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Corte de árvores em São Luís: o buraco é mais embaixo

As obras recentes no Centro Histórico da capital do Maranhão alcançaram a praça Deodoro, a rua Grande e o espaço contíguo da praça João Lisboa e Largo do Carmo, logradouros significativos para a Arquitetura, a Literatura e a História da cidade.

São requalificações importantes, sobretudo para a vida de todas as pessoas que transitam e sobrevivem desses locais nas suas diversas atividades econômicas e culturais.

Incluídas no PAC Cidades Históricas, as obras são realizadas no geral sem acompanhamento sistemático dos moradores, salvo as exceções, como a do cineasta Beto Matuck, que observou a derrubada de um velho e bonito tamboril no Largo do Carmo.

O corte de árvores na cidade é tão comum quanto o transbordamento dos esgotos ou a buraqueira generalizada. A cidade maltratada já é inclusive uma cena incorporada e naturalizada no cotidiano das pessoas.

Os maus tratos ocorrem tanto no coração do Centro Histórico quanto na Zona Rural, onde as violações ambientais e sentimentais são bem mais graves.

Assim, o tamboril decepado, que causou tanta comoção, serve para refletir sobre situações mais complexas como a revisão do Plano Diretor de São Luís e a construção de um porto privado na comunidade Cajueiro.

Do tamboril decepado no Largo do Carmo restou o tronco. Foto: Beto Matuck

Esses dois temas, umbilicalmente ligados, dizem respeito à destruição de milhares de árvores e arbustos, fontes de água doce, manguezais, espécies frutíferas em geral onde viviam e ainda resistem famílias já vitimadas por outras formas “antigas” de violência: discriminação, racismo estrutural e pobreza, apenas para ficar nesses exemplos.

Conforme já dito e repetido várias vezes neste blog, a revisão do Plano Diretor (PD) visa transformar São Luís em uma cidade portuária e industrial para atender aos interesses do capital internacional, da especulação imobiliária e da indústria predatória.

A Zona Rural é, na visão desses empreendimentos, um empecilho que a todo tempo está na mira para ser eliminada ou drasticamente reduzida.

A revisão do PD tem um alvo central: extinguir 41% da Zona Rural do município, justamente na área cobiçada para empreendimentos portuários e já sob influência da expansão dos negócios da Vale e da Alumar. Caso a revisão seja aprovada, serão subtraídos 8.643 hectares na zona rural do município, que passaria de 20.820 hectares para 12.177 hectares.

Uma parte da Zona Rural, Cajueiro e arredores, é pretendida para a construção do porto privado da CCCC (China Communications Construction Company) com a participação da WPR-São Luís Gestão de Portos e Terminais, braço do grupo WTorre. Leia mais aqui.

Há também outras formas de destruição da vida e poluição ambiental na Zona Rural de São Luís.

Vou citar apenas dois exemplos.

Crime ambiental no Gapara foi compensado
com a reforma da praça Gonçalves Dias

Em 2005 este blog reportou dois vazamentos de óleo provocados pela (então) Vale do Rio Doce na região do Gapara. O acidente ambiental foi compensado por um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que resultou na reforma da praça Gonçalves Dias.

Quem anda e namora no Largo dos Amores talvez não saiba que a reforma do logradouro é fruto da destruição provocada pela Vale na área Itaqui-Bacanga, que eliminou plantações, açudes e criação de animais.

Durante a construção do malfadado VLT, na gestão do então prefeito João Castelo (PSDB), dezenas de árvores foram arrancadas a trator no Anel Viário para executar uma “obra” que todos sabem o desfecho (veja fotos abaixo).

Árvores decepadas para a construção do VLT…
… no Anel Viário, durante a eleição de 2012…..
… retiradas pelos tratores na gestão de João Castelo…
…. que não se reelegeu

Na próxima postagem vamos abordar o que está acontecendo na glamurosa praça das Árvores, no Cohatrac IV, alvo de uma reforma que atropela a vigilância do comitê gestor criado justamente para cuidar do logradouro.

Aguarde…

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Turiaçu: 365, sim; 150, não!

Por Jadeilson Cruz, graduado em Filosofia e estudante de Jornalismo da UFMA

Hoje, 11 de julho de 2020, comemora-se o sesquicentenário da elevação da Vila de Turiaçu à categoria de cidade. Apesar de ser uma data emblemática, pois significa uma mudança significativa de patamar, não a considero a mais importante da história turiaçuense. Já que em conformidade com a Provisão Régia de 09 de abril de 1655, como consta na monografia do professor Robson Campos Martins, foi criada a Missão Jesuíta São Francisco Xavier, dando origem ao primeiro núcleo demográfico de Turiaçu. Desse modo, em 09 de abril do corrente ano era para se ter comemorado 365 anos de história e não 150 como muitos comemoram no dia de hoje. 

Turiaçu é gigante. E entre os grandes da história do Brasil e do Maranhão deve figurar. Comemorar o 11 de julho como a data mais importante é uma forma de ignorar os primórdios da história turiaçuense. Temos que dar o devido valor aos acontecimentos históricos e colocar Turiaçu em seu devido lugar. 

Não podemos nos esquecer de outras datas importantes da nossa história: como 25 de junho de 1833, criação da Vila de Turiaçu; 13 de fevereiro de 1834, instalação da Vila de Turiaçu; e 12 de junho de 1852, reincorporação de Turiaçu ao Maranhão. Além dessas já citadas, é fundamental que conheçamos não apenas outras datas importantes, mas também a História de Turiaçu mais profundamente. É necessário que nos empenhemos em compreender os fatores que determinaram as transformações ao longo do tempo e a atual configuração do nosso município. Temos que, como disse Heródoto, “Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro”. Só o conhecimento do passado nos dará a real dimensão da nossa História.

Antiga igreja São Francisco Xavier, padroeiro de Turiaçu

As fontes sobre a História de Turiaçu são escassas, tornando-se assim praticamente incompreensíveis alguns fatos importantes da nossa história, como a configuração política em 1870, a partir de 11 de julho; a composição, organização e localização do Quilombo de Turiaçu, que teria sido o segundo maior do Brasil, ficando atrás apenas do de Palmares; dentre outros fatores que contribuiriam para melhor compreensão do que somos a partir do que fomos. O grande culpado por grande parte dessa escassez é o capitão Manuel Aurélio Nogueira, que em 1930, quando administrava o nosso município, mandou incinerar quase todo o arquivo municipal. Nesse sentido, é necessário um estudo historiográfico minucioso. Tanto os governantes como a população devem se empenhar e angariar fundos para financiar esse mergulho na história turiaçuense. 

Em relação a Turiaçu, eu tenho muitos sonhos. O principal deles é ver a sede do município transformada em uma cidade cultural. Quero andar pelas ruas e ver um teatro, um cinema, um museu e uma biblioteca imponentes. Também, casas de danças, de música e manifestações culturais sendo encenadas e cultivadas nas praças e nas ruas. Quero ter o prazer de assistir, ao lado dos meus conterrâneos, a grandes e maravilhosos espetáculos. Como poetizou Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. 

Turiaçu precisa respirar história, cultura, conhecimento, esporte e lazer. Não é aceitável que no nosso município não exista pelo menos um museu, como também monumentos em homenagem aos nossos heróis. Outro fato lamentável é a falta de locais apropriados para a prática de esportes e para a apreciação de eventos culturais, assim como a inexistência de áreas de lazer adequadas. E o mais inadmissível ainda é o menosprezo ao conhecimento, pois a maior prova disso é a degradação da Biblioteca Municipal. Conhecimento é prioridade, sempre deve estar em primeiro lugar. Um povo sem conhecimento, é um povo sem esperança, logo, sem futuro. O conhecimento é condição necessária para libertar a alma da tirania da ignorância. 

O 09 de abril deveria ser um dia de festa e de celebração da turiaçuensialidade. Nesse dia deveria haver eventos esportivos, culturais e educacionais. Em alguns momentos o 11 de julho já foi palco de eventos assim, porém precisamos de algo ainda mais grandioso. Esse dia seria ideal não apenas para festejarmos o nosso povo, mas também para conhecermos mais profundamente a nossa história. Como disse o professor Robson Campos Martins: “Um povo que perde as suas tradições, é um povo indigno de figurar na história”. 

Foto destacada / uma das ruas mais antigas da cidade / divulgação: acervo pessoal do professor Edmar Costa Filho

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Inscrições abertas para o 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom)

O 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2020) será realizado de 1º a 10 de dezembro em formato virtual, com o apoio institucional da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Esta é a primeira vez na história do congresso que ele será virtual, decisão tomada diante dos desafios impostos pela pandemia de covid-19 no Brasil e no mundo, que inviabilizam a reunião presencial de milhares de pessoas.

A realização virtual do congresso nacional em 2020 tem o intuito de manter a contribuição da Intercom para a constituição do campo científico na área de Ciências Sociais Aplicadas, em interface com diversos campos do conhecimento, inclusive pela natureza interdisciplinar inscrita em seus princípios constitutivos.

Tema

Ao longo de seus 43 anos, as contradições e distorções que emergem na sociedade estão historicamente presentes na pauta da Intercom, investigadas sob múltiplas perspectivas em suas ações e em seus grupos de pesquisa. Neste momento, porém, diante da dimensão e influência que têm adquirido, urge ressaltá-las como tema central do Congresso 2020. “Um mundo e muitas vozes: da utopia à distopia?” é um chamamento à reflexão científica acerca da zona cinzenta entre extremos na qual nos encontramos.

No título, expressa-se a intenção primeira do evento: revisitar o Relatório MacBride quatro décadas após seu lançamento, em um ambiente de intensas mutações no universo comunicacional. A proposta do Intercom 2020 é, portanto, convidar a comunidade científica a uma reflexão sobre o mundo, o Brasil e suas muitas vozes, e as imbricações dessa importante temática para o atual momento vivido no País.

Mais informações:

Calendário e taxas: https://www.portalintercom.org.br/index.php?/eventos1/congresso-nacional/calendario-e-taxas10

Chamada de trabalhos: https://www.portalintercom.org.br/index.php?/eventos1/congresso-nacional/chamada-de-trabalhos16

Normas gerais para submissão de trabalhos: https://www.portalintercom.org.br/index.php?/eventos1/congresso-nacional/normas16

Chamada para proposição de oficinas e minicursos: https://www.portalintercom.org.br/index.php?/eventos1/congresso-nacional/chamada-oficinas-e-minicursos-2020

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São Luís: Armazém do Campo completa 1 ano de espaço cultural e político no Centro Histórico

Ed Wilson Araújo

Inaugurado em 6 de julho de 2019, o Solar Cultural Maria Firmina dos Reis homenageia uma escritora negra, abolicionista, citada entre as pioneiras do romance brasileiro, autora de Úrsula, obra de referência na Literatura, publicada em 1859.

A criação do solar é uma iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Localizado em um charmoso casarão na rua Rio Branco, 420, no Centro Histórico de São Luís, nesse pouco tempo de vida o ambiente passou a ser um dos principais pontos de referência dos encontros culturais e políticos da capital do Maranhão.

Trabalhadores e trabalhadoras rurais, estudantes, professores, artistas, jornalistas, profissionais liberais e a militância democrática em geral compõem o público, que pode acessar palestras, debates, sessões de estudo, shows e recitais, entre outras produções realizadas no solar.

Sala de reunião, espaço para leitura, livraria, restaurante, quitanda com oferta de produtos orgânicos, bar na parte superior (onde é possível ver o pôr do sol) e boa acolhida fazem parte do cardápio de oportunidades proporcionadas pelo Armazém do Campo. A oferta de produtos orgânicos reforça o compromisso do MST em dois sentidos: a reforma agrária e o cultivo de alimentos saudáveis.

Maria Firmina inspirou o batismo do Armazém do Campo.
Imagem capturada no site mst.org.br

Entre os propósitos do Armazém do Campo está o de demarcar o território da produção e comercialização de alimentos originados da agricultura familiar cultivados sem veneno em diversas regiões do Maranhão, especialmente nos assentamentos do MST.

Mas, o espaço é sobretudo um lugar de resistência democrática e de encontros para celebrar o trabalho, a produção da terra e os afetos.

A opção de instalar o espaço no Centro Histórico de São Luís também agregou valor a essa importante região da cidade, que vem recebendo algumas obras de revitalização decorrentes do PAC Cidades Históricas, iniciado no governo Dilma Roussef (PT), em 2013.

Embora não tenha celebração presencial, o aniversário de 1 ano do Solar Cultural Maria Firmina dos Reis é lembrado nas redes sociais.

Veja abaixo uma das postagens que circula nas redes sociais:

“Este bloco de homenagens ao primeiro ano de vida é dedicado a um dos espaços que inspiram luta e fazem chegar à sua mesa os frutos dos nossos ideais: o Armazém do Campo!

Conheça um pouquinho de quem produz, como e onde produz e quem consome. Porque “quando se tem a terra, em se plantando dá (…) tem coco, tem limão, tem carambola!”

A gente quer terra pra plantar!

A gente quer terra pra viver!

A gente quer de um tudo compartilhar!

https://www.facebook.com/458406414735023/posts/691347511440911/
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Carreata “Fora Bolsonaro” será realizada em São Luís no Dia Nacional de Lutas

Na próxima sexta-feira, 10 de julho (Dia Nacional de Lutas), centrais sindicais, partidos políticos, movimentos sociais, coletivos e estudantes vão realizar manifestações contra as medidas econômicas e a irresponsabilidade do governo Jair Bolsonaro diante da pandemia do novo coronavírus.

A carreata “Fora Bolsonaro” é convocada pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), CSP Conlutas, CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Força Sindical, Nova Central, CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) e UGT (União Geral dos Trabalhadores).

A concentração acontecerá a partir das 8 horas, na praça da Bíblia, em frente à sede da Fetiema (rua Senador João Pedro), onde os veículos serão paramentados com adesivos até o início do deslocamento.

Em seguida será realizada uma parada na porta do prédio do Ministério da Fazenda para um grande buzinaço contra as medidas econômicas do governo federal (Paulo Guedes), seguindo pela rua Grande, rua do Passeio e Cajazeiras, retornando à praça Deodoro, onde haverá o encerramento com um ato simbólico, sem aglomeração.

Diante da pandemia do novo coronavírus, as entidades protagonistas da carreata reivindicam a ampliação do auxílio emergencial sem redução de valor até dezembro e pela desburocratização das linhas de crédito para os micros e pequenos empresários.

“Chegou a hora de tomar as ruas contra o governo genocida de Bolsonaro! A epidemia do coronavírus se agrava a cada dia no Brasil. São mais de 1,5 milhão de infectados e mais de 65 mil mortes, sem contar as subnotificações. O Brasil deveria estar em quarentena para salvar vidas. Ao contrário de buscar soluções, o governo Bolsonaro aplicou medidas que permitiram o rompimento de contratos de trabalho, redução de direitos, demissões, sem que sequer tenha garantido uma renda digna para que todos possam enfrentar a pandemia”, explica a convocatória da carreata.

Representantes das organizações que lideram a carreata serão entrevistados nesta quinta-feira, 9 de julho, na rádio web Tambor, a partir das 11 horas, para apresentar mais detalhes sobre as motivações da carreata e os impactos do governo Jair Bolsonaro na vida dos brasileiros.

A organização do evento chama atenção para as medidas de proteção recomendadas pelas autoridades de Saúde, como o uso obrigatório de máscaras, álcool gel e do distanciamento social entre os participantes.

“Muitos vivem diante da escolha entre morrer de Covid-19 ou de fome. Bolsonaro, Mourão e o ministro da Economia, Paulo Guedes, estão preocupados em agradar banqueiros e grandes empresários. Esta situação calamitosa somente reforça a necessidade nos unirmos e irmos às ruas, respeitando as orientações de segurança, e gritarmos em uníssono #Fora Bolsonaro!”, argumentam as centrais sindicais.

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Bolsonaro promoveu 245 ofensas contra o Jornalismo no 1º semestre

Monitoramento da FENAJ evidencia que, independentemente da crise que o governo enfrenta em tempos de pandemia, produção de notícias é alvo de ataques reiteradas vezes

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgou dados atualizados sobre o monitoramento de ataques contra o jornalismo por parte do Presidente da República, Jair Bolsonaro, referentes ao primeiro semestre de 2020. Foram registradas 245 ocorrências de janeiro a junho de 2020, sendo 211 categorizadas como descredibilização da imprensa, 32 ataques pessoais a jornalistas e 2 ataques contra a Fenaj. São quase dez ataques ao trabalho jornalístico por semana, neste ano.

O monitoramento da Fenaj contempla declarações públicas do presidente em suas lives publicadas no YouTube, conta pessoal no Twitter, vídeos de entrevistas coletivas em frente ao Palácio do Alvorada e transcrições de discursos e entrevistas disponibilizadas no portal do Planalto.

Para além dos números, os dados mostram que as notícias sobre as ações do governo ou a postura do presidente sobre diversos assuntos transformam a imprensa em sua “inimiga”, com a construção de uma narrativa de ataques com o objetivo de promover a descredibilização do trabalho jornalístico e da credibilidade da produção de notícias. Algumas vezes o presidente coloca a imprensa e os jornalistas como “inimigos do país”, por conta de coberturas que o desagradam.

Retrospecto

Entre os meses de janeiro e a primeira semana de março, o presidente Bolsonaro se referiu ao trabalho da imprensa, por diversas vezes, como mentirosa, omissa, sem credibilidade ou confiabilidade, afirmou que a imprensa atrapalha, é uma vergonha, deturpa, esculhamba, tripudia, que falta notícias verdadeiras, chama de fake news, que destrói reputações. No mês de fevereiro, o jornalismo profissional também sofreu ataques misóginos e homofóbicos por parte do presidente.

O presidente chega ao ponto de fazer gestos ofensivos aos profissionais jornalistas que atuam na cobertura em frente ao Palácio do Alvorada, em Brasília, e a contratar um humorista para distribuir bananas.

Em 10 de março é registrada a primeira ocorrência em que o presidente Bolsonaro fala sobre a pandemia do coronavírus. Durante discurso em sua viagem aos Estados Unidos, Bolsonaro fala que a mídia propaga “fantasia”. A partir desse momento, o trabalho jornalístico na cobertura da pandemia é reiteradas vezes alvo do presidente: ele diz que “grande parte da mídia potencializou em cima desse evento”, associa capa de jornal com “busca do caos” no contexto da pandemia, segue afirmando que o povo “foi enganado” por governadores e “grande parte da mídia” em relação ao coronavírus.

Nesse contexto, as diversas outras ocorrências públicas correlatas, como manifestações, presenciais, virtuais ou nas janelas, seriam “inventadas” ou “incentivadas” pela imprensa, que também seria a responsável por “fabricar” crises com seus ministros.

Nas entrevistas coletivas em frente ao Alvorada, estimula que apoiadores ajam com hostilidade à imprensa, especialmente a partir do dia 23 de março. Nesta mesma data, afirma que intrigas alimentam o pânico e que jornalistas “insistem em falar em assuntos” que alimentariam essas intrigas, ao postar em seu Twitter anúncios sobre a covid-19.

Dia 24 de março faz pronunciamento em cadeia de TV e rádio afirmando que meios de comunicação “espalharam exatamente a sensação de pavor” e pela primeira vez associa a atuação da imprensa no contexto da pandemia como causadora de “histeria”.

Na mesma semana, ataca os repórteres que realizam a cobertura no Alvorada, questionando a presença deles no local e se não estão com medo do coronavírus e repete a associação à histeria.  No dia 27 de março, Bolsonaro compara a imprensa a um vírus “pior que coronavírus”.

Conforme os meses vão passando, a postura de descredibilizar a cobertura do jornalismo segue a mesma linha de associar ao terror, histeria, caos, disseminação de pânico. Em junho, mês em que o Brasil ultrapassou 50 mil mortes pela covid-19, Bolsonaro ainda repete que grande parte da imprensa criou “estado de pânico junto à população”, como ocorrido dia 2 de junho, em entrevista coletiva em frente ao Alvorada, ou no dia 5 de junho, quando afirma que veículos de imprensa (cita Jornal Nacional e O Globo) “gosta de dizer que o Brasil é recordista em mortes”.

No dia 9 de junho, diz que as manchetes acusam o governo federal “como se a responsabilidade fosse exclusivamente minha”. Nesse mesmo dia, ele fala que “o pânico foi pregado lá atrás, por parte da grande mídia”, que “teima em rotular este governo”.

Neste último mês, contudo, o número de ataques foi reduzido, com 28 ocorrências, todas classificadas como “descredibilização da imprensa”. Não inserimos neste relatório alguns casos que denotam mudança de postura do presidente em suas postagens no Twitter e discursos oficiais disponibilizados pelo Planalto, em que Bolsonaro usa de expressões de ironia para se referir ao trabalho da imprensa, mas sem desferir ataques.

Agressões a jornalistas

Em abril, Bolsonaro chama jornalistas de urubus e fala que trabalham “amontoados”, sendo que os trabalhadores estavam ali justamente porque eram as condições proporcionadas pelo governo federal. Ele repete dia 10 de abril que repórteres trabalham aglomerados e ironiza que contrariam normas de saúde. Utiliza expressões como “amigos do vírus”, “vírus politizado” e que é a imprensa que quer responsabilizá-lo em questões relativas ao coronavírus.

Em maio, o presidente direciona o ataque à imprensa relacionando a crise econômica como efeito do coronavírus, dizendo que a imprensa deve “parar com essas babaquices, e fazer coisa séria”.

Dia 5 de maio, durante entrevista coletiva no Alvorada, manda jornalistas “calarem a boca” e usa os adjetivos “patifaria” e “canalha” para se referir ao teor de matérias jornalísticas. Na mesma semana, ocorre o episódio sobre ter anunciado um churrasco durante a pandemia para depois chamar jornalistas de “idiotas” por acreditarem em “fake news”.

Nesse período, durante vários dias, o presidente usa os espaços das lives, twitter, vídeos no youtube e pronunciamentos no Alvorada para direcionar ataques à emissora Globo, com o caso do vídeo de reunião ministerial divulgado na íntegra após a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça.

Dia 11 de junho, Bolsonaro se manifesta sobre as agressões físicas a jornalistas no exercício profissional, como os que ocorrem em frente ao Alvorada, por parte de seus apoiadores, e que geraram reação por parte das empresas jornalísticas, que retiraram seus trabalhadores das coberturas: “se são agredidos, saiam dali, pô! Vocês não tão obrigados a ficar ali.”

Violência contra jornalistas

Como a Fenaj vem denunciando desde o ano passado, os ataques de Bolsonaro à imprensa  estimulam a violência contra jornalistas em coberturas diárias. Em 10 de abril, em São Paulo, o repórter Renato Peters estava ao vivo quando teve o microfone arrancado por uma apoiadora do presidente.  No mesmo mês, em Salvador, ao menos dois repórteres foram perseguidos por apoiadores de Bolsonaro.

Em 19 de abril, em manifestação com pautas antidemocráticas e com a participação de Jair Bolsonaro, em Brasília, equipes de reportagem foram agredidas fisicamente e expulsas do local. No mesmo dia foram registradas agressões a jornalistas em Porto Alegre e em Fortaleza.

No Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, em 1º de maio, jornalistas e manifestantes em Brasília foram agredidos por simpatizantes de extrema-direita, em protesto de trabalhadores da saúde. Em 25 de maio, apoiadores do presidente xingaram e se aproximaram de jornalistas que cobrem as entrevistas coletivas diárias de Bolsonaro, na saída do Alvorada. O episódio fez com que empresas jornalísticas deixassem de mandar repórteres ao local, reivindicação feita há tempos pela FENAJ e pelo Sindicato do DF.

Mais recentemente, em 22 de junho, apoiadores de Bolsonaro hostilizaram um repórter na Avenida Paulista, em São Paulo, e ele precisou se retirar da cobertura. Além disso, ao longo do semestre, jornalistas que fazem cobertura crítica ao governo foram atacados nas redes sociais, e alguns até tiveram seus dados pessoais vazados, como a FENAJ vem denunciando em seu site.

Ação Judicial

A Fenaj, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, o Instituto Vladimir Herzog, o Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, o Repórteres sem Fronteiras e a Artigo 19 protocolaram na terça, dia 30 de junho, uma ação contra a omissão do Governo Federal em promover medidas de segurança para garantir a atuação de jornalistas. 

A ação lembra que os ataques são estimulados pelo tratamento abusivo do presidente e ministros contra profissionais de imprensa, e também pede indenização por dano moral coletivo no valor de R$ 300 mil.

Acesse aqui a Linha do Tempo (jan a jun/2020)

Acesse a planilha de sistematização das ocorrências (jan a jun/2020), nos formatos xlsx e ods

Saiba mais:

Presidente é o maior responsável por ataques à liberdade de imprensa no país

Ao jogar apoiadores contra jornalistas, Bolsonaro prejudica combate ao Coronavírus

Ataques à liberdade de imprensa explodem com Bolsonaro

Acesse aqui o Relatório da Violência Contra Jornalistas (2019)

Ano se encerra com 116 ataques de Bolsonaro à imprensa

Jornalistas são alvo de Bolsonaro ao menos duas vezes por semana

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Tiros de canhão contra a pandemia

Por Rogério Almeida, jornalista e editor do blog Furo

Lá pelos idos de 1850, pós Cabanagem, poucos anos depois do lançamento do Manifesto Comunista, a cidade de Belém, naquela época denominada de Pará pelos visitantes de além riomar, era acometida por surtos epidêmicos de febre amarela e de varíola.  O porto teria sido o canal de viabilidade das chagas.  

A febre amarela precipitava sobre brancos e mamelucos, enquanto a varíola acometia índios, negros e mestiços. Iniciadas em abril, em plena estação chuvosa, as pestes duraram uns seis meses.

No portfólio de ações sanitárias do governo da época no combate das pragas, uma se destacava, disparar tiros de canhão no afã de purificar o ar, nos conta Bates.

O naturalista, que a partir de Liverpool – renomado porto de tráfico negreiro- aportou em searas Amazônicas, ao lado de Wallace, igualmente cientista,  percorreram o rio Amazonas por demorados anos. As informações acima constam em Um Naturalista no Rio Amazonas.

A obra além de relatar as exuberâncias da floresta tropical, externaliza toda ordem de leitura preconceituosa contra os povos ancestrais, por ele tratadas de indolentes, bárbaros, selvagens e congêneres. Mesma tratativa recebe a insurreição Cabanagem.

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O Livro de Ordem e o ‘canetinha’

José Henrique Campos Filho *

Brasileiros de todas as classes, desde sempre, acalantam o sonho da casa própria – “Quem casa quer casa”, diz um ditado popular. São  várias as formas de realizar esse desejo, sendo a mais comum o financiamento por meio de programas governamentais.

Há opções de financiamento para variados gostos e bolsos: apartamentos de luxos, casas em condomínios de alto e médio padrão e, também, as opções populares, em empreendimentos localizados, na grande maioria dos casos, em áreas periféricas das cidades. Em todos esses casos, o comprador recebe o imóvel pronto para morar sem ter qualquer ingerência na execução da obra. Quando muito pode interferir no layout do imóvel.

Existe, também, outra possibilidade, diante das opções oferecidas. É quando o cliente resolve querer algo personalizado. Neste caso, ele adquire o terreno, contrata um engenheiro de sua preferência e elabora, a quatro mãos, o imóvel dos seus sonhos.

Com o projeto pronto, financiamento aprovado e licenças emitidas, ele se vê diante da possibilidade de se tornar um empreendedor. E olha que empreendimento! Procura uma empresa de engenharia ou um engenheiro e delega essa responsabilidade. Tem aqueles, entretanto, que decidem dirigir sua própria construção. Pensa em procurar um engenheiro, mas, um ‘amigo’ diz que conhece outro profissional (um não engenheiro) que faz ‘baratinho’ e é ai que começa seu tormento. 

Obra instalada, tapumes colocados, o empreendedor recebe a visita do CREA e é surpreendido com uma multa considerável, pois ele não foi informado, pelo profissional que contratou, da imprescindibilidade de um engenheiro para ser o responsável técnico da obra. Ai alguém informa que é preciso de um engenheiro só para assinar uma ART. Ele vai atrás de um amigo ou amigo de um amigo e acaba encontrando o famoso engenheiro ‘canetinha’ que, por uma gorjeta, joga o seu diploma na lama, assinando a ART sem ser o responsável pela obra.

