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Governador Flávio Dino inaugura parque em homenagem a João do Vale

“Este parque é um equipamento que reúne, em primeiro lugar, a homenagem a este grande brasileiro, grande maranhense, grande cidadão desta cidade, João do Vale, e se imortaliza pelo registro de sua obra. Convido todos a conhecer esta área de lazer, esporte e, também, de formação de novos talentos. Este equipamento público e gratuito realiza ainda direitos a educação, formação profissional e outros. Temos aqui, em cada canto, estímulo à juventude de Pedreiras e de toda a região”, pontuou o governador Flávio Dino, durante a inauguração do Parque João do Vale, na manhã deste sábado (4).

O parque na cidade do artista consagrado nacionalmente é um marco histórico e um dos maiores centros de convivência, diversão e arte construídos no estado. Conta com importante área de lazer que valoriza a cultura, o esporte, além de proporcionar a vida comunitária e o desenvolvimento do turismo. Na ocasião da entrega, vários familiares de João do Vale estavam presentes, recebendo homenagem e acompanhando o momento dedicado ao saudoso artista.

Na série de espaços do parque está o memorial João do Vale, escola de música e o Centro de Referência da Juventude. Ainda, réplica de uma estação de trem, em referência ao sucesso musical ‘De Teresina à São Luís’ do artista; biblioteca com espaço infantil e tecnológico; brinquedos interativos; instrumentos musicais; restaurante; auditório; academia ao ar livre; área de churrasqueira; quadras de areia e poliesportiva; três playgrounds; fonte luminosa e outras atrações paisagísticas. O parque possui ainda quatro praças temáticas: Pisa na Fulô, Carcará, Asa do Vento e João do Vale.

Centro de Referência da Juventude do Médio Mearim (Foto: Nael Reis)

“Agradecemos à equipe de Governo, às empresas privadas que ajudaram neste projeto, à prefeitura de Pedreiras e sobretudo, à população, que tenho certeza, está feliz e vai ajudar a cuidar do parque para que ele continue sempre bonito, acessível a todos e seja espaço de esperança que a nossa nação precisa. Agradeço a toda o povo do Maranhão, pois é a população que viabiliza mais essa grande conquista”, enfatizou Flávio Dino.  

“Esta grande obra é um marco na nossa cidade. Todos os pedreirenses estão muito felizes, assim também a família do saudoso João do Vale. Agora, na nossa cidade irá se eternizar pela memória do grande artista que levou o nome de Pedreiras para o mundo. Deixo meu agradecimento e gratidão ao governador Flávio Dino e todo o povo de Pedreiras”, frisou a prefeita Vanessa Maia.  

A programação da inauguração contou com diversas atrações culturais e esportivas. Grupos locais fizeram apresentação de zumba e capoeira; e equipes de jogos ocuparam as quadras poliesportivas para práticas esportivas. Ainda no evento, apresentação especial do musical ‘João do Vale’, com músicas interpretadas pelo ator Vicente Melo. O musical, realizado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura, foi sucesso de público em diversos estados.

Inauguração do Parque João do Vale, em Pedreiras (Foto: Nael Reis)

Vida e obra

Nascido na cidade de Pedreiras em 1933, João Batista do Vale foi um compositor que marcou a música popular brasileira. Desde pequeno gostava muito de música, mas logo teve de trabalhar para ajudar a família. Aos 13 anos foi para a capital maranhense e em em dezembro de 1950 chegou ao Rio de Janeiro, onde passou a frequentar programas de rádio, para conhecer os artistas e apresentar suas composições, na maioria baiões. 

Em 1964 estreou como cantor no restaurante Zicartola, onde nasceu a ideia do show Opinião, dirigido por Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes e Armando Costa, que foi apresentado no teatro do mesmo nome, no Rio de Janeiro, ao lado de Zé Kéti e Nara Leão. Tornou-se conhecido principalmente pelo sucesso de sua música Carcará, a mais marcante do espetáculo, que lançou Maria Bethânia como cantora. Como compositor, em 1969 fez a trilha sonora de Meu nome é Lampião. 

Em 1982 gravou seu segundo disco, ao lado de Chico Buarque, que, no ano anterior, havia produzido o LP João do Vale convida, com participações de Nara Leão, Tom Jobim, Gonzaguinha e Zé Ramalho, entre outros. Em 1994, Chico Buarque voltou a reverenciar o amigo, reunindo artistas para gravar o disco João Batista do Vale, prêmio Sharp de melhor disco regional. João do Vale faleceu em São Luís, dia 6 de dezembro de 1996, sendo sepultado em sua cidade natal, Pedreiras.

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Paulo Leminski faria hoje 77 anos: veja poemas marcantes do escritor

Nascido em 24 de agosto de 1944, em Curitiba (PT), o poeta faleceu em 7 de junho de 1989, com apenas 45 anos de idade.

Aos 12 anos ele ingressou no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, onde estudou Latim, Teologia, Filosofia e Literatura Clássica, mas abandonou a vida religiosa.

Faixa preta de caratê, o poeta tinha interesse em cultura japonesa e zen-budismo.

Paulo Leminski foi crítico literário e tradutor de expoentes da Literatura como James Joyce, John Fante, Samuel Beckett e Yukio Mishima.

Na sua formação, teve influência dos irmãos concretistas Augusto e Haroldo de Campos. Com o livro “Metamorfose” ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia, em 1995.

Alguns textos de Leminski foram gravados por Caetano Veloso, Gilberto Gil e Guilherme Arantes. Na música, o poeta fez parcerias com Itamar Assumpção, José Miguel Wisnik e Wally Salomão.

Veja abaixo 10 poemas emblemáticos do autor:

Bem no fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Dor elegante

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

O que quer dizer

O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz.

M. de memória

Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.
Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Tróia,
assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.
um dia, o diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.
Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
Rimbaud se mandou pra África,
Hemingway de miragens.
Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.

Parada cardíaca

Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.
Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Aviso aos náufragos

Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.

Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.

Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta pagina, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim que é a vida?

Sintonia para pressa e presságio

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Soo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.

Não discuto

não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino

A lua no cinema

A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!

Esse post tem informações da Revista Bula e do site ebiografia.com

Foto destacada / Paulo Leminski / capturada no site Estante Virtual

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Povoado Cedro tem homenagem na rádio comunitária Mapari FM

O programa teve a participação especial do poeta Paulo Furtado, interpretando uma das mais belas crônicas do escritor Humberto de Campos, intitulada “Macacoeira”

Uma longa viagem pelas memórias e estórias contadas por moradores de várias gerações do povoado Cedro, localizado no município de Humberto de Campos, emocionou os ouvintes da rádio comunitária Mapari FM, no último sábado (17 de julho).

Ao longo do programa Mapari em Debate, apresentado pela professora Laury e Erick Viegas, com produção de Fernando Cesar Moraes, a emissora veiculou vários depoimentos de humbertuenses que falaram sobre as suas memórias da infância e da juventude, bem como das atualidades do Cedro.

Ouça o programa completo abaixo:

Programa Mapari em Debate finalizou com a
crônica Macacoeira. Ouça no tempo 1:29:12 no audio

Os relatos mencionaram personagens antigas do povoado, algumas já falecidas, outras ainda vivas, relacionadas aos “velhos tempos”, quando aquelas terras eram acessadas apenas por embarcações.

Hoje em dia chega-se ao Cedro com facilidade em qualquer tipo de veículo.

No passado, quando não havia estrada, os cedrenses aventuravam-se nas lanchas que saíam de São José de Ribamar para os municípios de Humberto de Campos e Primeira Cruz, em viagens longas, atravessando três perigosas baías, com duração de até 10 horas cada viagem.

Através da rádio Mapari FM muitas histórias e memórias conectaram os ouvintes e os participantes através do tempo com as lembranças de fatos históricos vivenciados nas dunas, lagoas e em toda a biodiversidade do Cedro.

O encerramento do programa teve a participação especial do poeta Paulo Furtado, interpretando uma das mais belas crônicas do escritor Humberto de Campos, intitulada “Macacoeira”.

O município que leva o nome do escritor tem várias peculiaridades. Está localizado na região Lençóis-Munim e o seu território contém uma rica biodiversidade da Baía de Tubarão, território encaixado nos critérios de uma Reserva Extrativista de Desenvolvimento Sustentável.

Do ponto de vista histórico, Humberto de Campos e o vizinho município de Primeira Cruz, assim como Icatu, foram palco da disputa entre Portugal e França, no início do século XVII, quando as forças lusas comandadas por Jerônimo de Albuquerque e os franceses liderados Daniel de La Touche disputaram o controle do território brasileiro (veja abaixo).

Na Literatura, Humberto de Campos, a cidade, foi batizada em reverência ao seu mais ilustre escritor, autor de uma obra relevante.

Todo esse conjunto de qualidades precisa ser mais explorado pelos gestores da região, incentivando o turismo de lazer e cultural na perspectiva da economia criativa.

A rádio Mapari FM está fazendo um importante trabalho nesse sentido. Comunicação, cultura e educação precisam andar de mãos dadas e o programa Mapari em Debate já presta um relevante serviço à cidadania.

Imagem destacada / vista do porto de Humberto de Campos

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O novo colunismo social do Maranhão

por Ed Wilson Araújo, 02 de abril de 2021

Pouco tempo antes do estouro da pandemia covid19, em uma roda informal de conversa entre jornalistas e professores universitários, um atento observador da cena política local soltou esta frase emblemática: “quer saber como se movimentam os políticos do Maranhão(?), basta olhar as fotos no PH”.

