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Testamento do Judas, de Cesar Teixeira, traz crítica a Bolsonaro logo nos primeiros versos

Outra vez sou enforcado
num tribunal ignaro,
mas meu crime prescreveu,
diz um pergaminho raro.
Quem exterminou Jesus
e botou culpa no SUS
foi Messias Bolsonaro.

Quando chegar no Inferno
ele não terá guarida,
pois o Diabo não aceita
gente de língua comprida
com barriga de jumenta,
cabelo de cu na venta
e fama de genocida.

Deixo ao Profeta do Caos
bula do Billy the Kid,
pois, quando bota ministro
na Saúde, há quem duvide:
– Será Marcelo Queiroga
um novo tipo de droga
que vem no Kit-Covid?

O tratamento precoce
é fim que não principia,
mais parece uma garrafa
de aguardente vazia.
Só traz insuficiência
renal e resiliência
da alma em hemorragia.

Deixo pro Ricardo Salles,
que a natureza atazana,
os restos mortais do gado
que acreditou no sacana.
Jogou no abismo a boiada,
que passa, desgovernada,
achando que a Terra é plana.

Para a ministra Damares,
que só trepa em goiabais,
vou deixar o Kama-Sutra
dos traumas celestiais.
Pra massagear o ego
de um pobre Judas cego,
deixo os órgãos genitais.

Deixo na Universidade
o cordel do ABC.
Hoje em dia estudante
só consegue o que dizer
na voz dos mestres Foucault,
Walter Benjamin, Nivô,
Apolônio e Bordieu.

Antes que o Testamento
se torne monografia,
uma camisa-de-força
deixarei para o Messias,
pois agora o rei está nu
entubado pelo cu,
de onde caga ideologia.

Vou deixar uma vacina
de cereais e verduras
pro nosso Mao-Tsé-Tung
não desabar das alturas
ao subir no Sputnik,
depois de um piquenique
com muito doce e gordura.

Para não cair partido
em Rocha capitalista
deixo a foice e o martelo
de cravar nazifascista
e, sem disparar um tiro,
enterrar mais um Vampiro
da corte terraplanista.

Pro ex-ministro Sérgio Moro
da Lawfare se salvar
eu vou deixar o triplex
com sua “conge” em Guarujá.
Pato já virou boneco,
agora é a vez do marreco
cantando Edith Piá.

Deixo para o Presidente,
doutor em Necrofilia,
o cadáver da Amazônia
cujos pulmões esvazia.
E o verde, se despindo,
de luto vai se vestindo,
numa triste asfixia.

Pagar na mesma moeda
em Aurizona eu pretendo,
pois lá a Equinox Gold
o terror vem promovendo.
Leva o ouro pra Gaudéria,
deixa a lama da miséria
em cada cova escorrendo.

É preciso demarcar
nossa herança por inteiro,
interditar o garimpo
e algemar fazendeiro.
A Funai não auxilia,
é pior que epidemia
para o índio brasileiro.

Deixo a Flávio Bolsonaro
a mala de um mascate
para esconder a grana,
sem que Queiroz o delate
por crime de peculato,
lavando dinheiro a jato
em pia de chocolate.

Na Assembleia deixarei
emenda legislativa
que impede o deputado,
em corrupção ativa,
pular cerca da vizinha
pra comer a rachadinha
da amiga Patativa.

Pois cabaço, meus amigos,
hoje é sigilo fiscal
que no Brasil ninguém quebra
se for presidencial,
por isso a mulher do Arruda
vai proteger a Papuda
do governo federal.

Deixo pras Forças Armadas
a batina dos vigários.
Não há generais rebeldes,
pois, muito pelo contrário,
a velada demissão
é a farsa do escorpião
no cangote de otário.

Assumiram Três Patetas,
no cinema um sucesso.
Para o filme “Bolsotralha
e os Três Porquinhos Perversos”
deixo esquadras de papel,
caminhões de carretel
e uma FAB de processos.

Para Kátia Abreu entrego
um cabresto em Testamento
pra botar o ex-chanceler
Ernesto pastando ao vento.
Nos restaurantes da China
carne que tem vitamina
é a carne de jumento.

Bolsonaro é repetente
desde seu Grupo Escolar,
e foi gazeando aula
que se tornou militar.
No quartel só lhe convinha
brincar de explodir bombinha,
e acabou por se queimar.

Na defesa, Braga Netto,
Paulo Guedes, o zagueiro;
no ataque, Bolsonaro,
Augusto Heleno, goleiro.
Com esse time oficial,
que só tem perna-de-pau,
o Brasil tá no atoleiro.

Ele não toma vacina
nem bota anel de tucum.
Na mão de Chico Gonçalves
não terá Direito algum.
Bozo tem medo é de agulha,
da seringa que borbulha
apontando o seu bumbum.

Deixo pro Fernando Cury
um sutiã de mamão
para ficar apalpando
seis meses de suspensão.
Essa pena é pequena,
em respeito a Isa Penna
caberia a cassação.

Para a amiga Rosa Reis
entrego meu borderô,
mantendo o Cacuriá
na UTI do Labô.
Messias pode surtar,
mas temos que vacinar
nosso Jacaré Poiô.

Vou deixar no Laborarte
minha máscara de linho.
No Inferno não tem vírus,
mas o Cão não tá sozinho.
Lá já se espalhou o mito
da língua do Nélson Brito,
herdada pelo Nelsinho.

Deixo para Joãozinho
enfrentar o lockdown
um litro de catuaba
pra de mim não falar mal.
Também deixo um ingresso
pra ele fazer sucesso
dançando no Xirizal.

No Planalto já deixei
a ceia do Capitão:
patê de ivermectina,
azitromicina, pão,
cloroquina e Leite Moça.
Já lavaram até a louça,
que não tem licitação.

Deixo orelhas de burro
nessa ave de rapina,
que negou o Butantan
por causa de uma vacina.
Fez do Brasil um velório
pra vender supositório
de hidroxicloroquina.

Insumos quero deixar
pra ajudar a Fiocruz,
oxigênio em Manaus,
farinha d’água e cuscuz.
Mas, para o mito bandido
deixo um pequi roído
no cocho dos urubus.

O curral não quer tomar
a vacina comunista.
Vitor Hugo e Zambelli
fazem parte dessa lista.
Por isso, deixo a mimosa
vacina de aftosa
pro gado bolsonarista.

A imprensa, que viveu
no AI-5 amordaçada,
por um louco outra vez
está sendo censurada.
Vou botar uma chupeta
com remédio tarja preta
nesse Boca de Privada.

Vou deixar na CCJ
da Câmara Federal
um despacho pra afastar
o atraso, a dor e o mal.
Incentivando motim,
Bia Kicis é pra mim
um verme no lamaçal.

Se há um ministro escroto
é o da Tecnologia,
viu que a Terra é redonda
sem informar a Chefia.
Deixo um foguete da Nasa
pra bem longe desta casa
despachar Jair Messias.

Nas paredes de Alcântara
já colei o personagem,
com o chapéu do Tio Sam
Bolsonaro fez chantagem.
A distribuição de título
foi mais um falso capítulo,
a mais pura maquiagem.

Deixarei a própria corda
que hoje me decide a sorte
de herança aos editores
que publicam minha morte.
Ganhando dinheiro fácil,
me esculhambam no prefácio
sem me dar vale-transporte.

Auxílio Emergencial
deixo até o fim do ano
para os artistas da Feira
que estão se esforçando,
fazendo até hora extra
entre a segunda e a sexta
no bar do Corinthiano.

Em ano de lockdown
e quarentena de Judas
todos querem fazer live,
virou um “deus nos acuda”.
Mire o seu QR Code,
ou então me compre um bode,
no final tudo é ajuda.

Pra acabar com a pandemia
temos que participar
das batalhas contra o golpe
que espalha cepas no ar.
Contra a fome e a impunidade,
o manjar da liberdade
é o Impeachment, Já!

FIM?

*César Teixeira é jornalista, poeta e compositor. 

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O Cristianismo e o comunismo primitivo

AUGUSTO C. BUONICORE*

Texto publicado originalmente no site da Fundação Mauricio Grabois

“Hoje sois vós, com as vossas mentiras e ensinamentos, que sois pagãos, e somos nós quem traz aos pobres, aos explorados, as novas da fraternidade e da igualdade. Somos nós quem está a marchar para a conquista do mundo como fez aquele que outrora proclamou que é mais fácil a um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que a um rico entrar no reino do céu”. Rosa de Luxemburgo, revolucionária comunista alemã.

“Se quiserem fazer uma ideia das primeiras comunidades cristãs, observem uma seção local da Associação Internacional de Trabalhadores”. Ernest Renan, historiador alemão do século XIX autor de A vida de Jesus e um dos principais estudiosos do cristianismo.

“E perguntou-lhe (a Jesus) um aristocrata. Bom, mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna? (…) Ainda te falta uma coisa. Vende o que tens, dá aos pobres e terás tesouros no céu; então, vem e segue-me. Então, ao ouvi-lo, ficou muito triste porque era muito rico”. Novo Testamento.  

Um cristianismo proletário e comunista

Um anticomunismo atávico ganhou nova força no interior das cúpulas de algumas igrejas ditas cristãs. Nesse processo não se incluem apenas os pastores pentecostais, mas também setores do clero católico. Estranhamente, apareceu até uma exótica “teologia da prosperidade”, cujo espírito é: enriquecei-vos (e não no sentido espiritual, como prevê os Evangelhos). O objetivo das preces é nos tornar mais prósperos materialmente. Ganhar na loteria passou a ser a maior graça possível a ser alcançada. Igualmente há uma perigosa aproximação desse clero reacionário com políticos e governos que negam os direitos humanos e até admitem práticas abomináveis, como a tortura e genocídio. Algo que teria sido veementemente condenado pelos primeiros cristãos.  Tela de Cândido Portinari

De fato, o processo de enfraquecimento do comunismo original junto às cúpulas das igrejas cristãs é antigo e não se deu sem contradições. Ele teve como um dos marcos fundamentais a fusão Igreja-Estado durante o reinado de Constantino, que viveu entre 272-337. Até meados do século III o comunismo era uma das bases ideológicas do cristianismo. Os exemplos se multiplicam nos próprios textos do Novo Testamento e dos primeiros teólogos cristãos. E estão presentes em escritos pagãos do Império Romano. O historiador alemão Max Beer no seu clássico História do socialismo e das lutas sociais escreveu: “Nos anos seguintes ao martírio de Jesus, as primeiras comunidades, compostas quase que exclusivamente de judeus proletários, viveram ou de acordo com o sistema comunista ou no espírito do ideal comunista”. 

Aquele comunismo dos primeiros cristãos não é idêntico ao comunismo moderno, criação do século XIX, contudo tem algumas similitudes. Não sem razão, os fundadores do “socialismo científico” (Marx e Engels) e alguns de seus primeiros ideólogos/intelectuais, como Karl Kautsky e Rosa de Luxemburgo, se interessavam pela história desses primeiros cristãos e buscaram construir pontes entre ela e o socialismo do seu tempo. Vejamos o que diz a Apresentação ao livro A luta de classes na França de K. Marx feita por Engels: “no Império Romano atuava um perigoso partido subversivo. Esse partido minava a religião e todos os fundamentos do Estado; negava sem rodeios que a vontade do imperador fosse a lei suprema; era um partido sem pátria, internacional (…). Este partido subversivo, que era conhecido pelo nome de cristãos, tinha também uma forte representação no exército; legiões inteiras eram cristãs (…). O imperador Diocleciano já não podia assistir tranquilamente ao minar da ordem (…). Então, emitiu uma lei contra os socialistas, queria dizer contra os cristãos (…). Foram proibidas as reuniões desses subversivos, os seus locais de reunião encerrados ou demolidos, os símbolos cristãos, cruzes, proibidos, como na Saxônia são os lenços vermelhos (dos socialistas). Mas estas leis de exceção não tiveram êxito (…). Este (Imperador) vingou-se com a grande perseguição aos cristãos no ano 303 da nossa era (…). E foi tão ‘eficaz’ que dezessete anos mais tarde (…) o autocrata de todo o Império Romano, Constantino, (…) proclamou o cristianismo religião de Estado”.

Dado a importância do tema, Engels retomou o tema num pequeno ensaio dedicado ao estudo do cristianismo primitivo. Assim iniciou sua obra: “A história do cristianismo primitivo oferece curiosos pontos de contato com o movimento operário moderno. Como este, o cristianismo era, na origem, o movimento dos oprimidos: apareceu primeiro como a religião dos escravos e dos libertos, dos pobres e dos homens privados de direitos, dos povos subjugados ou dispersos por Roma. Os dois, o cristianismo como o socialismo operário, pregam uma libertação próxima da servidão e da miséria (…). Os dois são perseguidos e encurralados, os seus aderentes são proscritos e submetidos a leis de exceção (…). E, apesar de todas as perseguições, um e outro abrem caminho vitoriosamente. Três séculos depois do seu nascimento, o cristianismo é reconhecido como a religião do Estado e do Império romano: em menos de sessenta anos, o socialismo conquistou uma posição tal que o seu triunfo definitivo está absolutamente assegurado”. Essas seriam comprovações de que, como o cristianismo, o socialismo poderia ser vitorioso apesar da repressão e das calúnias contra os quais recaiam. Os grandes caluniadores eram justamente os membros do alto clero.

Rosa de Luxemburgo e o clero reacionárioPrimeiros Cristão

Rosa de Luxemburgo, da mesma forma, escreveu sobre o assunto, O socialismo e as Igrejas, visando ganhar para sua causa os operários católicos poloneses e isolar o clero ultrarreacionário: “Os social-democratas propõem-se a pôr fim à exploração do povo pelos ricos. Pensar-se-ia que os servidores da igreja deveriam ter sido os primeiros a desempenhar-se desta tarefa (…). Não é Jesus Cristo quem ensina que ‘é mais fácil um camelo passar pelo furo de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus’? (…) Se o clero realmente deseja que o princípio ‘Ama o teu próximo como a ti mesmo’ seja aplicado na vida real, por que é que não recebe bem e com entusiasmo a propaganda dos social-democratas? Os social-democratas tentam, através de uma luta desesperada e da educação e organização do povo, subtraí-lo à opressão em que se encontra e oferecer-lhe um melhor futuro para os filhos. Todos devem admitir que, neste ponto, o clero deveria abençoar os social-democratas, pois não é ao clero que eles servem, e sim a Jesus Cristo, que diz que ‘o que fizeres aos pobres é a mim que o fazeis’?”. 

Continua Rosa: “Contudo vemos o clero, por um lado, excomungando e perseguindo os social-democratas (…). Assim, o clero, que se torna o porta-voz dos ricos, o defensor da exploração e opressão, põe-se em flagrante contradição com a doutrina cristã (…). Os padres de hoje, que combatem o comunismo, condenam, na realidade, os primeiros apóstolos cristãos, pois estes não passavam de ardentes comunistas (…). Se Cristo aparecesse na terra, atacaria com certeza os padres, os bispos e arcebispos que defendem os ricos e vivem explorando os desafortunados, como outrora atacou os comerciantes que expulsou do templo para que a presença ignóbil deles não maculasse a Casa de Deus (…). Hoje sois vós, com as vossas mentiras e ensinamentos, que sois pagãos, e somos nós quem traz aos pobres, aos explorados, as novas da fraternidade e da igualdade. Somos nós quem está a marchar para a conquista do mundo como fez aquele que outrora proclamou que é mais fácil a um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que a um rico entrar no reino do céu”. 

Rosa cita o historiador alemão Vogel que ainda em 1780 constatou: “De acordo com a regra, todo cristão tinha direito à propriedade de todos os membros da comunidade, caso quisesse, podia pedir que os membros mais ricos dividissem a sua fortuna com ele, de acordo com as suas necessidades. Todo o cristão podia fazer uso da propriedade dos seus irmãos. Assim, os cristãos que não tinham casa podiam exigir do que tinha duas ou três que os recebesse; o proprietário conservava para si próprio apenas a sua própria casa. Mas por causa da comunidade de gozo dos bens, tinha de dar-se habitação àquele que a não tinha’”. Entre os primeiros cristãos, agora segue a própria autora, “o dinheiro era colocado em caixa comum e um membro da sociedade, especialmente escolhido para esse fim, dividia a fortuna coletiva entre todos. Mas isto não era tudo. Entre os primeiros cristãos o comunismo foi levado tão longe que eles tomavam as suas refeições em comum. A sua vida familiar era, portanto, abolida; todas as famílias cristãs, numa sociedade, viviam juntas, como uma única grande família (…) Deste modo, os cristãos do I e II século foram fervorosos adeptos do comunismo”. Por isso, todos se tratavam de irmãos e irmãs.  

Essa situação não poderia durar muito tempo: “Ao princípio, quando os seguidores do novo Salvador constituíam um pequeno grupo na sociedade romana, a divisão do pecúlio comum, as refeições em comum e o viver debaixo do mesmo teto, eram praticáveis. Mas quando o número de cristãos se espalhou pelo território do Império, esta vida comunitária dos seus partidários tornou-se mais difícil. Em breve desapareceu o costume das refeições comuns e a divisão dos bens tomou um novo aspecto. Os cristãos não mais viveram como uma família; cada um tomou cuidado da sua própria propriedade e já não ofereciam o total dos seus bens à comunidade, mas apenas o supérfluo. As ofertas dos mais ricos dentre eles ao organismo geral, perdendo o seu caráter de participação numa vida comum, em breve se transformaram em simples esmolas, desde então os cristãos ricos deixaram de fazer caso da propriedade comum e passaram pôr ao serviço dos outros apenas uma parte do que tinham, parte que podia ser maior ou menor, consoante a boa vontade do doador. Assim, no coração do comunismo cristão, apareceu a diferença análoga à que reinava no Império Romano e contra a qual os primeiros cristãos tinham combatido. Em breve foram apenas os cristãos pobres – os proletários – que tomaram parte em refeições comuns”, afirmou Rosa. 

Kautsky e o cristianismo primitivo

Um dos mais importantes estudos sobre o cristianismo primitivo foi redigido por Karl Kautsky, o principal ideólogo da social-democracia pós-Engels. Para ele “a comunidade cristã abarcava em seus primórdios, quase que exclusivamente elementos proletários e era uma organização proletária. E isto permaneceu ainda durante muito tempo após sua criação”. Cita então Friedlander – autor de Vida e costumes romanos: “é certo que antes da metade ou do final do século II, só tinham uns quantos partidários isolados entre as classes superiores (…). O pobre e o humilde, dizia Lactâncio, estão mais dispostos a crer do que o rico, cuja hostilidade, sem dúvida alguma, surgiu em muitos aspectos contra as tendências socialistas do cristianismo”. Engels, por sua vez, havia escrito: “Os gentios diziam, desdenhosamente, que os cristãos só podiam converter os ingênuos, escravos, mulheres e crianças; que os cristãos eram rudes, sem educação e rústicos; que os membros de suas comunidades eram, principalmente, pessoas sem importância”. 

Kautsky constata que: “há (entre os primeiros cristãos) um selvagem ódio de classes contra o rico. Percebe-se essa condição no Evangelho de São Lucas (…). O rico é condenado pela única razão de ser rico. (…) O mesmo Evangelho faz jesus dizer: ‘Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que tem riqueza! Porque é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha que um rico entrar no reino de Deus’”. Ou seja, um rico entrar no reino dos Céus era quase uma impossibilidade para aqueles cristãos originais. Um dos primeiros grandes apologistas cristãos Tertuliano reafirmou: “Deus despreza os ricos e protege os pobres. O reinado de Deus foi feito para os pobres e não para os ricos”. 

Nos Atos dos apóstolos, descrevendo as primeiras comunidades, lemos: “E preservaram na doutrina dos apóstolo, e na comunidade e na partilha do pão e das orações (…). E todos os que acreditavam estavam juntos e tinham todas as coisas em comum; e vendiam suas propriedades e seus bens e repartiram-nas entre todos” (II,42,44,45) “e ninguém dizia ser seu algo que possuía, mas todas coisas eram comuns. Não havia nenhum necessitado entre eles: porque todos que possuíam terras e casas, vendiam-nas e traziam os valores da venda e os punham aos pés dos apóstolos e era repetido a cada um segundo tinha necessidade”. (IV. 32, 34,35). Jesus chegou a afirmar “E qualquer um de vós que não renuncia a todas as coisas que possui, não pode ser meu discípulo”. Noutra passagem está dito: “E perguntou-lhe (a Jesus) um aristocrata. Bom, mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna? (…) Ainda te falta uma coisa. Vende o que tens, dá aos pobres e terás tesouros no céu; então, vem e segue-me. Então, ao ouvi-lo, ficou muito triste porque era muito rico”.  

“Segundo São João, os doze apóstolos possuíam uma caixa comum enquanto Jesus ainda vivia. Mas Jesus também exige que todos os outros discípulos entreguem suas propriedades”. Assim, o cristianismo primitivo: “era um vigoroso comunismo, embora confuso, que prevalecia na comunidade em seus primórdios, uma condenação de toda propriedade privada, um impulso por uma ordem social nova e melhor, em que todas as diferenças de classe desaparecerem com a divisão da propriedade (…). A primeira comunidade comunista do Messias formou-se em Jerusalém (…). Mas as comunidades logo surgiram em outras partes que tinham um proletariado judaico.”  Logo surgiram entre os não judeus. 

O comunismo dos primeiros cristãos foi sofrendo várias modificações com o passar dos anos, mesmo no período anterior a sua transformação em religião oficial do Estado sob Constantino. A primeira delas foi o próprio aumento dos adeptos e das comunidades, distribuídas em várias regiões. A segunda foi o ingresso gradual de setores sociais mais privilegiados. “Na medida que aumentava a influência das classes educadas sobre o cristianismo, este se distancia cada vez mais do comunismo”, diz Kautsky. 

Ainda segundo esse autor, originalmente, “a comunidade cristã deve ter sido, sobretudo, uma organização de luta (…). Isso correspondia plenamente à situação histórica da coletividade judaica do seu tempo”, ocupada e oprimida pelos romanos. “Seria totalmente incrível se precisamente uma seita proletária houvesse permanecido intocada pela atmosfera geral revolucionária”. Naquela época eram comuns as revoltas individuais e coletivas contra a dominação romana. “Mas a situação mudou após a destruição de Jerusalém. Os elementos que haviam dado a comunidade messiânica seu caráter rebelde foram derrotados. E a comunidade do Messias tornou-se cada vez mais uma comunidade antijudaica, dentro de um proletariado não judaico, que não tinha capacidade nem desejo de lutar (…). O reino de Deus que deveria descer do Céu para Terra, transferiu-se cada vez mais para o Céu (…). Na medida em que a esperança messiânica no futuro assumiu cada vez mais uma forma celestial, tornou-se politicamente conservadora ou indiferente”. É claro que esse processo não se deu da noite para o dia e sem inúmeras contradições.

Começou-se a pregar o respeito cego às autoridades, sejam quais fossem. Lemos na Epístola de São Paulo aos Romanos: “Todo homem se submeta às autoridades superiores, pois não há autoridade senão de Deus, onde ela há, por Deus é ordenada. Assim, quem se opõe à autoridade resiste à ordem de Deus; e os que resistem recebem a condenação ao inferno”. Muitos afirmam que esta formulação subserviente ao poder seria uma maneira de proteger a pequena e fragilizada comunidade cristã das autoridades imperiais romanas. O problema é que muitas das práticas pagãs obrigatórias, como a veneração ao Imperador e a participação nos cultos do Estado, não eram obedecidas a contento pelos cristãos. Isso levava a uma eterna desconfiança sobre eles, por mais que buscassem demonstrar respeito aos governantes de plantão. Isso explica, em parte, as várias perseguições sofridas até o século IV.   

A mesma concessão foi feita em relação à escravidão, que os primeiros cristãos não viam com bons olhos: “O autor da Epístola de Paulo aos Colossenses (…) ordena aos escravos o seguinte: ‘servos, obedecei em tudo os vossos senhores não servindo apenas sob vigilância (…), mas com simplicidade de coração, temendo ao Senhor’. O autor da Primeira Epístola de Pedro – provavelmente escrita no tempo de Trajano – usa termos ainda mais claros: ‘Servos, sede submisso com todo temor a vossos senhores; não somente os bons e humanos, mas também os indignos’”. Isso repete-se na Primeira Epístola de Paulo a Timóteo: “E os que tem senhores fiéis (cristãos) não os menosprezem por serem irmãos; sirvam-nos com ainda melhor vontade, pois são fiéis e participantes das refeições comuns e se dedicam às boas ações”. Naquele tempo escravos e senhores chamavam-se de irmãos e compartilhavam conjuntamente da ceia cerimonial. O cristianismo era uma religião universal que buscava incluir a todos, independentemente da nacionalidade, incluindo os escravos. No entanto, não advogou a abolição da escravidão, mesmo nos seus primeiros anos. O escravismo era o Modo de Produção da época, a base econômica do Império romano. O abolicionismo, como movimento, seria algo extremamente revolucionário e perigoso.    

“Mas, para fazer com que os ricos se sentissem bem dentro da comunidade, o caráter dele tinha de mudar: ódio de classe aos ricos tinha que ser abandonado. O espirito proletário combativo da comunidade foi prejudicado por esse esforço de atrair o rico e fazer-lhe concessões, como sabemos a Epístola de Tiago às 12 tribos da diáspora (…) admoesta os membros de algumas igrejas: ‘Porque se em nossa comunidade entra um homem com anel de ouro e trajes luxuosos e também entra um pobre com roupas modestas e tratardes com deferência ao que traz as roupas preciosas e lhe disserdes: Senta-se aqui em bom lugar. E disserdes aos pobres: Fica em pé, ou senta-se abaixo do estrado dos meus pés (…). Se fazeis essa diferença entre pessoas, cometeis pecado’. Conclui Kautsky: “Na teoria, o comunismo não foi largado; e, na prática, unicamente o rigor de sua aplicação parecia ter se suavizado (…). Apesar do comunismo haver se enfraquecido muito, as refeições em comum continuaram ainda a ser vínculo firme que unia todos os camaradas”. Alguns séculos depois isso desapareceria. Das refeições comunitárias cotidianas participavam apenas os pobres. Os ricos compartilhavam a comunhão durante a missa em lugares especiais. Prática consolidada na “Idade Média”. 

Heranças do comunismo cristão

Segundo Iakov Lentman, “seria, no entanto, um erro pensar que já na primeira metade do século II o cristianismo era a religião das classes dominantes de Roma.  O reconhecimento da escravatura e o apelo à submissão dirigido aos escravos testemunham antes uma manifestação de fidelidade ao Império, e não o aparecimento nas comunidades cristãs de um contingente influente de possuidores de escravos (…). A composição social das comunidades era ainda bastante homogênea e incluía, para além dos escravos, artesãos e trabalhadores das cidades. Não é por acaso que no segundo grupo de Epístola paulinas se encontram frequentemente apelos a ‘trabalhar com as próprias mãos’ (I Tessalonicenses, IV, 11) (…). O célebre preceito: ‘Se alguém não quiser trabalhar, que não coma também’ (II Tessalonicense, III, 10) só pode evidentemente surgir num meio laborioso”. E continua: “mas, é visível que a partir da segunda metade do século II as camadas dominantes da população começam já a desempenhar um papel decisivo no seio das comunidades cristãs”.  

Gerard Walter, por sua vez, afirma: “Teoricamente, o princípio da comunidade dos bens, tal como a abolição de toda a propriedade privada, permanecia inscrito em lugar de honra no programa da sociedade cristã primitiva. Na prática, depressa se havia regressado às formas econômicas da sociedade burguesa pagã da época. De compromisso em compromisso, de concessão em concessão, no espaço de vinte anos os preceitos igualitários ditados imperativamente pelos primeiros fundadores do cristianismo (…) tinham-se pouco a pouco transformado numa espécie de recomendação platônica que é para recordarmos, mas cuja realização integral era antecipadamente tida como impossível. (…) Mas, apesar de toda fragilidade desta tentativa (…) o simples fato da existência nos primeiros anos da era cristã de uma pequena sociedade de homens que se esforçaram por fazer durar tanto tempo quanto lhes foi possível o regime comunista no seu meio deixou um traço profundo no espírito das gerações que se seguiram (…) tiveram uma repercussão imensa através de séculos e séculos”.  

Mesmo depois de um certo acomodamento do cristianismo e o seu afastamento do comunismo, vários “padres da Igreja” continuaram denunciando o crescimento das desigualdades sociais na comunidade cristã, o privilégio dado aos mais abastados e exortando a se voltarem ao espírito do comunismo dos primeiros Apóstolos. São Basílio, ainda no Século IV, dirigindo-se aos ricos afirmou: “Miseráveis, como vos ireis justificar diante do Juiz do Céu? Vós dizeis-me: ‘Qual é a nossa falta, quando guardamos o que nos pertence’? eu pergunto-vos: ‘Como é que arranjastes isso a que chamais de vossa propriedade? Como é que os possuidores se tornam ricos, senão tomando posse das coisas que pertence a todos? Se todos tomassem apenas o que estritamente necessitam, deixando o resto aos outros, não haveria nem ricos nem pobres”. 

São João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla, também pregou à volta aos Apóstolos: “E havia uma grande caridade entre eles (os Apóstolos); ninguém era pobre entre eles. Ninguém considerava como seu o que lhe pertencia, todas as suas riquezas estavam em comum (…) uma caridade existia em todos eles. Esta caridade, consistia em que não havia pobre entre eles, de tal modo que os que tinham bens apressavam-se a desprender-se deles. Não dividiam as suas fortunas em duas partes, dando uma e guardando a outra; davam o que tinham. Assim não havia desigualdade entre eles. Todos viviam em grande abundância. Tudo se fazia com o maior respeito”. Em outro momento afirmou: “Ninguém pode enriquecer honestamente. Mas, poderão objetar-me, se um homem herdar riquezas de seus pais? Pois bem, ele herdará riquezas adquiridas desonestamente”. Invertendo a lógica liberal, Santo Ambrósio afirmou: “O direito comunista foi criado pela natureza. O direito à propriedade privada foi instituído pela violência”. Assim, a propriedade privada não é um direito natural. 

Kautsky concluiu: “Se o comunismo foi admitido oficialmente como exigência fundamental da comunidade, certamente semelhante reconhecimento só foi feito porque era impossível negá-lo, porquanto a tradição nesse ponto tinha raízes demasiado profundas e era amplamente conhecida”. Durante a chamada Idade Média elementos desse comunismo primitivo renasceriam em várias comunidades cristãs (católicas e protestantes), em grande parte, consideradas heréticas e duramente perseguidas, a exemplo de Thomas Munzer, os cátaros, os hussitas, os waldenses e os diggers na Revolução Inglesa. Mais recentemente esse espírito renasceu na Teologia da Libertação, já sob influência do marxismo. Como ocorreu com aquelas correntes que buscaram reaproximar o cristianismo e o socialismo (ou comunitarismo), ela foi perseguida e calada pela alta hierarquia da Igreja Católica. O mesmo fenômeno ocorreu em relação às igrejas protestantes. Contudo, não há como impedir que os interesses e a luta dos trabalhadores empobrecidos – a velha e boa luta de classes – emerja no interior dessas igrejas que têm bases populares, ainda que colateralmente. 

De Jesus Cristo aos falsos messias

Segundo os Evangelhos, Cristo nasceu numa manjedoura, dentro de um estábulo, e era filho de carpinteiro, possivelmente profissão exercida por ele durante sua infância e adolescência, antes de iniciar suas pregações. Portanto, foi um jovem proletário. Sempre viveu entre as pessoas mais humildes, excluídas socialmente: mendigos, leprosos, prostitutas etc. Os seus primeiros seguidores eram simples pescadores. Ele não tinha propriedades pessoais e o mesmo exigia dos seus apóstolos. Não era frequentador de palácios reais, nem tinha convivência íntima com os ricos e poderosos da época. E a pobreza, inclusive, era a condição essencial para participar da sua comunidade. Protegeu a adúltera Maria Madalena quando fanáticos religiosos, seguindo à risca as leis do Templo, queriam apedrejá-la. Disse-lhes: “Quem de vós não tem pecado que atire a primeira pedra”. Hoje vemos pastores apedrejando (ainda que virtualmente) LGBTIs, feministas, petistas, comunistas e membros de religiões afro-brasileiras. Jesus expulsou os mercadores do templo em Jerusalém. Quantos templos não viraram verdadeiros mercados persas, onde os bens religiosos são vendidos e os recursos transformados em novos negócios rendosos? Quantos altos dignitários das igrejas não se enriqueceram às custas dos fiéis e outros meios? 

E, por fim, pelas suas palavras e ações, Jesus foi condenado por dois poderes: o clerical e o imperial. Assim, ele foi o mais famoso preso político da história da humanidade, torturado e executado barbaramente na Cruz, forma mais degradante de morte entre os romanos. Morreu ao lado de dois ladrões e a um deles perdoou e disse que se encontrariam no reino do Céu. Jesus e os primeiros cristãos, decerto, não aceitariam frases bolsonaristas: como “bandido bom é bandido morto”. Tomemos cuidado com esses novos Messias que agora defendem os ricos, disseminam o ódio aos diferentes, a tortura, o armamento geral e até o genocídio.  

*Augusto C. Buonicore é historiador e diretor de publicações da Fundação Maurício Grabois. Autor dos livros Marxismo, história e a revolução brasileira: encontros e desencontros; Meu Verbo é Lutar: a vida e o pensamento de João Amazonas; e Linhas Vermelhas: marxismo e os dilemas da revolução. Todos publicados pela Fundação Maurício Grabois e Editora Anita Garibaldi.

Bibliografia

BEER, Max. História do socialismo e das lutas sociais, Centro do livro brasileiro, Lisboa, s/d

BETTO, Frei. Cristianismo & marxismo, Ed. Vozes, Petrópolis, 1986.

ENGELS, Friedrich. O cristianismo primitivo, Ed. Laemmert, s/d

KAUTSKY, Karl. A origem do cristianismo, Ed. Civilização Brasileira, RJ. 2010

LENIN, V. I. Lenin e a religião, Assírio&Alvim, Lisboa, 1974

LENTSMAN, Iakov. A origem do cristianismo, Ed. Caminho, Lisboa, 1988

LOWY, Michael. Marxismo e teologia da libertação, Ed. Cortez, SP, 1991

LUXEMBURGO, Rosa. O socialismo e as igrejas: o comunismo dos primeiros cristãos, Ed. Achiamé, RJ, 1981.  

MARX, Karl & ENGELS. Sobre a religião, Ed. 70, Lisboa, 1972

RENAN, Ernest. A vida de Jesus, Ed. Martin Claret, SP, 1995

WALTER, Gérard. A origens do comunismo: judaicas-cristãs-gregas-latinas, edições 70, Lisboa, 1976

Novo Testamento

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Movimentos sociais repudiam a ditadura com outdoors em São Luís

Para denunciar os 57 anos do golpe civil-militar no Brasil, deflagrado em 31 de março de 1964, diversas organizações dos movimentos sociais (veja abaixo) realizam ações por memória, justiça e verdade.

