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Governador Flávio Dino inaugura parque em homenagem a João do Vale

“Este parque é um equipamento que reúne, em primeiro lugar, a homenagem a este grande brasileiro, grande maranhense, grande cidadão desta cidade, João do Vale, e se imortaliza pelo registro de sua obra. Convido todos a conhecer esta área de lazer, esporte e, também, de formação de novos talentos. Este equipamento público e gratuito realiza ainda direitos a educação, formação profissional e outros. Temos aqui, em cada canto, estímulo à juventude de Pedreiras e de toda a região”, pontuou o governador Flávio Dino, durante a inauguração do Parque João do Vale, na manhã deste sábado (4).

O parque na cidade do artista consagrado nacionalmente é um marco histórico e um dos maiores centros de convivência, diversão e arte construídos no estado. Conta com importante área de lazer que valoriza a cultura, o esporte, além de proporcionar a vida comunitária e o desenvolvimento do turismo. Na ocasião da entrega, vários familiares de João do Vale estavam presentes, recebendo homenagem e acompanhando o momento dedicado ao saudoso artista.

Na série de espaços do parque está o memorial João do Vale, escola de música e o Centro de Referência da Juventude. Ainda, réplica de uma estação de trem, em referência ao sucesso musical ‘De Teresina à São Luís’ do artista; biblioteca com espaço infantil e tecnológico; brinquedos interativos; instrumentos musicais; restaurante; auditório; academia ao ar livre; área de churrasqueira; quadras de areia e poliesportiva; três playgrounds; fonte luminosa e outras atrações paisagísticas. O parque possui ainda quatro praças temáticas: Pisa na Fulô, Carcará, Asa do Vento e João do Vale.

Centro de Referência da Juventude do Médio Mearim (Foto: Nael Reis)

“Agradecemos à equipe de Governo, às empresas privadas que ajudaram neste projeto, à prefeitura de Pedreiras e sobretudo, à população, que tenho certeza, está feliz e vai ajudar a cuidar do parque para que ele continue sempre bonito, acessível a todos e seja espaço de esperança que a nossa nação precisa. Agradeço a toda o povo do Maranhão, pois é a população que viabiliza mais essa grande conquista”, enfatizou Flávio Dino.  

“Esta grande obra é um marco na nossa cidade. Todos os pedreirenses estão muito felizes, assim também a família do saudoso João do Vale. Agora, na nossa cidade irá se eternizar pela memória do grande artista que levou o nome de Pedreiras para o mundo. Deixo meu agradecimento e gratidão ao governador Flávio Dino e todo o povo de Pedreiras”, frisou a prefeita Vanessa Maia.  

A programação da inauguração contou com diversas atrações culturais e esportivas. Grupos locais fizeram apresentação de zumba e capoeira; e equipes de jogos ocuparam as quadras poliesportivas para práticas esportivas. Ainda no evento, apresentação especial do musical ‘João do Vale’, com músicas interpretadas pelo ator Vicente Melo. O musical, realizado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura, foi sucesso de público em diversos estados.

Inauguração do Parque João do Vale, em Pedreiras (Foto: Nael Reis)

Vida e obra

Nascido na cidade de Pedreiras em 1933, João Batista do Vale foi um compositor que marcou a música popular brasileira. Desde pequeno gostava muito de música, mas logo teve de trabalhar para ajudar a família. Aos 13 anos foi para a capital maranhense e em em dezembro de 1950 chegou ao Rio de Janeiro, onde passou a frequentar programas de rádio, para conhecer os artistas e apresentar suas composições, na maioria baiões. 

Em 1964 estreou como cantor no restaurante Zicartola, onde nasceu a ideia do show Opinião, dirigido por Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes e Armando Costa, que foi apresentado no teatro do mesmo nome, no Rio de Janeiro, ao lado de Zé Kéti e Nara Leão. Tornou-se conhecido principalmente pelo sucesso de sua música Carcará, a mais marcante do espetáculo, que lançou Maria Bethânia como cantora. Como compositor, em 1969 fez a trilha sonora de Meu nome é Lampião. 

