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Padre com três mandatos de prefeito vai governar Alcântara, cidade espacial no Maranhão

Ed Wilson Araújo, jornalista e professor da UFMA

(parte dessa reportagem foi publicada no Uol)

Aos 78 anos de idade, o padre William Guimarães da Silva conquistou um feito inédito na historiografia política do Maranhão – ganhou a quarta eleição para prefeito, em três cidades diferentes. Teve dois mandatos no município de Guimarães e um em Santa Helena. Em 2020 ganhou a disputa em Alcântara, vencendo o atual prefeito Anderson Wilker (PCdoB), candidato à reeleição.

(A imagem aérea destacada foi capturada nesse site)

Existem dois tipos de foguetes em Alcântara: os espaciais e rojões de artifício. Estes começaram a troar no final da manhã de sexta-feira (18), quando o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) analisava o recurso do prefeito William Guimaraes da Silva (PL), eleito com 7.874 votos (60,29%). O julgamento na Corte Eleitoral era aguardado com expectativa do outro lado da baía de São Marcos, onde transitam os barcos que fazem a travessia São Luís – Alcântara. Ato contínuo à decisão do TRE, no sol a pino de meio dia, quando a terceira cidade mais antiga do Maranhão, fundada em 1648, silenciava para a sesta, o foguetório comemorava a diplomação.

Padre Wiliam agradece a Deus pela diplomação

Aos 78 anos de idade, o presbítero é um caso raro na política. Ele foi prefeito em mais duas cidades maranhenses: teve um mandato em Santa Helena (1989-1992) e dois seguidos em Guimarães (2005-2012).

Em setembro de 2020, quando registrou a candidatura em Alcântara, foi impugnado pela coligação adversária. A denúncia, acatada pelo Ministério Público Eleitoral (MPE), configurava o impedimento por improbidade administrativa. “No caso dos autos, o impugnado, no exercício do mandato de Prefeito Municipal de Guimarães/MA, teve suas contas – relativas a verbas do Convênio n.º 419/2007 (Siafi 611045), firmado em 31/12/2007 com o referido Município, advindas da FUNASA – julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas da União, em decisão definitiva, com trânsito em julgado no dia 24 de julho de 2020”, asseverou o MPE. A verba de R$ 130.790,00 (cento e trinta mil, setecentos e noventa reais) deveria ter sido aplicada na realização de um evento cultural na cidade.

A impugnação foi contestada e ele disputou a eleição, após decisão favorável do juiz titular da 52ª Zona de Alcântara, Rodrigo Otávio Terças Santos.

Vitorioso nas urnas, o padre foi obstruído em uma decisão TRE-MA. Por 6 votos a 0, os desembargadores declararam a candidatura indeferida, mas o mesmo tribunal reverteu a decisão uma semana depois, assegurando o deferimento, motivo do foguetório em Alcântara.

Nas duas cidades onde foi pároco e gestor, William Silva teve fama de pragmático, sempre aberto ao diálogo com distintas agremiações políticas. “Não sou propagandista das correntes partidárias. Eu recorro a quem pode me ajudar, tanto que eu não fico preso a um deputado estadual ou federal. Eu fico mais como amigo daquele agente político. Hoje, por exemplo, eu posso falar com o governador Flávio Dino (PCdoB) sem problemas”, traduziu.

Sua vitória eleitoral em Alcântara reuniu correligionários de vários naipes na coligação “Rumo a novas conquistas”: PL, PROS, Avante e o PT. O vice, Nivaldo Araújo, chegou a disputar a prefeitura em 2016 pelo PSOL, mas mudou para o PROS. Entre os apoiadores constam o ex-prefeito Domingos Arakem (PT) e o deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL), alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga o desvio de emendas parlamentares. “Nós somos correligionários. Eu sou filiado há seis anos no Partido Liberal. Ele [Josimar de Maranhãozinho] veio aqui no dia da convenção, fez um discurso, o povo acreditou no que ele falou e vem desde 2013 acreditando nas minhas palavras e me deu 60% de aprovação”, justificou.

Herança e quilombolas

Na troca de comando em Alcântara o religioso católico vai receber a faixa de prefeito do comunista Anderson Wilker, candidato à reeleição com 4.372 votos (33,48%). Quando tomar posse em 1º de janeiro de 2021 o padre terá problemas de toda ordem. Alcântara não tem matadouro público, rodoviária nem aeroporto. O hospital passou por obras recentemente e foi entregue sem condições ideais de funcionamento. Faltam médicos especializados, sala de cirurgia adequada, maternidade e leito de UTI.

Pelos dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES) do Governo do Maranhão, Alcântara teve 202 casos confirmados de covid19 e oito óbitos computados até 28 de dezembro de 2020.

Segundo William Silva, a cidade tem seis ambulâncias para transportar os doentes às cidades mais próximas. Além disso, o abastecimento de água potável, as condições precárias das estradas rurais, o transporte marítimo para São Luís, a iluminação e limpeza públicas, os equipamentos de segurança, a infraestrutura para o turismo e a Previdência Municipal são listados pelo prefeito diplomado como prioridades nos 100 primeiros dias de gestão.

Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão
Imagem: AEB/Divulgação

Como se não bastassem as tarefas enumeradas, ele terá de administrar uma eventual segunda onda de remoção dos quilombolas, arrolados no Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) assinado entre o Brasil e os Estados Unidos, que prevê a expansão do complexo espacial em novas áreas do Território Quilombola de Alcântara. Em março de 2020, a Resolução nº 11, assinada pelo ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Augusto Heleno, ordenava a retirada de moradores da nova área pretendida pelo Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro (CDPEB). A execução das mudanças não chegou a ser cumprida devido à reação de várias entidades de direitos humanos e parlamentares, que argumentaram, entre outros aspectos, o impacto da remoção sobre aproximadamente 300 famílias no início da pandemia covid19.

