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Canibalismo político no Maranhão

Um dos desfechos da obra “Dom Quixote”, do escritor Miguel de Cervantes, narra o combate entre o Cavaleiro da Triste Figura e o Cavaleiro da Lua Branca.

As regras da batalha convergiram para que o derrotado reconhecesse a amada do vencedor como a mulher mais bela e formosa do mundo.

O desafio é muito pertinente às façanhas de Dom Quixote ao longo do livro, no qual ele reitera com veemência ser Dulcinéia de Toboso a detentora do título de formosura universal e insuperável, algo sagrado e jamais conquistado por qualquer outra dama.

Os combatentes viam na luta uma forma de possuir a força do oponente derrotado. Não se tratava apenas do resultado (ganhador ou perdedor), mas do triunfo como incorporação da vitalidade do oponente pelo vencedor, passando este a ser o detentor da força do outro.

Observe o arremate do Cavaleiro da Lua Branca, ao interpelar Dom Quixote, o Cavaleiro da Triste Figura:

“Venho lutar convosco e fazer-vos conhecer e confessar que minha senhora, seja quem for, é, sem comparação, mais formosa do que a vossa Dulcinéia de Toboso. Se confessardes essa verdade, sereis poupado, mas, se quiserdes a luta e eu vencer, não quero outra satisfação senão que deixeis as armas e vos abstenhais de lutar, recolhendo-vos a vossa casa, onde ficareis durante um ano, sem pegar na espada nem buscar aventuras. Ao contrário, se vencerdes, minha cabeça ficará ao vosso inteiro dispor e serão vossas as minhas armas e meu cavalo.
Minha fama passará também a ser a vossa […]” (Dom Quixote, p. 284)

O sentido de incorporar, anexar e adicionar para si a força e a fama do outro está presente também na prática das culturas arcaicas, a exemplo do canibalismo. Embora esteja situado num tempo muito distante do cenário político institucional da modernidade, o canibalismo serve de ilustração para situar a violência como meio para impor a dominação.

A ação de devorar o adversário vencido implicava em nutrir-se do corpo do inimigo para anexar o sentido da vitória na batalha. O triunfo do vencedor poderia também ser ostentado em exibir no corpo ou na sua lança algum artefato dos restos mortais do derrotado: um osso, a mão ou a caveira inteira, por exemplo.

Lutar, matar, devorar e exibir eram formas de teatralizar e materializar a violência. O vencedor tornava-se assim mais forte e poderoso não só matando, mas comendo a carne e exibindo algum esbulho do algoz eliminado.

Apenas ilustrativamente, o canibalismo é presente na política institucional, em determinadas circunstâncias, quando o vencedor adiciona a si a força e a fama do outro. A constituição do inimigo, por sua vez, é parte da lógica da política, fundada no conflito como alimento na busca pelo poder. Diz o filósofo coreano Byung-Chul Han, em “Topologia da violência”, p. 97:

“Quanto mais nítida e unívoca for a imagem do inimigo, mais claros serão os contornos da própria configuração. A imagem do inimigo e a imagem do si-mesmo condicionam-se mutuamente, provocam seu surgimento mútuo. As energias destrutivas dirigidas contra o outro têm efeito construtivo na formação de um si-mesmo firmemente delimitado e demarcado.”

Até mesmo quando a política aparenta conciliação ou paz, a violência está presente. No contexto agonístico, um aparente entendimento como sinal de pacificação pode ter nos bastidores o uso da força por meio das ações do governo ou de uma expectativa de governar. A paz visível pode ser fruto da violência oculta.

As práticas violentas na política manifestam-se com excessiva visibilidade nos períodos eleitorais, quando as forças partidárias e outras da sociedade civil se organizam em uma impressionante mobilidade para formar coligações, definir candidaturas, cooptar lideranças, eliminar obstáculos, agregar aliados e defenestrar concorrentes, silenciar e/ou bloquear situações adversas etc.

É o momento da(s) tática(s) eleitoral(is), sempre sintonizada(s) na(s) estratégia(s) de cada exército no desenrolar das batalhas que compõem a guerra.

Reiterando. A política é uma atividade essencialmente violenta. Na guerra, por exemplo, os objetivos militares estão sempre submetidos aos interesses políticos, ensina Carl Von Clawsevitz.

Para além do bem e do mal, a política é dotada de uma intensa mobilidade das forças e dos grupos que disputam poder. Assim, o vencedor impõe as suas vontades e o medo, o respeito, os seus interesses e existência através da violência.

Esses cenários são visíveis nas três “eras” lideradas respectivamente por Vitorino Freire, José Sarney e Flávio Dino, cada qual com as suas especificidades e objetivos, os dois primeiros bem distintos do último, para demarcar as diferenças.