Em 1982 gravou seu segundo disco, ao lado de Chico Buarque, que, no ano anterior, havia produzido o LP João do Vale convida, com participações de Nara Leão, Tom Jobim, Gonzaguinha e Zé Ramalho, entre outros. Em 1994, Chico Buarque voltou a reverenciar o amigo, reunindo artistas para gravar o disco João Batista do Vale, prêmio Sharp de melhor disco regional. João do Vale faleceu em São Luís, dia 6 de dezembro de 1996, sendo sepultado em sua cidade natal, Pedreiras.

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Primavera de Museus tem programação especial durante toda a semana no Maranhão

Com atividades virtuais promovidas por instituições de todo o país, a 14ª Primavera de Museus acontece durante toda esta semana, do dia 21 a 27. Museus vinculados à Secretaria de Estado da Cultura (Secma) participam do evento com atividades em ambiente virtual, visto o momento de pandemia causado pela Covid-19.

Com o tema ‘Mundo Digital: museus em transformação’, a temporada pretende estimular o uso de ferramentas digitais para estreitar o relacionamento com o público. Museus, instituições de memória, espaços e centros culturais de todo o país estão transformando suas práticas, oferecendo lives, webinários, visitas virtuais, exposições e outras ações que propõem interatividade com a sociedade.

O Museu de Artes Visuais (MAV) lançou pelo Instagram uma ação educativa voltada para o público infantil com o objetivo de transformar uma obra do acervo do MAV em quebra-cabeça. A obra escolhida é uma pintura que faz referência a dois personagens tradicionais do carnaval maranhense, o Urso e o Fofão. O óleo sobre tela é do artista Edson Mondego. Para o dia 27 está prevista uma live que trará a conversa de duas gestoras de museus e suas considerações e perspectivas sobre as transformações ocorridas durante a pandemia.

A Fundação da Memória Republicana Brasileira (FMRB) já anunciou a exposição virtual #SOSAmazonia. A mostra apresenta obras de arte sobre a Amazônia, seus povos originários e suas atividades produtivas. São diversas peças, entre artefatos e telas, oriundas do Brasil, Venezuela, Suriname e Colômbia. Disponível nas redes sociais da FMRB.

A Casa de Nhozinho vai comemorar com exposições em suas redes sociais (Instagram @Casadenhozinho, e Youtube Casa de Nhozinho). Até este sábado (27), o público pode conferir a exposição ‘Fazendo Casas de Taipa’ por Aricélia Cantanhede Sales. É um projeto sobre o processo de construção das casas de taipa na cidade de Central do Maranhão. A série é composta por 10 painéis em Acrílico. A outra opção é a exposição de fotografias sobre armadilhas de pesca no Maranhão.

O Museu da Casa de Cultura Josué Montello fará exposição, ação educativa e sarau, tudo pelas suas redes sociais e da Secma. A programação conta com leituras de poesia, exposição de caricaturas de escritores brasileiros, e curiosidades sobre os museus brasileiros.

O Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão e o Museu do Palácio dos Leões também participam da 14ª Primavera de Museus com exposição virtual do acervo permanente e visita mediada.

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Livro reúne artistas e pesquisadores para debater a Contracultura no Brasil

Transas da Contracultura Brasileira, organizado por Isis Rost e Patrícia Marcondes de Barros, reúne artigos, poemas, entrevistas, depoimentos e ensaios. Traz nomes como Chacal, Jards Macalé, Luiz Carlos Maciel e os maranhenses Murilo Santos e César Teixeira, além de pesquisadores de diferentes locais do país.

Transas da Contracultura Brasileira resulta do encontro de duas pesquisadoras ligadas na efervescência cultural dos anos 1960 e 1970, Isis Rost, gaúcha radicada em São Luís, e Patrícia Marcondes de Barros, paulistana que vive atualmente em Londrina. Elas reuniram vasto material, que alinha entrevistas e depoimentos de personagens expressivas daqueles anos – tempos de explosão criativa, transformações comportamentais profundas e também de muita repressão política – com textos de pesquisa.

Capa do livro Transas da Contracultura Brasileira


“É um passeio por nomes da literatura, do jornalismo alternativo, da música, das artes cênicas e do audiovisual, quase sempre mais próximos do lado B e da experimentação, numa linguagem direta, sem os excessos teóricos e insossos dos textos acadêmicos”, afirma o professor Flávio Reis, que responde pela coordenação editorial do projeto.

Na primeira parte, temos entrevistas e depoimentos de Luiz Carlos Maciel, Ricardo Chacal, Jards Macalé, Helena Ignez, ao lado dos maranhenses Cesar Teixeira e Murilo Santos, integrantes da primeira turma do Laborarte, e de Edmar Oliveira, participante da cena que se desenvolvia em Teresina, além de uma entrevista realizada por Joca Reiners Terron com Régis Bonvicino sobre Walter Franco.

A segunda parte reúne pesquisadores e colaboradores de diferentes cidades como Teresina, São Luís, Londrina, Rio de Janeiro e São Paulo. Os textos enfocam aspectos diversos da efervescência cultural entre os anos 1960 e 1980, da Tropicália ao movimento Punk, nas áreas de poesia, música, cinema, imprensa alternativa e teatro. Entre os poetas convidados, Celso Borges, Cesar Carvalho e Durvalino Couto Filho.

Um dos ícones da contracultura, Chacal é parte do livro “Transas da Contracultura Brasileira”


“A concepção gráfica do projeto se aproxima do universo das publicações alternativas, ponto em comum entre eu e Patrícia, que conheci em 2018. Desde o ano passado existia a urgência de um projeto que resgatasse, neste período sufocante que atravessamos, os elementos transgressores da contracultura. O livro teve seu pontapé inicial quando nos encontramos pessoalmente pela primeira vez no Rio de Janeiro, em fevereiro, já no dia da entrevista com Chacal”, afirma Isis Rost, que assina o projeto gráfico e a diagramação de Transas da Contracultura Brasileira”. 

O e-book é mais um lançamento da Editora Passagens e estará disponível para download gratuito a partir do dia 26 de julho no blog da Editora Passagens editorapassagens.blogspot.com

O livro abre com um poema de Celso Borges anunciando os ingredientes e o sabor do caldeirão da contracultura.

Olhali Olhalá
Wally alado
No colo de Jorge Salomão
Tresloucado
No caldeirão da contracultura
Meu poema também cabe?
Quem sabe
Deitando e rolando no Gramma
No Drops de Abril de Chacal
Que tal
No coração samurai de Catatau
E coisa e tal
meu poema
Olé olá
No parangolé Tropicália de Oiticica
Que delícia
Meu poema enfim
Nos paletós de Francisco Alvim
Quem sabe
Maio 68 nos muros de Berlim
Meu poema lero lero
Ainda cabe até o fim
Na boca de Cacaso eu quero
Dentro de mim um anjo da contracultura
Que nas asas de Ana C. César
Sobrevoe aquela manhã azul de Ipanema
Queda para o alto
Meu poema
Meu treponema não é pálido nem viscoso
na fumaça de um fino
meu poema
panamérica de Agripino
colírio no olho do sol
quem sabe
nas bancas de revista
Warhol na capa mijando no urinol
de Duchamp
Roda, roda e avisa
Um minuto pros comerciais
Alô, alô, Tristeresina
Vai ver Torquato
Na discoteca do Chacrinha
Vai, Drummond, ser guache
Nas aquarelas da contracultura
Quem sabe!
Quem sabe desfolho a bandeira
Na parte que me cabe
Quem sabe?
Quem sou?
Eu sei
Eu não sei
Por isso
Meu poema vai
e voa
em vão
meu poema nem Seu Sousa
vai e vem e vaia
o caldeirão
da contracultura
não
Me segura que vou dar um traço

SERVIÇO

Transas da Contracultura Brasileira

Organizado por Patrícia Marcondes de Barros e Isis Rost

Editora Passagens – São Luís, 332 páginas

Coordenação editorial – Flávio Reis

Projeto gráfico e diagramação – Isis Rost

Download gratuito a partir do dia 26 de julho no blog da
Editora Passagens: editorapassagens.blogspot.com

Imagem destacada / divulgação / Poeta Ana Cristina Cesar é uma das referências do livro

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As músicas desconhecidas de Belchior e Frédéric Pagès

Ed Wilson Araújo

Os alunos têm sempre algo a ensinar para os professores. Esse é o principal sentido de Paulo Freire. E foi assim na primeira aula da disciplina Roteiro para Rádio de 2020. Durante a interação com os estudantes, informei a turma sobre o evento “Diálogos Insurgentes”, que teria a participação dos artistas Frédéric Pagès e Celso Borges.

Ao anunciar o evento contei aos alunos que Pagès, quando jovem, participou ativamente do movimento Maio 68. Logo depois o aluno Ailton Lima sacou uns versos da música Os profissionais, de Belchior, cuja letra é uma crítica ácida aos jovens rebeldes que se converteram em yuppies.

Eu nunca tinha ouvido Os profissionais e fiquei impressionado diante da inventividade do saudoso Belchior com aquela música cantada em um ritmo totalmente estranho ao seu estilo. Isso, por si só, já seria uma provocação?!

Logo na primeira estrofe, ele pergunta e responde:

Onde anda o tipo afoito
Que em 1-9-6-8
Queria tomar o poder?
Hoje, rei da vaselina,
Correu de carrão pra China,
Só toma mesmo aspirina
E já não quer nem saber.

A música é atualíssima para entender os recuos de alguns rebeldes que se entregaram ao sistema, convertidos aos seus próprios interesses, ajoelhados diante da luz feiticeira do vil metal. Na vasta floresta dos idealistas, Belchior distingue os revolucionários dos “yuppies sabor baunilha”, parâmetro para o “herói de boutique / dos chiques profissionais”.

Realizado pelas secretarias de Direitos Humanos (Sedihpop) e Ciência e Tecnologia/Inovação (Secti), os “Diálogos Insurgentes” das águas de março trouxeram ao palco o tema “arte e resistência”, abordados por Frédéric Pagès e Celso Borges em um animado bate-papo com a plateia, no teatro Alcione Nazaré.

Em tempos de avanço das forças conservadoras e do obscurantismo, a dupla palestrante colocou a arte em seu devido lugar, ou fora de qualquer enquadramento, visto que na interpretação de Borges e Pagès a criação estética é visceral e transgressora. Quando age, engendra sedução, inquietude e subversão, carregando a imensurável força de reencantar a realidade. Em tudo isso, arte tem poder!

No dia seguinte aos “Diálogos Insurgentes”, Frédéric Pagès participou da roda de conversa “Literatura (en)cantada: empoderar-se da língua”, juntamente com a professora Joelma Correia (UFMA) e o músico Wesley Sousa. O trio tratou com carinho as relações entre Pedagogia e arte para um auditório lotado e perseverante, no campus do Bacanga.

Pagès relatou sua afinidade com o pensamento de Paulo Freire e Darcy Ribeiro, sintetizando a longa jornada do processo de formação do ser humano: “Educação é tarefa para a vida inteira”, cravou.

Em Diadema, na grande São Paulo, o francês desenvolveu um projeto com jovens da periferia, construindo junto com rappers o protagonismo de um refinado material didático sobre Literatura, envolvendo texto, música e performance.

No experimento de Diadema, a pedagogia sonora é o esteio da Literatura que, cantada, encanta. Assim, um texto Machado de Assis ganha vida na música. Esse trabalho de transposição passa por um navegar de corpo e alma no universo das palavras corporificadas na voz dos intérpretes rappers.

Escritor, cantor, compositor e produtor, Frédéric Pagès desenvolve suas atividades na música e na Literatura entre a França e o Brasil há 40 anos, período em que participou de inúmeros projetos culturais de intercâmbio entre os dois países.

Entre outras “artes”, em 2019 Pagès se autoproclamou presidente da França, inspirado no ator brasileiro José de Abreu.

Na sua estada em São Luís ele apresentou canções e poemas no pocket show “Passion Brésil”, versão sintética do espetáculo homônimo estreado recentemente, em Paris, celebrando quatro décadas de relação com a cultura brasileira, que também dá título ao seu CD lançado em 2019.

Veja abaixo vídeos do cantor.

Leia mais sobre a carreira de Frédéric Pagès aqui

Do que vi e ouvi de Pagès, deu para perceber que ele não se enquadra na crítica precisa de Belchior sobre os rebeldes que se perderam no meio do caminho.

Oh! L’age d’or de ma jeunesse!
Rimbaud, “par delicatesse
J’ai perdu (também!) ma vie!”

Em tradução direta:

Oh! A idade de ouro da minha juventude!
Rimbaud “por delicadeza
Perdi (também!) minha vida! “

O artista franco-brasileiro não parece cansado de guerra. Na sua maturidade, empunha na arte e no discurso as bandeiras do jovem ativista do Maio 68. Ele segue na marcha da utopia, encantando as pessoas com o poder mágico das palavras e dos sons.

Assim, as músicas (não mais) desconhecidas de Belchior e Frédéric Pagès (ouça aqui) agora fazem parte de um saboroso aprendizado.

Veja abaixo a letra de Belchior.

Os profissionais

Onde anda o tipo afoito
Que em 1-9-6-8
Queria tomar o poder?
Hoje, rei da vaselina,
Correu de carrão pra China,
Só toma mesmo aspirina
E já não quer nem saber.

Flower power! Que conquista!
Mas eis que chegou o florista
Cobrou a conta e sumiu
Amor, coisa de amadores
Vou seguir-te aonde f(l)ores!
Vamos lá, ex-sonhadores,
À mamãe que nos pariu!

Oh! L’age d’or de ma jeunesse!
Rimbaud, “par delicatesse
J’ai perdu (também!) ma vie!”
(Se há vida neste buraco
Tropical, que enche o saco
Ao ser tão vil, tão servil!)

E então? Vencemos o crime?
Já ninguém mais nos oprime
Pastores, pais, lei e algoz?
Que bom voltar pra família!
Viver a vidinha à pilha!
Yuppies sabor baunilha
Era uma vez todos nós!

Dancei no pó dessa estrada…
Mas viva a rapaziada
Que berrava: “Amor e Paz!”
Perdão, que perdi o pique…
Mas se a vida é um piquenique
Basta o herói de butique
Dos chiques profissionais.

I have a dream… My dream is over!
(Guerrilla de latin lover!)
Mire-se o dólar que faz sol
Esplim, susexo e poder,
Vim de banda e podes crer:
“Muito jovem pra morrer
E velho pro rock ‘n’ roll!”

Imagem destacada: Pagés foi ativista e escreveu livro sobre Maio 68
Foto capturada neste site

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Diálogos Insurgentes: jornalista francês Frédéric Pagès e o poeta Celso Borges conversam sobre arte e resistência

Censura, resistência e arte serão novamente abordados na 16ª edição do Diálogos Insurgentes, que irá receber o cantor, ator e jornalista francês Frédéric Pagès e o poeta, letrista e jornalista maranhense Celso Borges

A 16ª edição traz a parceria inédita entre a Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop) e a Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (Secti) no Diálogos Insurgentes. O tema arte e censura não é novidade no evento, que já recebeu em sua 14ª edição o ator, diretor e produtor cultural Sérgio Mamberti.

Com o tema “Arte da resistência, Resistência da arte”, e mediação do jornalista e professor da UFMA Ed Wilson Araújo, a dupla promete aos participantes, uma viagem por meio das histórias que permeiam as lutas das atividades culturais entre Brasil e França, como a Resistência Francesa ao nazismo e o movimento Maio 68, do qual Pagès foi uma das figuras de destaque.

Frédéric Pagès, um dos convidados da edição, pontua que “a arte não é arte se não denuncia todas as formas de opressão e de aviltamento do ser humano. Se não é exigência constante de dignidade, de lucidez e de criatividade”.

O objetivo dos Diálogos Insurgentes é ampliar o debate intersetorial e transversal de temas contemporâneos relacionados aos Direitos Humanos, assim contribuindo para a disseminação da cultura e educação em direitos humanos nos diversos segmentos da sociedade.

O secretário de Estado dos Diretos Humanos e Participação Popular, Francisco Gonçalves, destacou que a 16ª Edição do “Diálogos Insurgentes” será mais uma boa oportunidade para que os maranhenses tenham acesso a um debate sobre a censura. “Não bastasse a onda de intolerância religiosa, os artistas também sofrem diferentes formas de censura, como a demonização da categoria; a disseminação de fake news sobre a Lei Rouanet e os cancelamentos de shows e exposições, por exemplo. É preciso, neste caso, defender a liberdade de pensamento e criação artística, prevista na Constituição Federal”, pontuou.

CONHEÇA OS DEBATEDORES

*Frédéric Pagès*

Cantor-viajante, Frédéric Pagès navega na fronteira da música e da literatura, lá onde dançam as palavras e onde os textos e ritmos se enlaçam, para tentar reencantar um mundo sob sombras. 

Vivendo há quarenta anos entre a França e o Brasil, concebeu e realizou incontáveis projetos culturais nos dois países, como o “Manual de Literatura Encantada”, um Livro-CD criado e gravado com dez jovens rappers profissionais da periferia de São Paulo, colocando vozes e ritmos, sob sua direção, em textos da literatura brasileira clássica e moderna.

Passion Brésil, seu último disco, é uma “revista de viagem cantada”, gravado no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Belém com alguns dos melhores instrumentistas do Brasil.

Figura de destaque do Maio 68, e também articulista na imprensa francesa e em revistas brasileiras (Cult, Bravo e no.com), Frédéric Pagès lançou na França, em 2018, junto com Jacques Brissaud e Olivier de La Soujeole, a obra “Maio 68 está diante de nós”, livro no qual rememora os eventos desse período tão marcante na história do século XX, vivido por ele tão intensamente, na perspectiva de compreender e de mensurar a sua significação nos dias atuais.

*Celso Borges*

Poeta e letrista, parceiro de Zeca Baleiro, Chico César, Criolina, Gerson da Conceição e Nosly, entre outros compositores, Celso Borges tem 10 livros de poesia editados, entre eles Pelo avesso (1985); Persona non grata (1990); XXI (2000), Música (2006), Belle Époque (2010) e O futuro tem o coração antigo (2013). Vem publicando desde 2016 a série Poéticas Afetivas, títulos em formatos menores e tiragens pequenas. Dentro desse projeto estão os livrinhos Poemas delicados, A árvore envenenada, Carimbo Carinho e Visão todos em parceria com artistas visuais, entre eles Claudio Lima e Márcio Vasconcelos. 

Desde 2005, o artista desenvolve projetos de poesia falada no palco, utilizando referências que vão da música popular brasileira às experiências sonoras de vanguarda e cultura popular. Como resultado desse trabalho fez Poesia Dub, com o jornalista Otávio Rodrigues; A Posição da Poesia é Oposição, com o guitarrista Christian Portela e o percussionista Luiz Claudio; e Sarau Cerol com o compositor Beto Ehongue.

Celso Borges tem poemas publicados nas revistas Coyote e Oroboro, Poesia Sempre, Germinal etc e foi co-editor das revistas culturais Guarnicê (1983/1986), Uns & Outros (1984/1987) e Pitomba! (2011/2014). Com Zeca Baleiro co-produziu o CD A Palavra Acesa de José Chagas (2013). Quatro anos depois, homenageou outra poeta maranhense, Bandeira Tribuzi, produzindo Pão Geral – Tributo a Tribuzi. Os dois discos tiveram a participação de vários artistas brasileiros.

Evento: Diálogos Insurgentes com Frédéric Pagès e Celso Borges

Quando: 05 de março (quinta-feira)

Hora: 17h30 

Onde: Teatro Alcione Nazaré (Centro de Criatividade Odylo Costa Filho)

Inscriçãoparticipa.ma.gov.br (vagas limitadas)

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Tempo de escrever

Eloy Melonio

“Escrever não é fácil”, dizia um amigo meu quando me pedia ajuda com algum texto que estava escrevendo. E de tanto escrever e querer melhorar sua escrita, não é que já está escrevendo razoavelmente bem!

Um artigo sobre “a arte ou o ofício da escrita” não parece leitura agradável. Mas é necessária. Especialmente nestes tempos de redes sociais. Especialistas afirmam que nunca se escreveu tanto como agora. É verdade, tem muita gente escrevendo! Textos com uma, duas, e até mais de trinta palavras são comuns em suas postagens. Gente que não escrevia nada passou de repente a escrever. E nesse escreve-escreve, se aventura na poesia, na crítica política ou social, contos, crônicas. O lado sombrio disso é que, nesse espaço, alguns se acham não apenas inteligentes, mas donos da verdade. E chegam a defender a tolerância e a liberdade de expressão aos gritos, passando por cima da opinião do outro. Seja com for, estão escrevendo de verdade. E não é demais lembrar que o Português é o terceiro idioma mais usado nas redes sociais.

A prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) começa neste domingo (4-11) e prossegue no subsequente. E logo de saída, o terror de quem terá de escrever um texto. E de tão importante, a redação é matéria nos principais canais de TV. Na pauta, a dificuldade em produzir textos claros, bem redigidos, fiéis à norma culta. Isso explica o medo da prova, porque ela pode “reprovar” o candidato, se o seu texto não se enquadrar nos requisitos básicos.

“Escrever é fácil”, dizia um professor nas primeiras aulas de seu curso de Redação. E acrescentava: “Você começa com uma maiúscula e termina com um ponto final. No meio, põe as idéias”. Parece simples, mas é aí que está o problema. Entre a primeira palavra e o ponto final, você precisa escrever. Ou seja, estabelecer uma tese, defender um ponto de vista, argumentar sobre a problemática do tema. E ainda tem a produção do texto: a sintaxe, a coerência, clareza. É neste momento que entra em cena a temida “norma culta”, nome pomposo de nossa velha gramática.

Nunca esqueci o título de um anúncio da Mercedes-Benz que vi numa revista: “Quando se tem o que dizer, fica fácil se comunicar”. Esse título me inspirou a melhorar minha escrita. E me acompanha até hoje. Ter o que dizer: eis a questão! Por isso não há como fugir da necessidade de ler. Ler (quase) tudo: jornais, revistas, blogues. E, em especial, livros. Um bom leitor é geralmente um bom escritor. Todos os grandes escritores são (foram) grandes leitores. Mas é preciso saber o que se deve ler. A fruição do texto quando se lê algo que é realmente útil e interessante.

Leitores contumazes geralmente têm paixão por certos autores. E por certos livros também. Têm seus colunistas e/ou blogueiros preferidos. O importante é tirar de suas leituras conteúdo para enriquecer seu conhecimento. O que busca: informações, conhecimento, fruição. Se busca poesia, Castro Alves possui “o mais rico e colorido repertório imagístico da nossa poesia romântica” (Antônio de Pádua, Aspectos Estilísticos da Poesia de Castro Alves). Quem não gosta de Josué Montello, Machado de Assis, Mário Quintana? E de tantos outros monstros imortais da literatura universal e nacional?

Voltando ao amigo do início deste artigo, “escrever não é fácil mesmo”. Para aperfeiçoar sua produção textual, você precisar ler. E escrever. Sou observador atento de tudo o que leio. De vez em quando me aventuro a corrigir “gente grande”! (Risos!). E assim, geralmente passo a vista nos textos em busca de algum “probleminha”. E nessa busca, encontro alguns errinhos básicos. E para seu espanto, de quem se poderia esperar coisa melhor. Ou seja, de pessoas que escrevem profissional e/ou artisticamente.

Com uma pequena mudança no original, selecionei algumas “pérolas” só para ilustrar esta argumentação: “Sejamos, nós escritores, os baluartes da boa escrita” (Sejamos nós, escritores, … [o vocativo junto com o sujeito]); “(…) e nada tem haver com os conflitos” (tem a ver); “(…) o nosso amigo Juvenal faleceu agora a pouco” ( pouco [tempo decorrido]); “Se trata de poesia estudada, pela mente e pela alma” (Trata-se [em texto formal]); “Depois do que vi, pré-sinto que essa situação” (pressentir); “(…) me incentivava tudo isso e…” (dar incentivo a [uma ação]). Num desses casos, não segurei minha indignação, e desabafei ironicamente: “Pobre língua portuguesa! Tão maltratada e aviltada por seus (supostos) melhores amigos! Aja paciência! (Hein?!)”.

A escrita do profissional do texto (jornalista, escritor, poeta) é coisa de grande responsabilidade. Com sua imagem e com a língua pátria. Se somos os primeiros a errar, o que esperar dos outros?

Errar é uma tarefa difícil. Isso mesmo, considerando-se que hoje se tem (ou é “tem-se”?!) à mão corretor ortográfico, dicionário online, sites com conteúdo gramatical específico. Para escrever este texto recorri a esses recursos várias vezes. Quando publico um texto, tenho um cuidado especial em ver se está bem escrito. E na revisão, descubro alguns “errinhos” também! Todo esse cuidado porque escrevo para outras pessoas. E sempre me pergunto: será que vão entender? Será que vão gostar do assunto, da forma como está exposto?

Essas perguntas me levam a revisar e ver o que realmente precisa ser mudado. Aí vou cortando a “gordura vocabular”, ou seja, as palavras desnecessárias. Verifico a colocação dos pronomes, os tempos verbais, a acentuação gráfica, a pontuação. Frei Betto ensina: “Caço literalmente todos os gerúndios do texto, tudo que termina em “ando”, “endo”, “indo” etc., pois acredito que isso ‘amolece’ a escritura” (Ofício de Escrever, Ed. Anfiteatro). Não há como duvidar que o autor está para o texto assim como o maestro está para a orquestra.

Ardorosos defensores de nossa língua reclamam da falta de paixão pelo idioma pátrio. Falta estudo, zelo, paixão! “Nossa língua é o resultado de séculos de beleza que a literatura nos legou”, defende o jornalista Sérgio Rodrigues, autor de “Viva a Língua Portuguesa!” (Companhia das Letras). Latino Coelho enfatiza: “De todas as artes a mais bela, a mais expressiva, a mais difícil, em sem dúvida a arte da palavra” (A Oração da Coroa).

O amor à escrita (e à leitura) é condição “sine qua non” para quem decide se aventurar no mundo das letras. Mesmo que não tenha objetivos elevados. Ou seja, apenas para escrever textos que possam ser lidos e, se possível, admirados. Por que quero escrever? Para quem vou escrever? Sem uma resposta coerente, fica difícil adentrar o mundo literário. Nos Estados Unidos, cursos de “creative writing” (escrita criativa) são comuns nas universidades. É uma resposta aos alunos que pensam escrever textos para revistas especializadas, ou mesmo um livro temático ou de cunho literário. Seja qual for a sua razão, não se deixe abater pelas primeiras dificuldades. E, principalmente, prepare-se para escrever. Alguém já disse: “Português não é difícil, você é que estudou pouco”. Uma observação dura, mas verdadeira, aos que apresentam uma justificativa para textos desprovidos de conteúdo, graça e beleza.

Leia este excerto do livro “O prazer da leitura”, de Rubem Alves (1933-2014): “Todo o texto é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se ele domina a técnica, se ele desliza sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto apossa-se do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não domina a técnica, se luta com as palavras, se não desliza sobre elas – a leitura não produz prazer: queremos logo que ela acabe”.

São muitas as razões para se escrever. Pode ser necessidade, prazer, paixão. E aqui faço uma intertextualidade entre Frei Betto (FB), em seu já referido livro “Ofício de escrever”, e Ruy Robson (RR), poeta maranhense, em seu poema “Escrevo”: “Escrevo para ser feliz. Bartheanamente, para ter prazer” (FB); “Escrevo por necessidade,/ pela vontade de ser feliz” (RR); “Escrevo para sublimar minha pulsão e dar forma e voz a babel que me povoa interiormente” (FB); “Escrevo para não sofrer/ escrevo para não matar/ Escrevo para não morrer!!!” (RR).

Fácil ou difícil? A resposta é sua. Só sei que a escrita é uma arte que pode informar, ensinar, entreter. E, quem sabe, “virar a vida pelo avesso”.