Praia no quilombo Mamuna é uma das áreas pretendidas
pela expansão da Base Espacial. Foto: Adilson Zavarize

“Estamos buscando entendimento com a Base Espacial para que não aconteça o que ocorreu há 35 anos. Na época prometeram uma remoção digna e até hoje nada vezes nada. Quanto aos que ainda permanecem nos povoados não remanejados nós queremos evitar o mínimo de choque e aplicar as condições dignas, porque ninguém vai ser remanejado à toa. Nós queremos a garantia de que a remoção aconteça em condições humanas e de desenvolvimento”, advertiu o futuro prefeito.

Expectativas, gerações e mulheres

Se na zona rural a vida é dura, na sede do município a pobreza salta aos olhos. Helena Cristina Martins, 41 anos, tem três filhos. Ela e o marido estão desempregados. “O município em geral está precisando de tudo, principalmente na saúde. Foi inaugurado o hospital, mas falta ainda muita coisa, entendeu? Eu gostaria que fosse feito um concurso público para ter oportunidade, mesmo que seja para gari. O que importa é ter um trabalho em meio a essa pandemia”, pontuou.

O orçamento geral do município em 2020 operou com receita de R$ 72.347.365,00 (Setenta e dois milhões, trezentos e quarenta e sete mil, trezentos e sessenta e cinco reais). De acordo com o Plano Plurianual (2018-2021), principal instrumento de planejamento governamental, a previsão de receita do Tesouro Municipal para o exercício financeiro de 2021 é de R$ 73.613.444,00 (Setenta e três milhões, seiscentos e treze mil, quatrocentos e quarenta e quatro reais).

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estima a população de 2020 em 22.112 habitantes, distribuídos entre a sede e 204 povoados, dos quais cerca de 60 são comunidades quilombolas. Apenas 6,5% dos domicílios têm esgotamento sanitário adequado e a taxa de mortalidade infantil média na cidade é de 4.37 para 1.000 nascidos vivos.

Vinícius compara Alcântara a Ouro Preto
Foto: Ed Wilson Araújo

Enraizado em família tradicional de Alcântara, o cozinheiro Vinícius Menezes Maciel, 31 anos, vê no turismo o principal ativo da economia local. “Aqui tem o potencial de Olinda e Ouro Preto, só que a cidade está largada às traças”, resumiu. Apesar do pessimismo com as gestões anteriores, ele tem esperança na experiência administrativa do padre prefeito.

Proprietária de um pequeno restaurante na famosa “Ladeira do Jacaré”, um dos acessos ao porto principal de Alcântara, Maria do Rosário Pereira Vieira sonha com a cidade “limpa, bonita e bem organizada”, além de mais qualificação dos guias de turismo. A saúde também foi mencionada entre as suas preocupações. “Espero que mantenham o hospital inaugurado agora bem de médicos, enfermeiros, remédios e limpeza, porque isso é muito importante”, enfatizou.

Pescador e operário da construção civil, Kleber Ribeiro, 41 anos, trabalha atualmente como taxista. “Espero que o prefeito faça um bom mandato na saúde. A gente vai no hospital e não tem nada. Está construído, mas o telhado está horrível e o serviço foi mal feito”, apontou.

Maria Vieira quer a cidade limpa
Foto: Ed Wilson Araújo

Uma novidade nos próximos quatro anos é a representação feminina no parlamento de Alcântara. Das 11 cadeiras na Câmara Municipal, duas serão ocupadas por mulheres. Na legislatura anterior (2016-2020) todas as vagas foram preenchidas por homens. A vereadora eleita Maria do Nascimento França Pinho (“Menca” Pinho), 42 anos, obteve 337 votos (2,58%). Ela é originária do povoado Peru Velho e pautou a campanha no protagonismo feminino, inspirada na deputada federal Tabata Amaral (PDT). Pedagoga e estudante de Serviço Social, foca ainda na educação e computa na carreira sua experiência de gestora titular na Secretaria Municipal de Assistência Social de 2017 a abril de 2020.

Fé e política

William Silva nasceu em 21 de fevereiro de 1942, no povoado Santa Rita de Cardoso, em Guimarães, cidade onde viria a ser prefeito de 2005 a 2012. A sua relação com Alcântara remonta a 1962, quando aterrissou na cidade para ser professor, a convite de missionários canadenses. Naquela época ele já estudava em colégio católico e entrou para o seminário, obtendo a ordenação em 5 de janeiro de 1973.

Depois das passagens por Santa Helena e Guimarães, voltou ao pastoreio em terras alcantarenses, percorrendo a zona rural no trabalho das Santas Missões Populares e das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Na sua formação em seminários de Fortaleza, Recife, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Roma, recebeu influência da Teologia da Libertação e chegou a ter palestras sobre espiritualidade com figuras emblemáticas da Igreja progressista, como Dom Paulo Evaristo Arns e Dom Agnelo Rossi, além da convivência com os frades dominicanos.

A eleição de 2020 foi marcada também por um encontro de gerações. O vereador eleito Robson Corvelo, 39 anos, quando criança foi coroinha na igreja administrada pelo então pároco William Silva. Corelo obteve 353 votos (2,67%) e disputou na coligação de Anderson Wilker, atual prefeito derrotado na tentativa de reeleição. “Apesar das diferenças políticas, não me taxo como oposição ao padre William e vou atuar na Câmara dos Vereadores ao lado do povo”, esclareceu.

Padre exibe o diploma de prefeito com a oração
do Pai Nosso acima. Foto: Ed Wilson Araújo

As sucessivas vitórias eleitorais do padre somam fé e política. “Primeiro vem Deus. Eu faço meu trabalho de evangelização. Sou um catequista, buscando a libertação das pessoas”, detalhou, explicando que durante o mandato de prefeito não pode exercer cargos administrativos na Igreja, de acordo com o Código de Direito Canônico.

A Teologia da Libertação é fruto do Concílio Vaticano II (1962-1965), uma tendência de renovação teológico-eclesial da Igreja latino-americana, baseada na opção pelos pobres e fortalecimento dos laços entre fé e política nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que mobilizava os religiosos para o trabalho pastoral no meio popular.

Para o arcebispo de São Luís, Dom José Belisário da Silva, esta perspectiva contrastava outra orientação da Igreja, o Concílio de Trento (1545 a 1563), esteio do catolicismo tridentino, fundamentado na disciplina, rigor acadêmico, ortodoxia religiosa, celibato e obediência à hierarquia. A opção pelos pobres caracterizava uma “rebelião contra a disciplina tridentista” e via no papel do padre um militante social junto do povo, explica o escritor Kenneth Serbin, na obra “Padres, celibato e conflito social: uma História da Igreja católica no Brasil”

Embora a Teologia da Libertação tenha sido uma das inspirações na sua formação eclesial, o padre William Silva é pragmático nas campanhas eleitorais e nos mandatos. Na entrevista concedida para esta reportagem, o foguetório e o telefone não paravam de tocar, festejando os afagos de eleitores e políticos. Ao longo da sua carreira orgulha-se do trânsito junto a várias personagens influentes do Maranhão, sem discriminação. “Eu não me ative a programa de partido nem ideologias. O que primava em mim era o apoio à coletividade, através das emendas”, ressaltou.

Beirando os 80 anos, o futuro prefeito vai encarar a cidade com um passivo administrativo herdado de vários gestores, há décadas. Nesse lugar de tecnologia aeroespacial, o único hospital do município não tem UTI em plena pandemia covid19.

Ladeira do Jacaré, principal via de acesso ao
porto de Alcântara. Foto: Ed Wilson Araújo

Mas Alcântara, apesar de tudo, tem seus encantos. É uma cidade cênica a céu aberto. Tem o charme da arquitetura colonial, ruínas de igrejas e palácios projetados para receber o imperador (Dom Pedro II) em uma visita prevista para 1870 que nunca aconteceu. É agitada nos tradicionais festejos do Divino Espírito Santo e São Benedito, pacata no visual dos sobradões, ruas e calçadas de pedra, praias exóticas, comunidades quilombolas com variados atrativos culturais e amplo potencial turístico.

Antiga vila de Tapuitapera, de ruas semidesertas, onde a vida corre lentamente, a velha cidade fundada em 1648 completou 372 anos em 22 de dezembro. Vista em panorâmica, a paisagem tem tons de ubiquidade. Passado e futuro estão no mesmo lugar. Foguetes rápidos no céu contrastam o toque lento dos sinos das igrejas na terra.

Votação dos candidatos à Prefeitura

William Guimaraes da Silva (PL) – 7.874 votos – 60,29%

Anderson Wilker de Abreu Araújo (PCdoB) – 4.372 votos – 33,48%

João Francisco Leitão (PODE) – 715 votos – 5,47%

Antonio Rosa Cruz Pereira (PSL) – 99 votos – 0,76%

Vereadores eleitos em Alcântara

Valdemir Souza Pereira (PL) – 624 votos – 4,72%

Lazaro Vivino Amorim (PDT) – 604 votos – 4,57%

Claudielson Basson Guterres (Avante) – 452 votos – 3,42%

Dyna Nathalia Silva Barbosa (PDT) – 430 votos – 3,25%

Miecio Moraes Macedo (PL) – 380 votos – 2,87%

Nilson dos Santos Pereira (PL) – 366 votos – 2,77%

Robson Mendes Corvelo (PP) – 353 votos – 2,67%

Jose Mario de Jesus Barbosa (PCdoB) – 341 votos – 2,58%

Maria do Nascimento França Pinho (PP) – 337 votos – 2,55%

Joedes Luiz Melo Dias (PROS) – 298 votos – 2,25%

Marivaldo Barbosa Soares Campos (PROS) – 266 votos – 2,01%

Votos em branco: 177 (1,29%)

Nulos: 435 (3,18%)

Abstenção: 4.050 (22,85%)

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O grafite de Beto Diniz: maranhenses com muito orgulho

Texto e fotos: Marizélia Ribeiro, para Agenda Maranhão

No meu mais recente passeio pelo Centro Histórico de São Luís, me surpreendi e me apaixonei pelo magnífico mural do grafiteiro Beto Diniz, um artista plástico maranhense e psicopedagogo de Itapecuru-Mirim.

O mural, situado em frente do Mercado do Peixe, no anexo do Museu da Memória Audiovisual do Maranhão (Mavan), está iluminado pelo colorido de embarcações e por vinte personalidades ou nascidos em terras maranhenses ou que se integraram e deixarem seus nomes escritos na história do Maranhão, todos identificados pelos nomes.

Representam a Cultura, a Saúde, o Esporte, a Política e a luta pela dignidade humana. Tudo isso tendo como pano de fundo uma das torres da Igreja do Desterro. Eles foram escolhidos pelo Mavan porque estão em documentários produzidos pela Fundação Nagib Haickel. O museu funciona no prédio da antiga Companhia de Navegação Jaracati.

Vale à pena apreciar, seguindo a sequência do painel, o fotógrafo Ribamar Alves, o radialista Roberto Fernandes, Coxinho cantador do bumba-meu-boi de Pindaré, o missionário português padre Antônio Vieira, o compositor/músico João do Vale, o comerciante/político Nagib Haikel, o escritor Josué Montello, o engenheiro urbanista/ex-prefeito de São Luís Haroldo Tavares, o escultor Celso Antônio, a artista plástica Dila, o jornalista/poeta/escritor Bandeira Tribuzi, o lutador Zulu, o jogador de futebol Canhoteiro, o escritor/historiador Carlos de Lima, a folclorista/pesquisadora Zelinda Lima, a xilogravurista Tita, a professora/médica/defensora dos direitos humanos Maria Aragão, o compositor/cantor Mestre Antônio Vieira, a professora/farmacêutica/fitoterapeuta Terezinha Rêgo e o cinegrafista Lindberg Leite.

Pela arte de Beto Diniz e pelas personalidades, o mural deverá entrar no circuito cultural de São Luís. Bom será se os documentários possam ser vistos pelos visitantes.

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Festival Conexão Dança acontece de 26 a 29 de dezembro em formato online

11ª edição do Festival Conexão Dança será 
transmitida através de site e canal no YouTube 

Acreditando na potência de um trabalho em rede, reconhecendo a diversidade de corpos, artistas residentes no Maranhão foram convocados a participar com trabalhos em vídeo ou transmitidos ao vivo, incluindo vídeo-dança, vídeo-arte, performance, processos, dança para criança, experimentos sonoros, oficinas remotas, falas, ou qualquer proposta que instigue a dança e o corpo a se manifestar nesta edição do Conexão Dança que acontece em formato online por conta da pandemia da Covid 19.   

A 11ª edição do Festival Conexão Dança acontece do dia 26 a 29 de dezembro através do site www.conexaodanca.com.br e do canal do YouTube do festival com ações artísticas e formativas para a dança contemporânea, tendo o objetivo de apresentar ao público a produção e o pensamento desse universo por meio de oficinas, performances, mostra de vídeos e debates.  

Um destaque do festival este ano é a realização da primeira batalha de Vogue do Maranhão, a “MaraBaque”, que contou com participação de  artistas e apresentação de Cintia Sapequara, Enme Paixão e DJ Butantan. As jurades da batalha foram Davi Rebolativo, Eliara, Frimes, Pepe Poeta Marginal e Wand Albuquerque que também contribuíram para a construção desse momento histórico da dança no Maranhão. 

Esta edição do Festival Conexão Dança é realizada com recursos da Lei Aldir Blanc Lei nº 14.017 por meio da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão.  

Serviço

O quê: 11ª edição do Festival Conexão Dança em formato online.

Redes Sociais: @conexaodanca_slz no Instagram e @conexaodanca no Facebook. 

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Lembranças do Amapá antes do apagão: trabalho ambiental e turismo na Amazônia

O Amapá tem uma localização privilegiada. É cortado pela linha do Equador, está encravado na maior floresta do mundo e a capital, Macapá, é a única do Brasil banhada pelo rio Amazonas

Chegada ao Porto de Santana, atracadouro principal do Amapá

Em 2010 fiz uma viagem de barco entre Belém e Macapá, capital do Amapá. Foram 27 horas navegando pelos rios da Amazônia a bordo de uma embarcação típica daquela região. Naquelas águas transitam pessoas do Norte e Nordeste do Brasil por diversos motivos: busca de trabalho, visita aos parentes, tratamento de saúde, mudanças de cidade, turismo e lazer.

Pássaros acompanham os barcos na hora do almoço

Durante o trajeto, além da riqueza cultural das personagens dentro do barco, é possível conhecer as belezas e as mazelas de uma parte da Amazônia.

O repórter nas águas da Amazônia

Na viagem encontrei uma família que estava dispersa há 20 anos e se reconectou através de cartas e mensagens enviadas para emissoras de rádio.

Veja a reportagem aqui e aqui

Uma década depois da minha viagem, Macapá ganha visibilidade na mídia nacional devido ao apagão que atingiu vários municípios do Amapá.

Fico tentando imaginar o sofrimento das pessoas diante da situação e a morosidade do governo federal para tomar providências e solucionar o problema.

Macapá estava invisível até então e só entrou no noticiário nacional em decorrência da tragédia.

Bem antes do apagão de 2020 registrei vários atrativos da orla de Macapá, também chamada “Zaguri” ou “Lugar Bonito”.

Panorâmica do “Zaguri” ou “Lugar Bonito”
Kitesurf na orla do rio Amazonas

É uma parte da cidade ao longo da margem do rio Amazonas onde está localizada a Fortaleza de São José e todo o entorno qualificado com pistas de caminhada, restaurantes, lanchonetes, pistas de caminhada e outros equipamentos destinados às práticas esportivas e de lazer.

Opções de alimentação e lazer no “Zaguri” ou “Lugar Bonito”

Um dos atrativos é um VLT turístico instalado em uma plataforma sobre a margem do rio.

Educação Ambiental

A viagem de 2010 trouxe à minha memória outra ida às terras amazônicas. Em 2001 fiz a primeira viagem ao interior do Amapá, em um trabalho de consultoria para implantar rádios comunitárias nas reservas extrativistas de Maracá e Cajari.

Através da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), o projeto “Caravana Ambiental” trilhava as estradas do Amapá a bordo de uma perua (carro semelhante a uma van) com uma equipe multidisciplinar.

Os técnicos da Sema adaptaram o carro com um sistema de som denominado “rádio ambiental” e outros equipamentos didáticos como teatro de bonecos e projetor de filmes – o “cine ambiental”.

Além da “Caravana Ambiental”, a Sema ambicionava instalar estações de rádio FM nas próprias comunidades com o objetivo de melhorar o potencial de comunicação junto aos povos extrativistas e ribeirinhos.

Passei uma semana em uma escola agrícola localizada a 200 Km da capital (Macapá), ministrando aulas no projeto de montagem das emissoras comunitárias que posteriormente iriam atuar no trabalho educativo voltado para o desenvolvimento sustentável.

Reportagem sobre a “Caravana Ambiental” no Amapá

À época, registrei todo o trabalho em uma reportagem publicada no Jornal Pequeno (veja imagens), contanto detalhadamente as atividades desenvolvidas em prol do meio ambiente em Macapá.

Como se pode observar, existe uma variada agenda positiva nos territórios do Brasil. O Amapá é um deles.

VEJA MAIS IMAGENS

O repórter na cabine do barco
Acesso à Fortaleza São José
Entrada principal da Fortaleza São José
Guarita da Fortaleza São José e vista para a plataforma do VLT
Fortaleza São José tem vista para o rio Amazonas
Parte interna da Fortaleza São José
Praça em Macapá
Ruínas na Fortaleza São José
Canhões na Fortaleza São José
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Casarão no Centro Histórico vai sediar o Iema Cultura e Turismo

Como parte das ações do Programa Nosso Centro, de revitalização do Centro Histórico, as Secretarias de Estado de Cidades e Desenvolvimento Urbano (Secid) e de Educação (Seduc) avançaram nas tratativas para implantação de mais uma Unidade Vocacional do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (Iema). 

Até então desocupado, o prédio de 430 metros quadrados está localizado na praça João Lisboa, ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Foi adquirido pela Secid e cedido para a implantação da Unidade do Iema dedicada à formação de profissionais para atuação nos setores de cultura e turismo.

Para o secretário de Cidades, Raimundo Reis, a ação é mais uma importante iniciativa do Governo do Maranhão para revitalizar o Centro Histórico.

“O Programa Nosso Centro é a maior iniciativa do poder público estadual para revitalizar o Centro Histórico. Além da revitalização do rico acervo arquitetônico, com recuperação das edificações, o programa inclui também os pólos habitacional, cultural, tecnológico, turístico, comercial e gastronômico, compondo uma verdadeira mudança de paradigma na dinâmica da cidade e do Centro”, disse.

“A Unidade Vocacional do Iema Cultura e Turismo faz parte do esforço concentrado do Governo para dar mais oportunidades de crescimento profissional aos maranhenses. Com este prédio cedido pela Secid, teremos mais espaço para promover ensino nessa localização privilegiada, no coração do Centro Histórico, e que tem tudo a ver com a proposta pedagógica dessa nova unidade”, avaliou o diretor de Planejamento Administração do IEMA, Emanuel Denner.

Próximo passo

Situado no Coração do Largo do Carmo, número 243, o prédio para implantação do Iema Cultura e Turismo passará por avaliação técnica para definição de reparos e instalação de equipamentos.

“O imóvel tem infraestrutura física muito sólida. Após essa entrega formal pela Secid, vamos acionar técnicos para avaliar quais os reparos internos são necessários para que a unidade possa funcionar adequadamente”, explicou Emanuel Denner.

Nosso Centro

Para garantir a preservação e recuperação dos imóveis históricos no Centro da cidade, a Secid atua em diversas frentes. O Programa Adote um Casarão destinou 12 prédios na região para a implantação de empreendimentos. A Secid também firmou parceria para a recuperação de prédios em ruínas e garantiu a reforma de edificações para moradia na região.

A secretária adjunta de Assuntos Metropolitanos da Secid, Arlene Vieira, explica esse processo. “O Programa Nosso Centro é uma espécie de guarda-chuva de projetos envolvendo diversas secretarias de Estado num somatório de esforços para desenvolver a região do Centro de forma sustentável, tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de vista social. O Programa Adote um Casarão, em particular, cede temporariamente imóveis que pertencem ao Governo e que estejam subutilizados ou em desuso para a implantação de empreendimentos em diversas áreas, beneficiando a sociedade com mais emprego e circulação de pessoas na região”, informou Arlene Vieira.

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Operadores do obscurantismo contra a vacina

A conversa seguia animada. Dois jornalistas durante o almoço dialogavam com o casal proprietário do pequeno restaurante próximo a uma grande faculdade. Falávamos sobre o ano difícil da pandemia e o movimento do comércio atrelado ao calendário escolar interrompido em 2020.

Dois meses por ano, nas férias, aqui é meio parado e com a pandemia ficou pior, registrou o marido.

Quando chegar a vacina as coisas vão melhorar, confortaram os jornalistas.

De rompante, a esposa atravessou a conversa e decretou:

Eu não vou tomar vacina e nunca vacinei meus filhos nem os netos!

A partir desse momento choveram teorias da conspiração e outros relatos obscurantistas contra a Ciência. As crenças iam desde a introdução de doenças pela vacina até a suposta “máfia dos laboratórios”.

Obesa, a proprietária do restaurante disse não tomar nenhum tipo de remédio oriundo da indústria farmacêutica.

– Se eu tiver uma tontura, chego em casa e coloco meus pés em uma bacia de água fria. Aí essa frieza vai para o cérebro e isso daí cura, sacramentou.

O marido, por sua vez, elocubrava outras tantas narrativas, cada qual mais estranha, a exemplo do assassinato de cientistas chineses dentro de uma casa que explodiu. Bum!

Esse tipo de situação enfatiza a poderosa indústria da desinformação, um negócio altamente lucrativo criado por empresários e corporações baseados em teorias da conspiração, obscurantismo e negação das instituições científicas e do Jornalismo.

A máquina de desinformação fundada em crenças e convicções espalha no mundo inteiro uma estratégia definida em vários operadores com maldita eficácia na mente dos incautos.

Vejamos alguns exemplos de como a desinformação cavalga, através das falácias, um “método” baseado em argumentos inconsistentes com o objetivo de confundir o interlocutor ou induzir a pessoa e erro por falta de conhecimento da realidade.

Veja alguns tipos de falácias:

“Eu vi em uma reportagem” é uma frase dita repetidamente sobre algum tipo de teoria conspiratória. Trata-se um tipo de operador baseado em fonte desconhecida ou genérica, sem checagem, que circula facilmente nos aplicativos de mensagens dos aparelhos celulares;

“A verdade sobre as vacinas” geralmente titula vídeos atribuídos a cientistas renomados, só que as supostas autoridades acadêmicas são às vezes pessoas comuns sem qualquer mérito em instituições de pesquisa. O operador desse tipo é a autoridade falsa;

“A mídia é mentirosa” traduz um bordão usado para desacreditar a instituição Jornalismo e, dessa forma, negar os relatos objetivos construídos pelo trabalho profissional dos meios de comunicação. Eis aí o operador clichê, usado para refutar qualquer tipo de argumento baseado em fatos, estatísticas e provas;

“Acidentes matam mais que vacina” é outra frase inconsistente para comparar coisas sem equivalência. Os “advogados” dessa sentença dizem que as mortes no trânsito são mais evidentes e nem por isso tem lockdown. Esse operador chama-se falsa equivalência. É o mesmo que comparar caju com abacaxi, algo absurdo e fácil de refutar: acidentes não são contagiosos como um vírus e; portanto, não podem ser comparados a uma pandemia.

No próximo texto vamos conversar sobre o “dragão invisível”.

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Novos espaços de lazer ampliam qualidade de vida em várias regiões do Maranhão

Após longo período de isolamento em massa para conter a propagação do coronavírus, o Maranhão começou a flexibilizar, em junho deste ano, o isolamento social com a reabertura limitada dos Parques do Itapiracó e do Sítio Rangedor, espaços de lazer construídos e geridos pelo Governo do Maranhão.

Especialistas em saúde mental apontam que o uso de áreas verdes e espaços públicos pode ser de grande valia para a vida urbana no pós-pandemia. Mas enquanto ainda não existe oferta de vacina no Brasil, o Maranhão aposta na reativação gradual dos espaços de lazer e na criação de novos parques e equipamentos para usufruto do convívio social, em meio a um cenário sanitário ainda limitador e marcado de incertezas.

Antes mesmo da pandemia, a construção de espaços públicos de lazer já era uma das prioridades da atual gestão estadual, como ressaltou o governador Flávio Dino. “Entre praças e parques, já entregamos mais de 100 obras que democratizam as cidades”, declarou o governador. 

Conheça alguns dos equipamentos de lazer que foram entregues à população maranhense no ano da pandemia:

Parque Ambiental do Sucupira em Timon

Com uma área de 70 mil m², o Parque Ambiental do Sucupira em Timon conta com academia ao ar livre, quadras, pista de skate, campo society, áreas de ciclismo e caminhada, parque infantil inclusivo, calçadão, bancos, iluminação de LED, estacionamento, esplanada, Praça do Sol, talude e área sombreada.

A obra foi executada pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) com apoio da Secretaria de Estado de Governo (Segov), por meio de uma parceria entre o Governo do Maranhão e a Prefeitura de Timon, responsável pela administração.

Praça dos Poetas

Praça dos Poetas é mais um equipamento social no Centro Histórico (Foto: Divulgação)

Espaço dedicado para homenagear as gerações de poetas e escritores maranhenses, a Praça dos Poetas se junta a outros espaços de lazer e cultura da capital que foram revitalizados. 

O espaço conta com um mirante e, no trajeto até ele, são homenageados dez escritores e poetas maranhenses: Ferreira Gullar, Catulo da Paixão Cearense, Nauro Machado, Sousândrade, Bandeira Tribuzzi, José Chagas, Gonçalves Dias, Maria Firmina, Dagmar Destêrro e Lucy Teixeira.

Há também um painel rotativo, que a cada mês celebra a obra de outros literários. O painel inaugural trouxe o soneto Miritiba, do escritor maranhense Humberto de Campos. 

A Praça dos Poetas tem 1.130 m² e possui, ainda, quiosques, banheiros públicos e tratamento paisagístico, além de detalhes arquitetônicos que remontam o colonial e o moderno.

Nova Praça do Cohatrac

Espaço onde tradicionalmente é celebrada a festa católica em celebração ao Círio de Nazáre, a Praça do Cohatrac agora tem equipamento para acesso à internet, local aberto para a realização de eventos, salão de eventos com banheiro acessível, concha acústica, construção de praça de alimentação, espaços de vivência com grafite, área de jogos e playground, além de adequação de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida e instalação de novos mobiliários (bancos, lixeiras), nova iluminação e academia de saúde.

Praça do Cohatrac foi completamente reformada (Foto: Divulgação)

Nova REFFSA

Totalmente restaurado com base em um projeto arquitetônico que respeitou as características originais da edificação fundada em 1929, a antiga estação da REFFSA, no Centro de São Luís, foi reaberta e passou a abrigar um moderno espaço de cultura, com direito a Museu Ferroviário e Portuário e a Locomotiva Hub, espaço high tech para fomento de startups concebidas no ambiente universitário. 

Desde que foi reaberto, a exibição de videomapping e a decoração natalina na nova REEFSA vêm atraindo a população, mas o acesso é limitado e exige aferição da temperatura dos usuários, uso de máscaras de proteção e o respeito ao distanciamento social.

Imagem destacada / Parque Ambiental de Timon possui uma área de 70 mil m² (Foto: Divulgação)

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Documentário inédito por 38 anos revela censura na UFMA e resistência dos estudantes na década de 1980

Por João Ubaldo Moraes (jornalista e documentarista)

Texto publicado originalmente no site Agenda Maranhão

Este ano, lamentavelmente, perdemos para a Covid-19, o amigo Roberto Fernandes, um dos mais completos jornalistas de nossa geração.

Impactados pela sua partida repentina, os colegas da turma de Comunicação Social de 1985, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), prestaram uma homenagem, através do compartilhamento de lembranças comuns vividas em sala de aula, nos corredores do Pimentão e em outros espaços do Campus do Bacanga, em São Luís.

Sugeri, na oportunidade, disponibilizar na internet, por meio da plataforma do Promem,(www.promem.org.br ou https://youtu.be/EP0AkHCep6g), criado pelo jornalista e cineasta Luis Fernando Baima, a exibição do documentário Sem Censura (João Ubaldo de Moraes – 1984), que tinha sido telecinado e digitalizado recentemente.

No filme, o Roberto aparece como liderança estudantil, na luta contra a Ditadura Militar, e mostra sua versatilidade como narrador, roteirista, além de fazer a interpretação da fala de um “foca” do jornalismo impresso.

Na semana passada, recebi o convite do site Agenda Maranhão, por meio dos jornalistas José Reinaldo Martins e Ed Wilson Araújo, para falar um pouco mais da realização do documentário Sem Censura e sobre o projeto de digitalização dos filmes integrantes do “Ciclo Super 8mm”.

Filme Sem Censura

Sem Censura é um documentário, realizado em 1984, que permaneceu inédito por 38 anos. Filme de curta metragem, com 6,28m de duração, registra os principais momentos da preparação e realização da passeata de protesto de estudantes da UFMA, liderados pelo Diretório Acadêmico de Comunicação Social e Diretório Central dos Estudante (DCE), contra a censura e interferência da direção do curso, nas matérias produzidas pelo Jornal Laboratório de Jornalismo.

Ao fazer um protesto público, os estudantes, além de reivindicar o direito à liberdade de expressão, desafiavam as regras do governo militar e as orientações seguidas pela reitoria do professor José Maria Cabral Marques.

O inusitado movimento dos estudantes, surpreendeu a comunidade universitária que, há mais de uma década, deixara de conviver com atos de protesto. Os alunos dos outros cursos, funcionários da administração e a segurança privada, atônitos e sem saber que atitude tomar, apenas olhavam a passagem dos manifestantes.

A passeata, realizada sob um clima de muita tensão, aconteceu de forma pacífica e sem qualquer incidente, ao som de um “bumbo” solitário, que marcava o compasso da caminhada dos estudantes pelas salas de aulas e prédios.

Situando o filme no tempo e no espaço

Mais de duas décadas de exceção política, distanciou a UFMA dos interesses da comunidade estudantil e maranhense. Durante esse período aconteciam repressões aos movimentos reivindicatórios de estudantes e o corpo docente desestimulava qualquer contato dos alunos com as “cabeças pensantes” de fora dos muros da UFMA.

Nas salas de aulas, a desconfiança era nota dissonante entre os jovens alunos. Havia um permanente patrulhamento ideológico e qualquer acusação contra “elementos” apontados como “subversivos aos ideais revolucionários”, era levada à sério e apurada com rigor.

Em 1984, data da realização do filme, atravessavamos os últimos anos do governo do Presidente da República, general João Batista de Figueiredo. A estratégia dos militares para se manter no poder derretia a olhos vistos, exaurida e contaminada pela presença ostensiva dos políticos tradicionais, fisiologistas, viciados em clientelismo e troca de favores. A situação se apresentava insustentável.

O sistema mostrava sinais evidentes de desgaste nas áreas política, social e principalmente econômica. Avesso ao diálogo com a sociedade, o general Figueiredo foi um presidente burocrático, que cumpriu as ordens do quartel, com a rispidez que lhe era peculiar: garantiu a continuidade da abertura política iniciada no Governo Geisel e assinou a anistia geral aos militares acusados de tortura e civis exilado e perseguidos pelo regime.

Após a rejeição da emenda das Diretas Já, no Congresso Nacional, o general Figueiredo teve o mérito de dar um passo importante na redemocratização do país. Extinguiu o bipartidarismo, o que permitiu a coalizão das forças democráticas, que acabaram elegendo, indiretamente, no Colégio Eleitoral, Tancredo Neves, à Presidência da República.

Essa sequência de acontecimentos culminou com a explosão da bomba, por militares terroristas, no estacionamento do Riocentro, no Dia do Trabalho. O desgaste do sistema e o clima de insubordinação política e popular, que tomava conta do país, era refletido no ambiente universitário, que ansiava pelo retorno à normalidade democrática.

O documentário

O documentário Sem Censura faz parte do denominado “Ciclo do Cinema Super 8”, um movimento cinematográfico iniciado pela Coordenação de Assuntos Estudantis da UFMA, com a fundação do Cineclube Universitário (depois UIRÁ) e liderado por estudantes universitários e jovens da comunidade ludovicence.

No período de 1974 a 1985, parte dos cineclubistas, cansados de apenas verem e discutirem filmes que quase nada lhe diziam, se apropriaram dos meios de produção disponíveis e passaram a realizar filmes na única bitola possível para nossa realidade: o Super 8mm.

Essa virada incomum no cineclubismo brasileiro tradicional permitiu que fossem produzidos, entre nós, mais de 140 filmes de curta e média metragens, nos mais variados gêneros, envolvendo mais de 30 diferentes diretores e outras tantas dezenas de colaboradores nas atividades cinematográficas.

A produção maranhense em cinema Super 8mm é considerada uma das mais importantes do país em qualidade e número de filmes. Entre os realizadores da época, podemos destacar, entre outros: César Curvelo, Carlito Silva, Djalma Brito, Euclides Moreira Neto, Ivan Sarney, João Mendes, José Filho, João Ubaldo de Moraes, Murilo Santos, Nerine Lobão, Newton Lílio e Nonato Medeiros.

Em 2014, iniciei uma parceria com o cineasta e produtor de cinema, Joaquim Haickel (Mavam – Museu Audiovisual do Maranhão), para recuperar os nossos ativos cinematográficos. O projeto vai identificar, resgatar, digitalizar, restaurar e divulgar, não só o acervo de filmes do “Ciclo Super 8mm”, como outros acervos importantes, tais como: os filmes originais, em 16mm, produzidos para o telejornalismo maranhense, dos jornalistas Lindenberg Leite, Murilo Campelo e TVE do Maranhão.

O acervo, constituído pela maioria dos filmes produzidos durante o “Ciclo de Cinema Super 8”, já está telecinado, digitalizado e se encontra depositado nos computadores do Mavam, inclusive o meu acervo pessoal. Todo esse conteúdo, está à disposição da nova geração de cineastas e pesquisadores maranhenses, que inclusive já deram vários usos em produções cinematográficas recentes, como é o caso do documentário média metragem, Maio Oito Meia, dos cineastas Beto Matuck e Félix Alberto, (www.youtube.com/watch?v=Y53WI0h9IAc) lançado recentemente. Este filme reproduziu mais de um minuto do conteúdo do Sem Censura.

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Nova edição da EJM traz dossiê sobre 100 anos do rádio

Os 100 anos do rádio são tema do dossiê especial da revista Estudos em Jornalismo e Mídia (EJM), do PPGJOR/UFSC, que acaba de ser publicada. A edição, relativa ao segundo semestre de 2021, apresenta 20 artigos, dos quais 11 fazem parte do especial “100 anos de Metamorfose – Rádio e Inovação”, coordenado pelas professoras Debora Cristina Lopez (UFOP) e Valci Zuculoto (UFSC) e pelo professor Marcelo Kischinhevsky (UFRJ). Como elas e ele apontam na apresentação do especial, são 11 trabalhos diversificados, que dão um panorama da produção contemporânea de pesquisadores brasileiros da radiofonia, convidam os leitores a pensar o meio e demonstram a vitalidade em seu centenário.

Além desses 11 trabalhos, a segunda edição anual da revista EJM traz nove artigos da seção Temas Livres. Eles abordam temáticas diversAs, como assessoria de imprensa, ensino de fotojornalismo, reportagem multimídia, transformações no imaginário do Jornalismo, e a relação do discurso jornalístico com as vozes das classes populares e com a alteridade. A edição traz ainda duas resenhas de livros e uma entrevista com a professora e pesquisadora chilena Cláudia Mellado Ruiz, da Escola de Jornalismo da Universidade Católica de Valparaíso (Chile), que coordena duas pesquisas internacionais – a Journalistic Role Performance (JRP) e a JRP-COVID -, ambas com a participação do professor do PPGJOR/UFSC, Jacques Mick.

Para a próxima edição, prevista para junho de 2021, a revista EJM trará o dossiê “Narrativas jornalísticas, testemunhos e subjetividades”, que está sendo coordenado pelas editoras convidadas Marta Maia (UFOP) e Fabiana Moraes (UFPE). Além disso, as editoras da revista, Terezinha Silva e Flávia Guidotti, lembram que a revista continua recebendo artigos em fluxo contínuo para avaliação e publicação nas próximas edições. A revista EJM pode ser acessada aqui.

Fonte: Site da UFSC / Programa de Pós-Graduação em Jornalismo

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Tributo a Pixixita chega à 18ª edição em formato virtual

O Tributo a Pixixita deste ano tem transmissão de LIVE por meio do YouTube Casarão Laborarte. Será neste sábado (19), às 20h.

A celebração é uma homenagem ao músico e professor José Carlos Martins, mais conhecido como Pixixita (foto), que viveu a maior parte de sua vida no Centro Histórico de São Luís.

É 18º edição que, este ano, além da apresentação online, no formato LIVE, em razão da pandemia da Covid-19, acontece em dezembro.

As homenagens anteriores foram sempre em abril, mês de aniversário de Pixixita.

A Tribo do Pixixita contará com participações de Josias Sobrinho, Rosa Reis, Sérgio Habibe, Criolina, Célia Sampaio, Gerude, Chico Nô, Camila Reis, Ronald Pinheiro, Flávia Bittencourt, Beto Ehongue, Celso Borges, Erivaldo Gomes, Tutuca, Ronaldo Mota, Aziz Jr. e a grande sensação do momento na música maranhense, o grupo Afrôs.

Serão exibidas fotos e um minidocumentário retratando os 17 anos ininterruptos do evento.

O projeto foi aprovado por meio do edital publicado pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (SECMA), a Lei Aldir Blanc.