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O voto é livre

A democracia, mesmo com as suas imperfeições, nos dá liberdade para escolher. Diante da urna, temos as candidaturas e as opções de anular ou votar branco. São as regras do jogo.

Nas eleições para a Prefeitura de São Luís, as três candidaturas melhor colocadas expressam uma cidade conservadora. Somados, os deputados Eduardo Braide (Podemos / 37,81%), Duarte Junior (Republicanos / 22,15%) e Neto Evangelista (Democratas / 16,24%) tiveram 390.146 sufrágios do total de 553.499 votos válidos no primeiro turno.

Os três são filhos do mesmo útero da política tradicional e conquistaram mandatos nos velhos moldes: clientelismo, fisiologismo e patrimonialismo.

Sobraram no segundo turno Eduardo Braide (Podemos 19) e Duarte Junior (Republicanos 10).

Por razões óbvias, o 19 está descartado. Resta o 10.

Respeito a opção das pessoas que vão votar em Duarte Junior, sob o argumento de que ele representa o antibolsonarismo e reforça o campo político do governador Flávio Dino (PCdoB).

Quero apenas lembrar um, entre tantos fatos semelhantes.

Em 2014 Roberto Rocha foi eleito senador nos braços de Flávio Dino.

Na época, o discurso era de que precisávamos derrotar a oligarquia de José Sarney, que tinha como candidato ao senado Gastão Vieira (PMDB).

Veja você a inversão dos papeis. Roberto Rocha (RR) rompeu com Flávio Dino e hoje é o principal representante do bolsonarismo no Maranhão. Isso estava escrito, mas em nome do antisarneísmo valia até o voto em RR.

O resultado, estamos vendo… Roberto Rocha é um dos fiadores de Eduardo Braide.

E Gastão Vieira, demonizado pelo carimbo sarneísta, derrotado para o Senado em 2014, candidatou-se a deputado federal em 2018 já convertido ao comunismo maranhense. Ficou na segunda suplência, mas foi efetivado na Câmara Federal graças a um acordo que retirou Rubens Junior (PCdoB) de Brasília para ser candidato a prefeito de São Luís e entregar o mandato ao ex-sarneísta.

Detalhe: Gastão Vieira, do PROS, é dinista no Maranhão, mas vota com Bolsonaro em Brasília.

Chegamos em 2020 em situação parecida: votar na direita para combater algo pior.

Se Eduardo Braide tem como fiador Roberto Rocha, Duarte Junior tem Josimar de Maranhãozinho (PL) dentro da chapa, representado pela sua sobrinha, Fabiana Villar (PL), candidata a vice-prefeita de São Luís.

Duarte Jr e a dobradinha campeã de votos em 2018: Detinha e Josimar

Josimar de Maranhãozinho e sua esposa Detinha foram eleitos respectivamente deputado federal e deputada estadual com as maiores votações na eleição de 2018: ele com 195.768 votos e ela 88.402 votos.

Além da sobrinha candidata a vice-prefeita, o sobrinho, Aldir Junior (PR), foi reeleito vereador em São Luís com 4.855 votos.

Maranhãozinho não é apenas um representante da política tradicional. Ele é uma grande frente conservadora que saiu da eleição de 2020 com quase 30 prefeitos eleitos e diversos vereadores em todas as regiões do estado.

Ele tem força eleitoral, poder econômico e deseja ser governador do Maranhão. Precisa desenhar em qual campo político Maranhãozinho estará em 2022?

Votar em Duarte Junior pode ser algo como adquirir um eletrodoméstico e depois de pouco uso perceber um defeito de fábrica. Aí vai ter de reclamar no Procon.

Por falar em reclamação, alguém precisa dar um pito no PDT, partido da base do governo, que já migrou para o 19 e está pronto para permanecer ad infinitum na máquina da Prefeitura de São Luís, caso Eduardo Braide seja o vencedor.

Merece um corretivo também o presidente da Assembleia Legislativa, Othelino Neto, do PCdoB, que se mandou para Barreirinhas e não segue a orientação do governador.

Como se diz, a conjuntura é dinâmica e o jogo é bruto.

Em resumo, o bolsonarismo está disseminado nas duas candidaturas, com as suas respectivas tonalidades. Qualquer que seja o vencedor, 19 ou 10, a cidade está derrotada faz tempo. O futuro de São Luís é antigo. Basta ver o nível dos debates…

Votei em Flávio Dino para prefeito (2008), governador (2010, 2014 e 2018) e serei eleitor novamente em 2022.

O voto é obrigatório, mas temos a liberdade da escolha. E política não é religião, nem seita.

Reitero meu respeito pelos eleitores e eleitoras de Duarte Junior, mas meu voto é nulo.

Eleição passa e a luta continua. Vamos seguir defendendo a cidade, o plano diretor civilizatório, apoiar os movimentos sociais e as legendas do campo democrático, somar forças com o povo e seguir em frente no combate ao bolsonarismo.

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Racismo em São Luís: “Crime da Baronesa” completa 144 anos

Em 14 de novembro de 1876, quando São Luís vivia uma sofisticada efervescência cultural, motivo da falsa denominação de Atenas Brasileira, a cidade foi palco de um dos crimes de racismo mais bizarros já registrados.

A vítima não foi nenhum “escravo fujão”, como eram estigmatizados os negros que se recusavam aos maus tratos, escapavam do cativeiro, e, por isso, eram enforcados em praça pública.

Naquele tenebroso novembro, a violência foi desferida contra um menino negro de apenas 8 anos de idade, configurada em quatro atos brutais.

Primeiro: o garoto foi torturado e assassinado;

Segundo: houve um sepultamento às pressas do corpo mutilado;

Terceiro: apontada como autora, Dona Anna Rosa Viana Ribeiro, típica representante da aristocracia provinciana, foi absolvida por unanimidade;

Quarto: o promotor do caso, Celso Magalhães, que levou a júri a baronesa Anna Rosa Ribeiro, foi execrado da cidade.

O rumoroso episódio ficou conhecido como o “Crime da baronesa”.

No site do Memorial do Ministério Público do Maranhão é possível acessar um texto contundente de Rui Cavallin Pinto acerca do rumoroso caso, com detalhes sobre a trama que tomou conta da provinciana São Luís do século XIX.