Material de divulgação da campanha unificada mostra painel de outdoors

Uma das iniciativas é a distribuição de outdoors em São Luís com os motes “Fora Bolsonaro” e “Ditadura Nunca Mais”, “vacina já” e “auxílio emergencial de R$ 600,00”. As placas começaram a ser visualizadas desde terça-feira (30/03) como parte da campanha unificada de sindicatos, entidades de direitos humanos e pela cidadania.

O objetivo dos outdoors é dar visibilidade e denunciar a interrupção do processo democrático no Brasil nos anos 1960, bem como alertar para a conjuntura atual, no governo Jair Bolsonaro, apologista de ditaduras, da tortura e da violação de direitos humanos.

Além das peças publicitárias estão sendo realizados eventos remotos, palestras e debates sobre os impactos do golpe civil-militar de 1964 e os efeitos da ditadura no Brasil.

Ao longo de toda a semana o tema “ditadura nunca mais” será pautado com entrevistas diárias na Agência Tambor.

Entidades parceiras: ABJD, APRUMA, Agência Tambor, DCE-UFMA, MST, Sindicato dos Bancários, SINDEDUCAÇÃO, SINASEFE, SINDUEMA, SINTECT-MA, SITIU-MA, SINTRAJUFE.

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Andes: ditadura nunca mais, pela memória, verdade e justiça!

O golpe empresarial-militar de 1964 está completando 57 anos. É importante reafirmar que foram 21 anos de um regime político que atacou a classe trabalhadora com um imenso arrocho salarial e que reprimiu todas as suas manifestações, a exemplo das greves de Osasco, Contagem e do ABC paulista. Os governos militares, a serviço do imperialismo e da burguesia interna, interviram nas universidades brasileiras e massacraram a população indígena, camponesa e quilombola.

Esse longo período de exceção notabilizou-se pela cassação de milhares de ativistas, mas, também, pela prática do terrorismo de Estado. A ditadura prendeu milhares de opositore(a)s, inclusive religioso(a)s; torturou centenas de militante; forçando ao exílio um grupo importante de lideranças políticas, sindicais, estudantis e intelectuais. Para além dessa tragédia política, a ditadura de 1964 matou – em cifras oficiais – 434 homens e mulheres que lutavam em defesa das liberdades democráticas, contra os governos militares e em defesa dos interesses da classe trabalhadora e da democracia.

Dentro desse cenário político, um dos maiores ataques engendrados pela ditadura foi contra a universidade brasileira, partindo de uma orientação que advinha da ideologia da segurança nacional, centrado no chamado “inimigo interno”, que foi formulada pela ESG em consonância com agências internacionais, o regime autoritário usou fortemente dos seus organismos de repressão (SNI, Polícia Federal, AESI, CENIMAR, CISA, CIE, DOI-CODI, etc.) para agir sobre a universidade brasileira, chegando ao criminoso ato de assassinar 119 membros da comunidade universitária (97 homens e 22 mulheres), entre professore(a)s, estudantes e um técnico.

Foi criado durante esse período ditatorial um aparato de repressão interno ao ambiente da universidade. A AESI ou ASI (Assessorias Especiais de Segurança e Informações) tinha como finalidade vigiar, filtrar contratações, operar sobre possíveis ações do movimento estudantil, emitir relatórios para os órgãos de segurança do Estado ditatorial e denunciar membros da comunidade acadêmica para serem enquadrado(a)s no Decreto nº 477. Este decreto espúrio de 1969, ficou conhecido como o “AI-5 da educação” e tinha rito sumário para finalizar processos (20 dias).

Ainda nesse período tortuoso da história brasileira, o ensino privado foi expandido, os acordos com os EUA (MEC/USAID) comprovam a ingerência externa na educação, tendo sido aplicado um conjunto de reformas na universidade para colocá-la a serviço dos planos de desenvolvimento autoritário dos governos militares, como podemos entender a Lei nº 5.540/68. E, posteriormente, com a implementação da Lei nº 5692/71 que criou diretrizes e bases para uma educação totalmente voltada aos interesses profissionais como formas de servir aos capitalistas em nosso país.

O esquema repressor que se desenvolveu na universidade brasileira foi gerenciado para se representar nas formas administrativas por meio de seu caráter de controle interno, a exemplo de estatutos, regimentos, portarias e resoluções dos diversos conselhos. Ainda convivemos com esse entulho autoritário em muitas universidades, por meio das diversas permanências desse arcabouço no ambiente acadêmico.

Ao repudiarmos os 57 anos desse golpe e tudo que ocorreu com a ditadura empresarial-militar de 1964, precisamos alertar a comunidade universitária brasileira que estamos vivendo um grave momento político. Voltam à cena grupos obscurantistas e reacionários com o desejo político de romper as balizas da democracia formal com o nítido sentido de operar um “novo” regime de exceção. São hordas neofascistas, grupos golpistas que se confirmam como apoiadore(a)s do atual presidente da república, Jair Bolsonaro.

O Brasil vive uma intensa crise, cujo elemento mais contundente é a pandemia em virtude da Covid 19. O governo negacionista abriu as portas para o genocídio da nossa população, situando-se de forma perversa e com total irresponsabilidade diante da imensa mortandade.

Assim como, durante os anos da ditadura de 1964, lutamos e vencemos as trevas, agora, mais do que nunca, precisamos construir uma firme unidade de ação para enfrentar o(a)s golpistas neofascistas, defender a universidade brasileira e os serviços públicos. Temos que cerrar fileiras na luta pela vacinação já, para todos e todas.

Em defesa da democracia e da luta da nossa classe contra a tirania, denunciamos qualquer forma de comemoração desse evento nefasto da história brasileira. Tal atitude, ocorra onde ocorrer, deve merecer o nosso mais profundo repúdio.

Por nosso(a)s morto(a)s nem um minuto de silêncio, toda uma vida de combate!

Ditadura nunca mais! Brasília(DF), 31 de março de 20

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O novo colunismo social do Maranhão

por Ed Wilson Araújo, 02 de abril de 2021

Pouco tempo antes do estouro da pandemia covid19, em uma roda informal de conversa entre jornalistas e professores universitários, um atento observador da cena política local soltou esta frase emblemática: “quer saber como se movimentam os políticos do Maranhão(?), basta olhar as fotos no PH”.

A sentença foi dita no contexto das alianças e desavenças comuns à maioria dos partidos políticos turbinados pelo pragmatismo eleitoral, selando acordos e conchavos entre legendas supostamente divergentes.

O autor da “tese” remetia às páginas coloridas da maior expressão do colunismo social – Pergentino Holanda – cujas iniciais “PH” passaram a ser uma grife para designar “o poder” no Maranhão.

Embora aparentem intrigas nos palcos eleitorais, às vezes trocando acusações com adjetivos do futebol de várzea, as lideranças políticas tradicionais sempre aparecem sorridentes nos banquetes do PH, retratados nas páginas esparramadas em elogios mútuos traduzidos nas legendas das fotografias.

Os cientistas políticos deviam atentar para certos lances ainda presentes no caderno dominical mais glamuroso do jornal de José Sarney (O Estado do Maranhão), onde quase todos os gatos são pardos: políticos, empreiteiros, desembargadores, juízes, promotores, lobistas, socialites, profissionais liberais e negociantes em geral.

Para além disso, a coluna e o caderno especial do PH são recheados de textos literários valorosos e informações preciosas conectadas ao mundo real sobre os três poderes no Maranhão.

Já o povo, movido pelas paixões, nem sempre capta que as supostas disputas ferrenhas travadas no palco eleitoral dizem quase nada sobre divergências de fundo entre as elites que dominam os cofres no Maranhão em um frenético modelo clientelista desde os tempos de Benedito Leite.

Mas, algumas coisas mudam e outras desaparecem. O colunismo social, no formato impresso, está prestes a entrar para o obituário da comunicação. As versões digitais dos jornais não cumprem a mesma função mercadológica, política e estética do produto impresso para efeito do glamour.

Os famosos, nome novo para designar socialites ou emergentes, têm a sua própria coluna social (perfil) nas redes digitais. Um(a) influencer, sem derrubar um pé de eucalipto, vale mais que a tiragem de muitos jornais de papel somados.

Houve mudança não só na forma – do impresso para o digital – mas também no conteúdo e na visibilidade dos(as) atores(as).

Colunismo social era uma seção de jornal até então pertinente aos endinheirados e/ou vinculada aos círculos do poder formal. Com o advento das plataformas digitais, surgiram novas iniciativas com enfoques diferenciados remodelando o conceito de visibilidade na comunicação outrora associado apenas aos ricos.

No Maranhão cabe mencionar duas ações promissoras, não exatamente conexas à perspectiva de colunismo social como forma de glamourização do chamado poder oficial.

Refiro-me à ideia genérica de colunismo social para situar dois experimentos de Jornalismo fora da mídia de mercado, mas bem posicionadas no ambiente digital: o site Agenda Maranhão e a Agência Tambor.

Cada qual com a sua especificidade, eles põem para desfilar no palco do espaço público atores(as) sociais geralmente silenciados ou esquecidos no agendamento midiático.

Navegando no campo da comunicação alternativa, a Agência Tambor produz diariamente um jornal transmitido na web e protagonizado por fontes autorizadas geralmente excluídas dos critérios de noticiabilidade da maioria dos meios de comunicação.

Pelas redes sociais da Agência Tambor fluem a comunidade GLBTTI, quilombolas, quebradeiras de coco, indígenas, artistas e militantes dos movimentos sociais, gente das periferias, fazedores(as) de cultura, educadores(as), agitadores e agitadoras de muitas causas nobres, entre tantas outras personagens.

O “colunismo social” da mídia alternativa está materializado nos famosos cards que apresentam a fonte entrevistada do dia, fartamente distribuídos nas redes sociais. Quem não era visto nem lembrado nas grandes empresas de comunicação tem agora um tambor para tocar.

A panfletagem eletrônica dos cards da Agência Tambor, guardadas as devidas proporções, tem aproximações com um novo tipo de colunismo social, embora a força conceitual expressiva seja o Jornalismo.

Já no site Agenda Maranhão a personagem principal é o Centro Histórico de São Luís, dando visibilidade a um território da cidade com as suas personagens, arquitetura, fazeres e saberes. Trata-se de um site especializado em Jornalismo Cultural outrora marcante no impresso.

A cidade em revista nas fotos antigas da Agenda Maranhão

O teórico dos Estudos Culturais latino-americanos Martín-Barbero tem um ensinamento precioso sobre a relação entre a produção e o consumo de bens culturais que pode ser aplicado às duas experiências mencionadas: a fruição das audiências.

As entrevistas da Agência Tambor, feitas ao vivo, são posteriormente transformadas em podcast para ouvir a qualquer tempo, arquivadas em plataformas digitais. Esse sentido da memória está presente de outra forma no site Agenda Maranhão, em um percurso às vezes inverso, quando atualiza imagens antigas meticulosamente estudadas na perspectiva da História da Fotografia.

Assim são os arquivos. Servem para guardar e revelar, estando sempre vivos como pulsação de memória.

Os usos da tecnologia mobilizam sentidos e gerações distintas nas apropriações feitas por uma rádio web (Agência Tambor) e um site (Agenda Maranhão), este com expertise em imagens analógicas – fotos antigas – atualizadas no contemporâneo.

Através da memória, as publicações vão reconstituindo a cidade velha conectada às mudanças atuais do tecido urbano. Misto de Jornalismo e entretenimento, o site Agenda Maranhão conecta o seu público ao passado saudoso da São Luís que não existe mais, a não ser na lembrança atualizada pelas fotografias puxadas no tempo.

O Jornalismo Cultural do Agenda Maranhão abraça com sensibilidade as cenas da cidade: pessoas comuns, casarões, sobrados, ruas, becos, situações cotidianas, traços provincianos e universais do território Centro Histórico.

Pesquisa de imagens é um dos focos da Agenda Maranhão

Cada qual a seu modo, as duas experiências reúnem as suas audiências mobilizadas na prática cultural do consumo (Martín-Barbero). Na pegada política do tambor rufando a tônica é o conflito, sem perder a ternura das pautas afetivas. Agenda Maranhão, por sua vez, mexe com os sentidos do seu público envolvido nos detalhes preciosos das fotos garimpadas no passado.

Vale sempre lembrar aquela alegoria da fênix associada ao Jornalismo. Segundo a mitologia egípcia, era uma ave que durava muitos séculos e, queimada, renascia das próprias cinzas.

Como forma de conhecimento da realidade, o Jornalismo costura os acontecimentos na linha do tempo. O que é notícia hoje, amanhã é História; e os fatos históricos, atualizados, são notícias contemporâneas.

Agenda Maranhão e Agência Tambor são palcos eletrônicos onde as pessoas se encontram. Está em curso um novo tipo de glamour, protagonizado por gente pobre e cidade velha pautados por memória, História e política.

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Apruma emite nota de solidariedade aos atingidos por barragem de mineradora no Maranhão

Nota da Diretoria da APRUMA e GTPAUA/APRUMA de solidariedade aos moradores de Aurizona – Godofredo Viana – MA e de denúncia da atuação predatória da mineração no Maranhão

  • Desastre ambiental na Pré-Amazônia maranhense, em 25 de março de 2021: falta de transparência e deterioração da riqueza hídrica na mineração de ouro

O Grupo de Trabalho Política Agrária, Urbana e Ambiental (GTPAUA) e a Diretoria da APRUMA – Sessão Sindical do ANDES – Sindicato Nacional, que organiza e representa sindicalmente docentes da Universidade Federal do Maranhão, solidarizam-se com a população da comunidade Aurizona, do município de Godofredo Viana – MA, e denunciam a falta de transparência pública, a atuação predatória e a deterioração hídrica na Pré-Amazônia maranhense, que caracterizam a mineração de ouro realizada pela Mineração Aurizona S.A. (MASA), subsidiária da mineradora canadense Equinox Gold.

Segundo informações da própria empresa, a jazida possui reservas medidas de mais de 200 toneladas de ouro.

De acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM), apenas em 2020, em Godofredo Viana, a Equinox Gold obteve receita bruta de mais de 1 bilhão de reais.

A empresa, ao minerar o ouro, apropria-se da riqueza reconhecida pelos mercados financeiros e, além ampliar o saque da Amazônia brasileira, destrói a riqueza hídrica, a biodiversidade, as florestas e as culturas das comunidades locais. Assim, são ações estrangeiras que provocam degradação ambiental e miséria à população.

No dia 25 de março de 2021, denúncias através de vídeos e matérias de órgãos locais de comunicação foram veiculadas nas redes sociais sobre um possível rompimento da maior barragem de rejeitos minerais do Maranhão, localizada nas proximidades da comunidade Aurizona, no município de Godofredo Viana.

As suspeitas e denúncias de rompimento da barragem ocorreram em razão de uma grande quantidade de lama interditar a única estrada de acesso, isolando a comunidade; invadiu ainda o lago Juiz de Fora, que margeia a comunidade; contaminou a Estação de Tratamento de Água (ETA) do rio Tromaí, que abastece a população de cerca de quatro mil moradores de Aurizona, deixando-a sem fonte de água potável; atingiu a área de igarapés e manguezais, portanto Área de Preservação Permanente (APP), o que compromete a pesca, a mariscagem e, por consequência, a segurança alimentar da comunidade.

Os efeitos da difusão da lama na região, possivelmente tóxica em função das conexões existentes entre as várias fontes hídricas, podem alcançar outros rios e lagos que são de grande importância para as comunidades do entorno, que têm na pesca, na mariscagem e na agricultura importantes fontes de subsistência e de obtenção de renda.

Ainda não se sabe o alcance do desastre, mas deve ser investigado, identificados os responsáveis, a sociedade informada e os danos reparados.

Até agora, sabe-se que foram pelo menos dois pontos de transbordamento e alagamento em lados distintos da mina do Piaba. Uma na região das lagoas do Cachimbo e Juiz de Fora e outra na estrada de acesso à comunidade. A empresa ainda não informou qual exatamente foi a estrutura da mina que provocou o desastre.

Em função das denúncias, a mineradora emitiu uma nota em que minimizou a situação, afirmando que não houve rompimento da barragem, mas problemas com a drenagem que se encontrava em operação na mina, provocando transbordamento.

Diante da falta de informações mais precisas, devido à falta de transparência da empresa que não presta contas à sociedade sobre o ocorrido, o professor Tádzio Peters Coelho, da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e que realiza pesquisas na região, adverte que, “… é essencial saber de qual estrutura da empresa essa água veio e por onde ela passou, considerando a presença de material estéril entre os reservatórios/barragem e o lago Juiz de Fora… A contaminação de minério deste tipo em corpos hídricos pode acarretar uma série de impactos sociais e ambientais na vida da população atingida, como a ocorrência de diversas doenças, além do aumento da pobreza e da desigualdade social, como ocorreu em Brumadinho, Minas Gerais” (Disponível em https://www.brasildefato.com.br/2021/03/26/artigo-rompimento-de-barragem-no-ma-evidencia-falta-de-controle-social-na-mineracao).

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e o Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH) já foram acionados e estão encaminhando reuniões com os atingidos. O CNDH requereu da empresa, com urgência, o Plano de Segurança de Barragens (PSB), informação atualizada dos últimos três meses da situação das estruturas e outras informações.