O tamanho do inimigo derrotado também influencia na visibilidade do vitorioso. José Sarney ficou grande porque amalgamou a força de Vitorino Freire.

Flávio Dino virou uma referência nacional porque derrotou e agregou a potência da última e quase cinquentenária oligarquia do Brasil.

Apesar das distinções, o exercício da política no Maranhão tem entre os símbolos mais representativos os leões do Palácio do Governo. Eles são a conotação do canibalismo na política em carne e osso, sem artificialidades.

Os leões movem montanhas, modificam cenários, alteram a correlação de forças, silenciam os concorrentes, enaltecem os áulicos; enfim, definem quase tudo.

Aqueles felinos, guardiões do palácio, ilustram a metáfora de Dom Quixote e a prática do canibalismo.

Devido à força descomunal dos leões, o Maranhão vive o instigante momento da transição, quando a mudança não se instalou totalmente e a renovação geracional e das ideias ainda transita no passado.

Imagem destacada / vista panorâmica do Palácio dos Leões / Fonte: iStock

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UFMA presta homenagens alusivas aos 200 Anos da Imprensa no Maranhão

Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no
Maranhão é uma das organizações contempladas

Fonte: Portal Padrão /UFMA

Nessa terça-feira, 21, em comemoração aos 200 Anos da Imprensa no Maranhão, a Universidade Federal do Maranhão realizará a solenidade de entrega da Comenda dos 200 anos de Fundação da Imprensa no Maranhão. O evento ocorrerá no Centro Pedagógico Paulo Freire, com início às 18h, com transmissão no Canal Institucional da UFMA, no YouTube.

Contar dois séculos de história da imprensa maranhense é uma missão ambiciosa que surgiu como um tributo ao primeiro jornal fundado na cidade de São Luís – O Conciliador do Maranhão. À frente dessa empreitada, a Universidade Federal do Maranhão, com o apoio da Fundação Josué Montello, da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap) e da Vale, tem realizado uma série de eventos que fazem parte da programação do projeto 200 Anos de Imprensa no Maranhão.

A realização desse evento e das ações realizadas ao longo do ano é fruto da união entre as entidades que viabilizaram à Diretoria de Comunicação da UFMA organizar e efetivar atividades que homenageassem esse marco histórico, que teve início no dia 15 de abril de 1821, data de circulação do primeiro exemplar de O Conciliador.

As festividades estrearam na data emblemática para o projeto. Foi na noite do dia 15 de abril de 2021, por meio do Canal Institucional da UFMA, no YouTube, que ocorreu a abertura oficial do bicentenário.

Dentro da programação, a Diretoria de Comunicação lançou WebStoriePodcastsLongForm e um Documentário. Para encerrar o ano do bicentenário da imprensa no Maranhão, a Universidade homenageará cinquenta profissionais distribuídos nas categorias Votação Popular, Pesquisadores, Empreendedores, Produção Jornalística, Jornalista, Outros Profissionais e Homenagem Especial.

Confira a lista dos agraciados por categoria

Votação Popular

Douglas Pinto

Douglas Pires Cunha

Edvânia Kátia Sousa Silva

Jailson Mendes

José Tribuzi Pinheiro Gomes (Bandeira Tribuzzi) – in memoriam

Luiz Carlos da Cunha

Lukas Carvalho

Marcos Saldanha

Mário Linconl

Paulo Melo Sousa

Pesquisadores

Josefa Melo e Souza Bentivi Andrade (Zefinha Bentivi)

Marcelo Cheche Galves

Sebastião Barros Jorge

Empreendedores

Associação Brasileira de Rádios Comunitárias no Maranhão (Abraço-MA)

José Ribamar Bogéa – in memoriam

José Sarney

Moacyr Sposito Ribeiro

Pedro Freire

Sergio Antonio Nahuz Godinho

Produção Jornalística

Célio Sérgio Serra Ferreira

Dreyfus Nabor Azoubel – in memoriam

Hipólito César Vieira Ferreira (César Hypolito)

Jornalista

Alberico Carneiro

Benedito Bogéa Buzar

Bernardo Coelho de Almeida – in memoriam

David Peres

Djalma Silva Rodrigues

Félix Alberto Gomes Lima

Herbert Fontenele Filho – in memoriam

José de Jesus Louzeiro – in memoriam

José Raimundo Rodrigues

José Raposo Gonçalves da Silva (Amaral Raposo)

José Ribamar Gomes (Gojoba)