“Nesse tempo o Maranhão vivia um clima de efervescência cultural, representado por humanistas e intelectuais, integrantes do Grupo Maranhense que fez a Província receber o título de Atenas Brasileira. A condessa, por sua vez, se arrimara nos dotes jurídicos e na palavra vigorosa do afamado jurista Paulo Belfort Duarte, representante de poderoso clã maranhense.”

“Assim, no dia do julgamento, a fidalga Anna Rosa Ribeiro compareceu à sessão acompanhada do seu marido e irmão. Vestia um traje de seda preta e envolvia o rosto e o busto com um véu de crepe. Acompanhavam-na dezoito damas, vestidas de luto, em sinal de protesto que ocuparam os primeiros bancos do salão. O povo apinhava-se nas galerias e a cidade vivia uma excitante expectativa do debate e da decisão.”

“A decisão seria, porém, como era próprio do tempo: a absolvição unânime, que transitou em julgado, à falta de recurso.”

Ao fim e ao cabo, não só a baronesa fora absolvida unanimemente, como o seu marido, o médico Carlos Fernandes Ribeiro, chefe do Partido Liberal, assumiu em 1878 a presidência da Província do Maranhão e tratou logo de demitir o promotor Celso Magalhães, que morreu um ano depois de ser defenestrado da comarca de São Luís.

São Luís do século XXI lembra o XIX

O episódio caracteriza não só um crime de racismo, mas uma prática da cultura política fisiologista, provinciana e clientelista marcante no Maranhão há séculos e presente em pleno ano de 2020, quando um morador de rua foi torturado, amarrado pelos pés com uma corda e arrastado por uma caminhonete até a morte, em pleno Centro Histórico de São Luís.

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Entidades cobram a homologação imediata do resultado das eleições do Sindeducação

As centrais sindicais, entidades sindicais e de movimentos sociais, coletivos políticos e de pesquisadores e educadores militantes parabenizam a eleição da Chapa 2 “Da unidade vai nascer a novidade” que venceu as eleições do Sindeducação, com 482 votos(48%), obtendo um grande apoio da categoria, que necessita de uma direção classista e que defenda os seus direitos e amplie suas conquistas.

Ao mesmo tempo em que reivindicam, urgentemente , que a Comissão Eleitoral homologue, em ata, o resultado oficial das eleições, concluídas no dia de ontem, respeitando a vontade da maioria  dos professores e professoras da rede municipal de ensino, de acordo com o que prevê  o artigo 83 do estatuto da entidade, que

 diz: “Encerrada a apuração, o Presidente da Comissão Eleitoral proclamará eleita a chapa que

obtiver a maioria simples dos votos apurados e fará lavrar a ata dos trabalhos eleitorais”. Até o presente momento, às 19h55, ainda não havia sido disponibilizada para a categoria.

Conforme nota da própria direção da entidade em seu site oficial , publicada  às 16h26, (“a votação que ocorre ao longo desta terça-feira, das 7 às 19h, prossegue em clima de tranquilidade”), o processo eleitoral ocorreu dentro da normalidade, mesmo  com as limitações da pandemia da Covid-19.

Reafirmamos nosso compromisso com a direção eleita e estaremos juntos nas lutas reivindicatórias da categoria e dos trabalhadores.

São Luís , 25 de novembro de 2020

Assinam

Central Sindical e Popular CSP CONLUTAS

Central Única dos Trabalhadores – CUT

Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB

Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal e MPU no Maranhão – Sintrajufe /MA

Apruma – Seção do Andes Nacional

Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado- PSTU

Resistência/PSOL

Sindicato dos Bancários do Maranhão

Quilombo Urbano do Maranhão

Coletivo Úrsula

Coletivo Mosaico

Coletivo Travessia

Coletivo MOPE

Coletivo Professores pela Base

HISTEDBR – Grupo de Estudos e Pesquisas ” História, Sociedade e Educação no Brasil

Sindicato dos Funcionários e Servidores Públicos De São Luís – SINFUSP

Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Caxias

Sindicato dos Trabalhadores da Assembleia Legislativa do Maranhão – SINDSALEM

Sinasefe Monte Castelo

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A construção dos discursos de Eduardo Braide e Duarte Junior na propaganda eleitoral da TV

Eduardo Braide elabora o conceito de político equilibrado, maduro, confiante, supostamente mais preparado para administrar a cidade, atribuindo serenidade à sua pessoa. Duarte Junior carrega os hormônios da juventude, corre nas caminhadas de rua, ergue o braço musculoso para demonstrar força, agilidade e eficácia como gestor resolutivo

Os fatos novos na campanha para a Prefeitura de São Luís trouxeram à tona ataques e contrataques entre Duarte Junior (Republicanos) e Eduardo Braide (Podemos) na propaganda eleitoral no rádio e na TV.

Bater e apanhar faz parte do jogo. Depois, as forças políticas se reacomodam, vêm os pedidos de desculpas e tudo fica normal.

Mas, agora, o momento é da disputa sem trégua e os efeitos da batalha mais acirrada podem inclusive levar o eleitor a mudar o voto.

Duarte Junior partiu para a ofensiva tentando desconstruir a gestão de Eduardo Braide na Caema (Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão) e insiste na tese de que o candidato do Podemos é investigado por corrupção.

A reação do adversário veio em tom forte, expondo áudios e personagens que depõem contra a conduta até então sem ranhuras graves sobre a vida e os atos do gestor Duarte Junior, acusado de proferir expressões misóginas e homofóbicas, além de bater em pessoa idosa.

Na propaganda eletrônica Eduardo Braide vinha mantendo a postura convencional de qualquer líder nas pesquisas – apresentar propostas e não polemizar.

O republicano, por sua vez, partiu para a ofensiva.

Em síntese, os últimos dias do segundo turno ganham os contornos típicos de uma novela, com três ingredientes fundamentais: dinheiro, poder, intrigas e traições.

A trama entre os oponentes apresenta os seguintes perfis:

19 Eduardo Braide constrói um conceito de político equilibrado, maduro, supostamente mais preparado para administrar a cidade. Ele visa formatar a imagem de serenidade, postulado da confiança no público, tentando, com isso, estabelecer vôo próprio e amenizar o fato de ser filho de um político tradicional, o ex-presidente da Assembleia Legislativa (Carlos Braide), patrono da herança eleitoral da família. O bordão “Eu sou Braide. Estou pronto” traduz isso.