A sentença foi dita no contexto das alianças e desavenças comuns à maioria dos partidos políticos turbinados pelo pragmatismo eleitoral, selando acordos e conchavos entre legendas supostamente divergentes.

O autor da “tese” remetia às páginas coloridas da maior expressão do colunismo social – Pergentino Holanda – cujas iniciais “PH” passaram a ser uma grife para designar “o poder” no Maranhão.

Embora aparentem intrigas nos palcos eleitorais, às vezes trocando acusações com adjetivos do futebol de várzea, as lideranças políticas tradicionais sempre aparecem sorridentes nos banquetes do PH, retratados nas páginas esparramadas em elogios mútuos traduzidos nas legendas das fotografias.

Os cientistas políticos deviam atentar para certos lances ainda presentes no caderno dominical mais glamuroso do jornal de José Sarney (O Estado do Maranhão), onde quase todos os gatos são pardos: políticos, empreiteiros, desembargadores, juízes, promotores, lobistas, socialites, profissionais liberais e negociantes em geral.

Para além disso, a coluna e o caderno especial do PH são recheados de textos literários valorosos e informações preciosas conectadas ao mundo real sobre os três poderes no Maranhão.

Já o povo, movido pelas paixões, nem sempre capta que as supostas disputas ferrenhas travadas no palco eleitoral dizem quase nada sobre divergências de fundo entre as elites que dominam os cofres no Maranhão em um frenético modelo clientelista desde os tempos de Benedito Leite.

Mas, algumas coisas mudam e outras desaparecem. O colunismo social, no formato impresso, está prestes a entrar para o obituário da comunicação. As versões digitais dos jornais não cumprem a mesma função mercadológica, política e estética do produto impresso para efeito do glamour.

Os famosos, nome novo para designar socialites ou emergentes, têm a sua própria coluna social (perfil) nas redes digitais. Um(a) influencer, sem derrubar um pé de eucalipto, vale mais que a tiragem de muitos jornais de papel somados.

Houve mudança não só na forma – do impresso para o digital – mas também no conteúdo e na visibilidade dos(as) atores(as).

Colunismo social era uma seção de jornal até então pertinente aos endinheirados e/ou vinculada aos círculos do poder formal. Com o advento das plataformas digitais, surgiram novas iniciativas com enfoques diferenciados remodelando o conceito de visibilidade na comunicação outrora associado apenas aos ricos.

No Maranhão cabe mencionar duas ações promissoras, não exatamente conexas à perspectiva de colunismo social como forma de glamourização do chamado poder oficial.

Refiro-me à ideia genérica de colunismo social para situar dois experimentos de Jornalismo fora da mídia de mercado, mas bem posicionadas no ambiente digital: o site Agenda Maranhão e a Agência Tambor.

Cada qual com a sua especificidade, eles põem para desfilar no palco do espaço público atores(as) sociais geralmente silenciados ou esquecidos no agendamento midiático.

Navegando no campo da comunicação alternativa, a Agência Tambor produz diariamente um jornal transmitido na web e protagonizado por fontes autorizadas geralmente excluídas dos critérios de noticiabilidade da maioria dos meios de comunicação.

Pelas redes sociais da Agência Tambor fluem a comunidade GLBTTI, quilombolas, quebradeiras de coco, indígenas, artistas e militantes dos movimentos sociais, gente das periferias, fazedores(as) de cultura, educadores(as), agitadores e agitadoras de muitas causas nobres, entre tantas outras personagens.

O “colunismo social” da mídia alternativa está materializado nos famosos cards que apresentam a fonte entrevistada do dia, fartamente distribuídos nas redes sociais. Quem não era visto nem lembrado nas grandes empresas de comunicação tem agora um tambor para tocar.

A panfletagem eletrônica dos cards da Agência Tambor, guardadas as devidas proporções, tem aproximações com um novo tipo de colunismo social, embora a força conceitual expressiva seja o Jornalismo.

Já no site Agenda Maranhão a personagem principal é o Centro Histórico de São Luís, dando visibilidade a um território da cidade com as suas personagens, arquitetura, fazeres e saberes. Trata-se de um site especializado em Jornalismo Cultural outrora marcante no impresso.

A cidade em revista nas fotos antigas da Agenda Maranhão

O teórico dos Estudos Culturais latino-americanos Martín-Barbero tem um ensinamento precioso sobre a relação entre a produção e o consumo de bens culturais que pode ser aplicado às duas experiências mencionadas: a fruição das audiências.

As entrevistas da Agência Tambor, feitas ao vivo, são posteriormente transformadas em podcast para ouvir a qualquer tempo, arquivadas em plataformas digitais. Esse sentido da memória está presente de outra forma no site Agenda Maranhão, em um percurso às vezes inverso, quando atualiza imagens antigas meticulosamente estudadas na perspectiva da História da Fotografia.

Assim são os arquivos. Servem para guardar e revelar, estando sempre vivos como pulsação de memória.

Os usos da tecnologia mobilizam sentidos e gerações distintas nas apropriações feitas por uma rádio web (Agência Tambor) e um site (Agenda Maranhão), este com expertise em imagens analógicas – fotos antigas – atualizadas no contemporâneo.

Através da memória, as publicações vão reconstituindo a cidade velha conectada às mudanças atuais do tecido urbano. Misto de Jornalismo e entretenimento, o site Agenda Maranhão conecta o seu público ao passado saudoso da São Luís que não existe mais, a não ser na lembrança atualizada pelas fotografias puxadas no tempo.

O Jornalismo Cultural do Agenda Maranhão abraça com sensibilidade as cenas da cidade: pessoas comuns, casarões, sobrados, ruas, becos, situações cotidianas, traços provincianos e universais do território Centro Histórico.

Pesquisa de imagens é um dos focos da Agenda Maranhão

Cada qual a seu modo, as duas experiências reúnem as suas audiências mobilizadas na prática cultural do consumo (Martín-Barbero). Na pegada política do tambor rufando a tônica é o conflito, sem perder a ternura das pautas afetivas. Agenda Maranhão, por sua vez, mexe com os sentidos do seu público envolvido nos detalhes preciosos das fotos garimpadas no passado.

Vale sempre lembrar aquela alegoria da fênix associada ao Jornalismo. Segundo a mitologia egípcia, era uma ave que durava muitos séculos e, queimada, renascia das próprias cinzas.

Como forma de conhecimento da realidade, o Jornalismo costura os acontecimentos na linha do tempo. O que é notícia hoje, amanhã é História; e os fatos históricos, atualizados, são notícias contemporâneas.

Agenda Maranhão e Agência Tambor são palcos eletrônicos onde as pessoas se encontram. Está em curso um novo tipo de glamour, protagonizado por gente pobre e cidade velha pautados por memória, História e política.

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Estariam “higienizando” o Centro Histórico de São Luís?

Ed Wilson Araújo

Em primeiro lugar, é preciso dizer: as obras do PAC Cidades Históricas melhoraram o visual deplorável da praça Deodoro e da rua Grande, da praça João Lisboa e do largo do Carmo. Objetivamente, são mudanças essenciais, necessárias e cobradas faz tempo.

No entanto, passíveis de observação e crítica no intuito de provocar reflexão sobre as alterações no espaço urbano, assunto de interesse coletivo.

A crítica incide sobre a forma e o conteúdo das intervenções, em sua maioria feitas sem a participação das pessoas direta ou indiretamente afetadas pelas obras: moradores, frequentadores, comerciantes etc.

Há pouco diálogo entre os executores das obras e a população. Tão grave quanto a verticalidade na execução dos projetos é a falta de informações sobre a utilização do dinheiro público nas construções.

Uma cidade sem participação e transparência, dois aspectos fundamentais da gestão púbica democrática, deixa muito a desejar.

Sem mediações, as obras são tocadas de cima para baixo, atropelando o direito do cidadão de opinar sobre as alterações nos territórios de uso comum.

Certas obras violam até os conceitos e marcas simbólicas da cidade, configurando uma renovação que apaga a memória e destitui a urbe das suas pulsações humanas constituídas pelos sedimentos da matéria política, histórica, econômica e cultural.

Tomamos como primeiro exemplo a gloriosa reforma do complexo das praças Deodoro-Pantheon. Ficou bonito, é lógico, mas ali não há qualquer vestígio de um marco histórico da cidade – a Greve da Meia Passagem.

Esferas de concreto na nova praça Deodoro

Se hoje os estudantes ainda usufruem daquela conquista de 1979, cujo palco principal foi a praça, a cidade perde uma referência histórica fundamental.

São tantas bolas de concreto e nenhuma placa sequer lembra o massacre contra os estudantes e a conquista da meia passagem com muita luta. É ou não uma forma de apagamento da memória da cidade?

Já na avenida Pedro II, a parte mais sofisticada do Centro Histórico, onde estão as sedes do Governo do Estado, da Prefeitura de São Luís, do Tribunal de Justiça e da Arquidiocese de São Luís, o animado Tambor de Crioula do Mestre Amaral foi execrado.

No local está inaugurada a praça em homenagem aos poetas, e o novo largo passa a ser um lugar primoroso para fotografar e usufruir do belo visual do rio Anil.

