira esposa – Dulcié Bastos Furtado – através da Voz Tupi. Ela achava minha voz bacana, me admirava. Pra mim foi marcante. Eu lembro até de algumas músicas que eu colocava pra ela, como “Davy”, na voz de Nalva Aguiar; e “Meu bom José”, interpretada por Rita Lee. Mas não foi só eu não. Teve outros companheiros que se casaram pela Voz Tupi”, apontou.
Veja abaixo os videos de Nalva Aguiar e Rita Lee
Música de Nalva Aguiar foi o “cupido” no primeiro casamento de Ribinha
Ribinha também oferecia música de Rita Lee para conquistar a primeira esposa
De acordo com Furtado, as amplificadoras fizeram escola para muitas pessoas que posteriormente foram para o rádio. “Foi o berço da minha trajetória e de vários outros companheiros. Com eles aprendi a trabalhar com seriedade, informação precisa e verdadeira”, detalhou.
Imagem destacada / Entrada do bairro Anjo da Guarda / Acervo do jornal O Imparcial / capturada neste site