por Ed Wilson Araújo, especial de domingo 23/09/2018
No Brasil dominado pelo medo e carregado de ódio, a invasão de equipamentos de segurança caminha a passos largos, simultaneamente ao discurso da aquisição de armas de fogo pelo cidadão comum.
No balcão da violência, o capitalismo movimenta o veneno – a indústria de armas; e o antídoto – os equipamentos de defesa e proteção: alarmes, cercas elétricas, sensores de presença, câmeras e radares.
Operam neste balcão 10 grandes empresas, entre elas a fabricante de cercas elétricas e armas consideradas de “tiro esportivo” – a Rossi; e a gigante do mercado bélico – a Forjas Taurus S/A.
O negócio da violência tem uma grande expectativa com a eleição de Jair Bolsonaro e a derrubada do Estatuto do Desarmamento, instituído em 2003, por meio da lei nº 10.826, que dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição.
Esta legislação é um empecilho ao livre comércio de armas no Brasil, porque impõe uma série de restrições para a aquisição e porte de equipamentos letais.
A indústria da violência, portanto, é uma das principais interessadas na eleição de um presidente que possa eliminar as barreiras legais que impedem o livre comércio de armamentos.
Esse cenário ganha mais força no ambiente de proliferação das ideias fascistas e na ascensão da candidatura de Jair Bolsonaro. Para o triunfo desse discurso, é necessária a disseminação de uma sociedade do medo e da violência, coroada de ódio.
Bolsonaro não faz gesto de artilharia à toa.
A Forjas Taurus, mencionada acima, é apenas uma das 10 empresas o ranking da indústria de armas que opera no Brasil, da pistola ao míssil. A lista inclui também as empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, conforme abaixo.
Indústria Bélica | Equipamento |
Helibras: pertence ao grupo europeu EADS | – fabrica helicópteros de guerra |
Forjas Taurus, desde 2014 sob o controle majoritário da CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos). | – produz de revólveres até submetralhadoras |
Embraer | – constrói de caças a sistemas de monitoramento |
Iveco: fabrica também caminhões e ônibus da marca Fiat | – faz carros de combate |
Avibras | – fabrica mísseis e aviões não tripulados |
Odebrecht: em 2011 comprou o controle da Mectron, uma fabricante de mísseis | – constrói estaleiro para submarinos militares |
Andrade Gutierrez: criou uma joint-venture com a francesa Thales, especializada em câmeras de monitoramento, radares e equipamentos para vigilância. | – tem foco em segurança urbana e de fronteiras |
CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), desde 2014 é majoritária no controle acionário da Taurus. | – fabrica munição militar e para segurança pública |
Imbel (Indústria de Material Bélico do Brasil): estatal vinculada ao Ministério da Defesa. | – fornece armas portáteis, munição, explosivos e equipamentos de comunicação para o Exército |
Rossi | – foco em armas esportivas |
Fonte: Revista Exame |
Há portanto, uma simbiose no negócio da violência, de tal forma que algumas empresas operam simultaneamente na fabricação das armas letais e dos equipamentos de proteção.
Outro dado relevante é o papel da CBC, principal fornecedora de munição, insumo de alta rotatividade que exporta cerca de 70% de sua produção para mais de 40 países.
Desde 2014 a CBC passou a ser majoritária na participação acionária da Forjas Taurus. Esta convergência de capital no ramo de armamentos tornou a CBC/Taurus controladora da maior parte do mercado de armas no Brasil, fornecendo principalmente para os órgãos de segurança pública.
Intervenção Federal
Desencadeada no curso da operação Lava Jato, a incitação ao ódio detonou uma sensação generalizada do medo e desencadeou no senso comum e em parte da classe média o uso da arma como forma de defesa.
No Congresso Nacional, o lobby dos partidos conservadores pela revogação do Estatuto do Desarmamento caminha de mãos dadas com a redução da idade penal. Essa combinação explosiva tem o objetivo de provocar o encarceramento em massa, principalmente dos mais jovens, criando um ambiente ainda mais proliferador do discurso da violência. Bordões como “bandido bom é bandido morto” não soam por acaso. Tem materialidade em um produtivo ramo do capitalismo que opera na desgraça humana e prega o retorno ao estado pré-político: a guerra de todos contra todos.
Assim, a revogação do Estatuto do Desarmamento, combinada à redução da idade penal e à militarização das polícias estão em sintonia com a produção de um discurso da violência fundamental ao crescimento da indústria de armamentos.
Enquanto a revogação do Estatuto do Desarmamento não vem, o Brasil já começa a flexibilizar a legislação, permitindo a abertura do comércio de armas ao comércio estrangeiro, através da Portaria 841, de 4 de setembro de 2017, da Casa Civil, autorizando a Ruag Indústria e Comércio de Munições a operar no país.
As imagens de Jair Bolsonaro simulando um atirador são a etapa intermediária de um processo mais complexo, demarcado pela intervenção federal no Rio de Janeiro, quando o presidente da Forjas Taurus, Salésio Nuhs, entregou 100 fuzis e 100 mil munições ao interventor, general Braga Netto, durante a entrevista coletiva no Forte de Copacabana.
E as munições foram doadas por quem? Pela CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos). Faz todo sentido.
Era só o começo de algo que pode ficar pior, caso Bolsonaro vença as eleições em 2018.
Imagem do topo: O presidente da Taurus, Salésio Nuhs (E), entrega simbolicamente 100 fuzis ao interventor federal, general Walter Braga Netto, em ato marcante durante a intervenção federal na Segurança do Rio de Janeiro. Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo.