Após a publicação de uma nota de repúdio (veja abaixo) sobre o assassinato de Bruna Alícia, o Fórum Maranhense de Mulheres convoca os movimentos sociais e a população em geral para um ato público dia 29 de janeiro (quarta-feira), às 15 horas, em frente à Casa da Mulher Brasileira, no bairro Jaracaty.
A manifestação tem o objetivo de repudiar o crime, caracterizado como feminicídio, e dialogar com os profissionais de mídia sobre a cobertura do fato pelos meios de comunicação.
O
Fórum Maranhense de Mulheres propõe uma reflexão educativa sobre o papel da
imprensa no combate à violência e criminalização da mulher vítima.
Veja
abaixo a Nota de Repúdio do Fórum Maranhense de Mulheres
FEMINICÍDIO E O ATO COVARDE DO ASSASSINO DE BRUNA ALICIA
Mais uma mulher vítima de feminicídio. Desta vez foi Bruna Alícia, uma jovem de pouco mais de 20 anos, assassinada de forma cruel, torpe, violenta, pelo seu marido. A crueldade se faz mais monstruosa ainda em virtude da forma como estão sendo veiculadas matérias sobre o caso nas redes sociais. Grande parte delas destruindo a imagem da vítima, que passa a ser responsabilizada pela sua morte.
Que é isso? Em que mundo estamos? Ainda estamos vivendo na idade média? Porque as mulheres continuam sendo vítimas desta cultura patriarcal que nos oprime e nos reduz a um órgão sexual que tem como finalidade apenas procriar e dar prazer aos homens, ao marido em especial.
Bruna Alícia está sendo destruída na sua moral e na sua integridade de ser humano. Mesmo sendo violentamente assassinada, ainda assim, não está sendo vista com humanidade que todo cristão merece. Sua morte não lhe dá paz, sua morte é justificada por um possível adultério que teria praticado.
Com esse argumento o assassino, seus amigos e uma parte da sociedade conservadora, machista, patriarcal e misógina, explica e justifica sua morte. “Foi merecida” dizem alguns e algumas que passam a inocentar o feminicida, naturalizando o crime hediondo praticado por este policial. O mais cruel de tudo isso é a lista que circula nas redes de amigos do assassino fazendo vaquinha para contratar um advogado para livrar este bandido da cadeia que merece.
Com esse tipo de prática os policiais demonstram o quanto são coniventes com a violência praticada contra as mulheres e o feminicidio. É surpreendente esta atitude, onde se viu uma coisa dessas, uma corporação estimulando a impunidade.
Nós, mulheres, que integram O FÓRUM MARANHENSE DE MULHERES, protestamos! Queremos justiça! Queremos uma policia preparada e não policiais desequilibrados que não sabem controlar seus impulsos assassinos.
A morte atravessa a história do começo ao fim. Falo com ênfase
sobre o óbito da palavra falada. O filme tem poucos diálogos.
O roteiro é construído por uma linha narrativa em que as
personagens principais conversam pouco em uma história que diz muito sobre as
paixões humanas: amor e ódio, principalmente.
Embora comece pelo ruidoso estampido de uma espingarda, na cena
em que o caçador dispara contra um animal, a ausência das vozes humanas é
marcante.
Mesmo quando o caçador solitário passa a ter a companhia de uma
mulher, a palavra falada é escassa, substituída na construção do filme pelos
olhares e expressões faciais das personagens e todo o contexto daquela
existência no isolamento.
O silêncio no filme dirigido por Samu Fuentes é preenchido com
as paisagens sonoras da natureza: a agitação dos ventos no farfalhar das
árvores, a maciez do barulhinho bom dos córregos deslizando na montanha, as
cascatas, os assovios das frentes frias na nevasca, as onomatopeias dos
animais….
Na solidão, o
caçador ouve e fala com os sons da natureza. Os deuses primitivos se manifestam
em paisagens sonoras para dialogar com as entranhas dos instintos animais do
homem rude, brutalizado pela cultura patriarcal.
Tem muita coisa interessante para ver no filme “Sob a pele do
lobo”.
Uma delas: quebrar certas impressões equivocadas sobre o bucolismo da vida no campo. Cada dia é uma guerra pela sobrevivência com trabalho incessante: caçar em um ambiente inóspito, tratar as peles dos animais para a venda, subir e descer a montanha para, cuidar dos animais, plantar, rachar lenha…
O resto, só você mesmo vendo para conferir, ou discordar. Filme disponível na Netflix.
A destruição do quadro com uma charge do cartunista Carlos Latuff, num ato de violência e intolerância do deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP), será repudiada durante o 2º Congresso Nacional Policiais Antifascismo, programado para 28 e 29 de novembro, no Rio de Janeiro.
Num ato de
fúria, o parlamentar quebrou o quadro exposto em uma galeria do Congresso
Nacional, onde estava sendo celebrado o Dia da Consciência Negra. A charge de
Latuff retrata a violência policial contra um jovem negro algemado, no chão, indicando
uma cena de execução (veja imagem destacada).
A reação ao
vandalismo do deputado foi imediata. Diversos parlamentares e movimentos
sociais se manifestaram nas redes sociais e fizeram um ato público para
reposicionar o quadro na galeria da exposição.
Na próxima semana, Latuff receberá uma moção de desagravo no evento que reunirá policiais antifascismo. “Nós vamos falar pessoalmente ao cartunista Carlos Latuff que a sua arte não nos ofende. O policial antifascismo tem a consciência de que essas funções genocidas operadas pelas polícias são constituídas por um poder político-jurídico. A polícia não age com independência porque ela o tempo inteiro está sendo conduzida por um projeto político e nós queremos, como trabalhadores do sistema de segurança, construir um modelo de sociedade que permita a existência de uma polícia que não se volte contra o seu próprio povo”, explicou o delegado Orlando Zaconne, coordenador Movimento Policiais Antifascismo.
O delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro anunciou o desagravo ao chargista durante uma palestra no 25º Curso Anual do NPC (Núcleo Piratininga de Comunicação), que reúne jornalistas, ativistas e dirigentes sindicais em uma jornada de estudos e debates sobre o tema “comunicação e resistência”, de 20 a 24 de novembro, na capital carioca.
Orlando Zaconne proferiu palestra na mesa intitulada “Os riscos de um fascismo à brasileira”, juntamente com a historiadora Virgínia Fontes; o coronel da Reserva e ex-comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Ibis Pereira; e o professor Mauro Iasi.
Os palestrantes avaliaram a ascensão da extrema direita no Brasil e o contexto político-econômico e filosófico que desaguou no bolsonarismo, com ênfase no crescimento da violência policial e o incremento da militarização.
Questionado sobre o estigma de violência atribuído às forças de segurança, Zaconne argumentou que os policiais devem ser percebidos como trabalhadores. “Se a gente for ver no hino da Internacional Socialista está lá claro ‘façamos greve de soldados / somos irmãos trabalhadores’. Quer dizer, o reconhecimento tanto da base das polícias inclusive militares como trabalhadores é algo que esteve presente no debate histórico do socialismo”, asseverou o delegado.
“Nós fomos de fumo embriagados Paz entre nós, guerra aos senhores! Façamos greve de soldados! Somos irmãos, trabalhadores!”
Ele sustentou ainda que o crescimento da extrema direita não ocorre apenas entre militares e policiais civis, mas em outras categorias, até mesmo na área da Educação. Segundo Zaconne, o Movimento Policiais Antifascismo está presente em 12 estados brasileiros, atuando na concepção de uma política de segurança voltada para os direitos e garantias da população.
12 de agosto de 2019 foi um dia mais violento para os moradores do Cajueiro, área cobiçada para a implantação de um novo porto em São Luís, empreendimento bilionário liderado pela CCCC (China Communications Construction Company) com a participação da WPR-São Luís Gestão de Portos e Terminais, braço do grupo WTorre. Atual TUP (Terminal de Uso Privado) Porto São Luís S/A, o investimento inicial é de R$ 800 milhões do total de R$ 2 bilhões previstos para o total da obra.
Naquela
segunda-feira tensa, o Batalhão de Choque da Polícia Militar amanheceu na zona
rural de São Luís dando proteção para o cumprimento da reintegração de posse expedida
pelo Tribunal de Justiça do Maranhão em favor da WPR. Enquanto os tratores
derrubavam casas e arrancavam árvores, a força policial reprimia os moradores e
lideranças dos movimentos sociais que resistiam a mais uma etapa de expansão
dos empreendimentos portuários na capital do Maranhão.
