Categorias
notícia

O uso inapropriado da expressão “fake news”

Apesar de ser usada largamente para caracterizar distorções ou falseamento de informações com o objetivo de induzir o público a erro, a expressão “fake news” é inadequada e sem coerência no âmbito do Jornalismo.

Explico: em tradução direta, “fake news” significa “notícia falsa”.

Para os teóricos do Jornalismo a expressão “fake news” carrega duas palavras de sentidos contrários; ou seja, se algo é “falso” não pode ser associado a notícia.

Os teóricos do Jornalismo apontam contradição e divergência entre as expressões “fake” e “news”. Em síntese, dizem os estudiosos, se algo é “fake”, não pode ser notícia, porque o trabalho de produção jornalística jamais remete a algo falso, sem sustentação nos critérios de verdade.

O processo de produção jornalística pressupõe a apuração dos fatos e a checagem das informações. Esse trabalho é baseado na observação, no levantamento de dados, na coleta de depoimentos, no estudo de documentos e na consulta de outras fontes necessárias para fazer o relato com base nos critérios de objetividade, coerência, lógica e correspondência ao fato que está sendo apurado para posteriormente ser transformado em notícia, reportagem, documentário e outros formatos.

Assim, o trabalho profissional do jornalista para produzir um relato é dotado de critérios de verdade, não cabendo associar o conceito de notícia a uma expressão que indica mentira (fake), embora durante o processo de apuração possam ocorrer erros e imprecisões.

Jornalistas – é sempre bom lembrar – são passíveis de falhas, erros e enganos durante a produção de uma narrativa.

Portanto, eventuais equívocos durante a apuração – sem a intenção de enganar o público – podem ocorrer, mas não devem ser nivelados às aberrações feitas de maneira proposital para induzir a audiência à incompreensão ou deturpação de um fato.

Uma coisa é uma falha de apuração, que pode acontecer sem intencionalidade.

Outra coisa é a predisposição para produzir um conteúdo com o objetivo de enganar o(a) interlocutor(a).

O jornalismo é uma forma de conhecimento da realidade, baseado em investigação, observação, checagem das informações e construção do relato objetivo sobre os fatos, embora a subjetividade possa estar presente na construção de um texto, por exemplo, ou na seleção de imagens para uma reportagem televisiva ou na web.

No trabalho de edição é impossível conter o afloramento da subjetividade do(a) jornalista.

A objetividade dialoga com a subjetividade, mas esta não pode ser preponderante nem exagerada, chegando a alterar a ordem lógica da narrativa jornalística, a ponto de relativizar os dados numéricos, as imagens ou os depoimentos das fontes durante a elaboração de uma notícia ou reportagem.

Quando o relativismo penetra a construção de uma narrativa, aí não é mais Jornalismo, é ficção, outra “estória”.

Assim, a expressão “fake” não faz nenhum sentido para o Jornalismo, que é baseado no conhecimento do real.

No meio acadêmico as expressões mais adequadas para substituir “fake news” são “pós-verdade” e “desinformação”.

Então, vale refletir. Quando você usa a expressão “fake news” está juntando duas palavras de sentido contraditório. Se é notícia, não pode ser falsa.

Por isso, prefira as expressões “desinformação” e “pós-verdade”, baseadas nos apelos à emoção, crenças e ideias manipuladas para distorcer os fatos reais e objetivos.

A pós-verdade é um dos fundamentos da desinformação e ambas precisam ser combatidas pelo Jornalismo. Este, assim como a Ciência, é uma forma de conhecimento segura, confiável e objetiva para conhecer e explicar a realidade, estabelecendo uma relação coerente e ética com o público.

Imagem destacada / lupa sobre jornal de papel / capturada nesse site

Categorias
notícia

Alguém que não seja eu

Eloy Melonio*

Não preciso da mesma vibe poética de Erasmo Carlos em “Mesmo Que Seja Eu” para construir esta crônica. Mas vou aproveitar um pouco da “filosofia” com que ele teceu essa belíssima canção.