Mas, a retirada do tambor serve também para reflexão sobre o tipo de dispositivo cultural permitido e/ou deslocado no espaço urbano.

O abrigo da praça João Lisboa é outro equipamento sob ameaça, assim como as bancas de revista e os camelôs já empurrados da praça Deodoro para as transversais da rua Grande.

Em qualquer lugar do planeta, considerando a perspectiva das cidades históricas, o abrigo seria destruído e refeito em padrões modernos. Mesmo não sendo original da praça João Lisboa, ele merece requalificação, considerando os sentidos conotativo e denotativo do vocábulo “abrigo”, signo de acolhida, afeto, solidariedade, proteção e sociabilidade em geral.

Abrigo segue gerando polêmica. Imagem capturada em O Imparcial

Ocorre que em São Luís há um apego exagerado ao passado… um tal “reviver”.  Aí, já que o abrigo não é “original”, passa a ser considerado um monstrengo e, por isso, deve ser demolido, quando deveria ser reconstruído em outros moldes, adaptado à realidade contemporânea sem qualquer prejuízo ao conjunto arquitetônico do entorno.

Salta aos olhos, ainda, a ferocidade dos inimigos do abrigo da João Lisboa que não se manifestam sobre a grilagem ampla, geral e irrestrita na cidade, patrocinada e organizada pelos endinheirados, que se apropriam dos terrenos à revelia das leis.

Queria ver, por exemplo, os iconoclastas do abrigo criticarem os latifundiários urbanos que se apossam de áreas valorizadas em São Luís para construir shoppings e galerias disfarçados de postos de gasolina. Esses sim, verdadeiros monstrengos, erguidos em qualquer lugar, sem respeito ao Impacto de Vizinhança, um dos dispositivos do Plano Diretor.

Por que os demolidores do abrigo não se manifestam sobre o posto de gasolina construído na margem da avenida Jerônimo de Albuquerque, em frente ao hospital São Domingos, colocando em risco centenas de pacientes e trabalhadores?!

Poderiam ainda aproveitar o ensejo para pedir a retirada do “prédio do BEM”, na rua do Egito, cujas obras estão marcadas por corrupção (leia aqui).

Está clara, portanto, uma certa discriminação ao escolher os adversários, na lógica de varrer do mapa alguns equipamentos não incorporados ao modo de ver aristocrático da elite escravocrata que dominou a cidade e ainda está presente hoje, em algumas cabeças.

Tal forma de pensar carrega o apego ao complexo de geriatria cultural que serve para justificar a dinamite no abrigo dos pobres, mas não vale para demolir a grilagem dos ricos em centenas de espaços privilegiados da cidade, feitos ilegalmente, com a leniência das autoridades.

A seletividade na ocupação do espaço urbano chegou ao antigo e famoso “Xirizal do Oscar Frota”, onde a dispersão das prostitutas no tradicional reduto das profissionais do sexo foi algo tão violento como derramar veneno para matar baratas.

Demolição do “Xirizal” dispersou as prostitutas. Foto: Biaman Prado

O massacre dos pobres, putas e negros, não necessariamente nessa ordem, está nas raízes mais profundas do processo de discriminação e violência marcantes na formação de São Luís. Afinal, toda a beleza e a imponência dos casarões do Centro Histórico foram erguidas pela mão de obra escrava, gerando uma população de pedreiros e ajudantes mutilados, fruto das mais desumanas condições de trabalho.

Mas, estamos em outros tempos, das velhas práticas. “Agora vai”, ou melhor, é “São Luís em obras”. Na véspera da eleição, outra intervenção há muito tempo cobrada alcança a antiga parada de ônibus do Anel Viário, as barracas e os botecos do entorno. Trata-se de uma intervenção necessária, visando organizar aquela bagunça generalizada.

Como não temos informação amplamente divulgada sobre o projeto, a obra e o investimento do dinheiro público, esperamos que os comerciantes informais sejam reassentados no seu local de origem ou em outro ambiente, de forma a garantir as suas condições e meios de sobrevivência.

Quanto à nova obra do Anel Viário, cabe uma anotação sobre um dos equipamentos mais importantes do Centro Histórico – o Aterro do Bacanga. Aos poucos aquele espaço vai sendo ocupado por vários puxadinhos e arranjos, sem observar um consistente projeto arquitetônico já tantas vezes comentado em nossos escritos (leia aqui e mais aqui)

Cabe reiterar a crítica sobre a forma e o conteúdo das obras. Em cima da eleição colocam os tratores no Anel Viário desprezando o ganho estético, social e ambiental de um projeto arquitetônico bem mais utilitário para a cidade.

De volta ao tema central, observando bem os exemplos de remoção ou tentativas de eliminar as bancas de revista, os camelôs, as barracas do Anel Viário, o tambor do Mestre Amaral, o abrigo da João Lisboa e as putas do Xirizal do Oscar Frota, podemos refletir juntos sobre um relativo processo de higienização social no coração da cidade.

Parece haver um conceito de isolamento e guetização dos equipamentos e das pessoas não representativas do sentimento saudosista da elite escravocrata que mandava na cidade e ainda hoje tem seu pensamento vivo e entranhado em vários poderes oficiais.

Quanto às bancas de revista e similares, vamos pensar juntos….

Perseguição às bancas de revista ocorre também na área nobre da cidade

São Luís, ainda agarrada ao equivocado epíteto de Atenas Brasileira, teve várias livrarias fechadas e está em curso uma verdadeira perseguição às bancas. Tais equipamentos não combinam mesmo com o visual “hipermoderno” da cidade “retrô” das avenidas e ruas remendadas por um asfalto do século 19 por onde trotam caminhonetes de luxo (leia aqui sobre livrarias fechadas).

Ademais, em meio a tanta celebração pela idoneidade literária da cidade, o Memorial Bandeira Tribuzzi foi desativado e não há notícia de onde foi parar o acervo do poeta autor do hino oficial de São Luís.

Assim, a cidade se movimenta com deslocamentos ou dispersões e reacomodações compulsórias. Os camelôs, por exemplo, vão se reagrupando de acordo com as novas regras de espacialização do comércio.

Geralmente, as obras fazem uma bela maquiagem na paisagem para ela ficar atrativa aos turistas e excluem as pessoas e equipamentos que vivem, sobrevivem, circulam e usufruem do espaço urbano.

A higienização social segue o rito de apagamento das marcas simbólicas e da memória da cidade, que precisa ser limpa, aspirada e lubrificada socialmente, seguindo padrões de uma certa forma de pensar cheia de contradições.

Então, o saneamento é seletivo. Limpa-se o Centro Histórico para embelezar a vista dos turistas e moradores que não podem tomar banho nas praias impróprias contaminadas pelos esgotos.

No curso da higienização social não é apenas a “Península” (leia aqui) que pretende se isolar. As obras do Centro Histórico estão “limpando” a cidade, onde erguem-se várias ilhas.

E se no Centro Histórico, onde estão as cabeças mais iluminadas e puras, a cidade é discriminatória, imagine na zona rural, onde a proposta de revisão do Plano Diretor pode ter repercussões gravíssimas na sustentabilidade da ilha toda no curto prazo!

Lá na “roça”, onde o capital da especulação imobiliária é voraz na concentração do mercado de terras, os conflitos são resolvidos com mais violência, a ferro e fogo.

Por fim, como o título do artigo é uma pergunta, tenho questionamentos no lugar de teses prontas. E para fazer jus ao primeiro parágrafo, reitero: todas as edificações feitas recentemente são fundamentais para qualificar o Centro Histórico e honrar o título de São Luís Patrimônio Cultural da Humanidade.

Minha única certeza, em se tratando de higienização e saneamento, é que estamos na cidade toda brilhosa com novas obras, mas cercados pelo mar de coliformes fecais.

A cidade limpa, higienizada, contém o germe da sua própria sujeira.

Imagem destacada / antigo abrigo da praça João Lisboa / capturada no site do jornal O Estado do Maranhão

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Turiaçu: 365, sim; 150, não!

Por Jadeilson Cruz, graduado em Filosofia e estudante de Jornalismo da UFMA

Hoje, 11 de julho de 2020, comemora-se o sesquicentenário da elevação da Vila de Turiaçu à categoria de cidade. Apesar de ser uma data emblemática, pois significa uma mudança significativa de patamar, não a considero a mais importante da história turiaçuense. Já que em conformidade com a Provisão Régia de 09 de abril de 1655, como consta na monografia do professor Robson Campos Martins, foi criada a Missão Jesuíta São Francisco Xavier, dando origem ao primeiro núcleo demográfico de Turiaçu. Desse modo, em 09 de abril do corrente ano era para se ter comemorado 365 anos de história e não 150 como muitos comemoram no dia de hoje. 

Turiaçu é gigante. E entre os grandes da história do Brasil e do Maranhão deve figurar. Comemorar o 11 de julho como a data mais importante é uma forma de ignorar os primórdios da história turiaçuense. Temos que dar o devido valor aos acontecimentos históricos e colocar Turiaçu em seu devido lugar. 