Os
moradores despejados pela manhã, apoiados por ativistas, acamparam à noite na
porta do Palácio dos Leões, sede do governo do Maranhão, e de lá foram expulsos
pelo Batalhão de Choque que usou os mesmos métodos aplicados em Cajueiro:
bombas de efeito moral, spray de pimenta, balas de borracha e gás lacrimogêneo.
Pelo
tamanho da violência se pode medir a dimensão do empreendimento. Os chineses
fincaram os pés no Maranhão pensando longe, na conexão entre os oceanos
Atlântico e Pacífico, passando pelo Canal do Panamá, para alcançar a Ásia.
Minério
e grãos em geral vão transitar nos grandes mercados internacionais pelo Arco
Norte, projeto conectado à expansão da logística portuária e aos modais de
transporte nos estados de Roraima, Amapá, Amazonas, Pará e Maranhão.
O
terminal localizado em Cajueiro vai integrar o Complexo Portuário de São Luís
(CPSL), onde já está instalado o porto público do Itaqui e os terminais
privados da Vale e da Alumar. Pela sua posição geográfica, a capital maranhense
tem condições de navegabilidade para os maiores navios cargueiros do mundo,
através da baía de São Marcos.
O gigante Arco Norte
Arco Norte visa conexão ao Canal do Panamá, que liga os oceanos Atlântico e Pacífico
A
edificação de complexos portuários na região Norte é um dos “pratos” do
indigesto cardápio oferecido às populações tradicionais na bandeja da agenda de
desenvolvimento do governo federal. Isto desde idos governos do PT. Vide Belo
Monte, na cidade de Altamira, no sudoeste do Pará.
Além dos portos, constam no menu estações de transbordo de cargas (ETCs), modais de transportes (rodovias, hidrovias e ferrovias), bem como a construção de grandes e pequenas hidroelétricas. “É um projeto de morte”, adverte a líder indígena do Baixo Amazonas, oeste paraense, Alessandra Munduruku, estudante do curso de Direito da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).
Tais
projetos, marcados pela concentração de capitais sob o controle de grandes
corporações do mercado mundial, contam com as bênçãos do Banco Mundial e afins.
Os mesmos estão formatados a partir da Iniciativa de Integração Infraestrutura
Sul-Americana (IIRSA), que tem como rebatimento o Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC). Tudo desenhado a médio e longo prazo.
Produtores
de grãos do Mato Grosso – leia-se Grupo Amaggi – construtoras, megacorporações
do quilate da Bunge, Cargil e Dreyfus, empresas de consultoria ambiental e
mídia são alguns dos sujeitos interessados na pauta. Para não citar as mineradoras.
No caso, o papo já é o sobsolo.
Quando a Vale ainda era Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), o alto executivo Eliezer Batista, pai do big shot Eike Batista, foi o responsável pela consultoria do Arco Norte, que tinha como objetivo mapear as riquezas da região e sugerir as obras necessárias para acessá-las. Junte os pontos.
A
opção desenvolvimentista ratifica a região como mera exportadora de produtos
primários. No caso dos complexos portuários e modais de transporte, o objetivo
reside em reduzir drasticamente os custos no escoamento da produção de grãos do
Brasil Central, que em sua maioria converge para os portos de Santos, em São
Paulo; e de Paranaguá, no Paraná.
Neste mar de tubarões do capital agromineral, emerge o Arco Norte com a missão de consolidar essa região do Brasil, o Baixo Amazonas em particular, como um grande corredor de circulação de mercadorias (commodities). Trata-se da manutenção da condição colonial da Amazônia.
Desde
Cabral, e de forma sistemática a partir da ditadura civil-militar (1964-1985), as
experiências desenvolvimentistas têm cimentado rodovias de violações de
direitos humanos, indiferença às populações locais, destruição do meio
ambiente, trabalho escravo, execuções de lideranças de diversos campos e
genocídios na região.
É
o que os doutos chamam de expropriação ou a pré-história da produção
capitalista, que prima em: retirar das populações locais a terra e os recursos
naturais, casas e ferramentas de trabalho que garantem a sua reprodução
econômica, social, cultural e política, a exemplo de Cajueiro, na zona rural de
São Luís, e tantos outros casos que constam nos anais de mais de 30 anos do
Programa Grande Carajás. “Crescemos como rabo de cavalo”, ironiza o jornalista
Lúcio Flávio Pinto.