É ai que o “empreendedor pessoal” fica totalmente vulnerável. As várias etapas da construção são feitas sem qualquer protocolo ocasionando, assim, diversas “patologias construtivas”. Em geral essas obras, quando prontas, geram “dor de cabeça” ao proprietário pelo resto da vida. São paredes úmidas, telhados problemáticos, pintura soltando, vazamentos e dezenas de outras patologias.

Assim como o exercício da Medicina é privativo ao médico e a advocacia ao advogado, também a construção é privativa do engenheiro. E não se fala aqui em defender nichos de mercado. O que se defende, sim, é o direito que a sociedade tem de ter acesso a obras seguras e confortáveis que atendam, plenamente, o sonho da casa própria. E isso só é possível com a presença do engenheiro.
Para se construir uma casa ou um prédio é imprescindível que o engenheiro esteja presente em todas as fases, dirigindo, orientando e fiscalizando o processo construtivo. De outra forma, improvisando, tudo sai errado. São paredes sem prumo, encanamentos vazando, instalações elétricas inseguras e vigas subdimensionadas.

O CREA-MA tem grande responsabilidade neste problema. O CONFEA já determinou a obrigatoriedade do Livro de Ordem, um diário de obra que torna compulsória a presença do engenheiro em todas as etapas de uma construção. Falta o CREA-MA implantar e fazer valer essa determinação, que garante o emprego do engenheiro e segurança para a sociedade. Colocar em prática essa medida do CONFEA representará um grande avanço para a construção civil no Maranhão. Será quando, finalmente, teremos, em cada obra, a presença de um engenheiro. Assim, os problemas construtivos seriam evitados e o profissional de engenharia teria seu papel reconhecido na sociedade.

José Henrique Campos Filho é engenheiro civil, empresário, ex-secretário de Administração e Previdência do Estado do Maranhão e presidente em exercício do Clube de Engenharia do Maranhão.

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Sérios desafios para a eleição de São Luís

Por Emilio Azevedo*

Publicado no site Agência Tambor em 03/07/2020

Recentemente fiz uma cobrança pública a um deputado estadual do Maranhão, filiado ao Republicanos, partido controlado pela famosa Igreja Universal do Reino de Deus.

Este ano tem eleição municipal!

E a cidade de São Luís grita por um Plano Diretor decente, humanizado, ambientalmente equilibrado, que possa atender ao interesse de toda a população, o que inclui priorizar a preservação da nossa zona rural, vital para a vida na Ilha.

A atual gestão da prefeitura vem propondo um Plano Diretor para servir, exclusivamente, à avareza irracional de grandes empreiteiros e megaempresários. A intenção é de elevar, sem nenhuma infra-estrutura ou justificativa aceitável, o gabarito dos prédios de São Luís para trinta andares! Além disso, a prefeitura agiu para tentar permitir a implantação de novas indústrias poluentes, quando o nível de emissão de impurezas no município já é elevadíssimo, acima do que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde.

Os problemas de São Luís são graves e crescentes!

Além de pobreza e miséria, temos poluição, alagamento, desmoronamento, falta d’água e saneamento, preço alto da energia elétrica, agressões às áreas verdes, transporte público precário, desprezo para com os ciclistas, descaso com a mobilidade urbana, ausência de incentivos à economia criativa e de políticas públicas para arte e cultura (acabaram até com o Circo da Cidade!), descaso com o extrativismo e agricultura familiar (cadê a Resex de Tauá-Mirim?), falta creches e educação de qualidade, sobrecarga na saúde pública, violência urbana, racismo na segurança e por aí vai.

São muitas adversidades! E os poderes executivo e legislativo, no âmbito municipal, não têm se mostrado a altura para cumprir com suas obrigações essenciais.

E no processo eleitoral deste ano, os brasileiros têm uma provação a mais: os desmandos de Jair Bolsonaro. Muitos ainda não se deram conta da gravidade do que estamos vivendo no país.

Temos um presidente miliciano, que comunga com ideias nazifascistas, apoiado por um grupo de fanáticos odientos, juntando fundamentalismo e crime organizado. E todos eles de joelhos para o que há de pior no neoliberalismo, sob a batuta de Paulo Guedes. A barra é bem pesada!

E hoje, o Brasil tem mais de 60 mil mortes na pandemia de coronavírus. E, objetivamente, Jair Bolsonaro e sua rede de delinquentes são os principais responsáveis pela enorme proporção dessa tragédia.

Diante de um presidente genocida, atualmente existem uma série de articulações, de cunho nacional e regional, cobrando o afastamento de Bolsonaro por evidentes crimes de responsabilidade. Temos que somar forças a essa onda democrática, fazê-la crescer.

E a eleição deste ano tem essa importância específica, pois para além de Jair Bolsonaro, a extrema direita brasileira está infiltrada nas mais diferentes instituições, incluindo Prefeituras e Câmaras Municipais, fato que fortalece sua ação política e ideológica.

A cobrança que fiz ao deputado estadual Duarte Júnior é exatamente consequência da necessidade de juntar a eleição municipal deste ano com a grave questão nacional.

O parlamentar maranhense é pré-candidato a prefeito de São Luís, sendo do mesmo partido de Flávio Bolsonaro e Carlos Bolsonaro, o Republicanos, ligado a Igreja Universal. E diante do que o país vive hoje, considero um completo absurdo que ele, na condição de pré-candidato, não se posicione, escancaradamente, contra os crimes de seus correligionários.

Cobrei publicamente Duarte Junior para que ele, no mínimo, pedisse a expulsão de Flávio Bolsonaro do partido. Mas lamentavelmente, o deputado/candidato comporta-se como um murganho de cauda amarrada.

Agora, neste artigo, deixo bem clara minha posição e os motivos que me levaram a uma cobrança que já revela, desde já, conexões e embustes da extrema direita local.

Mas o pré-candidato do time de Edir Macedo, obviamente, não será o único conservador nesta eleição municipal em São Luís. É importante que políticos à direita como Eduardo Braide, Wellignton do Curso, Neto Evangelista, além dos outros postulantes, também abram a boca em relação ao bolsonarismo e a tudo de ruim que ele representa.

Enfim, em São Luís, nós estamos diante de duas frentes de luta, de dois desafios que passam pelo processo eleitoral deste ano: as gravíssimas questões municipais, necessitando de um engajamento cada vez maior da sociedade, que deve cobrar soluções do poder público e compromissos dos diferentes candidatos. E, além disso, a necessidade de combater o bolsonarismo e sua extrema direita.

Não é pouca coisa! Mas como nos ensinou o poeta, “a vida (também) é combate”!

*Emilio Azevedo é jornalista, atuando junto a Agência Tambor

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Poesia em convulsão: livro reúne 70 autores brasileiros contemporâneos

Organizado pelo poeta e ensaísta Manoel Ricardo de Lima, Uma pausa na luta traz poemas dos maranhenses Celso Borges e Josoaldo Lima Rêgo, além de Ricardo Aleixo, Thiago E, Micheliny Verunschk, Júlia Studart, Fabiano Calixto, Ruy Proença, Anitta Costa Malufe, Ramon Nunes Mello, Tarso Melo e Heitor Ferraz, entre outros. 

A partir da reflexão de Pasolini, de que “uma pausa na luta” é também a possibilidade de “reavaliação da luta”, este ajuntamento de poetas e poemas se propõe a reinventar a luta, como uma deriva suspensa do tempo e da história, tentando dizer outras coisas, algumas esperanças contra o diletantismo das circunstâncias atuais. 

“Como reavaliar a vida com força e sem tanto luto, propondo apenas uma filigrana de pausa na luta?” é uma das perguntas que o organizador do livro, Manoel Ricardo de Lima, faz no prefácio da obra, que ele faz questão de afirmar que não é uma antologia, mas uma convulsão.

Uma pausa na luta sai pela Mórola Editorial e está à disposição para download gratuito pelo link  https://morula.com.br/produto/uma-pausa-na-luta/

Manoel Ricardo de Lima é professor da UNIRIO e publicou, entre outros, Falas Inacabadas [com Elida Tessler], Pasolini: retratações [com Davi Pessoa] e Geografia Aérea. Organizou A visita [com Isabella Marcatti] e A nossos pés.  Coordenou a edição da obra completa do poeta português Ruy Belo no Brasil [7Letras] e coordena a coleção Móbile de mini-ensaios [Lumme Editor]. 

pausa

drible no grito

quase

matar o corpo osso a osso

pele a pele

músculos no exílio

nus nós cegos

e desatarmo-nos em praça pública

depois de pendurados

nas agonias do limbo


pause

imagens perdidas do último capítulo da série de sucesso

amarrar o voo das abelhas inclusive o mel

pisar no eco, talvez

o ovo em pé inevitável

quebrá-lo no ar

e refletir

onde se aloja o amado medo

marcado pelo suor de deus


fuga do front

embrulhar com zelo o pacote da pancada futura

pensar que seria um erro fazê-lo agora

sim ao pouso do pássaro acima do chão

por enquanto

não tremer


trégua sem trégua


rigidez e leveza

aceitar que o poema pode ser inútil

intervalo para o último assalto

tomar de assalto o ventre do ringue

antes do nocaute

pensar melhor fora da cabeça

peixe fora do aquário

quase

respiração suspensa

até o segundo final

antes de subir à tona

e soprar o pulmão do mundo

                                   celso borges


Quase a forma

não escrita

A voz

disposta na calçada

e esquecida


Vida pra quem respira

nos intervalos

josoaldo lima rego