Não podemos nos esquecer de outras datas importantes da nossa história: como 25 de junho de 1833, criação da Vila de Turiaçu; 13 de fevereiro de 1834, instalação da Vila de Turiaçu; e 12 de junho de 1852, reincorporação de Turiaçu ao Maranhão. Além dessas já citadas, é fundamental que conheçamos não apenas outras datas importantes, mas também a História de Turiaçu mais profundamente. É necessário que nos empenhemos em compreender os fatores que determinaram as transformações ao longo do tempo e a atual configuração do nosso município. Temos que, como disse Heródoto, “Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro”. Só o conhecimento do passado nos dará a real dimensão da nossa História.

Antiga igreja São Francisco Xavier, padroeiro de Turiaçu

As fontes sobre a História de Turiaçu são escassas, tornando-se assim praticamente incompreensíveis alguns fatos importantes da nossa história, como a configuração política em 1870, a partir de 11 de julho; a composição, organização e localização do Quilombo de Turiaçu, que teria sido o segundo maior do Brasil, ficando atrás apenas do de Palmares; dentre outros fatores que contribuiriam para melhor compreensão do que somos a partir do que fomos. O grande culpado por grande parte dessa escassez é o capitão Manuel Aurélio Nogueira, que em 1930, quando administrava o nosso município, mandou incinerar quase todo o arquivo municipal. Nesse sentido, é necessário um estudo historiográfico minucioso. Tanto os governantes como a população devem se empenhar e angariar fundos para financiar esse mergulho na história turiaçuense. 

Em relação a Turiaçu, eu tenho muitos sonhos. O principal deles é ver a sede do município transformada em uma cidade cultural. Quero andar pelas ruas e ver um teatro, um cinema, um museu e uma biblioteca imponentes. Também, casas de danças, de música e manifestações culturais sendo encenadas e cultivadas nas praças e nas ruas. Quero ter o prazer de assistir, ao lado dos meus conterrâneos, a grandes e maravilhosos espetáculos. Como poetizou Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. 

Turiaçu precisa respirar história, cultura, conhecimento, esporte e lazer. Não é aceitável que no nosso município não exista pelo menos um museu, como também monumentos em homenagem aos nossos heróis. Outro fato lamentável é a falta de locais apropriados para a prática de esportes e para a apreciação de eventos culturais, assim como a inexistência de áreas de lazer adequadas. E o mais inadmissível ainda é o menosprezo ao conhecimento, pois a maior prova disso é a degradação da Biblioteca Municipal. Conhecimento é prioridade, sempre deve estar em primeiro lugar. Um povo sem conhecimento, é um povo sem esperança, logo, sem futuro. O conhecimento é condição necessária para libertar a alma da tirania da ignorância. 

O 09 de abril deveria ser um dia de festa e de celebração da turiaçuensialidade. Nesse dia deveria haver eventos esportivos, culturais e educacionais. Em alguns momentos o 11 de julho já foi palco de eventos assim, porém precisamos de algo ainda mais grandioso. Esse dia seria ideal não apenas para festejarmos o nosso povo, mas também para conhecermos mais profundamente a nossa história. Como disse o professor Robson Campos Martins: “Um povo que perde as suas tradições, é um povo indigno de figurar na história”. 

Foto destacada / uma das ruas mais antigas da cidade / divulgação: acervo pessoal do professor Edmar Costa Filho

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O bloco de Sérgio Sampaio ainda está na rua

Texto de Celso Borges, poeta e jornalista

São Paulo, primeiro semestre de 1994. Subo a Rua Abílio Soares, no bairro do Paraíso, em direção à Avenida Paulista. Passo na porta do Café Paris, ou seria o Barnaldo Lucrécia? A memória falha, mas isso não tem importância, porque lembro perfeitamente o cartaz na porta: “Sérgio Sampaio, show dia 14 de abril”. Seria dali a duas semanas. Meu coração bateu no brilho dos olhos. Finalmente poderia ver um cara que eu amava apenas no radinho de pilha. Queria chegar perto dele depois do show, talvez, e pedir um abraço. Não aconteceu. Na semana seguinte fui comprar o ingresso e o show tinha sido transferido, sem previsão de data.

A verdade do adiamento é que Sérgio Sampaio estava morrendo. Um mês depois, em 15 de maio, foi embora, vítima de cirrose hepática. Ficou um vazio duplamente presente pelas duas ausências. O show e o abraço que não tive, além do silêncio do corpo do artista para sempre.

Essa tristeza foi substituída poucos anos depois pela enorme alegria ao ouvir Zeca Baleiro cantando Tem que acontecer, uma canção belíssima que invadiu deliciosamente rádios do Brasil inteiro e trouxe de volta a alma e a voz do compositor popular.

Não fui eu nem Deus

Não foi você nem foi ninguém

Tudo o que se ganha nessa vida

É pra perder

Tem que acontecer, tem que ser assim

Nada permanece inalterado até o fim

Foi Zeca, sem dúvida, o grande responsável pela valorização de Sampaio. Pouco tempo depois, Mazolla produziria o CD Balaio do Sampaio, uma coletânea de suas músicas cantadas por vários artistas da MPB. Foi ali que ouvi pela primeira vez Meu pobre blues, composição de Sérgio em “homenagem” a seu conterrâneo de Cachoeiro do Itapemirim, Roberto Carlos. Sampaio sempre tentou, em vão, que Roberto cantasse uma música dele, mas o rei do iê-iê-iê não tinha olhos para ver e ouvir as verdades de quem teve coragem de dizer versos tão comoventes, ironicamente interpretados no disco pelo parceiro Erasmo Carlos.

Meu amigo,

Foi inútil…

Eu juro que tentei compor

Uma canção de amor

Mas tudo pareceu tão fútil

E agora que esses detalhes

Já estão pequenos demais

E até o nosso calhambeque

Não te reconhece mais

Eu trouxe um novo blues

Com um cheiro de uns dez anos atrás

E penso ouvir você cantar

Mesmo que as mesmas portas

Estejam fechadas

Eu pretendo entrar

Mesmo que minha mulher

Depois de me escutar

Ainda insista

Que você não vai gostar

Mas a homenagem mais importante viria em 2010, quando Zeca Baleiro produziu e lançou o disco Cruel, reunindo oito canções que Sampaio tinha registrado em voz e violão num estúdio em Salvador pouco tempo antes de morrer, além de outras composições resgatadas de uma velha fita cassete. Baleiro colocou uma banda acompanhando o artista, um trabalho arriscado e difícil de fazer, mas cujo resultado final valeu a pena.

Semana passada recebi a mensagem de um amigo do Rio de Janeiro, o poeta e diretor de teatro, Sidnei Cruz, sugerindo um vídeo com o último show gravado de Sérgio Sampaio, em 1993, na Universidade Federal do Espírito Santo. Não tenho palavras. Vê-lo cantar me passa uma verdade tão grande, que compreendo claramente porque Eu quero botar meu bloco na rua, sua composição mais conhecida, sempre me causou tanta emoção desde a primeira vez que a escutei num radinho de pilha no programa Quem manda é você, de Zé Branco, na Difusora AM, em 1972.

Essa canção me joga em outras imagens, que também me atravessam e me comovem. Um pequeno trecho de um show de Sérgio Sampaio, em maio de 1993, organizado pela gravadora Phonogram, no Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo. O compositor capixaba se apresenta de cabelos compridos, veste uma espécie de tapete colorido como casaco, calça boca de sino e uma faixa amarela na cintura. Como um dândi, um arlequim, um antibobo da corte, corpo e alma sentindo a vida com a profundidade dos grandes artistas. Canta e toca sentado, passa a mão nos olhos, levanta em transe, continua cantando, dança, se contorce e bota o bloco na rua. Há algo ali maior que tudo.

Fotos/Divulgação (selecionadas no Google por Celso Borges)

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Livro histórico e afetivo sobre São Luís tem nova edição e está disponível para download

São Luís do Maranhão, Corpo e Alma”, obra da historiadora Maria de Lourdes Lauande Lacroix (foto acima) sai em dois volumes, em formato digital e tem coordenação editorial do professor Flávio Reis.

São Luís do Maranhão, Corpo e Alma apresenta vasto painel, em escrita livre, sobre a evolução urbana, os costumes e as manifestações culturais e artísticas da capital maranhense. Numa narrativa envolvente, Maria de Lourdes Lauande Lacroix  mergulha de forma apaixonado na historiografia, nas memórias e iconografia de São Luís.

Capa do volume I da nova edição

A primeira edição, de 2012, foi um grande sucesso de público e crítica e se esgotou rapidamente. A nova edição, ampliada, começou a ser feita em 2015 e ficou pronta no final do ano passado. O livro foi elaborado com vasta utilização dos álbuns fotográficos da cidade de São Luís e montado no Studio Edgar Rocha.

“Os dois volumes têm novos textos e fotografias e são publicados somente em versão digital, pelo menos por enquanto, pois ainda não há perspectiva de edição impressa. Esse livro é uma pesquisa importante, tecida com o cuidado de uma escritora que tem recursos de narração e vai envolvendo o leitor”, afirma Flávio Reis
A segunda edição de São Luís do Maranhão, Corpo e Alma tem o prefácio de Benedito Buzar e posfácio de Flávio Soares. A obra estará disponível para download gratuito a partir desta quinta-feira, dia 21 de maio no seguinte endereço: https://saoluiscorpoalma.blogspot.com/

Leia abaixo o posfácio escrito pelo historiador Flávio Soares

POSFÁCIO

Vida e morte da São Luís antiga:

histórias, memórias e imagens

Flávio Soares

Um comentário sobre São Luís do Maranhão, Corpo e Alma, da professora Maria de Lourdes Lauande Lacroix, cujo escopo não seja, obviamente, apresentar o que a escritora “quis escrever”, mas refletir e problematizar sobre o tema da cidade através dessa escrita, deveria começar pela questão do seu valor no conjunto dos trabalhos da autora.

Característica talvez única entre os escritores do seu grupo-geração, esses trabalhos iniciaram e coincidiram, no caso dela, com o momento em que, abrindo também a terceira idade, a professora proporcionou lugar à escritora. Tal condição, é certo, dera sinais em outro momento, quando, por exemplo, escreveu a dissertação de mestrado, A Educação na Baixada Maranhense, publicada em seguida, em 1983; mas, também é verdade, apenas no final da carreira docente, de fato, a escritora apareceu. Havia se aposentado antes na Universidade Federal do Maranhão, no começo dos anos noventa do século passado (dezembro/1991); lecionou ainda como professora substituta na mesma instituição e depois integrou o quadro de docentes do Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, quando lançou os primeiros livros da fase atual enquanto escritora, fechando o ciclo das atividades como professora e passando a se dedicar a escrever e publicar livros de história. Todos sobre São Luís, tema quase absolutamente ausente até então no seu campo de interesses, delimitado pela História moderna e contemporânea, sobretudo da Europa ocidental, especialmente Inglaterra e França. 

Até o momento, com a segunda edição desta obra, oito livros, entre os quais duas reedições ampliadas e revistas do primeiro, A fundação francesa de São Luís e seus mitos (2000), integrando conjunto relativamente pequeno e rico de trabalhos com extensões variadas, fruto de quase vinte anos de pesquisa incessante. Importa, aqui, advertir ao leitor quanto a, pelo menos, três condições iniciais da relação entre autora, obra e assunto.

De início, considerar que a São Luís de interesse da autora, e com a qual mais se afina, se refere ao ajuntamento urbano gestado nos quadros da colonização moderna do país, impulsionado principalmente a partir da segunda metade do século XVIII, quando, no contexto da instalação de uma colônia de exploração escravista, seus elementos agrários, mercantis e político-administrativos ganharam maior volume, densidade e sentido quase de “comunidade”, fazendo com que seu aspecto inicial de fortaleza, burgo senhorial militar, “grande aldeia” ou povoação de algum tom barroco, sobretudo pela longa presença jesuítica, fosse  superado pela fisionomia mais urbana, de ar neoclássico e, certamente, eclética, hoje reconhecida como a da “São Luís antiga”. A rigor, portanto, surge como um tipo misto de cidade colonial moderna (leia-se, portanto, a expressão “cidade antiga” sempre no sentido de antiga modernidade ou modernidade antiga), sede, do ponto de vista do poder dominante e proprietário dos solos e imóveis, de grupos oriundos do grande comércio, das fazendas e da administração real portuguesa, em associações as mais variadas.

Moradora de São Lu ís até hoje, a autora viveu as últimas décadas do tempo da cidade antiga ou do tempo antigo da cidade, onde nasceu, passou infância, adolescência, juventude, estudou, concluiu bacharelado em direito (iniciado em Belém do Pará), licenciou-se em História, constituiu família (após casar-se com o ex-padre e sociólogo canadense Gilles Lacroix, no Canadá, onde também, na Universidade de Laval, especializou-se em História Contemporânea), e durante anos, dividiu-se, profissionalmente, entre as atividades na Previdência Social e as da docência no Departamento de História da UFMA.

Tais elementos de identificação são importantes não só para orientar o leitor, desde logo, quanto ao espírito e propósitos da obra, mas para começar a compreender a forma por ela tomada. Porque não é apena inventário histórico sobre a cidade antiga como objeto distante no tempo e espaço; é, igualmente, esforço extraordinário de rememoração, isto é, de elaboração das histórias e memórias da velha cidade enquanto partes também das histórias e memórias da escritora.

A segunda condição, além das afinidades naturais e biográficas, diz respeito ao tempo visado: tempo de longa duração, desaparecido ou em desaparecimento. Aspecto decorrente do fato de que a narradora testemunhou, a partir de determinado momento, em sua cidade, o impacto de um processo de transformações convencionado chamar “modernização” nas Ciências Sociais, de âmbito nacional e mundial, com particularidades históricas e regionais segundo cada situação.

No caso abordado, a ênfase do relato recaiu sobre a responsabilidade de políticas, planejamentos e administrações de governo equivocadas, decorridas das intercorrências e contradições históricas entre “interesses da cidade” como um todo, públicos, e, em especial, interesses de grupos ou particulares dos seus governantes, potencializadas no período indicado. Tais políticas, se não foram causas exclusivas, foram decisivas para a convergência entre aquele processo nacional de “modernização”, também chamado de “desenvolvimento”, e a “mutilação”, ou mesmo desfiguração e destruição, da cidade antiga. Embora em razão dos objetivos específicos do livro, a autora não teça ou se detenha em traçar paralelos, pois não é um estudo comparativo, trata-se, quanto à intensidade, de convergência talvez única no universo das capitais brasileiras. Lembre-se de várias “cidades históricas”, Ouro Preto (laboratório da política do patrimônio), Belém, Salvador, Recife, Rio de Janeiro, mesmo São Paulo, lugar do processo de metropolização e mistura urbana mais radical do país, onde áreas antigas, ou pelo menos suas memórias, parecem, à primeira vista, mais preservadas.

Em suma, na situação da capital maranhense, apesar do aspecto de lenta agonia da cidade antiga ligado a um processo relativamente vagaroso mas, sobretudo nas últimas quatro décadas, cada vez mais acelerado de urbanização, a dar a impressão (até por confronto, talvez, com a situação ao lado, mais drástica e reveladora, de Alcântara) de patrimônio histórico e arquitetônico que resiste “naturalmente” à “doença da pedra” e suas “ruínas verdes” e tudo mais, os processos de transformações acabaram mesmo foi levando à hecatombe de um dos acervos de construção “civil” mais importantes da América Latina, exemplo único de “sucesso urbano antigo”, dando dimensões mais largas ao caso ludovicense. Desde que não se reduza a São Luís antiga à sua configuração física, ao traçado e edificações, trata-se de verdadeiro colapso de uma experiência urbana, histórica e social, de onde emergiu a São Luís atual.

Falência bem mais ampla se considerar que ela se liga a um processo de modernização, de urbanização, que não surgiu organicamente, de dentro da cidade antiga, obedecendo às suas necessidades internas de atualização, mas de fora, dissociado, mesmo em contraposição, e não articulado, reajustado, à velha matriz urbana. O modo como foram politicamente conduzidas a “conservação” do núcleo antigo e a construção da cidade moderna além rio Anil, acabou resultando, hoje vemos, numa velha cidade degradada e num simulacro de cidade moderna, para dizer o mínimo.

Também, acrescente-se terceira condição, não é irrelevante o leitor ter em conta o surgimento do livro em pauta no decênio ora encerrado, isto é, algum tempo após o período da degradação, entre as décadas de 1930 e 1980, para dar algumas balizas cronológicas. No período indicado, é difícil imaginar no estado esta obra escrita por quaisquer autores. Especialmente a partir de meados dos anos 60, dominado por um paradigmadesenvolvimentista e autoritário, só depois questionado, num ou outro ponto, em seus aspectos ilusórios. Apenas nas décadas recentes, pós-hecatombe, pós-história da cidade velha, mudanças nas “condições de possibilidades” sociais, no campo cultural e intelectual em particular, permitiram àquela expansão do núcleo antigo ganhar visibilidade pelo seu avesso catastrófico.

Décadas, por um lado, do fim do relativo isolamento da condição provinciana, quando, como efeito da nova e explosiva onda de modernização, decorrentes não apenas de fatores econômicos, mas também político-estratégicos (não esqueça o fato de São Luís ser a capital de um estado porta de entrada para a Amazônia), começaram a aparecer nas paisagens do interior da ilha e da baia de São Marcos as hoje rotineiras filas de vagões de minérios de ferro da ferrovia Carajás e de navios “vindos da China”, dizem, conectadas pelo novo Porto do Itaqui, enquanto, bem perto, do outro lado da mesma baía, no continente, em meio às ruínas de Alcântara e desarranjos no modo de vida das comunidades locais, era assentada uma base espacial; quando, também, além das pontes – do Caratatiua, do São Francisco e Bandeira Tribuzi – e da barragem do Bacanga, de uma hora a outra, sob o império da indústria da construção civil e do mercado imobiliário, apareciam em formas modernas já obsoletas torres e mansões à beira das praias de águas escuras (Ponta da Areia, Calhau, Olho d’Água, Araçagi), como que formando, de fato, uma nova e gigantesca “Praia Grande”, para uso das classes altas e médias, erguidos ao longo das Avenidas Litorânea e dos Holandeses; às margens das Avenidas rasgadas com nomes de personagens evocando a memória antiga da cidade – Jerônimo de Albuquerque, Franceses, Daniel de La Touche, São Luís Rei de França -,  acumulavam-se  conjuntos habitacionais para uso das classes médias, altas e baixas, com rótulos em forma de siglas esquisitas e sem graça (COHAMA, COHAFUMA, IPASE, COHAB, COHAJAP, COHATRAC); e, em áreas periféricas cortadas por Avenidas com denominações de sentido histórico também simbólicas – Portugueses, Africanos, Guajajaras -, explodiam cortiços, mocambos, guetos, favelas e palafitas – chamados eufemisticamente de “vilas”, “jardins”, “parques” – das classes populares, trabalhadoras e pobres urbanas, frutos em parte das novas guerras de ocupações irregulares e invasões (também, ou sobretudo, dos “ricos”, note-se). Hoje, uma extensa mancha urbana se formou no noroeste da Ilha, município de São Luís, em processo de deslocamento cada vez mais rápido rumo aos municípios de São José do Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa, no leste da Ilha, gerador de “bairros sem história e sem cidade” (Frederico Burnett, “São Luís por um triz”, 2011, p. 108)

Ao mesmo tempo, a percepção de aspectos, crescentes dia à dia e sobrepostos ao longo de décadas, de degradação, sujeira, ruínas, enfermidades, em relação àquela área mais antiga e originária ou de modernidade mais envelhecida da São Luís atual, ainda que ocupada por famílias humildes, órgãos públicos e algumas atividades de comércio, oficina e serviço, e, mais ainda, apesar do “promontório” e da construção rápida de vias de escape e barreiras protetoras ao “patrimônio” contra a modernização arrasadora, como  as pontes, o “anel viário”, a “zona tampão” (de tombamento estadual), etc., possibilitou ver também na expansão indicada o afloramento de elementos até então latentes que lhe deram, para usar uma imagem de pensamento, o aspecto de produção de resto ou carcaça de um corpo urbano no espaço da grande São Luís em gestação.

Possibilitou um ponto de vista a partir de um horizonte de desaparecimento inédito. Por exemplo, ao contrário da “ideologia decadentista” oficial, secular, que comporta uma ideia de “abandono”, de “parada no tempo” (reinterpretada, irônica e interessadamente, como “protetora” da parte mais antiga da cidade histórica) ou da “cidade por um fio”, mas alimentada ainda por expectativas desenvolvimentistas de crescimento e ressurreição futura dos bons tempos da “idade de ouro” (no melhor dos casos cada vez mais ingênuas), agora não há mais isso. Sobretudo, depois que, enfim, a velha São Luís foi incluída na lista do “Patrimônio Mundial” da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, criada em 1945), em dezembro de 1997, na administração Roseana Sarney, a distância entre título, plano e realidade como que se tornou abissal, e, que fique assinalado, graças, em grande parte, a razões (reconhecidas pela autora) especialmente ligadas a medidas e ações de governos, principalmente estadual e municipal (em suas três esferas: executiva, legislativa e judiciária), claramente insuficientes e omissas, desarticuladas, eleitoreiras e emergenciais quando não baseadas em pura maquiagem, propaganda e retórica vazias. Revalorização discursiva e desvalorização prática da “cidade histórica” são faces de uma mesma forma de gestão e governo. 

Falência de uma política patrimonialista do patrimônio histórico e cultural da cidade, incapaz de efetivamente sintetizar, a não ser como relação caricata, o “antigo” e o “moderno”. No exemplo talvez o mais simbólico de todos, típico de Godfather da tribo, da morada cercada de palmeiras frente ao mar nos bairros modernos luxuosos e a apropriação pessoal do edifício antigo sagrado a título de conservação. O dano histórico e social tornou-se irreparável por quaisquer “política de conservação” possível. Como o instituto do tombamento de bens, materiais e culturais, poderia, efetivamente, se aplicar numa realidade incapaz de dissociar o privado e o público? Difícil não ver e sentir que não há mais fio algum…

Por isto também nada mais longe do espírito deste trabalho que o desejo da revitalização, restauração ou renascimento da São Luís antiga como museu a céu aberto, centro de atração turística, consumo, investimentos e negócios (segundo linha estabelecida por organismos internacionais no pós-guerra, como a UNESCO, de transformar cidades antigas em “patrimônios históricos e culturais” e, assim, em oportunidades econômicas e produtos de mercado), no contexto da sucessão de gestões, de esquerda ou direita, a essa altura tanto ou quase tanto faz, precárias, ineficientes, corruptas, armadas e assistencialistas de contingentes populacionais da grande São Luís cada vez mais tomada pelo inchaço urbano, o desemprego e a escravização do trabalho, a servidão por dívida, indústria da construção civil voraz e especulação imobiliária, a privatização e o desastre ambiental da Ilha, despersonalização e individualismo patológico, a desumanização e o mercenarismo de hospitais e médicos, o “apocalipse motorizado”, a violência das rotas e guerras do narcotráfico, a informalidade administrativa e econômica como forma de camuflar práticas ilegais e o domínio de milícias, etc., enfim, a dissolução dos frágeis vínculos históricos e sociais de civilidade ou urbanidade pela barbárie.

A compreensão deste livro deve, portanto, partir, além das suas afinidades e sentido particular de “final de um tempo” em relação à São Luís antiga, especialmente das suas relações (circunstanciais ou não) com o agora pós-catástrofe proveniente de e posterior a uma história de intervenções e expansão cujo resultado final em relação ao projetado, menos que atualização conservadora ou mesmo “desenvolvimento do subdesenvolvimento”, menos ainda que reforma urbana profunda, evidenciou-se traumático e trágico.

Eis o dado de atualidade que permite ler essa obra como necrológio, elaboração radical de uma perda, mas, obrigatoriamente, também como reinvenção, nos campos da história, memória e imaginário da cidade antiga. Um tipo de luto, pergunta-se?  Quem sabe em relação às perspectivas e esperanças predominantes anteriormente. Em analogia inevitável com a Coruja de Minerva filosófica, parece que só agora com distância e possibilidade real de balanceamento, “Clio” pode inspirar o trabalho de reconstituição fisionômica e tecelagem dos fios esgarçados, fragmentados, do que aconteceu. Momento em que a cidade antiga ao deixar de ser contemporânea, ao se tornar “não-contemporânea”, pode, enfim, revelar algo de si à nossa contemporaneidade tão insólita…

A autora pode então voltar várias vezes ao básico. Às origens coloniais da cidade, à sua pré-história de “grande aldeia”, por assim dizer, rearranjando dados fundamentais e seus significados míticos e históricos, como a cerimônia religiosa cristã francesa e a Batalha da Guaxenduba, resultante na vitória portuguesa, mas também aos momentos cruciais e finais da sua história, nos anos 1940/1950. A pretexto circunstancial de “comemoração” dos 150 anos da Associação Comercial do Maranhão, descreveu em A Campanha da Produção (2004), pela primeira vez em seus trabalhos com apoio ilustrativo e cru das imagens, o último suspiro da Praia Grande e sua burguesia agroexportadora. Inspirado em Jerônimo de Viveiros, autor do clássico História do Comércio do Maranhão, escrito nas décadas de 1950 e começos da de 1960 mas sem chegar até aos anos da Campanha, o estudo permite problematizar um pouco a história do “alto comércio” a partir da visão do historiador.

Faz pensar, por exemplo, que diante da “catástrofe” da Abolição da Escravidão, em cuja enxurrada foram juntos a grande lavoura e o setor açucareiro e de engenhos (incluindo Alcântara e outras regiões da Baixada estudadas pela autora), a “loucura industrial” foi, no fundo, fruto de um cálculo inteligente e esperto através do qual a alta burguesia prolongou sua forma de acumulação por mais 50 ou 60 anos (diferente de Recife/Pernambuco, por sua vez, onde se transitou para o sistema de “usina”). No caso em pauta, porém, em princípio o maior desafio, imagina-se, era o de manter e fortalecer a posição competitiva de São Luís/Maranhão diante do processo avassalador de integração à nova fase econômica do país fundada no capitalismo urbano-industrial baseado no centro-sul. Isso exigiria o aprofundamento da “loucura industrial” além da forma de acumulação primitiva característica dos negócios da Praia Grande desde o final da era colonial.

Era o desafio da industrialização, da tomada ao pé da letra do mito da “Manchester brasileira”, que, levado à sério, poderia acabar implicando o enfrentamento de questões de base postas desde a Abolição e Proclamação da República, como, por exemplo, as reformas agrária e urbana. A Campanha buscou precisamente, diante dos impasses, aumentar a produtividade dos camponeses com assistência técnica, médico-sanitária, de infraestrutura, sem tocar na estrutura da propriedade das terras e fazendas. Como em várias outras regiões do país, antigas tensões no campo se agravaram, a revolta dos caboclos foi atiçada e lideranças, como Manuel da Conceição, apareceram.

Com a falência do esquema de negócios “algodão-fábricas têxteis-bancos”, a burguesia local simplesmente foi abandonando e/ou fugindo da velha área nobre da cidade, sitiada e ocupada, cada vez mais, pelas classes populares e pobres, para as quais, talvez, inicialmente tenha se tornado lugar de sobrevivência e “resistência”, mas, hoje, tristemente, desterro, beco infeliz, sem saída ou de grande precariedade social. Aja sofrimento e paciência!

 Fato é que o fim daquela cidade mercantil marítima de mentalidade senhorial, levou junto qualquer veleidade, caso a “loucura industrial” tenha sido mais que um delírio ou cálculo de adaptação, de tornar São Luís polo competitivo no Brasil, ou mesmo no norte e nordeste. Procurou, principalmente a partir do Golpe de 1964 e do governo do “Maranhão Novo”, quando não emigrar do estado, a melhor posição possível (no limite até de uma vida nova de classe média por exemplo) no contexto do inchamento urbano e consolidação da região como periferia do capitalismo industrial brasileiro dependente. Os “distritos industriais”, sabe-se, com uma ou outra fábrica estabelecida, nunca passaram das placas. A essa altura o valor da produção industrial do Maranhão havia declinado de 0,7%, em 1907, para 0,2%, em 1958, enquanto São Paulo saltara, nos mesmos anos, de 16,5% para 55,0% (Lopes, JB, p.20, 1971).

É a partir, portanto, da relação tridimensional da autora com a São Luís antiga –  repita-se: afinidade biográfica, consciência do “fim de um tempo” e escritura pós-catástrofe -, que o livro em foco implica um assunto e um modo de composição sobre os quais vale refletir.

Começa que, dado o “novo” horizonte, curto e emergencial, difícil ou impossível de planejar, é pelo trabalho da pesquisa que se faz o mergulho direto na matéria histórica constitutiva do núcleo antigo, fonte primeira do relato e de seus desdobramentos. É a partir da investigação quase etnográfica e não conceitual do urbano, além do faro desenvolvido, que o objeto do livro – a experiência histórica da São Luís antiga – foi percebido como “cadinho” ou “cadinhos” de váriasvivências, práticas, condutas e crenças, valores, ideias.Condições ou associações de classes e moradias diferentes, etnias heterogêneas, grupos, categorias sociais e tipos humanos singulares (nada blasé) e movimentos religiosos, ideológicos ou expressões culturais e artísticas distintas. Conjunto de situações e processos materiais e imateriais, coexistindo e convivendo num mesmo espaço e tempo, ou segundo uma variedade de lugares e ritmos de tempos, estabelecendo entre si relações de familiaridade e estranhamento, tensões mas também negociações e fusões, sincretismos, miscigenações e segregações, liberdade e escravidão, civilização e barbárie.O traçado da cidade, por exemplo, apesar da geometria regular, foi capaz de comportar uma arquitetura de estilos diversos e misturados, principalmente quando São Luís se estende para além dos limites das ruas do Egito e Formosa. Enfim, penso eu, a cidade enquanto crisol, se não no sentido pleno de uma “comunidade urbana” enquanto “cidadania” (inexistente), certamente no sentido geral de multiplicidade de elementos, ou melhor, de fragmentos políticos, sociais, econômicos, culturais. Em suma, uma cidade cuja característica principal, por isso mesmo, é a sua quase indeterminação ou fragilidade de caráter no tempo.

Reparando bem, a compreensão no sentido indicado, da cidade antiga como “multiplicidade”, ou pequeno laboratório de heterogeneidades, já aparece, de certa maneira, nas pesquisas dos livros sobre fundação, mito e guerra colonial, quando se retoma em outra chave a figura do português Jerônimo de Albuquerque Maranhão em relação a determinado modo de olhar o francês Daniel de La Touche. A fundação francesa, vista como mítica e fruto da combinação mais recente do galicismo e narcisismo de elites decadentistas, sobretudo letradas e políticas, é deslocada para a genealogia colonial portuguesa em um sentido não exclusivista, “distinto”, mas “mestiço”, “múltiplo”, sem que tal signifique ausência de violência, mas um modo de dominação mais mediatizado.

Mas, é sobretudo neste São Luís do Maranhão, Corpo e Alma que a ideia de multiplicidade é levada mais longe. Mas, note-se, a multiplicidade percebida pela pesquisa, nos termos indicados, é entendida como característica mais do passado que do presente (ou não?), pois, apesar de construída neste tempo caótico, a pesquisa não projeta (até porque não há projeção) sobre a São Luís antiga uma diferenciação ou complexidade, real ou simulada, um multiculturalismo qualquer, por exemplo, que seria reconhecida na São Luís contemporânea, ou vice-versa; na verdade, a “multidão”, a corporificação social do fenômeno em questão, percebida na matéria histórica investigada, não é, porém, percebida como fenômeno de consciência ou reconhecimento individual e social, com raríssimas exceções, a exemplos de João Lisboa nos seus folhetins (em um dos quais apresenta a extraordinária visão da multidão como serpente de mil cores “sem rabo nem cabeça”, isto é, como multiplicidade incompleta, diferente da outra serpente, a da lenda da cidade, completa e adormecida); a exemplo também de Aluízio Azevedo em alguns parágrafos de O Mulato, e mais um ou outro autor.

Trata-se de um dado de realidade, porém não reconhecido, latente. Uma multiplicidade cuja lógica específica da indeterminação aponta mais para uma sociabilidade fragmentada e segregacionista que uma genuína comunidade urbana ou “cidadã” (associação autônoma, nos termos de Max Weber). O que se coloca como um passo adiante no entendimento da “cidade” tendo em vista o modo como normalmente ela foi percebida.

Atingida pelo impacto modernizador, que, apesar de “mutilador” e traumático, carrega novos elementos, a multiplicidade urbana tradicional, isto é, a velha modernidade, sem ser efetivamente superada e atualizada (o que implicaria a “síntese” indicada), já que nem reconhecida era, passa a girar no espaço-tempo da São Luís contemporânea, pós-moderna e já totalmente tomada pelo fetiche da imagem da mercadoria, enquanto ruína de não importa qual cor e puro espetáculo sombrio.  Consciência dramática da passagem e possibilidade históricas interrompida ou mesmo perdida de vez, mas também da necessidade de se insurgir e erguer contrapontos e alternativas à lógica fantasmagórica objetiva que passou a sufocar a cidade e suas memórias e possibilidades.

A matéria e a composição da obra, além da pesquisa livre, passam também pelo arquivo da relações de intimidade da autora com a velha cidade, escavado no livro; relação indissociável de uma vida cuja trajetória foi informada, em boa medida, por aquele complexo de “cadinhos”, emaranhado de espaços-tempos, lugares ou roteiros nas hierarquias sociais, filtrados nos termos da cultura predominante. Assim como grande parte da trajetória de vida da autora, mas com teor de percepção, consciência e reflexão mais amadurecido, esta obra-ensaio é o resultado eclético de várias influências, absorvidas, dosadas, organizadas e sintetizadas, elas mesmas, se não em regras, em orientações de pesquisa e composição.

O leitor observará, por exemplo, no uso dos materiais, a diversidade das fontes. Desde documentos primários do Arquivo Ultramarino de Lisboa, crônicas antigas, jornais, legislação, relatórios, mensagens de governo, revistas, bibliografias, mapas, passando por memórias pessoais, familiares, cada vez mais utilizadas, também de outras pessoas com as quais se relaciona, conhece ou conheceu, até o emprego variado das imagens, como ilustração e, progressivamente, linguagem estética própria. Mescla de erudição e crítica, a composição do livro também incorpora um aspecto literário e artístico, crescentemente elaborado e refeito. Aspecto de interesse porque marca de identificação da São Luís antiga, mas, provavelmente, em nível cultural mais profundo, como o da língua, traço histórico de elites urbanas oriundas da colonização católica, ibérica, portuguesa. Em todo caso, recorde-se. Desde os tempos da província, principalmente após o choque anárquico da guerra dos bem-te-vis (Balaiada) e da insurreição escrava (1838-41), a mais radical revolta de caboclos e negros ocorrida na história da região, ludovicenses, em particular o grupo mais instruído dos senhores e senhoras, num movimento instintivo de conjuração, assimilação e diferenciação de classe, fundindo recalque, adaptação, sublimação, defesa e generalização, fabricaram para si um padrão singular como “atenienses” do Brasil.

Ora, essa medida de reconhecimento e status foi posta também em questão pelas mudanças ocorridas no século XX. De um lado, pela violência e desmanche causados, mas, de outro, porque trouxeram à tona formas diferentes de expressão e comunicação: a oralidade das culturas populares; a audiovisual da cultura de massas (cinema, rádio, televisão); a científica das universidades; formas atuais de linguagens estéticas (em poesia, música, literatura, artes plásticas, teatro, arquitetura) e, mais recente, a linguagem virtual dos programas de computadores, dos simulacros. Sem passar ao largo, mas antenado, o escrito em questão capta a atmosfera em mutação e, à sua maneira, dialoga com tais meios de expressão, o que lhe dá traços não só de história e rememoração, como já escrevi, mas também de empenho de reconstrução do lugar da Autora e da escrita.

Pela exploração das correspondências entre história e memória, palavra, texto e imagem, o artesanato da escrita recria uma espécie de caleidoscópio através do qual histórias são contadas, memória e imaginário reelaborados, almas e corpos dissecados e mostrados. É daí, talvez, da fricção entre conteúdo da multiplicidade e forma caleidoscópica, se puder dizer assim, que provém, no contexto das transformações indicadas e dos escritores maranhenses contemporâneos, o fogo, a energia radical, extemporânea, a força atuante e atualizadora, na base da relação estabelecida entre autora, livro e assunto: esforço de recomposição da linguagem e reelaboração da história, memória e do imaginário da cidade e da autora do ponto de vista da consciência tanto de uma falência histórica quanto do ânimo para existir, resistir e persistir.

Exagero? Nem tanto se o leitor considerar que aqui se trata de remoer o testemunho, a percepção e, em particular, afetos vários, complicados e delicados em torno de uma tragédia urbana e social como a da São Luís antiga. Como, de outra forma, enterrar mortos, exorcizar fantasmas e liberar novas energias? Difícil responder, mas vale ressaltar um ponto.

Não há recusa do envolvimento emocional com o tema. Nem poderia. Qualquer tentativa de distanciamento, adoção exclusiva de postura objetiva, fria, técnica, ao modo das abordagens científicas, como as que proliferaram na chamada área dos “estudos urbanos”, no caso dela, soaria restritiva ou falsa. Afinal se trata da cidade onde nasceu e cresceu. Então há sim elementos de nostalgia, saudade, tristeza, dor. Contudo, o trabalho – elaborador de uma passagem -, não fica preso aí, não se encerra no círculo fantasmagórico do culto aos mortos, da melancolia, queixume, percepção autopiedosa, idealizações escapistas ou otimismos restauradores inocentes, comum às reações tradicionalistas, mas não só. Não. Ele dá passos adiante, se insurge e apresenta e potencializa outros elementos, de denúncia, indignação, revolta, crítica, ironia, etc., os quais funcionam como contraponto, contrapeso, e configuram um equilíbrio lúcido e sensível, resistente e modulável, singular em relação ao tema, que, ao ser formulado, deu à obra da autora força compreensiva, matiz próprio, tom harmonioso e dissonante. Basta comparar com obras, escritas e iconográficas, existentes sobre São Luís (feitas por memorialistas, historiadores, geógrafos, urbanistas, sociólogos, jornalistas, fotógrafos, artistas em geral) ou outra cidade do estado, como Alcântara de Antônio Lopes, por exemplo, e mesmo fora do Maranhão, elaborados segundo antigos cânones eruditos e literários ou novas regras e enfoques acadêmicos, teóricos, empíricos e metódicos, para se dar conta do passo dado e a perspectiva aberta quanto à forma de percepção do tema da cidade.

Livro para ser ao mesmo tempo lido, visto e sentido, implica um tipo de compreensão que toma a vida urbana de maneira transversal, aquém e além de uma ciência urbana. E mesmo que, em função de um conjunto de circunstâncias e condições históricas e sociais, gerais e particulares, a São Luís antiga, provinciana e moderna à sua maneira, jamais tenha chegado, nem na alucinação “ateniense” mais alta, perto da situação das capitais dos centros do capitalismo mundial e nacional (Londres, Paris, Berlim, São Petersburgo, Chicago, Nova York, Buenos Aires ,  São Paulo, Rio de Janeiro), e talvez por isso mesmo, este trabalho indica ser possível abordagem fora dos lugares comuns e entediantes, sobre a experiência urbana em zonas periféricas extremas,  onde e quando, por conta do domínio dos elementos agrários e rurais, ela se apresenta ainda quase como miragem no meio da floresta.

Imaginado e escrito em linguagem clara, distante do jargão universitário, com liberdade só possível à maturidade da vida e também com muitas pitadas de delicadeza, elegância, classe e sentido de beleza ou gosto característicos da autora, São Luís do Maranhã, Corpo e Alma é contribuição rara às bibliotecas brasileiras, em particular maranhenses, à espera discreta dos leitores.                                                                                      

Que os deuses da cidade abreviem tal espera!

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Memórias do Carnaval: Turma do Saco homenageou o rádio AM

Em tempos de migração do rádio AM para FM rememoramos o samba tema “Nas ondas do rádio AM”, do bloco organizado “Turma do Saco”, levado à passarela no Carnaval de São Luís, em 2016.

A letra (veja ao final) faz referência à história das rádios AM, aos programas e apresentadores emblemáticos e destaca o papel das emissoras na integração da ilha de São Luís aos municípios do continente.

Já no curso da migração das rádios AM para FM, o velho radinho de pilha com chiado e os programas comunitários e jornalísticos passam por transformações. Rádio atualmente é ouvido em aplicativo de smartfone e o chiado ficará apenas na lembrança dos apaixonados.

O samba-tema da Turma do Saco em 2016 foi resultado da parceria de três compositores: coronel Franklin Pacheco, Cesar Grafite e Luís Carlos Pinheiro, o Vovô.

Ouça o samba aqui

No processo de fabricação da letra, a direção da escola e os compositores mergulharam em pesquisas na internet e consultaram especialistas, sobre o assunto.

Inspiração de Vovô

Compositor e intérprete do samba “Nas ondas do rádio AM”, Vovô é uma lenda na vida cultural de São Luís. Ex-integrante da Flor do Samba, ele foi passista, baliza, ritmista e tem a experiência de quem tocou, cantou e dançou em muitos carnavais. A identidade com o tema vem também da experiência de Vovô no rádio. Ele trabalhou como serviços gerais e porteiro na antiga rádio Ribamar AM e foi promovido aos microfones por Frank Matos, locutor veterano nas emissoras de São Luís e apresentador do carnaval na Passarela do Samba durante décadas. Vovô sempre cantarolava nos corredores da rádio e um dia foi convidado por Matos para gravar jingles de campanhas eleitorais. Frank Matos fazia os textos e Vovô cantava. “E foi então que eu comecei a aparecer dentro da cultura, quando as pessoas passaram a ouvir minha voz”, ressaltou Vovô.

A inspiração para compor o samba com os parceiros incluiu a vivência de ouvinte e radialista. “O rádio AM para mim é a matéria informativa geral. É a minha cara-metade de uma pessoa que eu não conheço. Mas, o radialista da AM fala com você com tanta intimidade que você do outro lado, ligado no seu dial, acha que ambos se conhecem. Então, o radialista passa a ser parte da tua família. O rádio AM para mim significa a informação em primeira mão, aquela informação com a linguagem que o povo gosta de ouvir”, justificou Vovô.

Sua trajetória no Carnaval inclui 14 títulos, oito seguidos, um segundo lugar e novamente seis em sequência. “Sou o intérprete que mais tem títulos no Carnaval maranhense”, celebrou Vovô. Na Turma do Saco há seis anos, ele já coleciona um vice-campeonato e um primeiro lugar. “Sou um profissional da alegria”, festejou.

Trajetória da Turma do Saco

O bloco organizado Turma do Saco surgiu da motivação de famílias e jovens do bairro Codozinho, alguns já integrantes de outras agremiações carnavalescas, remanescentes das batucadas denominadas “charangas”, que faziam arrastões pelas ruas do Centro de São Luís. O presidente da agremiação, Marcio Cavalcante, contou que o nome do bloco surgiu da rivalidade com outra brincadeira carnavalesca, sediada na Vila Gracinha.

A rivalidade entre as duas turmas foliãs ocorreu pela diferenciação da indumentária. “Certo ano eles da Vila Gracinha compraram um tecido lamê (adornado com finas lâminas prateadas) e fizeram uma espécie de abadá. O bloco do Codozinho quis se organizar, mas não tinha condição de comprar lamê. Então foram a uma padaria, juntaram uns poucos recursos e compraram sacos de trigo, cortaram, customizaram, fizeram a fantasia e batizaram Turma do Saco”, relatou Cavalcante.

Os tempos áureos da Turma do Saco remontam à década de 1980, mas nos últimos seis anos a agremiação vem se reinventando e melhorando, garantiu o presidente. Temas como a cultura africana, o circo e seus palhaços e o bairro Codozinho já alegraram os sambas na “nação sacoleira”, carinhosamente denominada entre os brincantes e simpatizantes. A Turma do Saco já coleciona 11 títulos, o último conquistado em 2013, com o samba em homenagem ao Bicho Terra.

Nas ondas do rádio AM
Samba-tema do bloco organizado Turma do Saco para 2016
Autores: Luis Carlos Pinheiro (Vovô), coronel Franklin e Cesar Grafite

Em 1941 no dial AM
Na frequência 1290
A ilha foi ligada ao Maranhão
E assim surgiu a primeira emissora para comunicação
Em 15 de agosto de 1941
Entrava no ar a PRJ.9
Com o interventor Paulo Ramos
E depois virou a rádio Timbira
É fascinante ouvir a Mirante
Difusora, Educadora
Rádio Ribamar, hoje Capital
Rádio Gurupi é a potente São Luís
Política, esporte, religião
Radionovela, cultura e informação
Tudo vira festa na programação
Quem manda é você
Debaixo do pé de cajueiro
Dona Carochinha animava a criançada
Boa tarde minha gente
Galeria musical da saudade
Canta Maranhão é descontração
Pra nossa cidade
Alô! Alô! Bom dia!
Um aviso pro interior
No programa do “Galinho”
Carlos Henrique anunciou
Me traz um cavalo com cela e outro na cangalha
Pra levar a carga
Que a Turma do Saco mandou.

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Memórias do Armazém São Bento

A fotografia é do Armazém Geral, em São Bento, uma das cidades mais antigas do Maranhão, localizada na Baixada Maranhense.

Tudo indica que deve ser da década de 1950 ou anterior.

Uma das riquezas de São Bento, são os lagos, os campos alagados da Baixada Maranhense.

É provável que esse armazém ficava às margens do Igarapé Vale do Conduru, que era a principal ligação de São Bento com a Baia de São Marcos.

O igarapé foi muito usado antes das estradas de asfalto. É navegável por barco à vela e pequenas embarcações a motor.

O seu volume de água doce tem forte influência das marés.

Texto: José Reinaldo Martins / Agenda Maranhão