No entanto, é necessário que toda a sociedade maranhense e seus representantes nos legislativos e executivos municipais e estaduais exijam mais transparência por parte da empresa e que os órgãos públicos de fiscalização (Ibama, ICMBio, SEMA, CONSEMA e as instituições do sistema de justiça, principalmente, os Ministérios Públicos Estadual e Federal) se manifestem publicamente sobre o que já foi apurado e quais medidas foram tomadas. É necessário destacar ainda que a Mineração Aurizona S.A. (MASA) faz parte do Conselho Estadual de Meio Ambiente do Maranhão (CONSEMA). Nesta nota, expressamos a preocupação de que isso não comprometa o importante papel que o Conselho deve ter no acompanhamento dos efeitos do desastre.

Considerando que no Estudo de Impacto Ambiental e no Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA/RIMA) apresentados pela empresa e utilizados como base para o Licenciamento Ambiental da mina não consta informação sobre qual material a empresa utiliza na separação/beneficamento do ouro, a transparência sobre o ocorrido é ainda mais necessária e urgente, pois rejeitos de beneficiamento do ouro normalmente são extremamente tóxicos.

Além disso, a área diretamente afetada e o número de pessoas afetadas por um possível rompimento da Barragem do Vené, que é onde são depositados os rejeitos da mina, deve passar por uma reavaliação, tendo em vista que há óbvia subestimação na estimativa da Agência Nacional de Mineração (ANM), segundo a qual no máximo 100 pessoas seriam afetadas no caso de um rompimento.

É necessário o amplo acesso aos mapas de inundação no caso de um amplo rompimento da Barragem do Vené, que deveriam estar disponíveis no Plano de Ações Emergenciais (PAE) da barragem.

Por fim, afirmamos que o evento do último dia 25 de março é, provavelmente, mais um crime socioambiental das mineradoras que são as mais beneficiadas com o atual modelo de exploração minerária existente no país e que se colocam contra a população brasileira.

A população de Aurizona não pode ser abandonada pelos poderes públicos e deve ser ressarcida em seus prejuízos pela MASA. Os efeitos ambientais devem ser levantados com transparência, os riscos em curso da atividade da extração mineral devem ser amplamente explicitados e medidas concretas tomadas para garantir a qualidade de vida e o ambiente saudável e avaliar se a opção pela mineração em escala empresarial do ouro é a melhor para toda população.

Estamos solidários aos afetados por esse provável crime ambiental e reivindicamos:

  • Informação urgente por parte do governo do estado do Maranhão acerca das providências que estão sendo tomadas pelos seus diferentes órgãos que podem ter políticas relacionadas à situação (Secretaria de Meio Ambiente, Secretaria de Segurança Pública, Secretaria de Infraestrutura etc.);
  • Publicização urgente das providências que estão sendo tomadas pela ANM eórgão ambientais;
  • Publicização das providências que estão sendo tomadas pelas Promotoria doMeio Ambiente dos Ministérios Públicos Federal e Estadual;
  • Imediato apoio da MASA à população atingida, em termos de alimentos, água potável e outros produtos necessários;

Territórios livres da mineração predatória já!

São Luís, 01 de abril de 2021.

Grupo de Trabalho Política Agrária, Urbana e Ambiental (GTPAUA)

Diretoria da APRUMA – Sessão Sindical do ANDES – Sindicato Nacional

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Shopping Rua Grande abre em julho no Centro Histórico de São Luís

Fonte: Agenda Maranhão

O Centro Histórico de São Luís estará recebendo, em julho deste ano, o Shopping Rua Grande, espaço que oferecerá o conforto e a segurança de um shopping convencional ao mesmo tempo em que terá um andar especial dedicado para a difusão da cultura maranhense. A obra está sendo cuidadosamente arquitetada por uma equipe de profissionais qualificados e por meio de incentivo do Programa Adote um Casarão, do Governo do Maranhão.

O empreendimento, de 2.100m², funcionará em 3 pavimentos: térreo, 1° piso e 2° piso. Terá ar condicionado central, elevador e sistema de wifi. Vai gerar 172 empregos diretos em serviços de operacionalização (segurança, administração limpeza etc.) e nas atividades comerciais nas lojas, boxs, quiosques e 2 megalojas. Em cada pavimento haverá uma bateria de banheiros, atendendo a uma demanda não oferecida na área comercial do centro.

Localizado no prédio onde funcionava a antiga sede da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), na Rua Grande, já perto do Canto da Viração (Rua do Passeio), ficará aberto em horário de shopping, das 10h às 22h (12 horas por dia), de segunda-feira a sábado, e aos domingos, a partir das 12h até às 18h.

O horário de funcionamento possibilitará um incremento no movimento noturno na área comercial do Centro Histórico de São Luís, no período das 18 às 22h, quando o fluxo de transeuntes e carros diminui com o fechamento do comércio.  É o momento em que aumenta o número de vagas de estacionamento que poderão ser utilizadas por consumidores de outras áreas da cidade interessados em frequentar o shopping no período da noite.

“É uma opção noturna permanente que estaremos oferecendo no Centro Histórico de nossa cidade”, afirma Marcos Antônio Matias Silva, de 52 anos, empresário adotante do imóvel, por meio do Programa Adote um Casarão, e que está investindo R$ 1,2 milhão na obra.

No período dia, a frequência deve envolver mais transeuntes do Centro Histórico de São Luís. A projeção é que, das 5 mil pessoas que transitam pela Rua Grande, diariamente, cerca de 1.000 circulem pelo Shopping Cultural Rua Grande.

“Um prédio público que estava em desuso, como o antigo prédio da Secretaria de Educação do Maranhão, na Rua Grande, agora, vai atender milhares pessoas quando estiver reformado. Essa iniciativa faz parte de um conjunto imenso de atividades que ajudam a repaginar e dinamizar a região central da cidade e a preservar nossa história”, afirma o secretário de Estado de Cidades e Desenvolvimento Urbano, Márcio Jerry.

“O Adote um Casarão, no âmbito do programa Nosso Centro, é um ativo muito importante que o governador Flávio Dino oportuniza para revitalizar e valorizar nosso patrimônio histórico, gerando empregos e incentivando o empreendedorismo”, completou o secretário.

Banner de apresentação do Shopping Rua Grande

Espaço Cultural  

O 2° piso (o último andar do imóvel) será o Espaço Cultural, com venda de artesanato, produtos de artistas e de grupos culturais maranhenses e de comidas típicas. A comercialização será em 20 bancas e em mais 5 lojas. Terá um espaço para apresentações musicais e da cultura popular e outro para exposições de arte.

Um dos cartões de visita desse pavimento será a vista panorâmica que o público terá da Praça Deodoro e uma parte do Rio Anil. O planejamento arquitetônico deu ênfase a essa possibilidade que poderá ser desfrutada pelo público que visitar o shopping.

Está sendo montada uma equipe especial de gestão desse espaço cultural, informa Paula Mendonça, arquiteta responsável por toda a obra. Essa equipe vai deliberar alguns detalhes funcionais do espaço.

O que já está definido é que o uso será para setores da cultura maranhense.  “A nossa referência foi o padrão da feirinha da Praça Benedito Leite”, compara Paula Mendonça.

Secretário Márcio Jerry conversa com empresário Marcos Matias e arquiteta Paula Mendonça

Fachada

Como o shopping terá um conceito vinculado a cultura maranhense, a ideia é privilegiar, na fachada, as cores da terra. “São tons em marrom que remetem ao nosso artesanato, ao uso da terra pelas mulheres, como as quebradeiras de coco, e pelos homens, como meio de sustento e forma de viver”, explica Paula Mendonça.

Outros espaços

O térreo do shopping terá ligação direta com a Rua Grande permitindo um fluxo de mais de pessoas aos 14 boxs de 5m²; 16 espaços de lojas, de 14 a 35 m²; 2 quiosques; e uma megaloja.

O 1° piso terá 4 quiosques, 5 lojas, uma segunda megaloja e a praça de alimentação (onde funcionará o sistema de wifi) unida a um pátio panorâmico com vista para a Rua Grande e para o Palacete Gentil Braga, um dos mais belos imóveis históricos do Maranhão, revestido de azulejos azuis e onde funciona do Departamento de Assuntos Culturais da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Adote um casarão

Adote um Casarão é um programa do Governo do Estado, executado pela Secretaria de Estado de Cidades e Desenvolvimento Urbano (Secid). Faz parte de um programa mais amplo, o Nosso Centro, que reúne ações de diversas secretarias de Estado.

Disponibiliza, por meio de editais, imóveis pertencentes ao Governo do Estado, no Centro Histórico de São Luís, que estejam sendo subutilizados ou estejam vazios. O adotante, em contrapartida, deve revitalizar e manter o imóvel e fazer uso, exclusivo, para as atividades indicadas no contrato.

A analista de Políticas Públicas da Secid, Monique Martins, explica que, no caso do prédio na Rua Grande, onde funcionará o shopping, a concessão é por um período de 10 anos, renovável por mais 5 anos, como previsto no Edital. “Será um espaço de integração de pequenos e grandes negócios”, avalia.