Josilda Bogéa – in memoriam

Manoel dos Santos Neto

Marcelo Rodrigues

Marcia Maria de Paiva Coimbra

Nascimento Moraes Filho – in memoriam

Neiva Moreira – in memoriam

Othelino Nova Alves – in memoriam

Pergentino Holanda Silva

Raimundo Jurivê Pereira de Macedo – in memoriam

Raimundo Nonato Borges

Ribamar Correa

Roberto Fernandes – in memoriam

Sebastião de Almeida Negreiros

Sidney Pereira

Outros Profissionais

Francisco Melo Filho  – in memoriam

Chafi Braide Júnior

Homenagem Especial

Curso de Comunicação UFMA – São Luís

Fonte / Portal Padrão UFMA / TextoSansão Hortegal / Revisão: Jáder Cavalcante

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Conheça o “Bacuri do PDT”, uma lenda no cerrado maranhense

O mundo da política no Maranhão tem muitos relatos instigantes e curiosos. Um deles é narrado pelo radialista e líder comunitário James Barros, nascido no povoado Tabocas, importante localidade na zona rural de Barreirinhas, cidade referência nos Lençóis Maranhenses.

Quando não havia a rodovia MA-402, o percurso para chegar a Barreirinhas era feito pela MA-225, acessada no Baixo Parnaíba à altura de Urbano Santos e/ou São Benedito do Rio Preto.

A MA-225 ainda está viva na memória do povo do cerrado e nessa estrada, ainda percorrida na atualidade pelos moradores das comunidades, muita coisa aconteceu.

As reuniões políticas e eleitorais, por exemplo, tinham um ponto de referência ao longo da rodovia – um frondoso pé de bacuri, fruta das mais deliciosas do cerrado.

No tempo das campanhas, à sombra da frondosa árvore, os partidários de Leonel Brizola batizaram a planta de “Bacuri do PDT”, o point da política.

“O batismo da planta foi de Luiz Lisboa da Silva, o Luis Moura. Inspirado na flor do bacuri, ele gravou no tronco da graciosa árvore a sigla PDT, legenda que tem no seu logotipo uma rosa vermelha, representando valores humanistas e democráticos”, explicou James Barros.

James Barros e as memórias do “Bacuri do PDT”

Os moradores das redondezas se deslocavam até o “Bacuri do PDT” para as reuniões. Iam a pé, de cavalo ou jumento, em caminhões, paus de arara e carros menores. O motivo era um só – debater a política e tomar as decisões.

Hoje o fluxo na MA-225 é pequeno, mas a estrada ainda é muito usada pelos lavradores e extrativistas do cerrado. O “Bacuri do PDT”, que já testemunhou muitas pelejas, do alto da sua majestade, é testemunha das mudanças na região. Uma delas, muito perigosa, é a invasão da monocultura de eucalipto já na fronteira entre Urbano Santos e Barreirinhas.

Esse tema – o impacto do agronegócio – será tratado em outra postagem. Aguarde.

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Símbolo da violência no campo recebe homenagem da Assembleia Legislativa do Maranhão

A região do Baixo Parnaíba, no leste do Maranhão, está transformada em uma espécie de feudo da família Introvini, poderosa corporação do agronegócio que há dez anos destrói os recursos naturais e a vida de muitas pessoas.

Neste começo de dezembro, o fazendeiro André Introvini, cercado de seus “funcionários”, ameaçou um casal de idosos no povoado Carranca, em Buriti de Inácia Vaz. Pela enésima vez, o cawboy violenta a família de Maria Rita dos Reis Lira (66 anos) e Vicente de Paulo Costa Lira (65 anos).

André Introvini, de blusa branca, ameaça os idosos Vicente e Maria Rita

André já é figura conhecida pelos seus métodos agressivos usados para coagir, pressionar, humilhar e ameaçar os moradores e fundadores das comunidades rurais com o objetivo de ampliar as plantações do agronegócio.

Veja aqui reportagem sobre os sojicultores no Baixo Parnaíba, inclusive com despejo de veneno que atingiu gravemente uma criança

Ele ainda não foi condecorado pelos atos grotescos, mas no Maranhão onde tudo pode a Assembleia Legislativa concedeu o título de Cidadã Maranhense à sua irmã Gisela Introvini, em cerimônia realizada dia 25 de novembro de 2021.

Gisela Introvini, a homenageada, lidera as mulheres do agronegócio

A proposição da homenagem é de iniciativa do deputado Fabio Braga (Solidariedade). Durante a condecoração, no lustroso plenário do legislativo maranhense, o parlamentar enalteceu as qualidades da agraciada, técnica em Agropecuária e Engenharia Agrônoma, formada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná.

Fabio Braga: orgulho pela homenagem

O deputado destacou especialmente as qualidades de Gisela no intuito de (pasmem!) “promover o desenvolvimento sustentável” e disse estar lisonjeado pela honraria. Ela, idem.

Gisela Introvini é a presidente da Associação das Mulheres do Agronegócio e comanda a comissão organizadora da maior feira do agronegócio do Maranhão – a Agrobalsas.

Parte da elite do Maranhão compareceu à cerimônia e aplaudiu a laureada.

Enquanto isso, de Balsas ao Baixo Parnaíba, o Maranhão está tomado pelas práticas medievais de violência em todos os sentidos.

Fotos / JR. Lisboa – Agência Assembleia

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Agronegócio avança com violência(s) na região do Baixo Parnaíba

Por Ed Wilson Araújo

No intervalo do Jornal Nacional, da Rede Globo, milhões de brasileiros assistem à propaganda de louvação do agronegócio. Ele é pop, é tech, é tudo!

Os filmes publicitários muito bem feitos levam a crer no milagre da lavoura, projetando na audiência os sentidos de prosperidade, sucesso, lucros, méritos, satisfação e nacionalismo.

Mas, esse Brasil que dá certo na tela da TV é muito diferente da realidade dos moradores cercados pelos campos de soja.

No povoado Carrancas, a 19 Km da sede do município Buriti de Inácia Vaz, homens e mulheres de várias gerações, nascidos e criados nas chapadas, sentem no corpo inteiro e na mente as violências provocadas pelo agronegócio nos 16 municípios do Baixo Parnaíba, seguindo o curso da BR-222 e adjacências, na região leste do Maranhão.

Um dos dramas é narrado pela família de Maria Rita dos Reis Lira (66 anos) e Vicente de Paulo Costa Lira (65 anos).  A casa onde vivem e criaram sete filhos e 10 netos está cercada de campos de soja onde antes havia florestas de buriti, pequi, caju e uma variada fauna irrigadas por rios, riachos e córregos.

Casal de idosos, Vicente e Rita sentem a agonia do território cercado. Imagens: Ed Wilson Araújo

Após quase 20 anos de presença do agronegócio nessa região, quase tudo está destruído, restando alguns moradores que se recusam a vender as suas terras ou resistem diante das tentativas de apropriação ilegal de áreas onde os pequenos agricultores e extrativistas viviam e produziam bem antes da chegada dos fazendeiros.

A situação do casal Lira é parâmetro para todos os pequenos produtores da agricultura familiar, os povos e as comunidades tradicionais atingidos pelo agronegócio.

Para eles, todo dia é uma agonia vivenciada por diversos tipos de violência: assédio, ameaças e coação para a venda de terras e/ou grilagem dos territórios, perseguição quando fazem o roçado, poluição de veneno (herbicida) pulverizado por aviões ou despejado pelas máquinas agrícolas (tratores), desmatamento ilegal, extermínio das nascentes, poluição da água e das outras fontes de alimentos, denúncias criminais de fazendeiros contra os trabalhadores rurais, entre tantas outras agressões e violações de direitos humanos.

Ouça aqui o podcast com Vicente de Paula Costa Lira

Há também um tipo de violência visual. Dói nos olhos a sensação de estar cercado por imensos desertos, sem vida, com o futuro sempre ameaçado por novas expansões da fronteira agrícola baseada na monocultura.

Vizinho de Carrancas, o povoado Araçá ficou conhecido no mundo todo em abril de 2021 quando viralizaram as imagens da pulverização aérea de agrotóxicos, atingindo o menino André Lucas, de 7 anos de idade, vítima de graves queimaduras em todo o seu corpo.

Cenas do agronegócio em Buriti: áreas desmatadas avançam cada vez mais. Imagens: Ed Wilson Araújo

Diversas organizações que atuam na defesa dos camponeses classificam o uso de coquetéis de veneno como uma guerra química do agronegócio para eliminar as comunidades tradicionais e deixar os territórios livres para a expansão da monocultura de soja, eucalipto e milho, entre outros cultivos à base de herbicidas.

O menino André Lucas foi o caso mais visível; no entanto, a presença e/ou ameaça de uso dos herbicidas é uma constante na vida dos moradores cercados pelos campos de soja na região.

Para o integrante da Coordenação Estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Edivan Oliveira dos Reis, os impactos do agronegócio ocorrem pelo menos em quatro dimensões: ambiental, política, econômica e na cultura camponesa. Veja o vídeo abaixo:

Edivan Reis: o agronegócio na região vem desde a década de 1980

Os fazendeiros atendem por um sobrenome – Introvini – família de sojicultores que tem como principais personagens o pai Gabriel e o filho André.

De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), no episódio de Araçá, os proprietários das fazendas usuárias de pesticidas, os sojicultores Introvini, “não possuíam licenciamento ambiental da atividade de pulverização aérea, o que motivou embargo da atividade e também auto de notificação e infração no valor de 273 mil reais”.

Ainda segundo a Sema, “a investigação continuou com equipes da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos (SEDIHPOP), Secretaria de Saúde (SES), Secretaria de Segurança Pública (SSP-MA) e Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Maranhão (AGED), em parceria com a Diocese de Brejo, Prefeitura de Buriti, Câmara Municipal e o Ministério da Saúde, em visita à sede da empresa para coleta de amostras de agrotóxicos e apreensão de documentos que serão utilizados na continuidade da apuração de ocorrência de crimes ambientais.”

Nesse cenário, a violência psicológica é uma tensão permanente. A força e o autoritarismo do agronegócio espalham seus tentáculos sobre as instituições, causando até mesmo a inversão de papeis, quando os agressores (fazendeiros) usam o aparelho coercitivo do Estado contra as vítimas (trabalhadores rurais).

Vicente de Paulo Lira é um entre tantos casos de moradores originais do cerrado já denunciados criminalmente e intimados a depor perante autoridades policiais pelo simples fato de utilizarem os seus territórios para o cultivo de roças necessárias à sobrevivência; no entanto, foram acusados de suposto “crime ambiental”.

Nas áreas do agronegócio, os fazendeiros constituem um poder tão violento que atropela as instituições formais, restando às comunidades o apoio de organizações não governamentais. Uma delas, o Fórum Carajás, atua há 10 anos no Baixo Parnaíba, prestando apoio em projetos de produção sustentável, na organização e solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Segundo o presidente do Fórum Carajás, jornalista Mayron Régis Borges, a entidade tem por principal objetivo acompanhar os impactos dos grandes empreendimentos na vida das comunidades e no meio ambiente. “O Fórum Carajás nasce como um espaço de discussão de temas sócio-ambientais e elaboração e disseminação de documentos relativos a esses temas. As ações desenvolvidas pelo Fórum Carajás datam do começo de 2010 com a discussão em torno da preservação do bacuri para chegar em 2021 desenvolvendo projetos de segurança alimentar e criação de pequenos animais”, pontuou Borges.

Vicente resiste na roça de mandioca, uma das formas de preservar e produzir no território. Imagem: Mayron Regis

O avanço da monocultura de soja, milho e eucalipto coloca o Maranhão na segunda posição em casos de conflitos agrários, vitimando 137.515 famílias, segundo o Relatório “Conflitos no Campo Brasil 2020”, produzido pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). O registro está na página 29: “Os dez estados da Federação mais conflituosos se estabeleceram da seguinte maneira: Pará em primeiro lugar, com 168.546 famílias envolvidas em conflitos; em segundo, o Maranhão, com 137.515. Nesse sentido, os dois Estados alternam suas posições. A Bahia é o terceiro, com 85.874 famílias; Amazonas, que não aparece com número de ocorrências elevado, fica em quarta posição, com 63.731; o Mato Grosso, em quinto, com 63.525; em sexto lugar, Roraima, com 55.571; em sétimo, Rondônia, com 49.257; em oitavo, Acre, 47.281; em nono, Pernambuco, com 45.865; e em décimo, Mato Grosso do Sul, com 38.108.”

Além da violência contra os recursos naturais e às formas de vida dos moradores originários de vários territórios conflituosos, os assassinatos de lideranças que atuam na resistência assustam. Somente em 2021, nove execuções já foram computadas contra homens e mulheres do campo no Maranhão.

A pistolagem é a etapa final do processo de invasão e domínio das terras, quando os obstáculos da resistência política são eliminados a bala.

Enquanto isso, as denúncias seguem. Durante uma entrevista coletiva realizada em 17 de novembro de 2021, várias entidades representativas de camponeses, extrativistas, indígenas, quilombolas, pastorais sociais, pescadores, povos e comunidades tradicionais, acolhidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB – Regional Nordeste 5) sincronizaram um pedido de socorro com uma frase emblemática: “A gente está morrendo”

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“A gente tá morrendo”: trabalhadores rurais e comunidades tradicionais pedem socorro no Maranhão

A frase entre aspas no título desse artigo é uma constatação de amplo conhecimento, mas precisa ser dita muitas vezes, em alto e bom som. Ela é um dos gritos de socorro da entrevista coletiva concedida nesta quarta-feira (17 de novembro) por várias entidades representativas de camponeses, extrativistas, indígenas, quilombolas, pastorais sociais, pescadores, povos e comunidades tradicionais, acolhidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB – Regional Nordeste 5).

O Maranhão vive uma relevante contradição para ser posta na mesa de análise de conjuntura. A renovação política ainda não se instalou definitivamente e as feridas deletérias do passado estão abertas, sangrando.

Qual será o resultado dessa transição? Sobre o futuro, nada sabemos.

Mas é possível dizer que estamos vivendo a mistura do pretérito perfeito com o futuro do passado.

Somente em 2021, nove camponeses foram assassinados no Maranhão. O relatório Conflitos no Campo 2020 Brasil, elaborado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT Nacional), aponta o estado em 2º lugar no ranking de conflitos agrários.

O modelo agrário concentrador segue em expansão vertiginosa, atropelando as leis e as regras com uma força descomunal que mata pessoas, destrói os recursos naturais, criminaliza as resistências, aniquila as formas de vida dos mais pobres e implanta um clima psicológico de permanente terror.

Trabalhadores rurais, os povos e as comunidades tradicionais são violentados de todas as formas. Pelo ar, o veneno do agronegócio opera uma verdadeira guerra química para eliminar o elemento humano e os semoventes dos territórios.

Por terra, os tratores e os correntões destoem gigantescas extensões de floresta para o cultivo da monocultura.

Se o veneno e os correntões não resolvem, a pistolagem é acionada para fazer o “serviço final” – matar!.

A entrevista coletiva de hoje serviu para lamentar as perdas de mulheres e homens que já tombaram, reiterar a indignação e dizer que, apesar de toda a violência, a luta continua!

Ainda resta a esperança de que o povo organizado e as instituições busquem mais diálogo para enfrentar as atrocidades no campo.

É preciso estabelecer critérios mais rígidos para a concessão das licenças ambientais, qualificadas na entrevista coletiva de “licença para matar”.

Se não houver apuração e investigação rigorosa sobre os crimes já cometidos e proteção dos povos e comunidades tradicionais diante das ameaças postas diariamente, as tragédias anunciadas estarão brevemente nas manchetes dos meios de comunicação.

São inegáveis todos os avanços construídos pelo governo Flávio Dino em diversas dimensões. Não temos no comando maior da gestão um grupo familiar interessado tão somente em usurpar o dinheiro público. Muita coisa foi modificada em comparação aos quase 50 anos de oligarquia. É fato!

No entanto, a situação no campo é gravíssima.

É urgente a construção de uma força tarefa mobilizando todos os esforços do Governo do Estado, dos movimentos sociais, do Judiciário, Ministério Público, parlamentares e quem mais de interesse para proteger os vulneráveis da violência generalizada que avança no Maranhão.

Imagem destacada capturada nesse site

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O PT do Maranhão está em outro patamar

Ed Wilson Araújo

O ato de lançamento da pré-candidatura de Felipe Camarão ao Governo do Maranhão é um divisor de águas no processo de reconstrução do PT.

Digo reconstrução tomando como referência os longos últimos anos, quando o partido vinha sendo marcado por acirradas disputas internas, fabricando contra si próprio a imagem de uma agremiação desagregada, em constante batalha das tendências, incapaz de superar as suas fraturas em nome de um projeto coletivo.

O noticiário sobre o PT maranhense nos meios de comunicação era sempre de crise e de resultados muito aquém da força e do simbolismo da legenda.

A situação chegou ao limite quando, na eleição de 2020, elegemos apenas um prefeito nos 217 municípios do estado.

Apesar do tamanho, o maior partido da América Latina pensava pequeno aqui no Maranhão. Quebrado em vários pedaços, sem consistência orgânica, o PT de outrora era constantemente empurrado nas cordas da luta de boxe para a defensiva, servindo apenas como linha auxiliar de outras legendas e até de projetos conservadores.

Hoje o partido elabora a grande política, no sentido de se posicionar não só para um processo eleitoral datado em 2022, mas olhando o futuro…

A disputa entre as tendências, que era de autodestruição, agora é pautada no diálogo e na compreensão de que é possível superar as diferenças para alcançar objetivos e metas planejados com visão estratégica.

O ato do dia 4 de novembro de 2021 demarcou um território de relativa pacificação interna e simboliza a convergência da maioria das tendências no projeto da candidatura própria.

É tempo de protagonismo e unidade partidária! A direção, a militância e a base social petistas têm um nome. Parte do trabalho interno está feito, mas todos sabem o tamanho da responsabilidade e dos desafios postos à frente.

Felipe Camarão quer ser o
candidato de Lula e Flávio Dino

As tarefas e as metas adiante consistem no diálogo com todas as forças políticas sintonizadas na grande batalha para derrotar Jair Bolsonaro. Nesse cenário, o PT do Maranhão está sintonizado nos critérios e no nome ideal para unificar os interesses locais e os nacionais, convergindo para Felipe Camarão o apoio do governador Flávio Dino e da maior referência do campo progressista no Brasil – Luis Inácio Lula da Silva.

O perfil da nossa pré-candidatura reúne as condições para construir pontes, eliminar barreiras, pensar coletivamente, somar forças e buscar aliados na tarefa maior de combater a extrema direita, atuar intensamente na eleição de LULA presidente e de uma expressiva bancada parlamentar progressista.

A tática eleitoral da candidatura própria enxerga a conjuntura percebendo a árvore na dimensão da floresta, o Maranhão e a República. Temos, portanto, a responsabilidade com os dois legados deixados pela era Lula / Dilma Roussef e Flávio Dino.

Portanto, a pré-candidatura do PT do Maranhão está posicionada no contexto de um projeto coletivo e já começa a fazer lastro dentro e fora do partido.

Mas é preciso, sobretudo, ouvir a sociedade. A visão de um projeto coletivo passa sobretudo pela participação popular, incorporando os movimentos sociais de todas as qualidades e diversidades, os partidos políticos, a riqueza das experiências do povo, o campo científico, o setor empresarial, as religiosidades, a juventude e as políticas públicas que já deram certo e podem avançar.

A pré-candidatura do PT está disposta a construir uma grande frente progressista, ouvindo todos os segmentos da sociedade para a construção de um plano de governo sintonizado na missão de promover ainda mais crescimento econômico e inclusão social no Maranhão.

Avante, Maranhão! simboliza um novo momento. O PT tem tudo para crescer com mais qualidade, protagonismo e unidade. Esse é o desafio de todos nós.

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Relíquias de Alcântara: Poços dos Frades e Poço do Dinheiro fazem “milagre” na falta d’água

Nos meses de agosto e setembro de 2021, a cidade de Alcântara, no Maranhão, passou por uma grave crise no abastecimento de água. As torneiras secaram por mais de 45 dias. Nesse período, a população recorreu aos velhos poços e fontes espalhados pela cidade, alguns abandonados e outros ainda “vivos” e minando água de ótima qualidade.

Veja os detalhes no vídeo. Imagens e edição: Marizélia Ribeiro.

Luís Moraes: “a natureza manda”

Três poços estão localizados na quinta pertencente aos familiares de Luís Morares. Conversamos com ele para conhecer alguns detalhes da riqueza cultural e ambiental da cidade.

Reza a lenda que um dos poços era utilizado para guardar dinheiro e ouro das famílias ricas de Alcântara.

Foto destacada: Marizélia Ribeiro

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PT e Psol dialogam sobre aliança no projeto de Felipe Camarão ao Governo do Maranhão

Representantes das duas legendas fizeram a primeira rodada de conversação visando construir uma frente para disputar a sucessão do governador Flávio Dino (PSB).

“Avaliamos como muito positiva a reunião. Definimos que vamos continuar o diálogo e que a construção da frente democrática e popular aqui no estado é o mais importante que temos em comum”, avaliou o presidente do diretório estadual do Psol, Enilton Rodrigues.

A reunião com a direção estadual do PT e o pré-candidato a governador, Felipe Camarão, contou com a presença de 64% da direção estadual psolista, com a participação de Aline Varão, Valdeny Barros, Nonnato Masson e Ana Paula, além do próprio presidente estadual da legenda.

Pelo PT, participaram os secretários de estado de Cultura, Anderson Lindoso; de Agricultura (Sagrima), Luiz Henrique Lula da Silva; e de Direitos Humanos (Sedihpop), Chico Gonçalves, além do deputado estadual Zé Inácio e do vice-presidente estadual do PT, Francimar Melo.

“Vamos continuar dialogando com esse campo político e até o fim deste ano vamos realizar nossa conferência eleitoral e definir nossa tática, se teremos candidatura própria ou vamos apoiar um nome do campo popular”, finalizou Enilton Rodigues.

A aproximação entre PT e PSOL tem aval dos comandos nacionais dos dois partidos e harmonia com a pré-candidatura de Lula à Presidência da República.

O pré-candidato do PT, Felipe Camarão, é o atual Secretário de Educação do Governo do Maranhão e seria uma carta a ser jogada por Flávio Dino no futuro.

Na atual fotografia da conjuntura, o governador está inclinado a apoiar o seu vice, o tucano Carlos Brandão.

Se vingar, a aliança do PT com o Psol pode ser batizada de “coligação Camarão seco”. Uma delícia para acompanhar juçara com farinha.

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Governador Flávio Dino inaugura parque em homenagem a João do Vale

“Este parque é um equipamento que reúne, em primeiro lugar, a homenagem a este grande brasileiro, grande maranhense, grande cidadão desta cidade, João do Vale, e se imortaliza pelo registro de sua obra. Convido todos a conhecer esta área de lazer, esporte e, também, de formação de novos talentos. Este equipamento público e gratuito realiza ainda direitos a educação, formação profissional e outros. Temos aqui, em cada canto, estímulo à juventude de Pedreiras e de toda a região”, pontuou o governador Flávio Dino, durante a inauguração do Parque João do Vale, na manhã deste sábado (4).

O parque na cidade do artista consagrado nacionalmente é um marco histórico e um dos maiores centros de convivência, diversão e arte construídos no estado. Conta com importante área de lazer que valoriza a cultura, o esporte, além de proporcionar a vida comunitária e o desenvolvimento do turismo. Na ocasião da entrega, vários familiares de João do Vale estavam presentes, recebendo homenagem e acompanhando o momento dedicado ao saudoso artista.

Na série de espaços do parque está o memorial João do Vale, escola de música e o Centro de Referência da Juventude. Ainda, réplica de uma estação de trem, em referência ao sucesso musical ‘De Teresina à São Luís’ do artista; biblioteca com espaço infantil e tecnológico; brinquedos interativos; instrumentos musicais; restaurante; auditório; academia ao ar livre; área de churrasqueira; quadras de areia e poliesportiva; três playgrounds; fonte luminosa e outras atrações paisagísticas. O parque possui ainda quatro praças temáticas: Pisa na Fulô, Carcará, Asa do Vento e João do Vale.

Centro de Referência da Juventude do Médio Mearim (Foto: Nael Reis)

“Agradecemos à equipe de Governo, às empresas privadas que ajudaram neste projeto, à prefeitura de Pedreiras e sobretudo, à população, que tenho certeza, está feliz e vai ajudar a cuidar do parque para que ele continue sempre bonito, acessível a todos e seja espaço de esperança que a nossa nação precisa. Agradeço a toda o povo do Maranhão, pois é a população que viabiliza mais essa grande conquista”, enfatizou Flávio Dino.  

“Esta grande obra é um marco na nossa cidade. Todos os pedreirenses estão muito felizes, assim também a família do saudoso João do Vale. Agora, na nossa cidade irá se eternizar pela memória do grande artista que levou o nome de Pedreiras para o mundo. Deixo meu agradecimento e gratidão ao governador Flávio Dino e todo o povo de Pedreiras”, frisou a prefeita Vanessa Maia.  

A programação da inauguração contou com diversas atrações culturais e esportivas. Grupos locais fizeram apresentação de zumba e capoeira; e equipes de jogos ocuparam as quadras poliesportivas para práticas esportivas. Ainda no evento, apresentação especial do musical ‘João do Vale’, com músicas interpretadas pelo ator Vicente Melo. O musical, realizado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura, foi sucesso de público em diversos estados.

Inauguração do Parque João do Vale, em Pedreiras (Foto: Nael Reis)

Vida e obra

Nascido na cidade de Pedreiras em 1933, João Batista do Vale foi um compositor que marcou a música popular brasileira. Desde pequeno gostava muito de música, mas logo teve de trabalhar para ajudar a família. Aos 13 anos foi para a capital maranhense e em em dezembro de 1950 chegou ao Rio de Janeiro, onde passou a frequentar programas de rádio, para conhecer os artistas e apresentar suas composições, na maioria baiões. 

Em 1964 estreou como cantor no restaurante Zicartola, onde nasceu a ideia do show Opinião, dirigido por Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes e Armando Costa, que foi apresentado no teatro do mesmo nome, no Rio de Janeiro, ao lado de Zé Kéti e Nara Leão. Tornou-se conhecido principalmente pelo sucesso de sua música Carcará, a mais marcante do espetáculo, que lançou Maria Bethânia como cantora. Como compositor, em 1969 fez a trilha sonora de Meu nome é Lampião. 

Em 1982 gravou seu segundo disco, ao lado de Chico Buarque, que, no ano anterior, havia produzido o LP João do Vale convida, com participações de Nara Leão, Tom Jobim, Gonzaguinha e Zé Ramalho, entre outros. Em 1994, Chico Buarque voltou a reverenciar o amigo, reunindo artistas para gravar o disco João Batista do Vale, prêmio Sharp de melhor disco regional. João do Vale faleceu em São Luís, dia 6 de dezembro de 1996, sendo sepultado em sua cidade natal, Pedreiras.