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Abraço Maranhão participou de evento internacional sobre rádios comunitárias

A Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no Maranhão participou (remotamente) na tarde desta quinta-feira do 6º Congresso Nacional de Rádios Comunitárias, Expressões Latino-Americanas e do Caribe.

O evento estende-se até amanhã, 7 de novembro, de forma híbrida: presencialmente na Cidade do México e online para participantes de diversas emissoras comunitárias da América Latina e Caribe.

A programação do primeiro dia (6/11) teve a participação do jornalista, professor da UFMA e presidente da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no Maranhão, Ed Wilson Araújo, que apresentou um relato sobre a rádio comunitária Bacanga FM (106,3 MHz), de São Luís, com o tema “Comunicação popular e comunitária no território Itaqui-Bacanga”.

O representante maranhense compartilhou a trajetória da emissora, iniciada em 1988 ainda como sistema de som de alto-falante e transformada em FM dez anos depois, em 1998, sendo uma rádio reconhecida por sua atuação histórica na região.

Ed Wilson Araújo mencionou ainda o novo produto da Abraço Maranhão, o podcast Espaço Público, veiculado pela rádio comunitária Bacanga FM para uma rede de emissoras parceiras.

Espaço Público é um programa jornalístico semanal no formato de entrevista. Estreou em 21 de outubro e tem parceria Agência Tambor e das emissoras da Rede Abraço, além de estações web em várias regiões do Brasil. (veja a lista aqui).

O podcast entrevista fontes especializadas em temas como saúde, educação, desenvolvimento sustentável, produção científica, conhecimento popular, mobilidade urbana, mudanças climáticas e novas tecnologias.

Os três primeiros episódios, apresentados nos dias 21 e 28 de outubro e 4 de novembro abordaram respectivamente os temas resíduos sólidos, o rádio expandido para as novas tecnologias e a crise hídrica no Maranhão.

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Falta d’água! Reveja o 3º episódio do podcast Espaço Público

Já está disponível aqui o 3º programa Espaço Público. Nesse episódio, abordamos a crise hídrica, a situação das bacias hidrográficas do Maranhão e os fatores positivos e negativos relacionados à preservação e recuperação dos nossos mananciais.

O entrevistado foi Marcos Silva, mestre em Desenvolvimento Socioespacial e Regional pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e coordenador socioambiental da Caema (Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão)

O podcast Espaço Público é uma realização da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no Maranhão.

Com periodicidade semanal (toda terça-feira, das 20h às 21h), o programa tem parceira da rádio comunitária Bacanga FM, da Agência Tambor e das emissoras da Rede Abraço, além de estações web em várias regiões do Brasil. (veja a lista aqui).

A apresentação é do jornalista Ed Wilson Araújo e do professor de Geografia Martonio Tavares, com a participação especial do diretor da rádio Bacanga FM, Luís Augusto da Silva Nascimento.

A operação é do radialista Valmarley Pinto.

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Cadê a água? Podcast Espaço Público aborda a crise hídrica no Maranhão

O podcast Espaço Público, iniciativa da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no Maranhão, aborda hoje (terça-feira), 4 de novembro de 2025), a situação dos recursos hídricos no estado e as emergências climáticas no planeta.

Com periodicidade semanal (toda terça-feira, às 20h), o programa tem parceria da rádio comunitária Bacanga FM, da Agência Tambor e transmissão simultânea de emissoras comunitárias vinculadas à Rede Abraço e de rádios web em vários estados do Brasil.

Você pode acompanhar o Espaço Público ao vivo, das 20h às 21h, no site da Bacanga FM ou no aplicativo radios.com.br

A prosa hoje é a situação da água, dos mananciais e em especial sobre a situação dos rios e dos comitês de bacias hidrográficas do Maranhão.

Afinal, cadê a água do rio Itapecuru? Qual a situação dos outros rios do estado? E os rios da grande ilha de São Luís? Como está o abastecimento de água na sua casa? Por que falta água?

Para falar sobre esses temas, o Espaço Público recebe Marcos Silva, mestre em Desenvolvimento Socioespacial e Regional pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema).

A apresentação é do jornalista Ed Wilson Araújo e do professor de Geografia Martonio Tavares, com a participação especial do diretor da rádio Bacanga FM, Luís Augusto da Silva Nascimento. (hoje, excepcionalmente, Ed Wilson Araújo não participa, mas estará de volta na próxima terça-feira).

A operação é do radialista Valmarley Pinto.

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Lô Borges e São Luís

Agenda Maranhão – Destacado músico da MPB, Lô Borges, um dos fundadores do Clube da Esquina, que morreu no último domingo (2), aos 73 anos, tinha afinidades com São Luís.

Vários veículos de comunicação maranhenses prestaram homenagens ao cantor e compositor mineiro, parceiro de Milton Nascimento, Beto Guedes e outros integrantes do Clube da Esquina.

No programa “Timbira à La Carte”, da Rádio Timbira FM, comandado pelo radialista Robson Jr. (de férias), o produtor do programa, Pedro Borges, recordou momentos musicais do artista mineiro com o maranhense Zeca Baleiro.

Lô Borges e Zeca Baleiro trabalharam juntos no álbum Céu de Giz, lançado em agosto deste ano, com 10 músicas inéditas.

O jornal O Imparcial rememorou entrevista que Lô Borges concedeu ao jornalista Zema Ribeiro, em 2023.

O jornal lembrou que Lô Borges foi figura constante em São Luís por vários anos.

A última vez que o artista esteve no Maranhão foi em 2018, quando se apresentou no Lençóis Jazz e Blues Festival, etapa Barreirinhas.

“Teve uma época que eu ia em São Luís todo ano, quase uma vez por ano. Eu tinha um público fiel em São Luís, os contratantes chamavam, eu ia fazer shows, sempre gostei muito de tocar em São Luís. Tem tantos anos que eu não vou à São Luís, a última vez que eu estive em São Luís foi participando de uma turnê do Milton Nascimento, chamada “Uma travessia” [2013]; eu fiz uma participação com seis músicas, uma coisa assim. O público de São Luís sempre foi muito legal comigo, eu tenho saudade de tocar nessa terra aí, velho!”, afirmou Lô Borges.

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Lixão de Barreirinhas contrasta as belezas naturais dos Lençóis Maranhenses

Ed Wilson Araújo

O luxo.

Uma rápida folheada no cardápio de um dos restaurantes de médio padrão na orla de Atins, o point do turismo sofisticado de Barreirinhas, revela preços estratosféricos de bebidas e alimentos. Uma cerveja de 350ml (long neck) é 20,00; uma porção de pastel sai por 70,00; e um prato para quatro pessoas chega a 675,00. Para sentar e consumir, ao som de música ao vivo, o couvert custa 30,00. Nesse pedaço de paraíso tropical localizado nos Lençóis Maranhenses, algumas diárias de hotéis chegam a R$ 5.000,00.

Esse lugar onde circula muito dinheiro também produz demasiado lixo nas pousadas, resorts, bares e restaurantes. Tudo é transportado em tratores e caminhonetes para a sede do município de Barreirinhas, a 256 Km de São Luís. Em julho de 2024, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses recebeu o título de Patrimônio Natural da Humanidade, concedido pela Unesco.

O inferno.

Diariamente, às 5h30min da manhã, um velho caminhão pau de arara leva um grupo de catadores para o lixão da cidade, uma área de aproximadamente três hectares, degradada, às margens da rodovia MA-225, próximo ao povoado Sobradinho. Eles trabalham entre urubus, calor extenuante, fumaça tóxica asfixiante, contaminantes químicos, odores diversos, carniças disputadas por cachorros esqueléticos, ratos, baratas e moscas aos montes, correndo ainda o risco de serem atingidos por incêndio.

Sem licença ambiental, a Prefeitura de Barreirinhas despeja diariamente 80 toneladas de resíduos na margem da MA-225, segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambente.

Transporte precário conduz catadores ao trabalho. Imagem: Ed Wilson Araújo

Sentada no monturo de sacos pretos e outros de variadas colorações, uma mulher forte faz várias operações simultâneas: maneja uma pequena faca e corta as embalagens, espanta a nuvem de moscas no seu rosto e revira tudo à cata das coisas de valor. A alma do capitalismo espalha-se sobre a montanha de resíduos, onde os objetos recicláveis viram mercadoria com preços diferenciados: garrafas pet, plástico filme, latas de bebidas, cobre, papelão, embalagens de papel, alumínio e ferro.

Os primeiros registros sobre o lixão datam de 2004, segundo a pesquisa de Fernanda Maria da Costa Lindoso, graduada em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal do Maranhão (IFMA) em Barreirinhas. O depósito de resíduos a céu aberto ficava nas proximidades do Hospital Regional e dos bairros Vila Canaã, Cidade Nova e Residencial Mundico Cosme e era conhecido como “Lixão da Cidade Nova”, objeto de conflitos com moradores devido à fumaça tóxica, moscas, odores e contaminação do solo e da água.

À época, um relatório técnico emitido por pesquisadores do IFMA, após avaliar a qualidade da água dos poços da Vila Canaã, registrou um dado alarmante: “85% das amostras coletadas na estação seca e na estação chuvosa apresentaram contaminação por coliformes totais e todas as amostras que apresentaram contaminação por coliformes também apresentaram contaminação por coliformes fecais”, constatando o perigo de consumo para a saúde humana, atestaram a doutora em Biologia Vegetal Éville Karina Maciel Delgado Ribeiro Novaes e o químico industrial Carlos Augusto Gomes Soares.

VIDA “SOFRIDEIRA”

Em 2022, houve a transferência dos resíduos para o terreno marginal à rodovia MA-225, a cerca de 25Km do Centro de Barreirinhas. No novo depósito não há moradias nem equipamentos públicos nas proximidades, mas a área degradada é flagrante crime ambiental, previsto na Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, determinando a extinção dos lixões até 2014.

Cerca de 30 famílias trabalham no local. O rosto coberto de fuligem, entre as rugas profundas, guarda as marcas do tempo de serviço de Sebastião Nunes Pereira, o Tião da Reciclagem. Ele explicou que atua no ramo há cerca de 20 anos, desde o lixão de Tutoia, cidade localizada a 70 Km de Barreirinhas. Hoje, além de catador, é sucateiro. Há quatro anos comprou uma caminhonete e passou a empreender – adquire no lixão e vende para os “patrões”, como são denominados os compradores de maior porte. “A nossa vida é sofrideira. Se não trabalhar, não vai”, definiu. A sua esposa, Maria dos Reis, tem 28 anos na reciclagem. “Sou fundadora do lixão de Tutóia, mas aqui em Barreirinhas o lixo dá melhor, tem mais renda”, enfatizou.

Tião da Reciclagem começou a reciclar no lixão de Tutóia. Foto: Ed Wilson Araújo

A jovem Letícia Silva, de 24 anos, afirma estar no lixão desde criança, trabalhando com o seu pai no antigo depósito de resíduos da Cidade Nova. “Aqui é bom, mas cansativo, por causa do sol e da fumaça”, enfatizou. Perguntada sobre o futuro, disse que deseja fazer curso de Fisioterapia para cuidar das pessoas.

Antônio Pereira da Silva tem 40 anos de idade e considera-se um dos fundadores do “novo” lixão, em 2022, à margem da MA-225. A sua esposa, Bernadete Feitosa, de 49 anos, foi junto. O casal tem uma renda média de R$ 4.000,00 com a reciclagem.

Nenhum dos catadores usa EPI (Equipamento de Proteção Individual). Todos manejam pequenas facas para cortar os sacos que chegam despejados pelas caçambas e caminhões de coleta. A triagem é rústica. Consiste em ir para dentro do monturo, revirar os sacos e separar os recicláveis. “A gente aqui faz a limpeza”, explica Feitosa.

O Maranhão tem 217 municípios e apenas um aterro sanitário – o Titara. Localizado em Rosário, a 75 Km de São Luís, foi implantado em 2015 e recebe os resíduos coletados de apenas 17 cidades, segundo a Agência Executiva Metropolitana (Agem). As demais, incluindo Barreirinhas, utilizam lixões a céu aberto, em desobediência à Política Federal de Saneamento Básico, instituída pela Lei nº 11.445/2007, complementada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), atualizada pelo Marco Legal do Saneamento (Lei nº 14.026/2020).

Em seu conjunto, as legislações recomendam uma série de medidas para o tratamento dos resíduos sólidos em ambientes adequados (evitando danos ambientais), a valorização da profissão de catador de materiais recicláveis e a extinção dos lixões.

Apesar de sofrer discriminação pelo tipo do trabalho, Bernadete Feitosa conta que tem uma vida digna. Com ela e o marido – detalha – outros familiares também vivem da reciclagem: mãe, irmã, sobrinha e cunhados. “Eu comprei um terreno, fiz o muro, construí a minha casa e tenho moto. Tudo do lixão. Se eu tivesse outro serviço não tinha certeza de conquistar essas coisas”, comparou.

REVÓLVER, DINHEIRO E FETO

Quando o sol e a fumaça pesam sobre os corpos exaustos, os catadores buscam abrigo em um barraco improvisado, rodeado de sacos gigantes abarrotados de garrafas pet. É o momento da resenha, do café e da contação das histórias sobre a vida no lixão e os achados inusitados.

A narradora Bernadete Feitosa comanda o fio da conversa, entrecortada pelos outros participantes, revelando fatos diversos. Relatam que certa vez um conhecido político de Barreirinhas chegou desesperado para encontrar um revólver de cabo dourado que estava enrolado em um plástico e foi colocado no lixo da casa dele por engano, pela faxineira. Contam ainda sobre 5 mil reais encontrados em uma caixa de peixe seco. Os donos do dinheiro estariam bebendo em um bar e deixaram a caixa de papelão na calçada, distraídos, quando o caminhão da limpeza passou e recolheu.

Bernardete e Antônio: casa, roupas e motocicleta conquistados no lixão. Foto: Ed Wilson Araújo

Outros ditos dão conta dos achados de R$ 200,00 em uma carteira porta-cédulas e 475,00 em um envelope utilizado para fazer depósito bancário. “O Deus nos acuda mesmo aconteceu no dia que encontraram um feto no lixão. Era polícia para todo lado, um desespero. O corpo ainda estava molinho. Uma tristeza essa tragédia”, confessa Feitosa.

Os catadores, por outro lado, celebram a coleta de objetos de uso pessoal descartados ainda em boas condições de uso, como bolsas, calças, bermudas, sapatos, tênis, sandálias e até aparelhos celulares. “Tudo que eu visto tiro daqui. As minhas roupas de cama também, porque nós recebe doação de enxovais usados das pousadas e hotéis”, mencionou Maria José da Silva, registrando ainda as cestas básicas fornecidas pelos eventos de trilha e rally nos Lençóis Maranhenses.

MUNICÍPIO DESCUMPRIU DECISÃO JUDICIAL

A transferência do depósito de resíduos da área urbana para a margem da MA-225 ocorreu em meio aos protestos de moradores, de iniciativas do Ministério Público (MP) e condenação do município em decisão judicial. Os trâmites remetem ao ano de 2014, quando o Promotor de Proteção ao Meio Ambiente, Urbanismo e Patrimônio Cultural de Barreirinhas instaurou Inquérito Civil para apurar o cumprimento do artigo 54 da Lei nº 12.305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos), que proíbe a destinação ou disposição final de resíduos sólidos ou rejeitos in natura a céu aberto, estabelecendo o prazo de quatro anos (2014) para a extinção dos lixões.

Já em 2018, a Promotoria de Justiça de Barreirinhas instaurou o Inquérito Civil nº 001347-018/2018 com o objetivo de apurar as providências.

Respondendo ao MP, o Município de Barreirinhas informou que realizou o Processo Licitatório nº 008-3766/2013 e contratou a empresa Gestão Ambiental de Projetos e Consultoria Ltda para conduzir a implantação do Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB), efetivado na Lei nº 765, de 07/12/2017. Sobre o despejo dos resíduos a céu aberto, informou que estava realizando a contenção do lixão existente no povoado Santa Cruz e que seria transferido para o Aterro Sanitário, a ser localizado após a comunidade Passagem do Castro.

Apesar das justificativas apresentadas ao MP, a Prefeitura de Barreirinhas não cumpriu a Lei nº 12.305/2010, que mandava extinguir os lixões até 2014. 

Em 2019 o Ministério Público ingressou com uma Ação Civil Pública (ACP) contra o município, requerendo a imediata interrupção do despejo irregular de resíduos sólidos a céu aberto e a construção de Aterro Sanitário, com prazo de implantação em até quatro anos (2023). O município não acatou o Parket, que ajuizou junto ao Tribunal de Justiça para obrigar a gestão municipal a fazer a destinação adequada dos resíduos.

A Justiça julgou procedente o pedido do Ministério Público, condenando o Município de Barreirinhas a:

– Adequar a destinação dos resíduos sólidos conforme os padrões técnicos e sanitários da Lei nº 12.305/2010, no prazo de até 24 meses;

– Encaminhar ao Ministério Público, após 120 dias da intimação, o projeto e cronograma para a execução da medida;

– Prestar contas mensalmente ao Ministério Público sobre o cumprimento do cronograma;

– Prever os recursos financeiros necessários no orçamento municipal a partir de 2022.

O município descumpriu a decisão. Em sua defesa, a gestão alegou ausência de área licenciada para fazer o descarte e solicitou prazo de 120 dias aprovar um projeto de lei na Câmara dos Vereadores, bem como realizar uma licitação para construir uma usina de tratamento dos resíduos, mas nenhuma das medidas foi cumprida.

Ao fim, o Lixão da Cidade Nova foi desativado e o destino final dos resíduos sólidos passou a ser o novo depósito a céu aberto à margem da MA-225.

No entanto, o aterro sanitário está previsto no Plano Municipal de Saneamento Básico (Lei nº 765, de 07/12/2017), constando, na Seção III, a “Adoção do aterro sanitário enquanto solução tecnológica de destinação final dos rejeitos, com sua vida útil de até 20 anos”.

PROBLEMAS E SOLUÇÕES

O documento “Diagnóstico situacional: Inclusão Socioprodutiva de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis do Estado do Maranhão”, produzido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no Maranhão, no âmbito do Programa Pró-Catadores (PPC), apresenta uma série de indicadores sobre a cadeia produtiva dos resíduos sólidos em 16 cidades do Maranhão, incluindo Barreirinhas.

Segundo o levantamento, a situação dos trabalhadores nos lixões configura violação de direitos em ambientes insalubres, sem uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), submetidos a riscos de acidentes com materiais perfurocortantes, ameaças de contrair doenças de pele ou intoxicação por substâncias químicas e fumaça tóxica, constante exposição a resíduos contaminantes e altas temperaturas geradas pela queima dos rejeitos.

O documento aponta ainda a falta de reconhecimento institucional. “Apesar da sua importância, os catadores ainda são pouco valorizados pelas políticas públicas e pela sociedade, o que limita o acesso aos programas de apoio e financiamento”, explica o diagnóstico.

Entre as 16 cidades mapeadas pelo Sebrae, Barreirinhas figura com médias baixas em quase todos os itens. Embora tenha elaborado o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (ver página 7 no link), o município não implantou o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) para os catadores, item obrigatório da legislação. Outro dispositivo ausente é o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), destinado a evitar danos corporais e acidentes com os catadores nos ambientes insalubres e precários.

CATADORES ORGANIZADOS

Egresso do lixão, outro grupo trabalha de forma organizada na Associação dos Catadores e Catadoras de Barreirinhas (ACCB), o Shopping da Reciclagem, localizado em um galpão na área urbana da cidade, equipado com máquina de prensa e balança fornecidos pelo Governo do Estado e utilizados para compactar e pesar os recicláveis.

Ex-catadores do lixão migraram para o Shopping da Reciclagem. Foto: Ed Wilson Araújo

O Shopping da Reciclagem recolhe os materiais (garrafas plásticas, papelão e latas de bebidas) com uma triagem prévia dos parceiros do comércio e da hotelaria. “No galpão somos cinco catadores. Toda a renda da associação é dividida e vendemos para os compradores que dão o maior preço. O mercado de resíduo sólido é muito procurado”, esclareceu a vice-presidenta da associação, Josélia Reis.

A Prefeitura de Barreirinhas paga o aluguel e a manutenção do galpão. Fornece também o caminhão para o transporte dos resídios.

Criada em 2018, a entidade tem 32 filiados e registro no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas). Recentemente, criou o “selo verde” com a identificação “esse estabelecimento tem compromisso com a sustentabilidade”, distinção utilizada para valorizar e estimular as parcerias que fornecem os resíduos.

O secretário municipal de Meio Ambiente de Barreirinhas, Ronald Augusto Sousa Rocha, o Ronin, explica que o Shopping da Reciclagem serve como referência para retirar os catadores do lixão. “O objetivo da prefeitura é concentrar todos os catadores no galpão, transformar o lixão em área de transbordo e transferir os resíduos para o aterro sanitário de Titara”, detalhou.

Até agosto de 2025 o município recebeu cerca de 250 mil turistas, mas a gestão ainda não implantou a coleta seletiva, informou o secretário.

MAIS TURISMO, MENOS SANEAMENTO

Para o doutorando em Geografia Humana pela USP e membro do Lepeng (Laboratório de Extensão, Pesquisa e Ensino de Geografia), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Giovanny Castro, “o crescimento populacional e o avanço do turismo transformaram Barreirinhas, porta de entrada do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, em um retrato das contradições brasileiras”. Com base no IBGE, ele detalha que entre 1993 e 2022 a população do município aumentou 251%, saltando de 18,6 mil para 65,5 mil habitantes.

O pesquisador interpreta a situação como um exemplo de expansão do turismo sem planejamento e políticas públicas eficazes, acentuando desigualdades com a degradação de áreas ecologicamente sensíveis, em desobediência à Política Nacional dos Resíduos Sólidos.

Área do novo lixão de Barreirinhas tem fogo e fumaça permanantes. Imagem: Giovanny Castro

“Barreirinhas ainda não conta com rede de esgoto e destina seus resíduos a céu aberto. Novos empreendimentos como pousadas, resorts e hotéis sobrecarregaram uma estrutura já frágil”, enfatizou.

O conflito entre a localização de lixões e a resistência das populações adjacentes revela o fenômeno conhecido como “nimby”, iniciais de not in my backyard (“não no meu quintal”), utilizada para repudiar instalações predatórias e insalubres em vizinhanças de moradias urbanas ou do campo.

O acúmulo de resíduos a céu aberto também contamina o solo e as águas subterrâneas pela produção de “chorume” – o líquido oriundo da decomposição da matéria orgânica, de grande potencial poluidor.

ALTERNATIVAS AOS LIXÕES

Uma das formas de amenizar o destino final dos resíduos está em curso por meio da Secretaria de Estado do Trabalho e Economia Solidária (Setres), que pretende implantar 11 Centros de Triagem e Reciclagem (CTR) no Maranhão. “O equipamento terá um galpão de 1050 metros quadrados, veículos elétricos para fazer a coleta, esteira seletiva, triturador, prensas hidráulicas para papel, plástico e alumínio e balanças digitais de precisão. O investimento total é de R$ 25 milhões, com recursos oriundos do governo federal, através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)”, explica o titular da Setres Luiz Henrique Lula.

Os CTRs têm parceria do Sebrae, através do Programa Pró-Catadores, responsável pela capacitação em planejamento e gestão de negócios, marketing e logística, com o propósito de ensinar os beneficiários a precificar os produtos e administrar os empreendimentos.

Barreirinhas é uma das cidades programadas para receber um dos 11 CTRs. “Eu já encaminhei a documentação de um terreno específico, no local onde funcionava o antigo lixão, na Cidade Nova”, enumerou Ronald Rocha (Ronin). Ele acrescentou que outras medidas como a implantação de um ecoponto no povoado Santo Inácio (próximo de Atins) e de miniecopontos nas escolas municipais estão nos planos da prefeitura.

Segundo a Setres e a Sema de Barreirinhas, o objetivo comum é tirar os catadores dos lixões, qualificá-los para operar no circuito empreendedor dos recicláveis e fechar os depósitos de resíduos a céu aberto.

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Unesco lança pesquisa sobre influenciadores digitais

Portal Intercom – A Unesco publicou o estudo “Influencers en America Latina: creación de contenidos, dilemas éticos y desafíos sociales”. O material teve como objetivo investigar o papel dos influenciadores digitais e criadores de conteúdo da área política e saúde nos países latinos, com destaque para: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru.

Coordenado pelo professor Arturo Arriagada, da Universidad Adolfo Ibáñez, do Chile, a pesquisa publicada analisa como os atores produzem conteúdos, como se organizam, quais valores promovem e ainda os dilemas éticos que envolvem as influências digitais.

Outro ponto de destaque é que o estudo combina entrevistas e observações para compreender as práticas e os impactos sociais do trabalho dos influenciadores.

O relatório conta com dez resultados de pesquisa, pensando na temática e nas realidades regionais. Todo o conteúdo está disponível gratuitamente para download neste link.

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Racionamento de água agora é oficial

É de amplo conhecimento que o fornecimento de água sofre racionamento em São Luís pelo menos nos últimos 40 anos.

Dezenas de bairros antigos e novos vivem há décadas com o fornecimentro de água dia sim e dia não ou então dia nenhum.

Mas, tendo ou não água, a conta sempre chega.

A diferença entre o passado e o tempo atual é que agora o racionamento é oficial; ou seja, há um comunicado institucional informando que o abastecimento de água é precário na capital.

Este blog já alertou várias vezes sobre as ameaças constantes que afetam os recursos hídricos no Maranhão, com reflexos na maior cidade do estado – São Luís.

Nesse artigo, publicado em 2022, chamei atenção para o intenso processo de destruição do rio Itapecuru, somado à revisão do Plano Diretor de São Luís, ambos incidindo no abastecimento de água da capital.

O alerta agora fica comprovado. Temos uma situação muito grave, que pode levar a um colapso!

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Eleições Apruma: apenas uma chapa está habilitada

Só uma chapa solicitou inscrição e está habilitada para as eleições da Apruma, seção sindical do Andes-SN.

Apruma significa Associação dos Professores da UFMA. Embora tenha o nome de associação, formalmente é uma seção sindical do Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior).

A eleição para a Diretoria e o Conselho de Representantes da Apruma será realizada dia 25 de novembro de 2025.

Veja abaixo a composição da chapa “Apruma nos representa: Autonomia, Direitos e Democracia”:

Diretoria Executiva

Presidente: Luiz Eduardo Neves dos Santos

Vice-Presidenta: Rosilda Silva Dias

Secretária-Geral: Cristina Cardoso de Araújo

Primeira-Secretária: Joanita Mota de Ataide

Diretor Administrativo-Financeiro: Thiago Pereira Lima

Primeiro-Tesoureiro: Érbio dos Santos Silva

Diretor de Interiorização: Cláudio Gonçalves da Silva

Diretor-Adjunto de Interiorização: Antonio Gonçalves Filho

Diretor de Relações Sindicais e Populares: Ed Wilson Ferreira Araújo

Diretor Acadêmico, Cultural e Social: Jorge Milton Ewerton Santos

Diretora de Dignidade Humana: relações étnico-raciais, de gênero e diversidade sexual: Arleth Santos Borges

Conselho de Representantes:

1 – Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia (CCET)
– Éder Nascimento Silva
– Jaciene de Jesus Freitas Cardoso
– Meubles Borges Júnior

2 – Centro de Ciências Humanas (CCH)
– Élio de Jesus Pantoja Alves
– Guilherme Augusto de Ávila
– Maria do Socorro Gonçalves da Costa
– Maria de Nazaré Pereira da Costa

3 – Centro de Ciências Sociais (CCSo)
– Carlos Agostinho Almeida de Macedo Couto
– Juliana Carvalho Miranda Texeira
– Leoneide Maria Brito Martins
– Letícia Conceição Martins Cardoso
– Maria da Glória Serra Pinto de Alencar

4 – Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS)
– Adriani Hass
– Bruno Luciano Carneiro Alves de Oliveira
– Camila Evangelista Carnib Nascimento
– Maria Raimunda Santos Garcia
– Mônica Elinor Alves Gama
– Patrícia de Maria Silva Figueiredo

5 – Colégio Universitário (COLUN)
– Cláudia Simone Carneiro Lopes
– Ednete Gomes Monteiro
– Raimundo Inácio Souza Araújo

6 – Campus II – Imperatriz
– José Edilmar de Sousa

7 – Campus III – Bacabal
– Diana Costa Diniz

8 – Campus IV – Chapadinha
– João Valério de Souza Neto

9 – Campus V – Pinheiro
– Lucio Carlos Dias Oliveira

10 – Campus VI – Codó
– Marco Antônio Machado Lima Pereira

11 – Campus VII – São Bernardo
– Ana Caroline Amorim Oliveira

12 – Campus VIII – Grajaú
– Luis Félix de Barros Vieira Rocha

13 – Campus IX – Balsas
– Paulo Cristiano Queiroz Moraes

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Colapso do ESG: organizações quilombolas denunciam retrocesso jurídico favorável às violações ambientais da EDP

A empresa EDP (Energias de Portugal) é um dos maiores grupos energéticos da Europa, com operações em 30 países. Apresenta-se globalmente como líder em energias renováveis e defensora da transição energética. No entanto, a atuação local no Maranhão revela contradições gritantes entre o seu discurso e as práticas operacionais

São Luís (MA) – Uma coalizão formada por 21 entidades da sociedade civil (veja lista ao final da postagem) denuncia um grave retrocesso jurídico e institucional no Maranhão, expondo a distância entre o discurso corporativo de sustentabilidade e os direitos das comunidades quilombolas no estado mais pobre do Brasil.

Em manifesto encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF), as organizações criticam duramente um acórdão da 11ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região — composta pelos desembargadores federais Newton Ramos (presidente/relator), Rafael Paulo e Pablo Zuniga — que reformou decisão de primeira instância e autorizou a continuidade das operações da empresa EDP Transmissão MA I S.A. (subsidiária da EDP Energias do Brasil S.A.), sem a devida Consulta Prévia, Livre e Informada (CPLI) às comunidades quilombolas afetadas.

Segundo as entidades, a decisão viola frontalmente os direitos consagrados na Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) — incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro — e ignora recente jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, especialmente o caso Comunidades Quilombolas de Alcântara vs. Brasil, cuja sentença obriga o Estado a assegurar a consulta prévia como um dever vinculante, e não uma opção.

No processo nº 1021678-49.2024.4.01.0000 (1º Caso), o TRF-1 suspendeu os efeitos de medidas protetivas anteriormente concedidas pela 8ª Vara Federal Ambiental e Agrária do Maranhão, liberando a operação da Linha de Transmissão Miranda II – São Luís II – C3, mesmo diante de licenciamento ambiental questionado e da ausência de consulta formal às comunidades quilombolas de Anajatuba, Itapecuru-Mirim e Santa Rita (MA).

A licença foi emitida pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) sem a realização de estudo do componente quilombola pelo Incra e sem qualquer diálogo com as populações impactadas. A decisão do TRF-1 desconsiderou ordem da Justiça Federal de primeira instância (maio de 2024) que havia determinado a revisão do licenciamento e a execução da CPLI conforme a legislação vigente.

O manifesto das entidades destaca quatro violações centrais no acórdão do TRF-1:

1. Restrição indevida do direito à consulta: a exigência de prova de “impacto direto” para justificar a CPLI contradiz o princípio da precaução e esvazia o direito à consulta preventiva, previsto na Convenção 169 da OIT;

2. Confusão conceitual entre audiência pública e consulta qualificada: o acórdão equipara meras audiências públicas genéricas ao processo específico de consulta livre, estruturado e realizado por meio das representações legítimas das comunidades;

3. Desconsideração da Portaria Interministerial nº 60/2015: a decisão ignora as diretrizes técnicas e normativas que regulam a participação de órgãos como o Incra e a Fundação Cultural Palmares no licenciamento de projetos com impacto sobre territórios quilombolas;

4. Validação de ilegalidades pelo fato consumado: a tese de que o avanço físico da obra justifica sua continuidade ignora o vício de origem no processo, legitimando práticas que atropelam direitos constitucionais.

O desrespeito ao direito de consulta prévia das comunidades tradicionais, evidenciado no caso das linhas de transmissão, não é um fato isolado. Um exemplo notório é a construção da estrada conhecida como “Travessia da Baixada” (2º Caso), que avançou sobre os Campos Naturais, nos municípios de Anajatuba e São João Batista. Este empreendimento foi iniciado com uma Dispensa de Licenciamento Ambiental, sob a justificativa de baixo impacto — tratando-se da mera “melhoria de uma estrada existente” (que nunca existiu).

A abordagem, no entanto, desconsiderou a existência de ao menos sete comunidades quilombolas impactadas, e negligenciou o componente quilombola obrigatório, provocando entulhamento de passagens, alagamento de residências, exclusão das vozes locais e graves impactos ambientais.

DIREITO À CONSULTA LIVRE E INFORMADA

As omissões do Estado do Maranhão em relação à CPLI tem sido objeto de múltiplas intervenções judiciais. Na ACP nº 0856157-69.2021.8.10.0001 (3º Caso), proposta pela Defensoria Pública Estadual com apoio da sociedade civil, foi firmado acordo que originou a Portaria Conjunta SEDIHPOP/SEMA nº 1/2022, regulamentando a atuação conjunta entre órgãos estaduais para garantir a CPLI. Ainda assim, as violações se repetiram. Isso levou à proposição de nova ação (processo nº 0867168-27.2023.8.10.0001), forçando modificação da Portaria Sema nº 76/2019 para obrigar servidores da secretaria a promover a CPLI nos casos cabíveis.

Mesmo assim, no caso da Travessia da Baixada (2º Caso), as comunidades só foram reconhecidas após forte pressão popular, com as obras já em curso. Posteriormente, a liminar da Ação Popular nº 1011269-69.2024.4.01.3700 determinou a suspensão das obras até que a CPLI fosse realizada. A 11ª Turma do TRF 1ª região novamente interveio, suspendendo a liminar e permitindo o prosseguimento imediato das obras, atendendo a recurso do próprio Governo do Estado.

A atuação do Governo do Maranhão, portanto, não é de omissão passiva, mas de conivência ativa e reincidência institucional na violação sistemática do direito à consulta. Essa postura afronta o sistema de proteção aos direitos territoriais e culturais das comunidades tradicionais e fragiliza a confiança no próprio Estado Democrático de Direito.

A situação é agravada pelos impactos já sentidos nas comunidades, como o desaparecimento de áreas tradicionais de pesca e agricultura, além da degradação de campos naturais alagáveis, essenciais para a subsistência das famílias quilombolas.

As linhas de transmissão geram um passivo ambiental silencioso e duradouro, com desmatamento para corredores de passagem, fragmentação de habitats, alteração de regimes hídricos e poluição sonora e visual. Seus impactos atingem particularmente comunidades tradicionais, cujos modos de vida estão intrinsecamente ligados ao equilíbrio ecológico desses ecossistemas.

A ausência de medidas compensatórias e de recuperação de áreas degradadas intensifica a injustiça ambiental, especialmente quando esses empreendimentos se instalam em Unidades de Conservação ou zonas úmidas protegidas, como é o caso da Baixada Maranhense.

ÁREA PROTEGIDA PELA CONVENÇÃO DE RAMSAR

As áreas úmidas (wetlands) da Baixada Maranhense — reconhecidas como Sítio Ramsar desde 2000 — possuem importância ecológica e cultural incomparável. São berçários naturais de inúmeras espécies aquáticas, fundamentais para segurança alimentar, controle de cheias, recarga de aquíferos e regulação climática. Também sustentam a economia de subsistência de milhares de famílias quilombolas, pescadores e agricultores familiares. Qualquer intervenção sem consulta e sem avaliação rigorosa de impactos nesses territórios representa risco à biodiversidade e ao patrimônio cultural imaterial brasileiro.

Nesse contexto, o combate ao greenwashing torna-se central na luta por justiça climática. Estratégias de marketing que apresentam projetos predatórios como sustentáveis — utilizando rótulos como “verdes” ou “voltados à transição energética” — ocultam violações de direitos e impactos ambientais profundos. Essa maquiagem ambiental mina a credibilidade de compromissos assumidos pelo Brasil em tratados internacionais como o Acordo de Paris e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), além de gerar desinformação pública.

A empresa EDP – Energias de Portugal, responsável pela obra da linha de transmissão em questão, é um dos maiores grupos energéticos da Europa, com operações em 30 países. Apresenta-se globalmente como líder em energias renováveis e defensora da transição energética. No entanto, a atuação local no Maranhão revela contradições gritantes entre seu discurso ESG e suas práticas operacionais.

No Brasil, a EDP atua em geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, tendo ampliado fortemente sua presença nos últimos anos. Embora destaque publicamente seu compromisso com a sustentabilidade, casos como o da Linha Miranda II – São Luís II – C3 evidenciam desrespeito a direitos fundamentais e deficiências graves no cumprimento das obrigações socioambientais. A falta de transparência, a ausência de consulta e o acúmulo de impactos não mitigados revelam um padrão de violação que compromete sua legitimidade social.

SOLICITAÇÃO AO MPF

Diante desse cenário, as entidades signatárias solicitam ao Ministério Público Federal que interpele recurso cabível para restabelecer a decisão de primeira instância e, se necessário, leve o caso às instâncias superiores. O objetivo é garantir a realização da CPLI e a reparação de danos já evidentes.

A mensagem é clara: não se trata de oposição ao desenvolvimento ou à infraestrutura energética, mas sim de exigir que qualquer projeto respeite os direitos territoriais, culturais e ambientais das populações tradicionais. A consulta prévia é uma garantia democrática, não um entrave. E a sua violação não pode ser normalizada.

As organizações alertam que permanecerão mobilizadas e vigilantes. Confiantes na atuação do MPF e na responsabilidade do Judiciário, esperam que o curso do processo seja corrigido, restabelecendo a legalidade e protegendo os quilombolas do Maranhão contra mais um capítulo de invisibilização institucional.

Veja a lista de entidades signatárias do documento encaminhado ao Ministério Público Federal

1. COORDENAÇÃO NACIONAL DE QUILOMBOS – CONAQ

2. UNIÃO DAS ASSOCIACOES DAS COMUNIDADES REMANESCENTES DE QUILOMBOS DO MUNICIPIO DE ANAJATUBA – UNIQUITUBA

3. UNIÃO DAS COMUNIDADES NEGRAS RURAIS QUILOMBOLAS DE ITAPECURU-MIRIM

4. JUSTIÇA NOS TRILHOS – JNT

5. CONSELHO PASTORAL DOS PESCADORES (MARANHÃO) – CPP

6. ARTICULAÇÃO NACIONAL DAS PESCADORAS – ANP

7. FÓRUM CARAJÁS

8. ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DE PONTA GROSSA DO QUILOMBO MONGEBELO 1

9. ASSOCIAÇÃO QUILOMBOLA DOS PRODUTORES RURAIS DE TESO DA TAPERA

10. ASSOCIAÇÃO QUILOMBOLA DOS TRABALHADORES RURAIS DO POVOADO JUÇARA

11. ASSOCIAÇÃO QUILOMBOLA DOS TRABALHADORES RURAIS DO POVOADO JAIBARA DOS RODRIGUES

12. ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DO POVOADO PAPAGAIO – SANTA RITA/MA

13. ASSOCIAÇÃO AMBIENTAL ORLA VIVA – SÃO JOSÉ DO RIBAMAR

14. ASSOCIAÇÃO MARANHENSE PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA-AMAVIDA – SÃO LUÍS

15. CENTRAL SINDICAL E POPULAR – CSP/CONLUTAS

16. COMITÊ DE SOLIDARIEDADE À LUTA PELA TERRA – COMSOLUTE

17. ASSOCIAÇÃO DE ADVOGADOS DO POVO GABRIEL PIMENTA/ABRAPO-MARANHÃO

18. GEDMMA/UFMA – GRUPO DE ESTUDOS: DESENVOLVIMENTO, MODERNIDADE E MEIO AMBIENTE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

19. GRUPO DE VALORIZAÇÃO NEGRA DO CARIRI – GRUNEC

20. MOVIMENTO DE DEFESA DA ILHA

21. COMITÊ QUILOMBOLA DE SANTA RITA – MARANHÃO

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Podcast Espaço Público amplia parcerias com rádios comunitárias e web

A segunda edição do podcast Espaço Público vai ao ar hoje conquistando parcerias firmadas de 13 emissoras comunitárias e 18 rádios web.

O programa é uma realização da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no Maranhão, com apoio da rádio comunitária Bacanga FM 106,3 e da Agência Tambor.

Espaço Público tem apresentação do jornalista/professor da UFMA Ed Wilson Araújo e o professor de Geografia Martonio Tavares, com a participação especial de Luis Augusto Nascimento. A operação é de Valmarley Pinto.

O entrevistado de hoje é Ciro Pedroza: radialista, pesquisador e professor da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Vamos conversar sobre o rádio e as novas tecnologias, produção de conteúdo, combate a desinformação e o papel do ouvinte.

O programa semanal acontece todas as terças-feiras, das 20h às 21h, debatendo temas relacionados à educação, comunicação, saúde, desenvolvimento sustentável, ciência, sabedoria popular e política.

VEJA ABAIXO A LISTA DE RÁDIOS PARCEIRAS

1 Digital FM (Santa Luzia do Paruá)

2 Caru FM (São João do Caru)

3 Mapari FM (Humberto de Campos)

4 Alcântara FM (Alcântara)

5 Nova Bacabeira FM (Bacabeira)

6 Tarumã FM (Penalva)

7 Cidade FM (Fortaleza dos Nogueiras)

8 Barreirinhas FM (Barreirinhas)

9 Tabocas FM (Barreirinhas)

10 Progresso FM (Igarapé do Meio)

11 Babaçu FM (Cidelândia)

12 Cidade FM (Lageado Novo)

13 Rádio Web Cidade Net (Lageado Novo)

14 Agência Tambor (São Luís)

15 Rádio Web Realidade, a Voz da Comunidade (São Luís)

16 Rádio Web Pedra Rara (Guarulhos-SP)

17 Rádio Web Conexão Reggae (Manaus-AM)

18 Rádio Web Conexão Reggae (Brasília-DF)

19 Rádio Web Reggae Master (Goiânia-GO)

20 Rádio Web Conexão Jamaicana (Imperatriz-MA)

21 Rádio Web Reggae em Movimento (João Pessoa-PB)

22 Rádio Web Melodia (Mossoró-RN)

23 Rádio Web Seliga na Música (Paulo Afonso-BA)

24 Rádio Web Pojuca Roots (Pojuca-BA)

25 Rádio Web Reggae Vibes (Lauro de Freitas-BA)

26 Rádio Web Reggae 10 (São Luís-MA)

27 Rádio Web Portal Roots Reggae (São Luís-MA)

28 Rádio Web Aracauã (Maceió-AL)

29 Rádio Web Visão Nordestina (Aracaju-SE)

30 Rádio Web Jamaica Brasileira (Fortaleza-CE)

31 Rádio Web Zion Web (Senhor do Bomfim-BA)