Tudo isso para falar do “outro”, essa personagem da vida real, tão popular e tão desgastado.

Sabe-se que a maior criação divina foi o homem, e a mais monumental invenção do homem foi o outro. E com ele, a mentira. Tão oportuna que foi logo usada para que seu inventor, passando-se por inocente, imputasse o pecado original à mulher, que, por sua vez, pôs a culpa na serpente. E o mundo idealizado por Deus agora era outro.

De pecado em pecado, chegamos à tenebrosa era das fake news. E nesse vil universo não há quem se intitule dono da mentira, uma pobrezinha órfã de pai e mãe. O fato nu e cru é que ela é sempre uma invenção do outro. E, nessa condição, a coitada vai passando, inescrupulosamente, de mão em mão.

Para os amigos do outro, muitas vezes, o prêmio é o castigo. Um exemplo disso é a tal delação premiada, quando um entrega o outro, que entrega o outro… Daí vem a desconfiança de que o outro nunca pode ser alguém de mãos limpas. Nem mesmo Pilatos, que parece ter se livrado da pecha de delator.

No caso dos filhos do presidente (01, 02 e 03), quando não se sabe quem disse o quê, alguém interfere para nos confundir ainda mais: Não foi esse; foi o outro.

Já na Palestina do primeiro século, João (que batizou Jesus) — antevendo a mazela das fake news — precisava certificar-se de que Jesus não era um falso Cristo. E enviou-lhe emissários a perguntar: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?”(Mt 11:3).

Para existir, o outro precisa de alguém. Mesmo assim, um sempre desconfia do outro. Porque o outro não é uma pessoa com quem a gente possa se abrir, haja vista que a amigos outros ele também sorri.

Dizem até que o outro nunca é amigo. Porque o amigo é nominável, visível, confiável. E esse é apenas um vulto rodando por aí. Se, por acaso, dele receber “o pão que o diabo amassou”, não tenha dúvida de que com essa maldição não deve ficar, exceto se não houver outro a quem passar.

O outro é um ser que pensa conhecer-se a si mesmo, imaginando-se único e independente. Pode, inclusive, ser “você”, quando se olha numa foto e não se agrada do que vê. Ou quando, num sofisticado evento social, desconfiado, olha para o outro, que olha para o outro... Nada de errado, pois nessas reuniões até as madames soltam “pum”. E esses gases se esvoaçam no ar, e logo todos os outros se esquecem do incidente.

Numa relação extraconjugal, a astúcia de um é querer que o outro seja sempre o outro, porque assim jamais passará de um simples affair. E se você não sabe, o outro é aquele que chega quando o marido não está, e se apressa quando percebe que ele já vai chegar.

Na novela “O outro” (Rede Globo, 1987), Francisco Cuoco vivia dois personagens que eram sósias, sem que um conhecesse o outro. Nesse caso, dois que pareciam um. Ao contrário, Ferreira Gullar fala de “um” que são, possivelmente, dois: “Uma parte de mim/ é todo mundo;/ outra parte é ninguém”.

Num poema do meu próximo livro (Travessia), ouso afirmar uma verdade inconteste: Nosso mundo somos nós: eu, você, os outros.

Entre uma coisa e outra, viu o Criador que sua obra-prima não podia ficar só, e tratou imediatamente de esculpir outra. Desde então, outro não se faz senão de outro já existente. E que este ou aquele pode, a qualquer instante, envolver-se em encrenca.

Preferencialmente com alguém que não seja eu.

_________

*Eloy Melonio é professor, escritor, poeta e compositor.

Imagem destacada capturada nesse site

Categorias
notícia

PET Comunidades Populares debate fake news e as consequências da desinformação

Fonte: Site da UFMA

Com o objetivo de analisar o crescimento e o forte fluxo da disseminação de fake news e como estas se solidificam na atual sociedade, os grupos do Programa de Educação Tutorial da Universidade Federal do Maranhão (PET-UFMA) promovem dia 9 de junho (terça-feira), a partir das 19h, no Instagram do PET Conexões de Saberes Comunidades Populares, a live “O advento das fake news e suas consequências na sociedade”.

A atividade será coordenada por Adriely Costa, ativista do movimento negro e feminista, estudante do oitavo período do curso de Filosofia da UFMA, membra do PET Comunidades Populares e representante estudantil do Centro Acadêmico de Filosofia (Cafil- Gestão Kinesis) da UFMA. E contará com a participação de Ed Wilson Araújo, jornalista, docente do Departamento de Comunicação Social (DCS) da UFMA, presidente da Associação de Radiodifusão Comunitária (Abraço) no Maranhão e membro da Agência Tambor.

Segundo o professor convidado, o advento das fake news é observado de forma expressiva no país no período pré-eleitoral e eleitoral do ano de 2018, sendo um fator decisivo das eleições daquele período. “As fakes news percorrem um território semeado pelo conservadorismo, pelo relativismo e pela negação da razão. O que se tem observado de maneira milimétrica e sistemática recentemente no Brasil e em outros países são os ataques a duas instituições fundamentais no processo civilizatório, que são o jornalismo e a ciência, o que propicia a criação de guerrilhas eletrônicas, como a utilização de robôs, para atacar os meios de comunicação que já têm uma sedimentação consolidada na sociedade. Mas porque essas instituições são atacadas por esses segmentos ultraconservadores? Porque operam sobre critérios e argumentos da coerência, da lógica, da correspondência e da vinculação da verdade”, destacou.

Categorias
notícia

4º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação será realizado em São Luís

Essa semana São Luís vai sediar dois importantes eventos sobre liberdade de expressão, democracia, internet livre, mídia comunitária e alternativa, jornalismo e conjuntura política. Dia 17 de outubro (quinta-feira) será realizada a 22ª Plenária Nacional do FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação) e a partir do dia 18 (sexta-feira) até domingo (20) acontecerá o 4º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação – ENDC.

As inscrições estão disponíveis aqui e todas as atividades serão realizadas na Faculdade Estácio, (rua Grande/Oswaldo Cruz, nº 1.455, Centro, São Luís-Maranhão).

Para saber mais sobre o FNDC, clique aqui.

Entre os palestrantes e debatedores estão os jornalistas Luis Nassif, editor do Jornal GGN; e Leandro Demori, editor-executivo do The Intercept Brasil, além de militantes, pesquisadores(as), estudantes, parlamentares, profissionais de mídia e as organizações da sociedade civil direta ou indiretamente vinculados ao FNDC, entidade organizadora das duas atividades.

A 22ª Plenária Nacional do FNDC, dia 17, é deliberativa e vai reunir delegados(as) representantes de Comitês Regionais e entidades nacionais filiadas.

O foco do ENDC e da 22ª Plenária Nacional do FNDC sintoniza a crítica à concentração dos meios de comunicação e aos oligopólios formados por grupos políticos e empresariais. Esse processo, segundo os especialistas, gera uma profunda desigualdade na produção de conteúdo jornalístico e de entretenimento nas emissoras de TV, rádio e na mídia digital.

Partindo dessa análise, desde os anos 1990 o FNDC sugere ao longo de várias teses a revisão da legislação e a implantação de um novo marco regulatório para as comunicações no Brasil, apontando parâmetros mais abertos e plurais na produção e distribuição dos bens culturais.

Um dos principais temas a ser debatido nos dois eventos é o fenômeno das fake news, com ênfase na revelação mais recente sobre o disparo em massa de mensagens falsas na campanha eleitoral para a Presidência da República, em 2018, no Brasil.

O coordenador executivo da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), Geremias dos Santos, será um dos palestrantes no painel temático “O papel da comunicação na resistência democrática.”