10 Duarte Junior demonstra carregar os hormônios da juventude. É afoito, corre nas caminhadas de rua, sacode o braço musculoso para demonstrar força e eficácia como gestor do Procon e do Viva Cidadão. Busca ainda estabelecer diferença em relação ao filhotismo político do seu antagonista e produz a narrativa de que venceu na vida com esforço e trabalho próprios. Assim, ele sistematiza dois bordões: “Filho do povo, igual a você” e “Bora resolver”

As imagens de estúdio e da campanha de rua, importadas para as telas da televisão e dos dispositivos móveis, reforçam os conceitos dos candidatos junto ao eleitorado para obter reconhecimento, afinidade e construir laços de racionalidade e/ou afetivos na hora de votar.

Na novela, onde amor e ódio pulsam com vigor, pode ser que Duarte Junior leve vantagem. Ele é um ator mais preparado, sabe incorporar o drama que vai motivar o eleitor. Eduardo Braide, por sua vez, foca mais no aspecto racional.

Eleição é paixão e a campanha na reta final está inundada por um turbilhão de mensagens publicitárias, informações e desinformações, numa avalanche de conteúdo que confunde cada vez mais a maioria do eleitorado não militante na política partidária.

Eis a síntese. Os sucessivos ataques de ambos os lados estão provocando uma certa margem de dúvida no eleitorado. E só o debate cara a cara na TV vai proporcionar um nível de esclarecimento suficiente para o público tomar a decisão final.

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PT de São Luís vai rachado ao 2º turno: maioria apoia Duarte Junior e a CNB segue Eduardo Braide

A velha disputa interna do PT no Maranhão ganha mais um capítulo na eleição para a Prefeitura de São Luís em 2020.

Durante o 1º turno a maioria do partido marchou unificada com o candidato a vice-prefeito e vereador Honorato Fernandes na chapa liderada por Rubens Junior (PCdoB), integrando o campo político-eleitoral do governador Flávio Dino (PCdoB).

No segundo turno o PT oficialmente declarou apoio a Duarte Junior (Republicanos), seguindo o comando do Palácio dos Leões, mas uma tendência do partido – a CNB (Construindo um Novo Brasil), liderada pelo deputado estadual José Inácio – abriu uma dissidência e está no palanque de Eduardo Braide (Podemos), apontado como bolsonarista.

Em uma nota pública (veja abaixo), a CNB justifica o apoio ao bolsonarista; porém, no mesmo texto, aponta fidelidade ao governador Flávio Dino na eleição de 2022.

CNB assume Braide, mas promete fidelidade a Flávio Dino em 2022

“Cumpre destacar, desde já, o compromisso da CNB – Maranhão com o Governador do Estado, e o projeto que ele representa para a esquerda brasileira, motivo pelo qual ressaltamos o nosso total apoio ao futuro candidato de Flávio Dino ao Governo do Maranhão, por entender que é preciso dar continuidade ao ciclo de avanços e conquistas que transformaram a vida do povo maranhense e garantiram mais dignidade aos mais pobres através do Governo Dino.”, pregou a CNB.

Outra nota (veja aqui), da Executiva Municipal do PT de São Luís, rechaça qualquer tipo de aproximação com Eduardo Braide e firma compromisso com Duarte Junior (Republicanos), candidato do governador Flávio Dino.

“Em reunião da Executiva Municipal, realizada na última terça-feira (17), foi definido por 13 votos favoráveis e uma abstenção, o apoio do PT ao candidato Duarte Jr. no 2° turno. A questão foi debatida e a decisão tomada. O PT neste segundo está com Duarte Jr.”, reiterou a direção local petista.

Entre textos e posições distintas, o PT só elegeu um prefeito nos 217 municípios do Maranhão, em Coroatá; e a candidatura coletiva NÓS para uma das 31 vagas da Câmara dos Vereadores de São Luís.

No passado, o braço local da CNB levou a má fama de “sarnopetista”, devido ao alinhamento à oligarquia liderada por José Sarney, que não se esgotou durante a participação do PT no governo Roseana Sarney.

Mergulhando nas águas profundas da política o sarnopetismo segue fazendo tabela com a ex-governadora e o seu pai-conselheiro. Agora, na disputa do segundo turno em São Luís, o MDB migrou para Eduardo Braide e a CNB foi junto.

Pode até parecer coincidência, mas não é.

Veja abaixo a nota da CNB na qual justifica o apoio a Eduardo Braide:

*RESOLUÇÃO DA CNB-MA SOBRE O SEGUNDO TURNO EM SÃO LUÍS*

O segundo turno das eleições de São Luís exige das forças do campo democrático e popular uma profunda reflexão acerca da conjuntura que se desenhou no pleito da capital.

Finalizado o primeiro turno em 15 de novembro, têm-se na disputa eleitoral do segundo turno dois candidatos que integram partidos da base aliada do governo federal: Eduardo Braide e Duarte Júnior.

Braide é do Podemos e Duarte é do Republicanos. Ambos os partidos não possuem alinhamento ideológico com o PT ou com o campo democrático-popular.

Ao analisar meticulosamente quem apoiar neste segundo turno, o PT e as demais forças de esquerda devem considerar que não se trata de uma opção meramente ideológica, posto que ambos os candidatos não possuem afinidade política com o campo democrático-popular.

O candidato Duarte Júnior, que abandonou as fileiras do PCdoB para se filiar ao partido dos filhos de Bolsonaro (Republicanos), já fez declaração pública – como se fosse motivo de orgulho – de que integra o partido da base aliada de Jair Bolsonaro, usando tal discurso como meio de conquistar apoio político e votos. Outrossim, o candidato Duarte desferiu recentemente ataques ao então candidato do PCdoB à prefeitura, Rubens, e à militância do partido, fazendo insinuações pejorativas e referendando uma posição antipartidária de negação da política.

É importante destacar também que o candidato Eduardo Braide tem adotado uma posição independente na Câmara dos Deputados, tendo votado contrariamente à orientação do governo Bolsonaro em temas importantes como a Reforma da Previdência, o Novo Marco Legal do Saneamento Básico, MP da flexibilização das regras trabalhistas durante a pandemia e o Novo FUNDEB, matérias em que Eduardo Braide se posicionou da mesma forma que a bancada do PT.

A análise sobre o segundo turno deve ser político-eleitoral, com o fito de buscar concretizar um modelo de gestão que seja capaz de desenvolver São Luís e garantir melhorias para a nossa população, sobretudo a mais pobre.

No que se refere à política de alianças, o Podemos em Recife já declarou apoio à candidata Marília Arraes, do PT, no segundo turno, o que reforça a tese de que esse novo momento eleitoral reúne forças e projetos opostos em torno de uma causa maior, que é o desenvolvimento e o bem-estar das cidades e do seu povo.

É legítimo que o PT, seus militantes e lideranças, ou qualquer partido progressista, façam a opção política de apoiar qualquer dos candidatos a prefeito de São Luís, visto que não se trata de uma disputa com a presença de figuras que representam o campo popular e democrático que a esquerda integra.

Cumpre destacar, desde já, o compromisso da CNB – Maranhão com o Governador do Estado, e o projeto que ele representa para a esquerda brasileira, motivo pelo qual ressaltamos o nosso total apoio ao futuro candidato de Flávio Dino ao governo do Maranhão, por entender que é preciso dar continuidade ao ciclo de avanços e conquistas que transformaram a vida do povo maranhense e garantiram mais dignidade aos mais pobres através do Governo Dino.

Diante deste cenário, a CNB Maranhão DECIDE declarar apoio ao candidato Eduardo Braide (Podemos) neste segundo turno, por acreditar que ele é o mais preparado para gerir São Luís e garantir melhores condições de vida para a população, e, principalmente, por ter assumido o compromisso de efetivar políticas que dialogam diretamente com o modo petista de governar, tendo como princípios basilares a luta contra as desigualdades e a defesa da justiça social.

São Luís, 20 de novembro de 2020.
CNB – Maranhão
Coordenação

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Eduardo Braide declarou mais de R$ 1 milhão em bens e Duarte Junior R$ 646 mil

Candidato do Podemos tem apartamento na “Península” avaliado em R$ 628 mil. O republicano possui casa no valor de R$ 361 mil, no bairro Quintas do Calhau

Somado, o patrimônio dos candidatos que disputam a Prefeitura de São Luís em 2020 é de R$ 1 milhão, 713 mil, 620 reais e 62 centavos.

De acordo com os dados registrados na Justiça Eleitoral, o deputado federal Eduardo Braide (Podemos) declarou como bens no menor valor uma conta corrente com apenas R$ 74,37 (Setenta e quatro reais e trinta e sete centavos) e patrimônio máximo um apartamento de R$ 628.206,73 (Seiscentos e vinte e oito mil, duzentos e seis reais e setenta e três centavos), localizado na “Península”, metro quadrado mais caro de São Luís, no edifício José Gonçalves dos Santos Filho (imagem destacada).

Os bens totais somam R$ 1.067.620,62 (Um milhão, sessenta e sete mil, seiscentos e vinte reais e sessenta e dois centavos).

Veja aqui e também na imagem abaixo os bens declarados por Eduardo Braide

Filho de político – o pai Carlos Salim Braide foi presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão – Eduardo Braide declarou ainda “quotas ou quinhões de capital” com o seu genitor e o irmão Fernando Salim Braide no valor de R$ 73.333,33 (Setenta e três mil, trezentos e trinta e três reais e trinta e três centavos).

Já Duarte Junior tem menos posses. Mas, apesar de usar no bordão publicitário de campanha um apelo à vida modesta – “filho do povo, igual a você” – o candidato apresentou uma declaração de bens com R$ 646.000,00 (Seiscentos e quarenta e seis mil reais).

O bem de menor valor é o saldo em conta corrente totalizando R$ 25.000,00 (Vinte e cinco mil reais) e no teto dos bens o candidato registrou uma casa situada na rua Lago Verde, valendo R$ 361.000,00 (Trezentos e sessenta e um mil reais), localizada no bairro Quintas do Calhau.

Veja aqui e na imagem abaixo os bens declarados por Duarte Junior

Vamos seguir acompanhando a evolução patrimonial dos dois candidatos. Ambos têm pretensões eleitorais futuras e é fundamental monitorar a movimentação dos bens de cada um.

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O bolsonarismo das pessoas gentis

Quando Fernando Haddad e Jair Bolsonaro disputaram a presidência, em 2018, uma certa claque profetizou nas redes sociais o discurso “eles não”. Esse bordão era compartilhado por gentes finas, elegantes e sinceras, alguns até frequentadores dos ambientes “cult” de São Luís.

Diferentemente do bolsonarista raiz, que vai logo disparando os xingamentos “Lula ladrão” ou “A culpa é do PT”, o eleitor cool da direita é sofisticado, circula nos ambientes alternativos, transita no meio cultural da esquerda e até pisa em algum bar descolado da Praia Grande.

Esses eleitores refinados têm seus representantes e ocupam lugares estratégicos nos cargos de gestão, nas elites administrativas do Estado, nos empreendimentos das marcas de sucesso, nas comunidades científicas, nos púlpitos das igrejas e, sobretudo, nos três poderes onde as coisas são decididas.

“Eles não”, em tradução direta, significa igualar um professor universitário civilizado a um ser ignóbil, homofóbico, misógino, racista e elogiador de torturadores, entre outros adjetivos não pronunciáveis.

O raciocínio é mais ou menos esse: tornar os diferentes iguais (“eles não”) para justificar a opção pelo degenerado, sem macular a escolha. É o disfarce perfeito.

Trata-se de algo diferente do bolsonarista cego de ódio, que não apresenta sequer um argumento, a não ser a sua crença de que “a culpa é do PT”

Para os analistas do discurso, “Eles não” é uma forma camuflada de opção pela direita sem pronunciar o discurso raivoso.

Entre esses bolsonaristas existem aqueles que odeiam o setor público, mas adoram um cargo arranjado no esquema clientelista, ganhando muito para não trabalhar. Mas, sempre mantendo a pose elegante.

Às vezes é aquela pessoa muito bem vestida, polida, sorridente, limpa, galante, bondosa; enfim, educada.

Parte desse eleitorado, adepto do lavajatismo, “evoluiu” para o bolsonarismo e está sempre armada para repetir que o desastre do atual governo não é bem assim…

Já o bolsonarista grosseiro, fácil de identificar, você bate o olho, apura o ouvido e reconhece logo. Ele grita “fora PT” e cruza o sinal vermelho, não respeita a faixa de pedestre, ocupa a vaga do deficiente ou do idoso no estacionamento, fura a fila do banco, burla o fisco e joga lixo na rua.

O outro, aquele tipo sofisticado que postou nas redes sociais “eles não”, é bem mais refinado. Fala baixo, costuma respeitar as regras básicas da civilização e tem bom convívio social.

São tipos diferentes no comportamento, mas iguais na opção.

“Eles não” vai sempre torcer o nariz para qualquer governo humanista com o mínimo de intencionalidade voltada para a justiça social.

É um tipo de gente que topa qualquer coisa (até mesmo Bolsonaro!), menos Lula, o PT, o protagonismo dos pretos, dos índios, das mulheres, da Bolsa Família, da comunidade gay e dos pobres em geral.

A velha aristocracia escravocrata está no meio de nós e, às vezes, nem percebemos.

Imagem destacada capturada aqui

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Feira solidária mobiliza apoiadores das bancas de revista

O despejo das bancas de revista do Renascença II gerou uma rede de solidariedade para as mulheres “jornaleiras” que trabalhavam no local há mais de 20 anos e perderam sua única fonte de renda.

Nesse sábado (21) será realizada a I Feira Solidária, evento organizado com o objetivo de colher doações para ajudar as “jornaleiras”, enquanto o novo local das bancas está sendo preparado para reacomodá-las (veja abaixo).

O evento vai acontecer na praça Duque de Caxias, no bairro João Paulo, em frente ao quartel do exército, das 8h às 14h.

“Nesta ação cultural, as proprietárias das bancas de revistas poderão vender seus produtos, receber doações de livros e revistas para serem vendidas na própria feira e, o mais importante, receber o nosso carinho e apoio moral”, esclareceu a comissão organizadora do evento.

A programação da I Feira Solidária terá exposição e vendas de livros e revistas raras de histórias em quadrinhos (HQs), venda e troca de figurinhas dos álbuns Marvel 80 anos, Chaves/Chaplin Colorado, Batman, Brasileirão 2020 e muitos outros.

No momento cultural os frequentadores poderão participar de roda de conversa sobre a Semana da Consciência Negra, sarau do reggae e outras atividades com artistas de São Luís.

Entenda o caso das bancas

Duas bancas de revista instaladas na avenida Miércio Jorge, no Renascença II, foram retiradas pela Prefeitura de São Luís, através da Blitz Urbana, cumprindo determinação do Ministério Público.

Durante a remoção, houve resistência das jornaleiras e de várias pessoas dos movimentos sociais que se juntaram para defender as bancas e a sobrevivência das famílias.

Após a retirada, iniciou o processo de negociação envolvendo a Prefeitura de São Luís, o Ministério Público, as jornaleiras, a Defensoria Pública do Estado e o poder Judiciário, através da Vara de Interesses Difusos e Coletivos.

No acordo celebrado entre as partes as bancas serão realocadas no estacionamento do shopping Trocipal, próximo ao quiosque Açai. A Prefeitura de São Luís já começou a montar a base de concreto para reinstalar as bancas no local designado.

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Dia da Consciência Negra e Luta Antirracista

Luiz Eduardo Neves dos Santos[1]

“O racismo não é um ato ou um conjunto de atos e tampouco se resume a um fenômeno restrito às práticas institucionais; é, sobretudo, um processo histórico e político em que as condições de subalternidade ou de privilégio de sujeitos racializados é estruturalmente reproduzida[2]”.

Impera no Brasil uma normalidade na forma subalternizada como o negro ocupa lugar na sociedade. Assim, ver “pessoas de cor” em estratos sociais inferiores é percebido como algo dentro da ordem das coisas, seja pedindo esmola na rua, limpando espaços públicos e privados ou residindo em lugares sem o mínimo de infraestrutura e dignidade humana. Isto se deve a uma ideologia arraigada pelos séculos de escravidão que o país viveu a maior parte de sua História. Características de uma sociedade escravocrata são muito mais comuns em nosso cotidiano do que se pode supor, elas se manifestam e se reproduzem no discurso dominante, na mídia, nos espaços de poder, nos comportamentos, enfim, em todas as esferas da vida social, daí seu caráter estrutural e sistêmico.

É preciso reconhecer e afirmar que a escravidão no Brasil não se constituiu apenas num rentabilíssimo negócio, ela imprimiu marcas profundas na sociedade brasileira, possíveis de serem vistas até os dias de hoje. Moldou ações e atitudes, estabeleceu discrepâncias socioeconômicas, fez do tom de pele e dos traços fisionômicos um modo de diferenciação essencial e ordenou comportamentos de autoridade, mando/obediência e subserviência, num sistema hierárquico bastante visível.

A abolição em 1888 não foi uma ação benevolente do Império, embora a imagem de Isabel tivesse permanecido no imaginário popular por décadas como “a redentora dos escravizados”. Segundo as historiadoras Lília Schwarcz e Heloísa Starlin[3], a própria maneira como a abolição foi apresentada oficialmente – como um prêmio e não como uma conquista – levou a uma percepção equivocada de todo esse processo, marcado pelo envolvimento decisivo dos próprios escravizados na luta. Luiz Gama, André Rebouças, José do Patrocínio e tantos outros agentes que combateram o regime escravocrata foram colocadas em papeis secundários ou mesmo silenciadas pelos registros historiográficos posteriores.

A “libertação” dos negros não apagou os mais de três séculos de resistência dos escravizados, representada por insurreições, revoltas, aquilombamento, assassinatos de senhores e feitores e toda uma série de ações que desafiaram o sistema, caracterizado, de forma equivocada e abstrusa, como um tanto suave[4] e menos cruel[5] se comparada a outras realidades, como a dos operários europeus, negros da sul africanos durante o Apartheid e a dos negros no sul dos Estados Unidos. É preciso admitir e reafirmar que o regime de escravidão brasileiro foi extremamente cruel e violento. Os negros escravizados eram submetidos a toda uma sorte de castigos, suplícios e torturas, seus corpos ficavam deformados após sessões de chibatadas. Suas peles eram expostas ao ferro em brasa, não era raro encontrar negros cativos sem orelhas, tipo de castigo comum para os que fugiam.

A tortura senhorial era legalizada, já que o escravo era uma mercadoria, uma propriedade, o seu dono fazia dele o que bem entendesse. No entanto, se o escravizado cometesse crimes e atos violentos contra seu senhor, era punido severamente, passando a ser considerado um sujeito nos termos da lei. O historiador Yuri Costa, ao analisar essa contradição, chegou a afirmar que “o escravo foi, na história da humanidade, a única propriedade punível[6]”. Alguns objetos simbolizavam a violência brutal direcionada aos escravizados. O chicote e o pelourinho são os mais conhecidos, mas existiam também as correntes nos pescoços, as palmatórias, as máscaras de flandres[7], as forcas, entre outros.

Um sistema longo e perverso como este só poderia originar uma sociedade autoritária, violenta e racista. O pós-abolição não trouxe benefícios aos libertos, que foram abandonados à própria sorte. Ao longo da história da república brasileira, mais fortemente nas primeiras décadas, o negro foi desvencilhado dos propósitos do Estado – ele não possuía propriedade, era analfabeto, passava fome, vivia pouco – o que reforçou preconceitos e naturalizou desigualdades que permanecem até hoje.

As teorias do determinismo social e racial, importadas da Europa no início do século XX, também ajudaram muito a colocar o negro como inferiorizado, tendo como pressupostos, “o poder de perpetuar estruturas de dominação do passado colocando em seu lugar novas formas de racialização, as quais buscavam justificar biologicamente diferenças que eram históricas e sociais[8]”. A degeneração da raça como ideologia científica e política possibilitou, por exemplo, o que Robert Nisbet denominou de “teoria do progresso[9]”, de cunho racista e determinista, já que a base do desenvolvimento e do progresso ocidental era por direito e competência, responsabilidade do branco.

Mas, assim como na escravidão, as populações negras não estiveram passivas em relação a seus dramas, a Revolta da Chibata em 1910 é um exemplo conhecido de resistência. Oficiais de baixa patente da Marinha – em sua maioria negros e mestiços – se rebelaram contra seus superiores brancos, tomando o controle de quatro navios de guerra na baía de Guanabara, ameaçando bombardear a cidade do Rio de Janeiro. Reivindicavam o fim dos maus tratos e das torturas que sofriam frequentemente, escancarando o racismo violento presente nas forças armadas da época.

Em 1931, em São Paulo, é criada a Frente Negra Brasileira, que reuniu milhares de negros, num “verdadeiro movimento de massa, chegando a atingir o número expressivo de 20 mil sócios em vários Estados[10]”. Com o fim do Estado Novo, outros grupos começam a se organizar, formando entidades importantes na história da busca de melhores condições e direitos para os negros. Destacaram-se a União dos Homens de Cor e o Teatro Experimental do Negro. Com a abertura política no fim dos anos 1970, o Movimento Negro Unificado (MNU) fortalece as lutas e reivindicações por direitos no mesmo momento em que crescia os clamores pela redemocratização do país.

A Constituição de 1988 se tornou um marco importante a partir das lutas e reivindicações do ativismo negro, o que assegurou a inserção dos artigos 215 e 216 que versam sobre a proteção às manifestações culturais afrobrasileiras, considerando-as patrimônio nacional; o artigo 68º das disposições transitórias reconhece o direito à territórios remanescentes de quilombos e o artigo 5º, inciso XLII, tornou a prática de racismo crime sujeito à prisão. Em 1996, o Estado brasileiro reconheceu Zumbi dos Palmares como herói Nacional[11]. E em 2011, um dia como hoje, o 20 de novembro, data da morte de Zumbi em 1695, foi instituído pela Lei Federal de nº 12.519 como dia Nacional da Consciência Negra, uma reivindicação histórica do MNU.

No século XXI houve ainda uma modificação na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, tornando obrigatório no currículo do ensino básico as temáticas ligadas à “História da Cultura Afrobrasileira e Africana”, além da consolidação de políticas afirmativas de acesso às universidades públicas por parte da população que se declara negra. Aliado a isso, em 2010, foi aprovado o Estatuto da Igualdade Racial, tendo como objetivo fixar direitos aos afrodescendentes brasileiros nos mais diversos setores da sociedade. É preciso afirmar que tais avanços são, antes de qualquer coisa, produto constante da lutas e da organização do movimento negro, articulado nas mais diversas frentes de atuação.

Apesar do fortalecimento de direitos nos últimos anos direcionados aos negros, ainda há muito a se conquistar. O racismo é uma realidade bastante comum no Brasil, desde as relações mais cotidianas ao plano institucional. Não por acaso que, há quase vinte anos, Milton Santos escreveu que “ser negro no Brasil é frequentemente ser objeto de um olhar vesgo e ambíguo. Essa ambigüidade marca a convivência cotidiana, influi sobre o debate acadêmico, e o discurso individualmente repetido é também utilizado por governos, partidos e instituições[12]”. Alguns exemplos são recorrentes, uns sutis, outros mais incisivos. Ver negros em posições sociais de destaque causa estranhamento a muitos, a presença deles em certos espaços de consumo e poder, por vezes, causa reações de desconfiança e vigilância. Na publicidade, poucos anúncios associam seus produtos aos afrodescendentes. Na grande mídia, nossa presença é a exceção. Cultos de religiões de matriz africana são vistos por certos grupos da sociedade como coisa demoníaca e os ataques violentos se multiplicam.

O racismo se reproduz também na linguagem, nas palavras e nos discursos. “Preto de alma branca”, “preto de traços finos”, “cabelo ruim”, “mercado negro”, “denegrir”, “a coisa tá preta”, “mas eu tenho amigos negros”, “por que não tem dia da consciência humana?”, “o próprio negro é racista”, “o negro se vitimiza muito”, “da cor do pecado”, são tristes exemplos de como o racismo se manifesta no Brasil, muitas vezes até de forma inconsciente, herança do poder dominante e opressivo do branco nos anos de escravidão, enraizado na cultura brasileira através do vocabulário.

A realidade perversa do racismo no Brasil é representada também pelas desigualdades sociais, a população negra possui renda duas vezes menor que os grupos de brancos, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)[13] em parceria com a Fundação João Pinheiro e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A taxa de homicídio de jovens negros[14] com idade entre 15 e 29 anos no Brasil chega a 185 por 100 mil, número três vezes maior que os jovens brancos. A população carcerária brasileira é a terceira maior do mundo[15], totalizando 773 mil pessoas, sendo dois terços dos presos negros, homens e pobres.

O racismo intransigente do bolsonarismo

A chegada de Jair Bolsonaro e seu grupo ao poder tem se mostrado uma grande ameaça aos direitos conquistados nos últimos anos pelas populações afrodescendentes. Antes de assumir o cargo, ainda em campanha, o hoje presidente já se posicionava contra políticas afirmativas ao dizer que “todos são iguais perante a lei”. Em uma entrevista concedida ao programa Roda Viva, declarou não haver dívida histórica com os negros por conta da escravidão e ainda asseverou: “se for ver a História realmente, os portugueses nem pisaram na África, eram os próprios negros que entregavam os escravos”.

Já chegou a dar a seguinte declaração, pouco antes do segundo turno, durante uma entrevista a uma emissora de TV do Piauí: “não há a menor dúvida de que as políticas de ações afirmativas reforçam o preconceito. As cotas raciais são um equívoco. Isto não pode continuar existindo. Tudo é coitadismo. Coitado do negro, coitada da mulher, coitado do gay, coitado do nordestino, coitado do piauiense. Tudo é coitadismo no Brasil. Vamos acabar com isso”, concluiu.

Em abril de 2019, já no cargo de presidente, Bolsonaro ordenou pessoalmente que o Banco do Brasil retirasse do ar uma campanha publicitária com a participação de jovens negros, que se mostravam com tatuagens, usando anéis e dreadlocks. Os jovens apareciam felizes e empoderados. A peça comercial não agradou o chefe do Executivo por ter “diversidade demais”[16], o que acabou culminando na exoneração do então diretor de Comunicação e Marketing do banco, Delano Valentim.

Outro fato relacionado ao atual governo que tem causado repercussão aconteceu em 13 de maio do corrente ano, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, atacou Zumbi, que segundo ele é uma invenção da esquerda e do marxismo cultural, expressão recorrente na boca de conservadores, reacionários e extremistas da direita. Camargo chegou a dar a seguinte declaração em suas redes sociais: “Zumbi é herói imposto pela ideologia que a grande maioria dos brasileiros repudia. Negros, questionem, critiquem e não o aceitem passivamente!”. Disse ainda: “Herói da esquerda racialista; não do povo brasileiro. Repudiamos Zumbi!”. Para ele, a verdadeira heroína dos negros é a princesa que assinou a lei Áurea.

Camargo também já chamou o cantor e escritor Martinho da Vila de vagabundo e a cantora Alcione de barraqueira, só para citar dois exemplos. Disse ainda que o “movimento negro é uma escória maldita”. Recentemente retirou os nomes de Marina Silva e Benedita da Silva da lista de personalidades negras da Fundação e ameaçou retirar mais nomes, como artistas do calibre de Elza Soares e Gilberto Gil. Sergio Camargo, no alto de seu parasitismo à frente da Fundação Palmares, tenta a todo custo chamar atenção da mídia, relativizando o racismo e menosprezando a luta histórica e aguerrida dos negros no país.

A gestão bolsonarista, de fortes traços fascistas, tem como um de seus objetivos principais forjar uma guerra cultural e ideológica a partir da criação de narrativas falaciosas sobre temas como a escravidão e racismo, reforçando a ideia de meritocracia, de que todos são iguais, reproduzindo noções de “vitimismo” e “coitadismo” em relação aos negros, ocultando em seus discursos as desigualdades gritantes presentes no país. O Executivo nacional se exime da responsabilidade de fomentar políticas públicas que promovam cidadania e acesso à direitos pelos afrodescendentes, como por exemplo, a demarcação e a legalização de territórios para comunidades quilombolas.

Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”

A conhecida frase de Angela Davis possui um significado bem relevante, ela precisa não somente ser repetida, mas praticada. Ser antirracista é tomar atitudes concretas contra as injustiças de uma sociedade fundada no preconceito racial, é ter uma postura propositiva e reativa contra o racismo diário e institucional. É não aceitar violências simbólicas e práticas, se colocar contra opressões, não se acostumar com os bolsões de pobreza e miséria das cidades brasileiras.

Não aceitar mitos como o da democracia racial também é ser antirracista, bem como contestar a naturalização das divisões sociais, que camufla as perversidades de uma sociedade violenta, ideologicamente baseada “na exploração econômica, na dominação política e na exclusão cultural[17]”. Ser antirracista é conhecer a história de um país que em mais de 300 anos de opressão ao negro, praticou um verdadeiro genocídio contra a humanidade.

É preciso compreender que o capitalismo neoliberal ao qual estamos submetidos configura-se como um perigoso sistema destrutivo, que visa à acumulação acima de tudo. Ele possibilita uma exposição contínua à violência direcionada às massas oprimidas e marginalizadas, uma concreta ameaça existencial. A racionalidade neoliberal tenta aniquilar a arena pública dos direitos e da cidadania, enquanto fortalece o espaço privado dos interesses financeiros. Ser antirracista é lutar contra as atrocidades praticadas pelo grande Capital, que reifica nossas relações, num processo contínuo de neoliberalização da vida, comandando e ditando as regras de nossas condutas e interferindo nas nossas subjetividades.

Hoje é um dia para reflexão, mas também um dia para chamar a atenção do Brasil em relação às desigualdades presentes no país. Nós negros somos parte de uma sociedade ideologicamente comandada por discursos e práticas hegemônicas que enaltecem a liberdade individual, o êxito profissional, a meritocracia e a autonomia, o que contribui para ocultar o verdadeiro caráter de nossa realidade, a de que somos fruto de uma sociedade autoritária, machista, misógina, violenta e racista. Por isso nossa tarefa primeira é reconhecer estas perversidades, que tem na História do Brasil sua explicação, para então resistir e construir, como vem sendo feito, estratégias contínuas de combate ao racismo estrutural e à opressão de grupos vulnerabilizados e marginalizados, lutando em busca de cidadania, de acesso à Educação, Saúde, moradia e oportunidades de trabalho digno, afirmando e consolidando nossas identidades, o direito à vivenciar e praticar nossa cultura nos mais diversos aspectos da vida cotidiana, apartada dos padrões impostos por uma sociedade de mercado.

Hoje, portanto, é uma data para não esquecer que a luta contra o racismo, em sentido amplo, deve ser a nossa razão de vida. Destarte, precisamos nos lembrar do legado dos que resistiram, combateram e levantaram suas vozes contra as opressões ao povo negro. Por isso, este texto é dedicado à memória de Zumbi, Dandara, Tereza de Benguela, Negro Cosme, Maria Jesuína, Maria Firmina dos Reis, Nascimento Moraes, Francisco José do Nascimento, Genoveva Pia, Maria Felipa, Luís Gama, José do Patrocínio, Carolina de Jesus, João Cândido, Abdias do Nascimento, Mãe Menininha do Gantois, Milton Santos e Marielle Franco!

[1] Geógrafo e Professor Adjunto I do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), CCHNST, Campus Pinheiro.

[2] ALMEIDA, Silvio. O que é racsimo estrutural? São Paulo: Editora Jandaíra, 2018. 256p.

[3] SCHWARCZ, Lília. M.; STARLING, Heloísa. M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 694p.

[4] NABUCO, Joaquim. Minha Formação. São Paulo: Editora 34, 2012. 288p.

[5] FREYRE, Gilberto. Vida Social no Brasil nos Meados do Século XIX. São Paulo: Editora Global, 2008. 170p.

[6] COSTA, Yuri. A Transmutação da fala: uso e desuso de testemunhos de escravos nos tribunais do Maranhão Imperial. In: GALVES, M. C.; COSTA, Y (Orgs.). O Maranhão Oitocentista. 2. ed. São Luís: Café e Lápis/EDUEMA, 2015. 269-302p.

[7] Máscara de metal flexível geralmente com três buracos na frente – para olhos e nariz – fechada atrás da cabeça por um cadeado.

[8] SCHWARCZ, Lilia M. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 273p

[9] NISBET, Robert. História da Idéia de ProgressoBrasíliaEditora UnB, 1983. 364p.

[10] LEITE, Carlos R. S. C. A Frente Negra Brasileira. Portal Geledés. 14 de dez. 2017. Disponível em: <www.geledes.org.br/frente-negra-brasileira-2/> . Acesso em 10 nov. 2020.

[11] PRESIDENTE reconhece Zumbi como herói. Folha de São Paulo. Caderno Cotidiano. 21 nov. 1996. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/11/21/cotidiano/47.html> . Acesso em 10 de nov. 2020. 

[12] SANTOS, Milton. Ser Negro no Brasil hoje. In: SANTOS, M.; RIBEIRO, W. C. (Org.). O país distorcido. São Paulo: PubliFolha, 2002. 221p.

[13] CARDIM, Maria Eduarda; SANTA RITA, Bruno. IPEA: renda dos negros ainda é cerca de duas vezes menor que a dos brancos. Correio Braziliense. 16 de abr. 2019. Disponível em: < https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2019/04/16/internas_economia,749798/renda-dos-negros-ainda-e-cerca-de-duas-vezes-menor-que-a-dos-brancos.shtml>. Acesso em: 10 nov. 2020.

[14] GARCIA, Diego. Homicídios entre jovens negros são quase três vezes maiores do que brancos e chegam a 185 por 100 mil. Folha de São Paulo. 15 de nov. 2019. Disponível em: <https:/www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/11/homicidios-entre-jovens-negros-e-quase-tres-vezes-maior-do-que-brancos-e-chegam-a-185-por-100-mil.shtml>. Acesso em 11 de nov. 2020.

[15] NASCIMENTO, Luciano. Brasil tem mais de 773 mil encarcerados, maioria no regime fechado. Agência Brasil. 14 de fev. 2020. Disponível em:< https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-02/brasil-tem-mais-de-773-mil-encarcerados-maioria-no-regime-fechado>. Acesso em 11 de nov. 2020.

[16] BOLSONARO veta campanha do Banco do Brasil marcada pela diversidade, e diretor é exonerado. O Globo. 25 abr. de 2020. Disponível em:< https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-veta-campanha-do-banco-do-brasil-marcada-pela-diversidade-diretor-exonerado-23621741>. Acesso em 12 de nov. 2020.

[17] CHAUÍ, Marilena. Ideologia da competência. Belo Horizonte: Autêntica/Editora Fundação Perseu Abramo, 2016. 221p.

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Nota oficial do PT afirma apoio a Duarte Junior

O PT de São Luís divulgou uma nota da Executiva Municipal assegurando o apoio da legenda ao candidato Duarte Junior (Republicanos), que vai disputar o segundo turno contra Eduardo Braide (Podemos).

A nota, em tom de repúdio, visa esclarecer a posição unificada do partido e rechaça a atitude isolada de um filiado de fora de São Luís que postou em uma rede social a convocatória de um ato pró-Eduardo Braide.

O texto é assinado pelo presidente municipal do PT e vereador Honorato Fernandes, que foi candidato a vice-prefeito na chapa de Rubens Junior (PCdoB), posicionado em quarto lugar na disputa para a Prefeitura de São Luís.

A Executiva Municipal do PT segue o comando do governador Flávio Dino (PCdoB), que determinou aos aliados o apoio a Duarte Junior.

Veja abaixo.

Diretório Municipal do PT de São Luís

NOTA DE REPÚDIO

Em reunião da Executiva Municipal, realizada na última terça-feira (17), foi definido por 13 votos favoráveis e uma abstenção, o apoio do PT ao candidato Duarte Jr. no 2° turno. A questão foi debatida e a decisão tomada. O PT neste segundo está com Duarte Jr.

Logo, a manifestação individual de um cidadão que nem é filiado ao PT de São Luís não pode ser considerada como desejo da militância do partido, nem representar o PT Municipal.

A direção executiva repudia veementemente a atitude do filiado do Partido em prestar apoio ao candidato Braide usando o nome e símbolos do PT.

O nosso partido tem a tradição de tomar decisões democráticas e cumpri-las, logo, não procede ato da militância petista em apoio ao candidato das bases bolsonarista, Eduardo Braide.

Ressaltamos, essa é uma manifestação individual de um cidadão que nem filiado ao PT de São Luís é. A nossa decisão está tomada e marchamos junto com o governador Flávio Dino em apoio a Duarte Jr. no segundo turno em São Luís.

CEM – Comissão Executiva Municipal do PT de São Luís

Honorato Fernandes

Presidente do PT de São Luís