Assim como abriu a possibilidade para Marco Antônio Matias Silva, 52 anos, fazer um investimento em um shopping, a partir da experiência de três décadas atuando como empresário na área de comercio no Centro Histórico de São Luís, o Adote um Casarão está incentivando experiências como a vivenciada pelo Centro Cultural e Educacional Mandingueiros do Amanhã.

Depois de adotar um imóvel, por meio do Adote um Casarão, o Mandingueiros do Amanhã está investindo mais em atividades culturais e educativas na área central da cidade. O grupo participou de uma edição do edital vencendo diversos concorrentes, incluindo grandes empresas interessadas.

O programa Adote um Casarão foi criado, pelo governador Flávio Dino, em 2019. Tem por objetivo tornar o Centro Histórico de São Luís referência em renovação e desenvolvimento sustentável, preservando seu valor histórico e cultural. Já foram disponibilizados 10 imóveis aos participantes.

É focado em ações de fomento nas áreas comercial, cultural e de lazer.    Podem participar dos editais empresas privadas e grupos culturais. Pessoa físicas, também, mas, se ganhar, terá de constituir uma pessoa jurídica para assinar o termo de adesão ao programa.

Links de acesso as publicações

O Imparcial
https://oimparcial.com.br/cidades/2021/03/shopping-sera-construido-na-rua-grande-e-promete-ser-nova-opcao-de-compras-e-lazer-da-populacao/#.YF9vKZb7M30.whatsapp

Blog O Informante (Jornal Pequeno)

Blog Henrique Bois

http://hbois.blogspot.com/2021/03/adote-um-casarao-viabiliza-novo.html?m=1

Blog John Cutrim

https://johncutrim.com.br/shopping-rua-grande-sera-a-nova-opcao-de-compras-e-lazer-no-centro-historico-de-sao-luis/FacebookTwitterWhatsApp
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verso pandêmico

iso    lamento    só

restou

a solidão

Autor: Ed Wilson Araújo, 27 de março de 2021

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Lei de Incentivo à Cultura: novos projetos podem ser entregues até 30 de abril

Produtores(as) de cultura, empreendedores(as) culturais, enfim, a classe artística em geral, terão mais um prazo para elaborarem seus projetos culturais a fim de serem avaliados pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura. A Secretaria de Estado da Cultura prorrogou o prazo de recebimento de novos projetos, que seria encerrado no dia 30 de março, para até o dia 30 de abril.

“Essa medida se fez necessária, considerando o momento atual de pandemia com aumento significativo dos casos. Desta forma, a Secma concede mais 30 dias de prazo para que os fazedores da cultura maranhense possam elaborar seus projetos, respeitando as restrições tão importantes para a contenção da Covid-19”, disse a secretária adjunta de Cultura Incentivada, Ciane Sozinho de Souza.

Os interessados em inscrever projetos culturais, para receber recursos com base na Lei de Incentivo à Cultura do Estado do Maranhão devem entregar os projetos no setor de protocolo da Secma, a partir do retorno presencial das atividades do serviço público estadual não essencial.

A Portaria nº 50/2021, que estabelece as regras para apresentação de projetos culturais, foi publicada no Diário Oficial do Estado do Maranhão, considerando o Decreto Estadual nº 36.531, de 03 de março de 2021, que estabelece medidas de prevenção do contágio e de combate à propagação da transmissão da Covid-19, infecção humana causada pelo coronavírus.

Como proceder?

Pode entrar com projeto qualquer pessoa jurídica, com pelo menos 1 ano de atividade. Para se inscrever, os interessados devem preencher os formulários que se encontram disponíveis no site da Secretaria de Estado da Cultura: cultura.ma.gov.br. Todas as informações sobre a Lei de Incentivo, os formulários que precisam ser preenchidos e as documentações necessárias, bem como o passo a passo para preenchimento das planilhas, estão disponíveis no endereço acima, na aba Lei de Incentivo.

Os projetos culturais são submetidos à avaliação da Comissão de Análise de Projetos Culturais Incentivados (CAPCI). Caso aprovado, o proponente recebe um Certificado de Mérito Cultural (CMC), que o credencia a buscar recurso junto a empresas patrocinadoras. A concessão do CMC é para projetos que visem à democratização do acesso, divulgação e preservação da memória cultural, bem como ao desenvolvimento de atividades artísticas e obras culturais.

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Livro sistematiza propostas e projeto de lei resultantes da Conferência Nacional de Comunicação

Versões ebook e pdf de “Conferência Nacional de Comunicação, 10 anos depois: os desafios das Políticas de Comunicação no Brasil” estão disponíveis gratuitamente

O Laboratório de Políticas de Comunicação (LaPCom) da Universidade de Brasília publicou versões ebook e pdf do livro “Conferência Nacional de Comunicação, 10 anos depois: os desafios das Políticas de Comunicação no Brasil”. As duas versões da publicação estão disponíveis de maneira gratuita em: www.intervozes.org.br/confecom e sites.google.com/ccom.unb.br/home/confecom

O livro nasceu de um duplo imperativo.  Primeiro, o de resgatar a memória de um importante evento, o único em seu gênero, realizado até agora em nosso país. Segundo, fazer com que esse resgate sirva de inspiração para a retomada da luta para dotar o Brasil de um marco político-normativo para a comunicação social, um caminho aberto pela Constituição Federal de 1988, mas até hoje só percorrido muito parcialmente. E a duras penas.

Emoldurada por depoimentos, documentos e entrevistas de pessoas e instituições que participaram da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), o livro também traz a íntegra do anteprojeto de lei que “dispõe sobre os serviços de comunicação eletrônica, os serviços de comunicação social eletrônica e dá outras providências”.

O anteprojeto, balizado pelas propostas da Confecom, foi elaborado por grupo de trabalho governamental, sob a coordenação do ex-ministro chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Franklin Martins.

O documento foi deixado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que sua sucessora, presidenta Dilma Rousseff, lhe desse consequência. Porque isto não ocorreu é ainda matéria de pesquisa histórica, mesmo que o livro, por esforço do pesquisador Camilo Vannuchi, já tenha dado um primeiro passo nessa direção.

Entretanto, o que, do ponto de vista da equipe de pesquisa do LaPCom tem precedência neste momento, é levar o livro e, com ele, o anteprojeto de lei, ao escrutínio crítico da sociedade – em particular, da academia e do movimento social –, fazendo com que o seu conteúdo sirva de ponto de partida para a construção do marco político-normativo, regulatório ou lei geral. 

Um desafio que, por já velho em nossa história, continua, não obstante, premente. Desafio agora potencializado pela convergência dos meios de informação e comunicação tradicionais com os novos, mais complexos, mais invasivos, meios que, nas plataformas de internet, nos libertam e nos avassalam quase que simultaneamente, e que são, por conta desse paradoxo, até mais ameaçadores.

A Confecom ocorreu em 2009 e foi um marco nas políticas de comunicação do setor ao ser o único espaço institucionalizado deste tipo que reuniu Executivo, Legislativo, empresários e sociedade civil para debater propostas de políticas públicas de comunicação no Brasil. O processo mobilizou cerca de 30 mil pessoas e gerou um caderno de resoluções com mais de 600 recomendações.

Publicado pela Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura), o livro “Conferência Nacional de Comunicação, 10 anos depois: os desafios das Políticas de Comunicação no Brasil” está estruturado em artigos, analisando o período da Confecom e buscando conectá-lo com a realidade atual. 

Os textos são de autoria de Murilo César Ramos, Fernando Oliveira Paulino, Jonas Valente, Marcos Urupá, Octavio Penna Pieranti, Lara Haje, Cecília Bizerra Sousa, Camilo Vannuchi e Carlos Henrique Demarchi

A obra também traz depoimentos de personagens essenciais à realização da Confecom: Ana Néca, André Barbosa Filho, Bia Barbosa, Cesar Rômulo Silveira Neto, Érico da Silveira, Indira Pereira Amaral, Jeronimo Calorio Pinto, Jonas Valente, José Carlos Torves, José Luiz do Nascimento Sóter, Juliana Cézar Nunes, Juliana Soares Mendes, Luiza Erundina de Sousa, Mariana Martins de Carvalho, Octavio Penna Pieranti, Paulo Miranda, Renata Mielli, Romário Schettino, Walter Vieira Ceneviva e Yuri Soares Franco. 

O livro igualmente conta com entrevistas com Franklin Martins e Evandro Guimarães e traz documentos importantes como anexos. 

Além do anteprojeto de lei citado acima, foram incluídos no livro o decreto de convocação da Confecom, as portarias do Ministério das Comunicações com a composição da Comissão Organizadora da Conferência e a aprovação do seu Regimento Interno, a Resolução da Comissão Organizadora que define seus eixos temáticos e a metodologia para encaminhamento e aprovação das propostas e o Cadernos com as propostas aprovadas.

Debate com autoras(es) do livro está disponível no Canal do LaPCom no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=IBWtQDEF_mI&t=8s