Veja abaixo a programação completa:

Evento: 22ª Plenária Nacional do FNDC

Data: 17 de outubro de 2019 (quinta-feira)

Hora: 14h às 18h

Local: Faculdade Estácio

Evento: 4º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (ENDC)

Dada: 18 a 20 de outubro de 2019

Sexta-feira (18 de outubro)

9h às 12h – Painéis Temáticos do 4º ENDC – Parte 1

Tema: O papel da comunicação na resistência democrática

Paulo Salvador – diretor da TVT e coordenador da Rede Brasil Atual (RBA)

Geremias dos Santos – presidente da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço)

Werinton Telles – vice-presidente da Associação Brasileira de Canais Comunitários (ABCom)

Kátia Passos – jornalista, uma das fundadoras da rede Jornalistas Livres

Tema: Violação de Direitos Humanos na Mídia

Ana Potyara – diretora da Andi Comunicação e Direitos

Ana Veloso – professora da Ufpe e coodenadora do Observatório Mídia

Eugenia Gonzaga – Procuradora-regional da República e ex-presidente da Comissão Nacional sobre Mortos e Desaparecidos Políticos

Tema: O monopólio da mídia e o ataque aos direitos sociais

Ricardo Alvarenga – professor da Faculdade Estácio de São Luís

Vinicius Santos Soares – diretor de comunicação da ANPG

Luís Nassif – jornalista, analista político e editor do Jornal GGN

Tema: O papel da cultura na resistência democrática

Joãozinho Ribeiro – cantor, compositor e poeta maranhense

Manoel Rangel – cineasta e ex-diretor-presidente da Ancine

Émerson Maranhão – diretor de cinema

12h às 13h30 – Intervalo

13h30 às 17h30 – Painéis Temáticos do 4º ENDC – Parte 2

Tema: Comunicação pública como promotora da diversidade e pluralidade

Flávio Gonçalves – diretor-geral das emissoras públicas TVE Bahia e Rádio Educadora FM

Melissa Moreira – professora de Comunicação Social da UFMA

Mara Régia – jornalista e apresentadora do programa Viva Maria, da Rádio Nacional de Brasília

Juliana Cézar Nunes – coordenadora-geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) e integrante da Cojira-DF

Tema: Fake news: a desinformação como tática politica

Iara Moura – diretora do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social

Maria José Braga – presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)

Márcio Jerry – jornalista e deputado federal, ex-secretário de Comunicação Social e Assuntos Políticos do Maranhão

Tema: Proteção de comunicadores em tempos de autoritarismo

Artur Romeo – jornalista, coodenador de comunicação do escritório para a América Latina da Repórteres Sem Fronteiras (RSF)

Angelina Nunes – jornalista, mestre em Comunicação e ex-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)

Thiago Firbida – coordenador do programa de Proteção e Segurança da Artigo 19

Josiane Gamba – coordenadora da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH)

Tema: A mídia, a operação Lava Jato e a destruição do Estado Democrático de Direito

Fábio Palácio – professor do Departamento de Comunicação da UFMA

Maria Inês Nassif – jornalista, uma das autoras do livro “Relações Obscenas”, que analisa as revelações da Vaza-Jato

Silvio Luiz de Almeida – jurista, pós-doutor em Direito pela USP

19h – Ato Político em Defesa da Liberdade de Expressão

Sábado, 19 de outubro

9h às 10h30 – Conferência “Os desafios para o exercício da liberdade de expressão numa sociedade hiperconectada”

Nick Couldry – sociólogo e professor da London School of Economics and Political Science (por videoconferência)

10h30 às 12h30 – Conferência “A naturalização e institucionalização da censura no Brasil”

Leandro Demori – editor-executivo do The Intercept Brasil

Dennis de Oliveira – professor livre-docente em Jornalismo, Informação e Sociedade da ECA/USP

Renata Mielli – coordenadora-geral do FNDC

12h30/14h – Intervalo

14h às 16h – Conferência “Democracia roubada – discurso de ódio, desinformação e as plataformas monopolistas digitais”

Martín Becerra – professor titular das Universidades de Quilmes (UNQ) e de Buenos Aires (UBA)

Sérgio Amadeu – sociólogo, doutor em Ciência Política pela USP e professor da Ufabc

Lola Aranovich – professora da UFC e autora do blog Escreva Lola Escreva

Ana Claudia Mielke – secretária-geral do FNDC e diretora do Coletivo Intervozes

19h – Programação cultural

Domingo, 20 de outubro

9h às 11h – Rodas de conversa temáticas

11h – Cerimônia de Premiação da Campanha de Vídeos Internet Direito Seu!