Entenda o Arco Norte
O
antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida classifica o contexto como
agroestratégias, onde o setor ruralista reivindica a remoção dos obstáculos
jurídico-formais e político-administrativos [desregulamentação], que reservam
áreas para fins de preservação ambiental ou para atender às reinvindicações de
povos e comunidades tradicionais.
Nesse
jogo de poder, o agronegócio tende a influenciar as políticas e planos do
governo na localização de empreendimentos e na conversão de grandes extensões
de terras à racionalidade da escala mundo de fluxos de mercadorias e capitais,
entre outros itens.
O
projeto Arco Norte representa o triunfo do agronegócio, com predominância para
a figura de Blairo Maggi e seus pares organizados a partir da Associação Nacional
de Exportadores de Cereais. A trupe visa incrementar uma nova logística
intermodal de transporte para cargas e insumos com a utilização dos portos ao
norte do Brasil, desde Porto Velho, em Rondônia, passando pelos estados do
Amazonas, Amapá e Pará, até o sistema portuário de São Luís.
Formalmente
a concepção do Arco Norte nasceu em 2016, sob a paternidade do Centro de
Estudos e Debates Estratégicos Consultoria Legislativa (Cedes), uma instituição
de assessoria do poder Legislativo federal. A relatoria coube ao ex-deputado
federal Lúcio Vale (PR/PA), eleito vice-governador do Pará em 2018 na chapa liderada
por Helder Barbalho (MDB). À época Flexa Ribeiro (PSDB/PA), parlamentar do
setor de construtoras, fez paz com a Vale na elaboração no projeto. Oxalá, não
foi reeleito ao Senado.
Logística do Corredor Arco Norte de Exportação
Fonte: Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental da Região de Integração do Baixo Amazonas. Fapespa, 2015
Os
complexos portuários só serão viáveis a partir da consolidação do modal de
transportes. O documento do projeto Arco Norte defende que é necessário
concluir a rodovia BR-163/PA (Cuiabá/MT-Santarém/PA), restaurar as rodovias
BR-155/PA (liga Redenção a Marabá, no sudeste do Pará) e BR-158/PA (sul do
Pará, região de Rio Maria). O sul e o sudeste paraense representam uma
fronteira agromineral. Lá estão os
maiores rebanhos de gado do país e a mina de Carajás. Na mesma proporção agrega
baixos indicadores do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Índice de
Educação Básica (Ideb), e, é líder nacional em violência no campo, desmatamento
e trabalho escravo.
O
projeto de integração física advoga ainda intervenções de adequação de
capacidade na rodovia BR-364/RO (Porto Velho/RO-Comodoro/MT). Também é
importante viabilizar a chegada da Ferrovia Norte-Sul a Barcarena (PA). O
município situado ao norte do estado desde os anos 1980 conhece de perto todo
tipo de violência por conta de um complexo industrial de alumínio:
Albras/Alunorte, hoje sob o controle acionário da norueguesa Norsk Hidro, e
outras empresas, como a Imerys (francesa). Ambas são responsáveis por vários
crimes ambientais na região, que tem no portfólio o adernamento do navio de
gado com 5 mil cabeças e 600 mil litros de óleo, em outubro de 2015.
A
embarcação prestava serviço para a maior empresa exportadora de gado vivo do
país, a Minerva Foods, sediada em São Paulo, na cidade de Barretos. Os
principais destinos da carga são os mercados do Líbano, Venezuela e Egito. A
Samara Shipping é a proprietária do navio. Ela contratou a Mammoet Salvatage,
uma das principais empresas do setor no mercado mundial, para resgatar a
embarcação. O comércio de boi em pé, como se diz no jargão do negócio,
representa outro fator da nossa condição colonial. Ainda hoje os moradores de
Barcarena e circunvizinhança compartilham os prejuízos ambientais, econômicos e
sociais decorrentes do gado morto por afogamento e do óleo derramado.
Segue
o fluxo, a consolidação do Norte como corredor de mercadorias exige a
construção da ferrovia EF-170 (Ferrogrão). A China é o principal interessado. A ferrovia, se implementada, deverá ligar o
polo produtor do Mato Grosso aos terminais de Miritituba, na cidade de
Itaituba, no Baixo Amazonas. A cidade antes era celebrizada pela atividade do
garimpo.
Mapa do trecho deve ligar Lucas do Rio Verde/MT a Itaituba/PA
Fonte: Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil – MPAC
O
projeto Arco Norte prescreve também a derrocada do Pedral do Lourenço, na
região de Marabá, para viabilizar a navegação da bacia do Araguaia-Tocantins. O
Arco Norte pleiteia ainda viabilizar a construção dos terminais privados em
Miritituba e Vila do Conde/Barcarena/PA, além de dragar, balizar e sinalizar os
rios Madeira e Tapajós. Além disso, computa a retomada do projeto da BR-210,
que ligará Roraima, Pará e Amapá, viabilizando a integração comercial com as
Guianas, o Suriname e a Venezuela.
No caso de Miritituba, os terminais já estão em operação. Neste complexo tabuleiro de interesses somam inúmeros problemas que passam pela grilagem de terras, acirramento de conflitos, rompimento de laços de solidariedade nas comunidades após o anúncio do empreendimento, aprofundamento da condição colonial da região e não reconhecimento de impostos por conta da isenção assegurada pela Lei Kandir, instituída no governo Fernando Henrique Cardoso, na década de 1990. Para coroar o bolo, tem-se como principal financiador o BNDES, com juros bem abaixo do mercado. Traduzindo: a sociedade financia o saque.
Porto à vista no Lago do Maicá
Maicá
é uma região de várzea da cidade de Santarém, no Pará. Nele, a Colônia de
Pescadores Z-20 estima que trabalham pelo menos 1.500 pescadores artesanais.
Ele abriga ainda comunidades camponesas, indígenas e remanescentes de
quilombos. É justo no rico e belo lugar, estudado e registrado por naturalistas
ingleses há 200 anos, entre eles Henry Walter Bates – um naturalista no rio
Amazonas – que e a empresa Embraps pretende construir um complexo portuário.
O
conturbado projeto tem à frente o empreendedor Pedro Riva. A família dele opera
no Mato Grosso desde o século passado em projetos de colonização crivados de
acusação de grilagens de terra, como revelam pesquisas do professor Ariovaldo
Umbelino de Oliveira, da USP (Universidade de São Paulo). São notórios ainda
como políticos influentes de reputação duvidosa, a exemplo do ex-deputado José
Riva (PSD), acusado por desvio de R$ 2 milhões da Assembleia Legislativa.
No
processo de revisão do Plano Diretor a assembleia consultiva definiu pela não
construção do complexo na região de lago. Decisão que a Câmara Legislativa, ao
apagar das luzes do ano de 2018, em flagrante desrespeito ao processo público, atendendo
ao setor do agronegócio, decidiu em favor do grande capital. Para entornar o
caldo de vez, o prefeito de Santarém, Nélio Aguiar (DEM), sancionou a infâmia.
Por
estas e outras causas que anuviam o processo, o mesmo está judicializado. Neste
mês a Justiça manteve o embargo da obra. Mesmo assim, um grupo desmatou a
região com vistas a iniciar a construção ainda em 2019. A prática segue o mesmo
modus operandi da Cargil, que nos anos de 2000 ergueu na frente da cidade o seu
porto sem realizar o Eia-Rima (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de
Impacto Ambiental).
Cajueiro é Amazônia
Batalhão de Choque da PM expulsa manifestantes na porta do Palácio dos Leões
Os
métodos de grilagem de terras, expulsão de comunidades tradicionais,
atropelamento dos ritos processuais e uso da força policial para varrer os
territórios e entregá-los aos novos conquistadores são comuns em todas as
situações onde estejam em jogo os portos e os modais de transporte de minério,
grãos e similares para atender à expansão capitalista.
Em
Cajueiro, tanto a concessão de licenças ambientais quanto a suposta venda do
terreno para a construção do Porto São Luís S/A são investigados pelo
Ministério Público Federal (MPF) e Ministério Público do Maranhão. Procuradores
e promotores seguem o rastro de uma denúncia sobre um suposto esquema de
grilagem para tomar ilegalmente as terras das comunidades tradicionais e dos
antigos moradores do território.
Na
década de 1980, a implantação da Vale e a Alumar em São Luís também foi marcada
por conflitos com antigos moradores e deslocamentos compulsórios, gerando concentração
de renda e exclusão social. Essa lógica de expansão capitalista reúne a maioria
dos governos, prefeituras, tribunais de justiça, lobistas e parlamentos das
três instâncias (municipal, estadual e federal) celebrando um consenso,
mediante o discurso do desenvolvimento, da geração de empregos e do crescimento
econômico.
Os
resultados, no entanto, são adversos. Basta observar a cena da pobreza visível.
No entorno da grande região portuária de São Luís, a área Itaqui-Bacanga, que
reúne aproximadamente 60 bairros periféricos, a pobreza da maioria da população
é vizinha das fortunas transportadas pelos navios em nome do superávit da
balança comercial. Além desse desencontro, há o vertiginoso processo de
poluição ambiental provocado pelos empreendimentos agregados à logística
portuária e à Vale.
O
atropelo das práticas republicanas no Lago do Maicá, em Santarém, segue a
lógica do Brasil clientelista e fisiológico aplicado no Cajueiro. A violência
perpetrada em 12 de agosto de 2019 pode ter outros episódios futuros. Em São
Luís, a Câmara dos Vereadores está prestes a votar a proposta de revisão do
Plano Diretor elaborado pela administração municipal.
A
revisão do plano tem um alvo central: eliminar 41% da zona rural do município,
justamente na área cobiçada para empreendimentos portuários e já sob influência
da expansão dos negócios da Vale e da Alumar. Caso a revisão seja aprovada,
serão subtraídos 8.643 hectares na zona rural do município, que passaria de
20.820 hectares para 12.177 hectares.
O
território Cajueiro é composto por cinco pequenos núcleos: Parnauaçu,
Andirobal, Guarimanduba, Morro do Egito e Cajueiro. Significa dizer que novos
espaços podem ser cobiçados no plano de expansão portuária e industrial da
capital do Maranhão.
Os dados coletados pelo monitoramento da Abraji em 2018
foram mencionados no relatório
anual da ONG Human Rights Watch, divulgado em 17.jan.2019, ao falar
sobre o Brasil. Em 1º.jan.2019, duas jornalistas de diferentes veículos foram
atacadas nas redes sociais depois de manifestar desagrado com as condições de
trabalho da imprensa durante a posse do presidente Jair Bolsonaro.
A maior parte das ocorrências físicas está relacionada à
cobertura de manifestações ou de eventos de grande repercussão ligados às
eleições de 2018. O ônibus em que viajavam 28 jornalistas que cobriam a
caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no sul do país, foi
atingido por tiros. Durante a cobertura da prisão do petista, outros 19
profissionais foram hostilizados ou agredidos por seus apoiadores.
Entre os casos digitais, a maioria (91%) são de exposição
indevida de comunicadores, quando os agressores compartilham fotos e/ou perfis,
acusando os profissionais de ser de esquerda ou de direita e incentivando
ofensas em massa. As agressões ocorrem em especial no Twitter e no Facebook.
Perfis em redes sociais ligados a pautas conservadoras e com
grande alcance como o Movimento Brasil Livre (MBL) também estão na lista de
casos digitais. Em maio de 2018, o grupo produziu um “dossiê” acusando
jornalistas de ter viés partidário e de atuar como “censores”. O levantamento
foi feito após a divulgação de uma parceria de agências de checagem de fatos
com o Facebook. No documento, circulado via WhatsApp e Facebook, há fotos de
jornalistas classificados como “esquerda” e “extrema esquerda”, retiradas de
redes sociais, além da reprodução de postagens que “comprovariam” a inclinação
política dos profissionais.
Um dos casos mais relevantes foi o da jornalista Patrícia
Campos Mello (Folha de S. Paulo). A repórter foi vítima de ataques direcionados
nas redes sociais. As ações começaram após a publicação da matéria “Empresários
bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp”. A repórter também teve sua
conta no WhatsApp hackeada e mensagens pró-Bolsonaro foram enviadas a alguns
contatos.
A morte de dois colaboradores da Companhia Energética do Maranhão
(Cemar), no Sítio Natureza, serve para refletir sobre o famigerado plano do
governo federal de permitir a posse de armas.
Segundo as primeiras investigações da Secretaria de
Segurança, o duplo homicídio teria sido cometido por homens insatisfeitos com o
corte de energia em uma residência.
Os funcionários foram mortos a tiros dentro do carro da empresa que prestava serviço para a Cemar, no município de Paço do Lumiar, na região metropolitana de São Luís.
É preciso aguardar o resultado das investigações. Mas,
independente da motivação do crime, cabe refletir sobre a posse de armas no
Brasil.
A maioria da população brasileira não está preparada para ter a posse de um equipamento letal de fogo em casa. Além disso, não há condições de fiscalizar o uso de armas em um país tão grande.
Quem garante que o indivíduo com a posse de arma não vai
cair na tentação de transportar um revólver ou pistola no carro ou mesmo para
uma festa?
A posse de arma cria condições para um empoderamento acima
do normal, podendo levar o indivíduo armado a extrapolar a razão em situações
de conflito com um vizinho, por exemplo.
Como serão recebidos os colaboradores da Cemar ou da Caema por um indivíduo com posse de arma em um dia de instabilidade emocional?
O corte de energia elétrica, algo constrangedor, por si só
já é motivo para chateação.
Como vai reagir o indivíduo armado diante de alguém que vai até sua casa interromper a luz ou o fornecimento de água?
Essas perguntas são fundamentais para o debate. Armar a população pode jogar o Brasil em uma guerra de todos contra todos e pavimentar o caminho para a barbárie.
Uma nota assinada por cinco entidades atuantes no jornalismo e direito à liberdade de expressão denuncia o processo de intimidação e coação dos profissionais de jornalismo na eleição 2018 no Brasil.
Vários casos de ameaças pelas redes sociais e violência física já foram registrados ao longo da campanha eleitoral, atingindo jornalistas no exercício da atividade profissional.
A jornalista Patrícia Campos Mello, repórter especial da Folha de São Paulo, revelou a enxurrada de ameaças on-line e duas ligações ameaçadoras, após publicar reportagem abordando uma suposta campanha de empresários favoráveis ao candidato presidencial Jair Bolsonaro para enviar notícias falsas contra o candidato Fernando Haddad (PT) para milhões de brasileiros por meio do WhatsApp.
Depois deste episódio, o diretor-executivo do Datafolha (ligado à Folha de São Paulo), Mauro Paulino, também recebeu ameaças através de um aplicativo de mensagens e em sua própria casa.
As intimidações à Folha são apenas dois recortes da lista de 141 casos de ameaças e violência contra jornalistas que cobriam as eleições, computada pela Abraji. A maioria deles é atribuída aos partidários de Jair Bolsonaro, candidato à Presidência da República pelo PSL.
por Ed Wilson Araújo, especial de domingo 23/09/2018
No Brasil dominado pelo medo e carregado de ódio, a invasão de equipamentos de segurança caminha a passos largos, simultaneamente ao discurso da aquisição de armas de fogo pelo cidadão comum.
No balcão da violência, o capitalismo movimenta o veneno – a indústria de armas; e o antídoto – os equipamentos de defesa e proteção: alarmes, cercas elétricas, sensores de presença, câmeras e radares.
Operam neste balcão 10 grandes empresas, entre elas a fabricante de cercas elétricas e armas consideradas de “tiro esportivo” – a Rossi; e a gigante do mercado bélico – a Forjas Taurus S/A.
O negócio da violência tem uma grande expectativa com a eleição de Jair Bolsonaro e a derrubada do Estatuto do Desarmamento, instituído em 2003, por meio da lei nº 10.826, que dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição.
Esta legislação é um empecilho ao livre comércio de armas no Brasil, porque impõe uma série de restrições para a aquisição e porte de equipamentos letais.
A indústria da violência, portanto, é uma das principais interessadas na eleição de um presidente que possa eliminar as barreiras legais que impedem o livre comércio de armamentos.
Cercas e câmeras movimentam altos custos
Esse cenário ganha mais força no ambiente de proliferação das ideias fascistas e na ascensão da candidatura de Jair Bolsonaro. Para o triunfo desse discurso, é necessária a disseminação de uma sociedade do medo e da violência, coroada de ódio.
Bolsonaro não faz gesto de artilharia à toa.
A Forjas Taurus, mencionada acima, é apenas uma das 10 empresas o ranking da indústria de armas que opera no Brasil, da pistola ao míssil. A lista inclui também as empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, conforme abaixo.
Indústria Bélica
Equipamento
Helibras: pertence ao grupo europeu EADS
– fabrica helicópteros de guerra
Forjas Taurus, desde 2014 sob o controle majoritário da CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos).
– produz de revólveres até submetralhadoras
Embraer
– constrói de caças a sistemas de monitoramento
Iveco: fabrica também caminhões e ônibus da marca Fiat
– faz carros de combate
Avibras
– fabrica mísseis e aviões não tripulados
Odebrecht: em 2011 comprou o controle da Mectron, uma fabricante de mísseis
– constrói estaleiro para submarinos militares
Andrade Gutierrez: criou uma joint-venture com a francesa Thales, especializada em câmeras de monitoramento, radares e equipamentos para vigilância.
– tem foco em segurança urbana e de fronteiras
CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), desde 2014 é majoritária no controle acionário da Taurus.
– fabrica munição militar e para segurança pública
Imbel (Indústria de Material Bélico do Brasil): estatal vinculada ao Ministério da Defesa.
– fornece armas portáteis, munição, explosivos e equipamentos de comunicação para o Exército
Há portanto, uma simbiose no negócio da violência, de tal forma que algumas empresas operam simultaneamente na fabricação das armas letais e dos equipamentos de proteção.
CBC ficou maior no controle da Taurus
Outro dado relevante é o papel da CBC, principal fornecedora de munição, insumo de alta rotatividade que exporta cerca de 70% de sua produção para mais de 40 países.
Desde 2014 a CBC passou a ser majoritária na participação acionária da Forjas Taurus. Esta convergência de capital no ramo de armamentos tornou a CBC/Taurus controladora da maior parte do mercado de armas no Brasil, fornecendo principalmente para os órgãos de segurança pública.
Intervenção Federal
Desencadeada no curso da operação Lava Jato, a incitação ao ódio detonou uma sensação generalizada do medo e desencadeou no senso comum e em parte da classe média o uso da arma como forma de defesa.
No Congresso Nacional, o lobby dos partidos conservadores pela revogação do Estatuto do Desarmamento caminha de mãos dadas com a redução da idade penal. Essa combinação explosiva tem o objetivo de provocar o encarceramento em massa, principalmente dos mais jovens, criando um ambiente ainda mais proliferador do discurso da violência. Bordões como “bandido bom é bandido morto” não soam por acaso. Tem materialidade em um produtivo ramo do capitalismo que opera na desgraça humana e prega o retorno ao estado pré-político: a guerra de todos contra todos.
Munição é insumo de alta rotatividade no mercado da violência
Assim, a revogação do Estatuto do Desarmamento, combinada à redução da idade penal e à militarização das polícias estão em sintonia com a produção de um discurso da violência fundamental ao crescimento da indústria de armamentos.
Enquanto a revogação do Estatuto do Desarmamento não vem, o Brasil já começa a flexibilizar a legislação, permitindo a abertura do comércio de armas ao comércio estrangeiro, através da Portaria 841, de 4 de setembro de 2017, da Casa Civil, autorizando a Ruag Indústria e Comércio de Munições a operar no país.
As imagens de Jair Bolsonaro simulando um atirador são a etapa intermediária de um processo mais complexo, demarcado pela intervenção federal no Rio de Janeiro, quando o presidente da Forjas Taurus, Salésio Nuhs, entregou 100 fuzis e 100 mil munições ao interventor, general Braga Netto, durante a entrevista coletiva no Forte de Copacabana.
E as munições foram doadas por quem? Pela CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos). Faz todo sentido.
Era só o começo de algo que pode ficar pior, caso Bolsonaro vença as eleições em 2018.
Imagem do topo: O presidente da Taurus, Salésio Nuhs (E), entrega simbolicamente 100 fuzis ao interventor federal, general Walter Braga Netto, em ato marcante durante a intervenção federal na Segurança do Rio de Janeiro. Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo.
Líderes jovens desembarcam nesta sexta-feira, 6 de abril, na cidade de Arari, para a I Reunião Ampliada do Fórum de Políticas Públicas de Juventude da Baixada Maranhense. A intenção é discutir propostas para diminuir o avanço da violência nas cidades da região e criar um comitê de discussão permanente com diversas organizações existentes na Baixada.
O evento será realizado na sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Arari e reunirá 60 líderes de várias organizações da Baixada Maranhense, como Fóruns de Juventude, Grêmios Estudantis, Conselhos Municipais de Juventude, Secretarias e Coordenações de Juventude, Pastoral da Juventude e Movimentos Evangélicos e outras organizações que trabalham com o setor em municípios da nossa região.
Na programação, além de criar uma Agenda Positiva do Fórum Regional de Juventude, será feita uma Mesa Redonda com diversas organizações da região para discutir a segurança pública. Entre os convidados estão a Secretaria de Estado da Juventude, Labex/Uema, Instituto Baixada, Instituto Formação, União de Vereadores da Baixada, Promotoria de Justiça e Fórum em Defesa da Baixada Maranhense.