A literatura aponta várias características para designar a figura do zumbi, algo como um morto vivo ou cadáver reanimado que precisa habitar os cérebros dos viventes para manter-se errante.
Cadáveres ou esqueletos costumam servir também para ilustrar obras abandonadas ou mal feitas, resultado de mau uso do dinheiro público.
O ex-prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Junior, é tido como pessoa cordata, afável e de estilo conciliador, que faz o tipo “não quero briga com ninguém”.
Ele foi prefeito da capital durante oito anos, de 2012 a 2020, encerrando o segundo mandato com várias obras espalhadas pela cidade, principalmente praças.
Qualquer capital do Brasil tem praças, mas São Luís é uma cidade tão atrasada e provinciana que obra desse naipe soa como verdadeira revolução administrativa em mais de 400 anos.
E assim tivemos um prefeito bom de praça ou boa praça, como queira o(a) leitor(a).
Excetuando-se essas firulas, vamos ao que interessa – os zumbis – figuras mortas que nos assombram pela voracidade com que devoram os corpos alheios ou, nesse caso, os recursos públicos.
O cidadão ludovicense tem o direito de saber quanto e como foi gasto o dinheiro de pelo menos duas obras, uma delas abandonada e a outra mal feita.
A construção abandonada é fácil de observar por qualquer pessoa que transita pelo Anel Viário, inclusive inviabilizando a Passarela do Samba, lugar do tradicional desfile carnavalesco organizado pela Prefeitura de São Luís.
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Já o empreendimento mal feito é a reforma do Estádio Municipal Nhozinho Santos, que não pode receber jogos à noite, devido à pane no sistema de iluminação.
Uma das partidas do Campeonato Maranhense, entre São José x Moto Club, já está programada para às 3 e meia da tarde, no próximo dia 23 de janeiro, porque aquela praça esportiva, reformada na gestão Edivaldo Holanda Junior, não oferece nenhuma condição de receber partidas noturnas. O motivo: a iluminação sem funcionalidade.
Mas, a grande empreitada do ex-prefeito está mais viva do que nunca, sendo apurada por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal de São Luís.
Resultado das denúncias publicizadas na última greve dos trabalhadores do sistema de transporte coletivo, a CPI começou a revelar o submundo da relação entre os interesses da gestão municipal e a poderosa máquina das empresas de ônibus em São Luís.
Em 400 anos São Luís teve uma só licitação do sistema de transporte, eivada de suspeitas, mas nunca investigadas no tempo certo. Agora, a CPI tem a responsabilidade nas mãos e todas as condições de apurar com rigor as circunstâncias da licitação e as suas conseqüências para o bolso do contribuinte, assim como os efeitos danosos causados ao usuário do transporte coletivo.
O ex-prefeito pode até ser gente boa, mas os órgãos de controle precisam ir fundo nas investigações e revelar quanto dinheiro público foi empregado para:
– reformar um estádio sem luz;
– abandonar uma obra no principal circuito de mobilidade do Centro Histórico;
– e realizar uma licitação que resultou no caos do sistema de transporte de São Luís;
Em todos as situações mencionadas, só um lado perde – a cidade e os seus moradores, principalmente os mais pobres que usam ônibus, guardam o dinheiro suado para pagar o ingresso no Estádio Municipal Nhozinho Santos e não têm o direito de ver a sua escola de samba porque a passarela está inviabilizada por uma obra sem fim.
Se esse ano tivesse Carnaval, zumbi seria uma fantasia perfeita para extravasar alguns mortos vivos na cidade.