11h30 às 12h30 – Leitura e aprovação da Carta de São Luís

13h – Encerramento do 4ºENDC

Categorias
notícia

Do jornalismo tendencioso à indústria da mentira: Constituição completa 30 anos e mantem travada a legislação sobre comunicação

Três décadas após a promulgação da Constituição Brasileira de 1988, a comunicação, um dos temas fundamentais para consolidar os sentidos de República e democracia, permanece quase inalterado e até mutilado.

Na Carta Magna os eixos sobre comunicação ainda não foram sequer regulamentados.  Dois exemplos são gritantes. O artigo 220 proíbe as práticas de monopólio e oligopólio. Já o artigo 221 manda as emissoras de rádio e TV darem preferência a finalidades artísticas, informativas, educativas e culturais, além de valorizar a produção regional e independente.

Deputados federais e senadores proprietários de emissoras de rádio e TV, os coronéis da mídia, operam em causa própria dentro do Congresso Nacional para que a legislação garanta os seus privilégios no uso e abuso dos meios de comunicação para fins empresariais e eleitorais.

O coronelismo eletrônico atropela a própria Constituição e estende-se mesmo às pequenas rádios comunitárias, impedidas por legislação complementar (nº 9.612/98) de fazer proselitismo político ou religioso, mas controladas por grupos políticos municipais e igrejas evangélicas, salvo as honrosas exceções.

O Brasil ainda é o país onde vigora a concentração empresarial e o uso de verba pública para conduzir apoio político-eleitoral aos mandatários municipais, estaduais e ao federal.

Nem nos governos do PT este vício foi alterado. Lula e Dillma seguiram a mesma cartilha dos tucanos e seus antecessores, privilegiando as Organizações Globo na fruição do dinheiro público.

O mais primitivo de todos, José Sarney, abusou da distribuição das concessões de rádio e TV para negociar o mandato presidencial de cinco anos.

Jair Bolsonaro, por sua vez, faz ameaças explícitas aos meios de comunicação e até insinua usar o controle das verbas publicitárias para coagir linhas editoriais.

Nesses 30 anos, bons ventos sopraram quando da realização da I Conferência Nacional de Comunicação, em 2009, reunindo quase 1500 delegados e delegadas dos segmentos empresarial, estatal e os movimentos sociais para debater, entre outros temas, a regulamentação dos temas da comunicação na Constituição de 1988.

Depois de quatro dias de debate e quase 600 proposições aprovadas, quase nada efetivou-se. Até mesmo o Conselho de Comunicação Social foi apropriado pela burguesia radiodifusora.

O país perdeu o time de sistematizar regras minimamente democráticas e republicanas para as comunicações. Agora está tomado pela indústria da mentira deslavada solapando o jornalismo tendencioso.

Nosso problema civilizatório nem é mais a força das Organizações Globo, mas o império das fake news decidindo a eleição para o cargo mais importante da República.

Imagem: reprodução / capturada neste site

Categorias
notícia

“Acreditar, eu não”

Eloy Melonio

Acreditar ou não acreditar é, hoje, um dos dilemas mais difíceis dos usuários das redes sociais.

Não resta dúvida que “acreditar” é o verbo do momento. Compete com alguns poucos ao posto de “o mais importante” do universo digital. Entre eles, “empoderar” (que só consta em versões atualizadas dos dicionários), “seguir”, “pontuar”… e “coach” (sem versão em português). Este, inclusive, chamou minha atenção numa placa na parede de um prédio que dizia: I am coaching kids.

E assim, numa das acepções do Aurélio, acreditar é “confiar”. E é exatamente aí que mora o problema: confiar em quem, ou confiar em quê?

A torcida do Atlético-MG adotou o lema “Eu acredito” a partir da Copa Libertadores das Américas de 2013. E quando esse grito ecoava nas arquibancadas, torcida e time se fortaleciam para superar situações adversas e se enchiam de confiança na conquista do tão sonhado título inédito. E não é que deu certo!

Não obstante, acreditar, especialmente em coisas veiculadas nas redes sociais, não é tão simples ou seguro. É que hoje pisamos em terreno fértil para a disseminação de notícias falsas. Com o advento da comunicação digital, a verdade anda meio perdida num cipoal de dúvidas e confusão. Mente-se com a cara de pau de um malandro do bar da esquina. Planta-se uma mentira como quem planta uma semente de girassol.

Na propaganda gratuita na TV, a fala solta dos candidatos a presidente se enche de promessas que, sem nenhum filtro, chegam a milhões de lares por todo o país. Não estou dizendo que mentem antecipadamente, mas apenas lembrando que o que dizem hoje já foi dito ontem. Daí a dúvida dos eleitores. Se fizerem 50% do que prometem, nosso país entrará, em apenas quatro anos, para a rol dos desenvolvidos.

Com a mesma percepção, Tadeu Schmidt, apresentador dos Gols do Fantástico (9-9-2018), depois de ouvir algumas promessas do cavalinho do Internacional, forte candidato ao título do Campeonato Brasileiro, retrucou cético: “Qué isso, cavalinho? Parece até candidato!”

Minha inquietação é com a facilidade com que as pessoas, nas famigeradas redes sociais, repassam notícias sem nenhum filtro ou verificação da fonte. As “fake news” viajam na velocidade da luz em todas as direções. É com razão que o poeta detona: “Desconfio que estou ficando louco… /Tanta coisa me passa na cabeça,/ Que se senso me resta é já bem pouco.” (Via-Sacra e Outros Poemas, Marcelo Gama). Parece que o velho bom senso anda mesmo sumido nestes tempos de “passa-repassa”.

Um contato do WhatsApp me enviou um texto, pedindo que eu o repassasse. Respondi-lhe prontamente: “Não creio que este texto seja do juiz Sérgio Moro. Por dois motivos simples: ele não se inclinaria a falar abertamente sobre um assunto tão baixo, e o texto contém erros gramaticais secundários, o que não seria típico de um juiz de sua categoria”. E alfinetei: fake texto é fake news. Sua resposta, curta e seca: “É. Pode ser”.

Esse “pode ser” revela que ele não tinha certeza do que estava repassando. E, mesmo assim, não se limitou a verificar se o texto (e o contexto) fazia mesmo algum sentido. Ao contrário, de forma compulsiva e inescrupulosa, empenhou-se em “repassar” e pedir aos destinatários que fizessem o mesmo. E assim, mais uma vez recorro à poesia para elucidar tal atitude: “Enquanto a mentira berra, a verdade sussurra” (poema “A verdade e a mentira”, de Augusto Pellegrini).

As celebridades ― e agora os “digital influencers” ― gabam-se de ter milhares ou milhões de seguidores, cifras de dar inveja a Jesus Cristo. E com esse poder em seus dedinhos, vendem seus conteúdos (se possível, exagerando) para propagar pontos que visam a empoderar seus contratantes, em geral políticos e partidos. E de tal forma, o poder das palavras (e sua reputação) nunca esteve em tão alta evidência! Hoje todo mundo sabe tudo sobre todo mundo e sobre todas as coisas.

E assim, arrisco-me apenas a, de forma irônica, parafrasear uma citação de Latino Coelho: “De todas as artes a mais influenciadora, a mais empoderada, a mais lucrativa, é sem dúvida a arte da mentira”*.

Recorrendo mais uma vez à poesia, exalto o primeiro verso de um grande samba da saudosa Dona Ivone Lara: “Acreditar, eu não”. Dito isto, seria de bom alvitre se não nos deixássemos enganar por notícias que não têm raízes em fonte fidedigna, no bom senso ou na coerência.

Acredite ou não, confiar no que se lê e no que se ouve por aí está ficando cada vez mais perigoso.

Eloy Melonio é professor, escritor, compositor e poeta

______

(*) “De todas as artes a mais bela, a mais expressiva, a mais difícil, é sem dúvida a arte da palavra.” (Latino Coelho, A Oração da Coroa)

Categorias
Notícias

Após acidente, Zé Reinaldo mantém candidatura ao Senado

Em nota, o deputado federal José Reinaldo Tavares (PSDB), por meio da sua Assessoria de Comunicação, informa que está firme na disputa para o Senado, em 2018.

O posicionamento do parlamentar corrige versão distorcida veiculada na blogosfera acerca de uma eventual desistência da candidatura, em decorrência de um acidente sofrido por Zé Reinaldo Tavares e sua esposa, no dia 1º de julho, em uma estrada na região dos Lençóis Maranhenses.

“A bem da verdade e por respeito aos profissionais da imprensa maranhense que honram e dignificam seu ofício, reafirmamos que o ex-governador e deputado federal Zé Reinaldo Tavares (PSDB) é pré-candidato ao Senado Federal, encontra-se sempre à disposição de qualquer comunicador para eventuais dúvidas ou esclarecimentos necessários”, disse a nota.

Veja abaixo a posição oficial do parlamentar-candidato.

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Com relação à informação publicada nesta terça (3/7) na página eletrônica luispablo.com.br, intitulada “Zé Reinaldo pretende desistir da pré-candidatura ao Senado após o acidente” e em cumprimento a um dos artigos fundamentais do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, que prescreve: “o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação” (Art. 4º), esclarecemos o que segue:

1 – Trata-se de uma notícia falsa (fake news), cujo conteúdo não foi apurado junto à assessoria do parlamentar ou ao próprio deputado federal, constituindo-se em embuste que ludibria leitores e confunde a opinião pública;

2 – Ao afirmar “o ex-governador e deputado federal José Reinaldo Tavares tem pensando em desistir da sua pré-candidatura ao Senado. Motivo: o grave acidente que sofreu no domingo, dia 1, próximo a (SIC) entrada da cidade de Santo Amaro, por volta das 17h, na BR 402, região dos lençóis maranhenses”, o autor lesa a verdade, além de agir com desrespeito e má fé diante de um acidente grave que, por pouco, não termina em tragédia;

3 – A citação: “Zé Reinaldo tem sido aconselhado pelos amigos mais próximos a deixar a corrida eleitoral de senador e tentar sua reeleição à Câmara Federal” não é ratificada por nenhuma fonte, amigo ou informante – o que demonstra a intenção leviana de disseminar a fraude.

A bem da verdade e por respeito aos profissionais da imprensa maranhense que honram e dignificam seu ofício, reafirmamos que o ex-governador e deputado federal Zé Reinaldo Tavares (PSDB) é pré-candidato ao Senado Federal, encontra-se sempre à disposição de qualquer comunicador para eventuais dúvidas ou esclarecimentos necessários.

São Luís, 3 de julho de 2018

Assessoria de Comunicação Estratégica e Núcleo de Coordenação Política do Deputado Federal Zé Reinaldo Tavares

Categorias
Artigos

Cafeteira de 1994 é símbolo da pós-verdade

Reza o ditado que a mentira tem pernas curtas, mas o fenômeno “fake news” diz o contrário: impostura tem pernas longas e passadas ligeiras.

A pós-verdade, base filosófica da notícia falsa, teve o auge na eleição de Donald Trump em 2016 nos Estados Unidos e no plebiscito que determinou a saída do Reino Unido da União Europeia, o brexit.

Mas, falsear a verdade é coisa antiga.

Em 1994, na eleição para o Governo do Maranhão, uma “fake news” construída pela máquina publicitária de José Sarney foi decisiva para derrotar Epitácio Cafeteira, fabricando a vitória de Roseana Sarney.

A mentira plantada remontou a um acidente de carro, em 1988, no bairro Olho d’Água, envolvendo o ferroviário José Raimundo Reis Pacheco e o ex-vereador Hilton Rodrigues.

Pacheco teve escoriações e Rodrigues morreu.

Tempos depois, José Sarney escreveu o famoso artigo intitulado “Liberdade e Reis Pacheco”, sugerindo que Cafeteira queria vingança pela morte do sogro.

Daí em diante a narrativa evoluiu para algo bizarro, atribuindo a Cafeteira um plano macabro para sequestrar e matar Reis Pacheco.

No auge da campanha, a máquina publicitária de José Sarney já espalhara em todo o Maranhão que o favorito na eleição, Epitácio Cafeteira, seria mandante de um assassinato.

Dias antes da votação, após rigorosa investigação, a assessoria de Cafeteira descobriu Reis Pacheco vivinho da silva, morando no interior do Pará, logo providenciando a gravação de um vídeo para desmascarar a farsa.

O vídeo ficou pronto a tempo de ser exibido no último programa eleitoral, mas por esses milagres que só acontecem no Maranhão a transmissão “caiu” em várias cidades do interior.

Em 1994, sem internet, ficara impossível desfazer a farsa.

Mesmo assim a torcida por Cafeteira ainda acreditava na vitória, até que nas últimas horas da contagem dos votos veio a surpreendente virada de Roseana Sarney, com uma vantagem de aproximadamente 18 mil votos.

E assim ela virou governadora do Maranhão.

Recuo inexplicável

Derrotado em tais circunstâncias, Cafeteira recolheu as armas, deixando a torcida frustrada.

Muita gente esperava que a derrota fosse transformada em uma guerra contra Sarney, mas Cafeteira preferiu recuar.

Em 1998 ele foi novamente candidato, na tentativa de “explicar” a farsa de 1994, mas não vingou.

Roseana se reelegeu com facilidade e a oligarquia no Maranhão, atrelada ao governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), chegava ao ápice.

Para os registros é importante frisar que, apesar das dissidências pontuais, Cafeteira e Sarney não estavam em campos opostos. Ambos compuseram a mesma base conservadora do Maranhão.

Categorias
Notícias

Paulinas promove mesa redonda sobre “fake news”

Como parte das celebrações do 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais, a Editora Paulinas realiza uma sessão de diálogo com o tema “Notícias falsas e Jornalismo de paz”, inspirado no versículo “A verdade vos tornará livres” (Jo 8,32)

O evento acontece neste sábado (12 de maio), das 10h às 11h50, no auditório Paulinas Livraria, na Rua de Santana, 499, Centro, em São Luís, com acesso gratuito.

A mesa redonda será mediada pelo jornalista, radialista e professor Gilberto Mineiro, com os seguintes debatedores:

Ed Wilson Ferreira Araujo, doutor em   Comunicação (2016) pela PUCRS, mestre em Educação (2004), graduado em Jornalismo (1993) na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). É professor do Departamento de Comunicação – Curso de Rádio e TV, na UFMA. Fundador e atual presidente da Abraço (Associação Brasileira de Rádios Comunitárias) no Maranhão.

Vera Lúcia Rolim Sales, doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2008), professora colaboradora do Programa de pós-Graduação em Cultura e Sociedade. Tem experiência na área de Comunicação, Educomunicação, Comunicação e Cultura de Paz, Comunicação Comunitária, Mobilização Social e Sociologia. Atua como voluntária coordenando o projeto Comunicapaz, que trabalha com jovens na faixa de 14 a 24 anos, no bairro da Vila Embratel.

Robson Júnior, radialista e instrutor de oratória, atualmente produz e apresenta os programas de rádio “Mania matinal” e “Repórter Difusora”.

Padre Ricardo Moreira, comunicador e pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus, do bairro Bequimão.

Ricardo Alvarenga, dutorando e mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Vice-Coordenador do Grupo de Pesquisa Comunicação e Religião da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom).