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Zema Ribeiro lança o livro “Penúltima Página” reunindo entrevistas e textos do jornal Vias de Fato

Fonte: zemaribeiro.com.br

O jornalista foi editor de cultura do periódico que circulou mensalmente em São Luís entre 2009 e 2016. A obra traz 14 entrevistas com artistas e personalidades maranhenses publicadas na página de cultura do jornal, além de seis textos. “Penúltima Página” tem orelha assinada por Jotabê Medeirosprefácio de Flávio Reis e edição e projeto gráfico de Isis Rost. O lançamento será na terça, dia 11, no Chico Discos, centro da cidade.

O Vias de Fato foi um jornal mensal fundado em 2009 pelos jornalistas Emílio Azevedo e Cesar Teixeira, a pedagoga Alice Pires e o fotógrafo Altemar Moraes. Naquele ano teve início uma experiência ímpar de jornalismo combativo, próximo a movimentos sociais e sindicatos e, sobretudo, aberto à colaboração de professores, ativistas sociais, sindicalistas e artistas. O jornal deixou de circular mensalmente em 2016 e nos três anos seguintes teve algumas edições com periodicidade irregular.

“Penúltima Página” surge da ideia de celebrar os 10 anos que o Vias de Fato teria completado ano passado. O livro apresenta um panorama despretensioso da cultura do Maranhão durante o período em que colaborei com a editoria de cultura do jornal e sai graças aos esforços dos amigos que compraram exemplares antecipados a fim de garantir a impressão de parte da tiragem”, afirma Zema Ribeiro, que é jornalista cultural e atual diretor da Escola de Música Lilah Lisboa. Assina o principal blog cultural da cidade onde se apresenta como “um homem de vícios antigos, ainda compra livros, discos e jornais”.

“Era um outro momento, em relação ao obscurantismo galopante de nossos dias, e por lá desfilaram vários nomes, em geral uma rapaziada mais próxima do experimental, do escracho e não da reverência, do combate e não da submissão. Zema escreve bem, tem lastro de leituras, agilidade e curiosidade para encarar as dificuldades de fazer jornalismo cultural numa terra pouco afeita a debates e críticas”, afirma o professor do departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA Flávio Reis, no prefácio do livro.

O livro começa com uma entrevista de Paulo Melo Sousa, jornalista, poeta e articulador cultural, então às voltas com a experiência do Papoético, uma roda de conversas que acontecia no Chico Discos, local de reunião de alguns boêmios inveterados da cidade. A partir daí, temos uma sucessão de compositores (Gildomar Marinho, Bruno Batista, Marcos Magah e Henrique Menezes); de gente do cinema (Frederico Machado, Mavi Simão, Francisco Colombo, Paulo Blitos); do teatro (Lauande Ayres); da literatura (Bruno Azevedo, Celso Borges e Reuben, então editores da revista Pitomba!); e das cantoras Flávia Bittencourt, Lena Machado e Patativa, além de nomes da militância sindical e dos direitos humanos (Novarck Oliveira e Ricarte Almeida Santos).

“Penúltima Página” inclui também textos sobre os 30 anos do disco “Fulejo”, de Dércio Marques, o lançamento de “Baratão 66”, um quadrinho anárquico de Bruno Azevêdo e Luciano Irrthum, e uma enquete, feita com 11 pessoas ligadas ao meio musical, sobre os 12 discos mais importantes da música maranhense, realizada em 2013, quando se comemoravam os 35 anos do lançamento dos discos “Bandeira de Aço”, de Papete, e “Lances de Agora”, de Chico Maranhão.

A obra marca o quarto lançamento do selo Passagens, de Isis Rost, que abraçou a ideia da edição do livro com entusiasmo, reuniu material fotográfico e elaborou o projeto gráfico. A editora disponibiliza gratuitamente as versões em e-book em seu site.

Serviço

O quê: noite de autógrafos de “Penúltima Página: Cultura no Vias de Fato” (Editora Passagens), de Zema Ribeiro

Quando: dia 11 de fevereiro (terça-feira), às 19h

Onde: Chico Discos (esquina da rua dos Afogados com São João, Centro)

Apoio cultural: Equatorial Energia

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Solidariedade à rádio comunitária Difusora, de Zé Doca, Maranhão

A ABRAÇO Maranhão manifesta sua solidariedade à rádio comunitária Difusora FM, de Zé Doca, que foi atingida por raio em decorrência de um temporal na cidade que durou quase duas horas.

O raio atingiu a torre da emissora, queimou o transmissor, 1 computador, 1 nobreak, 1 DVR, 1 TV de 32 polegadas, 1 roteador e outros equipamentos, deixando a rádio fora do ar.

Nesse momento de dificuldades do nosso companheiro e da equipe da Difusora FM, pedimos apoio de todos que possam ajudar.

Cícero Julio é um grande lutador na causa das rádios comunitárias e merece toda a nossa solidariedade.

O contato de Cícero Júlio é + 55 98 8139-6510.

Atenciosamente,
ABRAÇO Maranhão.

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Abraço Brasil e associações estaduais de rádios comunitárias apresentam reivindicações ao Consórcio Nordeste

Nos dias 7 e 8 de fevereiro de 2020 foi realizado em Salvador (BA) o II Encontro das Abraço(s) da Região Nordeste, com a participação de dirigentes das associações dos estados do Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.

Durante o evento foi aprovada a “Carta de Salvador”, documento que sistematiza as reivindicações da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) e das suas filiadas regionais para os governadores do Consórcio Nordeste.

O Consórcio Nordeste é uma parceria criada em agosto de 2019 entre os gestores da região para tratar de parcerias no comércio de bens e serviços e otimizar as ações de saúde, educação e segurança pública, entre outras proposições, como amenizar a guerra fiscal.

Formado por governadores do campo democrático-popular, o Consórcio Nordeste visa facilitar o desenvolvimento e execução de políticas públicas mediante parcerias e ações conjuntas envolvendo as administrações na região.

Sintonizadas nessa perspectiva, a Abraço Brasil e suas filiadas nordestinas sistematizaram um conjunto de propostas para apresentar aos governadores.

Nas principais reivindicações, a Carta de Salvador solicita que os gestores abram diálogo com as entidades representativas das rádios comunitárias regionais e nacional visando à formulação e execução de ações conjuntas de comunicação, inclusive com a retransmissão do radiojornal “Giro Nordeste”.

As associações de rádios comunitárias solicitam ainda que os governadores mobilizem as suas bancadas em nível federal (deputados e senadores) para votar a favor dos projetos de lei sobre rádios comunitárias que tramitam no Congresso Nacional com o propósito de aumentar a potência e o número de canais para as emissoras; permitir a  veiculação de propaganda e publicidade do comércio; garantir isenção da cobrança de direitos autorais pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição); e assegurar o acesso às verbas publicitárias públicas pelas rádios comunitárias.

A Carta de Salvador também reivindica dos governadores a aprovação de projetos nas

Assembleias Legislativas com o objetivo de financiar, apoiar e estimular o funcionamento das rádios comunitárias, criando legislação estadual específica de fomento à comunicação comunitária, popular, alternativa e independente.

Outra reivindicação apresentada no documento pede que os gestores do Consórcio Nordeste invistam na capacitação dos radialistas comunitários, proporcionando cursos de formação para os radialistas nas Escolas de Governo e nas secretarias de Comunicação, Cultura e Educação.

A Carta de Salvador requer ainda que o Consórcio Nordeste firme convênio para a veiculação do programa “Giro Nordeste” nas emissoras comunitárias na região.

O presidente da Abraço Brasil, Geremias dos Santos, afirmou que a Carta de Salvador é um chamado aos governadores da região Nordeste sobre a importância das rádios comunitárias para uma comunicação estratégica diante do avanço da onda conservadora e do pacto estabelecido entre a grande mídia e a ultradireita para liquidar a democracia no Brasil.

Na Carta de Salvador os proponentes registram uma iniciativa exitosa do governo do Rio Grande do Norte, sob a gestão de Fátima Bezerra, que investiu no fomento às rádios comunitárias e movimentos culturais, exemplo a ser seguido por todos os gestores da região, segundo a avaliação dos participantes do II Encontro das Abraço(s) da Região Nordeste.

Além de Fátima Bezerra, integram o Consórcio Nordeste os governadores Paulo Câmara (PSB-PE), Flávio Dino (PCdoB-MA), Rui Costa (PT-BA), Wellington Dias (PT-PI), Renan Filho (MDB-AL), Camilo Santana (PT-CE) e Belivaldo Chagas (PSD-SE).

Ao final do evento em Salvador foi aprovado o indicativo de realizar o III Encontro das Abraço(s) da Região Nordeste, em Recife, com a participação dos dirigentes estaduais e dos radialistas das emissoras de toda a região, no segundo semestre de 2020.

Veja abaixo a Carta de Salvador

CARTA DE SALVADOR

À governadora e aos governadores do Consórcio Nordeste

Senhora e senhores,

Nós, dirigentes das associações estaduais de rádios comunitárias da região Nordeste, filiadas à ABRAÇO Brasil (Associação Brasileira de Rádios Comunitárias), reunidos em Salvador, Bahia, nos dias 7 e 8 de fevereiro de 2020, dirigimo-nos a Vossas Excelências para expor e reivindicar o que segue:

1 Saudamos a iniciativa de criar o Consórcio Nordeste, articulação que reúne governadores e governadora do campo democrático-popular na formação de uma frente política progressista fundamental para enfrentar a onda conservadora e a ultradireita crescente em nosso país.

2 Em tempo, parabenizamos a produção e circulação do radiojornal “Giro Nordeste”, uma das formas de compartilhamento de conteúdo nas emissoras públicas para dar visibilidade midiática às gestões do Consórcio Nordeste e coesionar esse campo político com uma agenda propositiva.

3 No atual cenário político nacional, a chegada da ultradireita ao governo exige de todos nós democratas a unidade política e ação concreta para enfrentar o projeto conservador e todas as suas consequências.

4 O enfrentamento passa necessariamente pela comunicação como estratégia. Nesse contexto, só temos uma saída – a unidade e a ação programática na política e fundamentalmente na comunicação. Nessa grande tarefa, as rádios comunitárias têm potencial e força para colaborar na resistência e na construção de políticas democráticas de comunicação.

5 Como parte da comunicação pública, as rádios comunitárias irmanam-se a esta perspectiva de construção e fortalecimento do campo democrático-popular, apesar das adversidades e mesmo da falta de compreensão dos governos progressistas sobre a nossa força nas bases.

6 Em 2020 completam 22 anos da Lei de Radiodifusão Comunitária (nº 9.612), instituída em 1998, cujas consequências repercutem no cotidiano do funcionamento das rádios comunitárias em todo o Brasil.

7 Esta lei, em que pese a regulamentação do serviço de radiodifusão comunitária, tem uma série de limitações técnicas e de sustentabilidade para as rádios comunitárias, sendo objeto de questionamentos e contestação da ABRAÇO Brasil, com o objetivo de aperfeiçoar as condições de funcionamento das emissoras.

8 Atualmente tramitam no Congresso Nacional vários projetos de lei com o objetivo de modificar a Lei 9.612/98, com foco nos seguintes eixos: aumento da potência das rádios comunitárias, ampliação do número de canais, permissão para a veiculação de propaganda e publicidade do comércio, acesso à verba publicitária pública e isenção da cobrança de direitos autorais por parte do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).

9 Já temos como referência concreta de apoio às rádios comunitárias a iniciativa do Governo do Rio Grande do Norte, liderado pela professora Fátima Bezerra, através da Fundação José Augusto, que criou uma linha de fomento às rádios comunitárias e movimentos culturais.

10 O exemplo do Rio Grande do Norte vai ao encontro da aspiração do movimento de rádios comunitárias como uma ação concreta de parceria e fortalecimento do campo democrático-popular na comunicação e desejamos que sirva de inspiração a todos os governadores do Nordeste, seja através de projetos de lei ou de editais, bem como outras iniciativas similares.

11 O Consórcio Nordeste, como já mencionamos, é uma iniciativa da qual nós, ABRAÇO Brasil e ABRAÇOs do Nordeste, comungamos e queremos ser participantes. Nesse sentido, apresentamos as seguintes reivindicações:

– Que os governadores do Nordeste abram diálogo com as ABRAÇOs da região e ABRAÇO Brasil para a formulação e execução de ações conjuntas de comunicação, inclusive a retransmissão do radiojornal “Giro Nordeste”;

– Que os governadores do Consórcio Nordeste mobilizem as suas bancadas em nível federal para votar favoravelmente aos projetos de lei sobre rádios comunitárias que tramitam na Câmara e no Senado, quais sejam:

Projeto de Lei sobre aumento da potência e ampliação do número de canais;

Projeto de Lei sobre a permissão para a veiculação de propaganda e publicidade do comércio local;

Projeto de Lei sobre a isenção da cobrança do ECAD;

Projeto de Lei sobre o acesso às verbas publicitárias públicas pelas rádios comunitárias;

– Que os governadores do Consórcio Nordeste articulem junto às Assembleias Legislativas a apresentação de projetos de lei com o objetivo de financiar, apoiar e estimular o funcionamento das rádios comunitárias, criando legislação estadual específica de fomento à comunicação comunitária, popular, alternativa e independente;

– Que os governadores do Consórcio Nordeste invistam concretamente na capacitação para a comunicação pública não estatal, dialogando com as ABRAÇOs da região e ABRAÇO Brasil sobre a implantação de cursos de formação para os radialistas de emissoras comunitárias nas Escolas de Governo e nas secretarias de Comunicação, Cultura e Educação;

– Que os governadores do Consórcio Nordeste, em sintonia com a ABRAÇO Brasil e as ABRAÇOs no Nordeste, firmem convênio para a veiculação do programa “Giro Nordeste” nas emissoras comunitárias na região;

– Que na próxima reunião oficial do Consórcio Nordeste a ABRAÇO Brasil e as ABRAÇOs do Nordeste tenham assento para apresentar publicamente esta Carta de Salvador.

12 Quanto aos projetos referentes às Assembleias Legislativas, frisamos que já existem iniciativas nesse sentido aprovadas no município de São Paulo e no Distrito Federal e em tramitação da Comissão de Constituição e Justiça no parlamento da Bahia, sendo fundamental que esse estado, cujo governador é presidente do Consórcio Nordeste, sirva de exemplo aos demais estados parceiros;

13 Consideramos os projetos de lei estaduais de fomento e financiamento das rádios comunitárias ações concretas para fortalecer o campo democrático-popular no eixo da comunicação. Com essas proposições, nos colocamos à disposição para um diálogo propositivo e de resultados concretos em prol da resistência democrática no Brasil.

Salvador, Bahia, 8 de fevereiro de 2020

ABRAÇO Brasil

ABRAÇO Maranhão

ABRAÇO Piauí

ABRAÇO Rio Grande do Norte

ABRAÇO Paraíba

ABRAÇO Pernambuco

ABRAÇO Alagoas

ABRAÇO Sergipe

ABRAÇO Bahia

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Blog de luto

Devido ao falecimento da minha mãe, Terezinha Ferreira Araújo, o blog ficará sem atualização por uns dias. Volto segunda-feira 10 de fevereiro.

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Energia solar e eólica: moradores das ilhas de Cururupu utilizam os recursos naturais para o cotidiano e turismo

Nos lugares distantes dos grandes centros urbanos, isolados pelas condições geográficas, o uso do sol e do vento pode ser alternativa para a geração de energia e melhoria na vida de pescadores, moradores em geral, do comércio e outras atividades como o turismo.

É o que acontece em duas ilhas da Reserva Extrativista Marinha (Resex) de Cururupu, composta por 17 unidades insulares no litoral ocidental do Maranhão.

Na ilha de Lençóis, famosa pela lenda do sebastianismo, um projeto da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) utiliza a energia do sol e do vento para iluminar as casas, ligar aparelhos eletrodomésticos e até mesmo para a iluminação das poucas ruas da vila.

Fernando Gonçalves fala sobre melhorias no turismo em Lençóis. Imagens: Marizélia Ribeiro

O proprietário da pousada Recando das Aves, Fernando Gonçalves, explicou que antes do sistema de energia híbrida (solar e eólica) o funcionamento da hospedagem era limitado porque não tinha o conforto pleno para os turistas.

A energia na ilha de Lençóis era originada de um motor a diesel que só funcionava em horário limitado.

Já na comunidade Taboa, localizada na ilha de Mangunça, a geração de energia solar é bem mais artesanal e as instalações foram feitas pelos próprios moradores de uma residência. O casal Nalva e Nildo vendeu um porco e com o dinheiro comprou uma placa solar, de muita utilidade para eles.

Nalva vendeu um porco e comprou a placa solar. Imagens: Marizélia Ribeiro

Taboa, onde moram apenas seis famílias, é desprovida de qualquer sistema de energia. Não tem sequer motor a diesel. Os pescadores têm de ir até a sede do município de Cururupu em uma viagem de 3 horas de barco para comprar gelo e acondicionar os produtos do mar.

Sem acesso fácil ao gelo, a maior parte da produção é colocada ao sol para secar.

A única alternativa dos moradores é a utilização de placas de energia solar adaptadas a outros equipamentos que permitem iluminar a casa e funcionar eletrodomésticos.

Controvérsias

Um dos entraves no uso dos recursos naturais para a geração de energia é a gestão e o interesse empresarial. Na ilha de Lençóis o projeto inicial era da UFMA e a taxa paga pelos moradores, simbólica. Quando passou para a gestão da Cemar, os preços foram para a estratosfera (veja o vídeo).

O crescente uso da energia solar abriu recentemente uma polêmica sobre “taxação do sol”, proposta pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A “taxa do sol” consiste em diminuir os subsídios do consumidor que utiliza um painel fotovoltaico em casa, por exemplo. Na prática, essa medida, se aprovada em definitivo, vai tornar mais cara a energia obtida com o recurso natural do sol.

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Fórum de Mulheres convoca ato contra o feminicídio e propõe diálogo com a imprensa

Após a publicação de uma nota de repúdio (veja abaixo) sobre o assassinato de Bruna Alícia, o Fórum Maranhense de Mulheres convoca os movimentos sociais e a população em geral para um ato público dia 29 de janeiro (quarta-feira), às 15 horas, em frente à Casa da Mulher Brasileira, no bairro Jaracaty.

A manifestação tem o objetivo de repudiar o crime, caracterizado como feminicídio, e dialogar com os profissionais de mídia sobre a cobertura do fato pelos meios de comunicação.

O Fórum Maranhense de Mulheres propõe uma reflexão educativa sobre o papel da imprensa no combate à violência e criminalização da mulher vítima.

Veja abaixo a Nota de Repúdio do Fórum Maranhense de Mulheres

FEMINICÍDIO E O ATO COVARDE DO ASSASSINO DE BRUNA ALICIA

Mais uma mulher vítima de feminicídio. Desta vez foi Bruna Alícia, uma jovem de pouco mais de 20 anos, assassinada de forma cruel, torpe, violenta, pelo seu marido. A crueldade se faz mais monstruosa ainda em virtude da forma como estão sendo veiculadas matérias sobre o caso nas redes sociais. Grande parte delas destruindo a imagem da vítima, que passa a ser responsabilizada pela sua morte.

Que é isso? Em que mundo estamos? Ainda estamos vivendo na idade média? Porque as mulheres continuam sendo vítimas desta cultura patriarcal que nos oprime e nos reduz a um órgão sexual que tem como finalidade apenas procriar e dar prazer aos homens, ao marido em especial.

Bruna Alícia está sendo destruída na sua moral e na sua integridade de ser humano. Mesmo sendo violentamente assassinada, ainda assim, não está sendo vista com humanidade que todo cristão merece. Sua morte  não lhe dá paz, sua morte é justificada por um possível adultério que teria praticado. 

Com esse argumento o assassino, seus amigos e uma parte da sociedade conservadora, machista, patriarcal e misógina, explica e justifica sua morte. “Foi merecida” dizem alguns e algumas que passam a inocentar o feminicida, naturalizando o crime hediondo praticado por este policial. O mais cruel de tudo isso é a lista que circula nas redes de amigos do assassino fazendo vaquinha para contratar um advogado para livrar este bandido da cadeia que merece. 

Com esse tipo de prática os policiais demonstram o quanto são coniventes com a violência praticada contra as mulheres e o feminicidio. É surpreendente esta atitude, onde se viu uma coisa dessas, uma corporação estimulando a impunidade. 

Nós, mulheres, que integram O FÓRUM MARANHENSE DE MULHERES, protestamos! Queremos justiça! Queremos uma policia preparada e não policiais desequilibrados que não sabem controlar seus impulsos assassinos.

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Carnaval: Abraço divulga músicas de autores maranhenses para as rádios comunitárias

A riqueza de ritmos do Carnaval produzida por cantores e compositores do Maranhão está disponibilizada para tocar nas rádios comunitárias espalhadas nos 217 municípios do estado.

A iniciativa é da Abraço (Associação Brasileira de Rádios Comunitárias) no Maranhão com o objetivo de valorizar, divulgar e encantar os ouvintes com a grande e criativa produção musical dos artistas locais.

Na nuvem distribuída pela Abraço Maranhão estão disponíveis 1,5 giga de músicas carnavalescas e também do bumba-meu-boi.

Qualquer rádio comunitária pode acessar e baixar no seguinte endereço:

https://mega.nz/login

Basta entrar com o e-mail abracomamusicas@gmail.com a senha abracomaranhao

Todas estas músicas foram encontradas na internet. Caso queiram contribuir com outros sucessos regionais, basta fazer upload nesta plataforma https://mega.nz/login  

O repertório tem desde músicas dos antigos carnavais, passando por sucessos memoráveis até escolas de samba, blocos e também bumba-meu-boi.

As produções musicais novas dos grupos e bandas que pretendem disponibilizar suas composições podem procurar a Abraço Maranhão e enviar suas músicas para colocarmos na nuvem.

Basta entrar em contato pelo email: fcemoraes@gmail.com

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Os últimos jornaleiros de São Luís

Ed Wilson Araújo

No vozeirão de Alcione, a música “Todos cantam a sua terra”, de João do Vale, é uma das melhores traduções sobre os pregões cantados pelos antigos vendedores de jornal naquela São Luís do passado.

“Acho bonito até / O jornaleiro a gritar / Imparcial / Diário / Olha o Globo / Jornal do Povo / descobriu outro roubo”

Profissão em fase de extinção, pelo menos no sentido formal, o jornaleiro sente no bolso o declínio das vendas dos impressos diante da oferta de publicações na internet.

Na palma da mão, os dispositivos móveis acessam jornais e revistas com facilidade, agilidade e as múltiplas ofertas do ambiente virtual, como os hiperlinks, capazes de levar o consumidor a navegar por muitas janelas de informação.

Embora a opção pelo digital seja avassaladora, em São Luís ainda persistem uns poucos vendedores de jornal impresso, distribuídos em alguns pontos da cidade.

De bicicleta, Humberto ainda faz entregas de jornal para os clientes antigos

Um dos jornaleiros mais antigos, ainda em atividade, é Humberto Rodrigues Garcia, com anos 30 dedicados à comercialização dos diários impressos. Natural de Pinheiro, ele veio para São Luís com apenas 17 anos de idade e logo passou a vender jornais. Atualmente tem um ponto na rua dos Bicudos, no Renascença II, mas já vendeu na Curva do 90 e no Cohafuma.

A rotina de trabalho começa ainda na madrugada, quando sai de casa no bairro Gapara (na área Itaqui-Bacanga) e recebe os jornais. A partir das 5h30 ele começa a fazer entregas de bicicleta para os clientes fixos nos condomínios do Renascença II e depois concentra a venda no ponto onde já é bastante conhecido há décadas.

“Os leitores antigos são fieis. Entrego para 25 clientes por semana. Tem deles que compram até três jornais por dia e ainda faço as vendas direto aqui no local permanente”, detalhou Garcia.

No rol dos veteranos está Carlos Augusto Alves Sousa, o popular “Careca”, jornaleiro há três décadas e atualmente fixado no retorno do Calhau. Durante 25 anos viveu exclusivamente da venda de jornal, mas a procura caiu muito com a internet. “Na época que saia o listão dos aprovados no vestibular eu cheguei a vender 800 jornais por dia”, registrou.

Careca vendia bem nos bons tempos do “listão” do vestibular

Mas, a procura caiu vertiginosamente. Careca soma a venda de 20 jornais nos dias úteis e aos domingos comercializa até 80 exemplares. “Já foi muito melhor. Domingo eu chegava a vender até 300 jornais”, recordou. Ele mensurou que nos últimos cinco anos não é mais possível viver apenas da comercialização de jornal e por isso tem uma atividade paralela no turno vespertino para completar a renda.

Da RFFSA à feira do João Paulo

Outro antigo no ramo dos impressos é José Ribamar Araújo, 49 anos, conhecido pelo codinome “Buiú” em toda a feira do João Paulo, onde já vende jornais há 25 anos, ao lado de uma pequena banca onde também comercializa limão. “As vendas não são mais como antes, caiu muito, mas ainda tem uns clientes que compram todo dia”, explicou.

“Buiú” vende limão e jornal na feira do João Paulo

Alguns casos atravessam gerações. Na feira do João Paulo, Fábio “Secreta” herdou a venda de jornais da sua avó e ainda mantém o ofício de jornaleiro misturado com vários bicos, entre eles a venda de verduras, frutas e hortaliças, junto com os jornais pendurados em um fio por cima das outras mercadorias.

A venda de jornal só persiste devido à fidelidade dos leitores, alguns sem qualquer contato com os dispositivos digitais e ainda vinculados ao consumo das notícias na plataforma analógica – o papel.

Entre eles está o aposentado José Braga Cantanhede. Apaixonado por política, lê o jornal paulatinamente durante o dia e não perde a “Coluna do Sarney”, publicada aos domingos no jornal “O Estado do Maranhão”. Como os jornais acabam transbordando os interesses dos proprietários ou grupos empresariais controladores das linhas editoriais, os leitores também se alinham às posições políticas dos seus impressos prediletos.

Seu Braga, leitor fiel, é fã da Coluna do Sarney

Alguns jornaleiros são também leitores assíduos e manifestam suas preferências. É o caso de “Considerado”, fã do governador Flávio Dino. “Ele comprou jornal comigo na campanha para prefeito de São Luís em 2008 e ainda vai ser presidente do Brasil”, profetizou.

“Considerado” é o apelido de Pedro Luís Nascimento, 54 anos, desde 2007 vendendo impressos na área da RFFSA, no Centro Histórico. Cearense de Juazeiro do Norte, ele ganhou o apelido de “Considerado” porque trata todas as pessoas por essa palavra.

“De tudo que eu já fiz a venda de jornal é uma das melhores coisas porque eu aprendi muito. Você se apaixona por isso, faz amizades e tem uma fonte de conhecimento sobre política, economia e outros assuntos”, enfatizou.

Para “Considerado”, Flávio Dino ainda vai ser presidente do Brasil

Pedro da RFFSA, o “Considerado”, tem consciência do declínio das vendas do impresso. “Não dá para viver de jornal como antes. Com a internet caiu em 90% a venda dos jornais de papel. Tem de ter um complemento, um bico para sobreviver”, afirmou.

Rotina e dedicação

Acordar muito cedo é a condição essencial para a profissão de jornaleiro. “Buiú” pega no batente todos os dias logo às 4h da madrugada na feira do João Paulo. “Careca” recebe os jornais às 6h da manhã e Humberto começa a fazer as entregas para os clientes às 5h30, pedalando na sua bicicleta.

No João Paulo tem ainda um ponto de vendas na esquina da rua da Cruz com a avenida São Marçal, onde há 15 anos o casal Francivaldo Lucas do Nascimento e Waldicleia Melo Barbosa comercializa jornais.

Quando iniciou a venda, Francivaldo Nascimento trabalhava em uma loja de móveis no João Paulo e viu o ponto ser passado por várias pessoas durante uns 30 anos, até que surgiu a oportunidade para ele assumir a venda juntamente com a esposa. Todos os dias, faça chuva ou sol, estão na lida.

Ambos reconhecem a dificuldade do impresso com a expansão da internet e conseguiram outros trabalhos fixos. Hoje vendem jornal apenas entre 6h e 8h da manhã para a freguesia já consolidada. “É mais um bico para nós. Ficaram poucos clientes, apenas os tradicionais”, lamentou Barbosa.

Francivaldo e Waldicleia fazem “bico” vendendo jornal em um antigo ponto do João Paulo

O gazeteiro do Vias

Diferente dos tradicionais vendedores de jornal, o artesão Elmo Cordeiro foi um dos principais ativistas do “Vias de Fato”, impresso criado em 2009 por um coletivo formado pelos jornalistas, educadores, artistas e entusiastas da mídia alternativa.

Elmo Cordeiro era estudante de História na Universidade Federal do Maranhão (Ufma) e nas horas de folga sempre panfletava e vendia o “Vias de Fato” nos corredores do campus do Bacanga. “Eu fazia ativismo político, era militante da causa do jornalismo alternativo e da democratização da comunicação”, conceituou.

Incorporado à equipe do jornal, ele explicou que participava do processo de produção, tinha assento nas reuniões de pauta e da tomada de decisões, não era apenas um vendedor de jornal.

Além da distribuição no campus do Bacanga, Cordeiro fazia o jornal circular em manifestações públicas, nos eventos fechados, agitações políticas e culturais junto com a equipe do Vias de Fato. Ele ainda percorria grande parte dos prédios comerciais do São Francisco e do Renascença, fazendo a venda e panfletagem nos lugares estratégicos para um público formador de opinião.

Sobre a migração dos jornais para a internet e os dispositivos móveis, ele avaliou que o produto impresso sempre terá importância. “O livro e o jornal de papel são imortais, principalmente para os conteúdos da mídia alternativa, que deve persistir. Ainda tem espaço para o jornal de papel, não para o jornalismo de negócio, de mercado e de conveniências. Acho que este modelo está com os dias contados”, ponderou.

Transformações na indústria de notícias

Pesquisadores e professores universitários avaliam as mudanças do jornal de papel para as plataformas digitais como algo pertinente à própria história dos meios de comunicação, sendo agora as mudanças cada vez mais rápidas. A professora doutora do Departamento de Comunicação Social – Jornalismo da Ufma, Rakel de Castro, aponta o contexto da convergência tecnológica, profissional, empresarial e de conteúdo como características principais de uma permanente renovação. “A internet potencializa as conexões e coproduções no texto noticioso e, mais recentemente, a emergência da mobilidade na era dos smatphones”, pontuou.

Segundo Castro, no comparativo entre o analógico e o digital, as diferenças se apresentam em transformações no mundo do trabalho diante da formação de grupos empresariais multimidiáticos. Se algumas funções desapareceram nos jornais impressos, como tipógrafos e fotocompositores, outras atividades surgiram no ambiente das novas profissões, como o moderador de conteúdo para as redes digitais em um ritmo de produção fortemente marcado pela instantaneidade.

O aspecto geracional da sustentabilidade também é apresentado pela pesquisadora como um fator de análise na era digital. “Neste caso, o papel do jornal impresso, por exemplo, além de ser extremamente mais caro para circular em grandes proporções, requer muito mais sacrifício do meio ambiente do que a distribuição digital de informação via Internet, sem falar na rapidez. Nesse cenário, não dá para definir quando o jornalismo impresso terá data para findar, mas há uma certeza: a forma como o conhecemos hoje vai deixar de existir em breve, por uma questão estrutural demandada por novas formas de se comunicar dessa geração atual.”, explicou Rakel de Castro.

Jorge Santos ainda não está adaptado às “modernidades”

Entre os leitores, embora escassos, paira o gosto pelo papel. Francisco Silva Moreira, 56 anos, compra os impressos até cinco vezes por semana direto nos jornaleiros, há 25 anos. Quando não tem tempo para ler durante o dia, guarda o exemplar para consumir à noite e até coleciona alguns números antigos, principalmente quando tem notícia sobre seu time predileto – o Sampaio Correia – ou da seleção brasileira. Moreira tem preferência por esporte e futebol, gosta do colorido do jornal de papel e dificilmente lê no celular.

Os próprios jornaleiros são leitores assíduos. “Considerado” avalia o jornal como uma grande fonte de conhecimento. Já Humberto Garcia diminuiu as leituras porque tem muita notícia de violência. “Depois que eu virei evangélico prefiro ler a bíblia e os hinos de louvor”, justificou.

Professor doutor do Departamento de Comunicação Social – Jornalismo e coordenador do Labcom/Ufma, Marcio Carneiro dos Santos interpreta o cenário digital do Jornalismo como uma tendência não à extinção do jornal de papel “e sim para a reconfiguração do impresso em uma atividade de nicho, reduzida e específica”, sintetizou.

Cliente fiel compra jornal na Beira-Mar

Ele visualiza esse cenário com base nos vetores econômico, tecnológico e cultural. Como atividade econômica o impresso tem um custo de produção e distribuição elevado (maquinário, insumos e mão de obra), além da logística para fazer o produto final circular. “O meio digital eliminou a maior parte desses itens e tornou-se a resposta natural para a sobrevivência das organizações jornalísticas que tem visto seu faturamento cair, em virtude da fragmentação das audiências e da explosão de emissores no ecossistema dos meios de comunicação”, enumerou Carneiro.

O vetor tecnológico, segundo o pesquisador, está fundamentado na ampliação da infraestrutura de internet, preço baixo, aumento da oferta dos dispositivos móveis e das suas funcionalidades. Esse conjunto de fatores alterou as lógicas de consumo, onde predominava um ambiente de escassez da produção dos grandes veículos de mídia para a “explosão de emissores”, empoderados por redes e numa disputa de atenção marcada pela fragmentação da audiência.

Nos seus estudos o professor observa também nesse contexto a precarização do trabalho dos jornalistas em muitos casos; ou seja, nem tudo é benefício com nesse novo cenário de automatização da produção de conteúdo. Por um lado, a multiplicação dos meios viabiliza a alternância de vozes e pontos de vista, com maior facilidade para a distribuição de conteúdos. “Entretanto, as fakenews, a difusão da intolerância, as polarizações instransponíveis e a violência explicitada pelos canais digitais constituem o lado sombrio da mesma moeda”, ponderou o pesquisador.

Marcio Carneiro dos Santos sugere uma visada não determinista sobre o futuro. “Talvez a situação do jornalismo impresso siga o mesmo caminho ou, como acreditamos, siga o pensamento de McLuhan que dizia que os velhos meios se transformavam em obras de arte, de consumo restrito, num processo já percorrido pelos discos de vinil, por exemplo.”, ilustrou.

Arnaldo Garcia sempre para nas bancas para ler as manchetes

Aproximado a essa forma de ver o impresso, como se fosse um vinil sofisticado, o superintendente de produção de “O Imparcial”, Célio Sergio, pensa na sobrevivência do jornal de papel com as devidas adaptações aos novos tempos. “A tendência do impresso é ser um produto mais opinativo, interpretativo e analítico, enquanto o jornal online já é mais focado no factual”, diferenciou. Quanto ao formato, o suporte de papel deve seguir a tendência do tablóide, mais fácil de manusear e com um tipo de diagramação aproximado do estilo de revista, mas com a periodicidade diária, projetou Sergio.

Focar no conteúdo opinativo também é a visão do diretor do “Jornal Pequeno”, Lourival Bogéa. Questionado sobre o processo de extinção do impresso, refutou esta perspectiva. Para ele, jornal tem importância como formador de opinião. “Acredito em fórmulas capazes de proporcionar vida longa ao jornal no papel, como, por exemplo, dando a ele um formato mais de revista, com textos aprofundados e que possam levar, principalmente sociedades em desenvolvimento, a uma grande reflexão sobre o mundo que vive hoje. Vejo o impresso como agente de contextualização de fatos jogados a esmo no dia a dia, via online, e que não permitem à opinião pública ter uma noção exata do que acontece. Vejo o impresso, consequentemente, como aprofundador desses fatos, numa contextualização altamente interessante e favorável ao físico”, detalhou Bogéa.

Para o jornalista Emilio Azevedo, um dos fundadores e o editor do jornal “Vias de Fato”, a ameaça de morte do impresso é evidente. “O desafio do Jornalismo, tão velho quanto necessário, tem sido se manter como referência na internet. O chamado mundo digital é povoado por mentiras. Sendo assim, a fonte da notícia é fundamental. É aí que entra o Jornalismo”, pontuou.

Referência em comunicação alternativa, o Vias de Fato, fundado em 2009, circulou mensalmente durante cerca de oito anos. Embora ancorado no papel, a reverberação do produto impresso teve na internet uma aliada natural e muito importante. Nessa perspectiva do digital, Azevedo vislumbra saídas para a mídia independente. “No caso do jornal Vias de Fato, ficou inviável manter a circulação. Nossa alternativa foi buscar uma nova forma de organização. E nessa busca, nós juntamos com novos parceiros na Agência Tambor, que a partir de um site (com uma web rádio) e de diferentes redes sociais, converge som, imagem e texto. Assim como o “velho” Vias, a repercussão da ação alternativa da Tambor também é evidente”, registrou.

A jornalista Claudia Santiago, por sua vez, pensa o jornal impresso como arma da luta de classes. Inspirada no filósofo e ativista Antonio Gramsci, ela afirma que os trabalhadores precisam ter os seus próprios meios de comunicação.

Fundadora e coordenadora do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), escola de formação especializada em comunicação sindical, ela assegura que o instrumento mais importante nesse segmento está no corpo do sindicalista ou da sindicalista: os olhos e a língua no contato direto com as suas bases, sendo imprescindível o jornal de papel, entregue de mão em mão.

Fabio “Secreta” herdou o ponto da sua avó, na feira do João Paulo

“Nada substitui o momento da entrega do jornal. Principalmente agora, que se usa cada vez mais a Internet para tudo e estamos perdidos em uma floresta de informações. O jornal do sindicato passa a ser recebido como uma figura importante. Se antes ele já era o único jornal que entrava na casa da maioria dos trabalhadores, imagina agora. E se o povo não sabe ler, desenhe. Ter poucos anos de escola não significa não ser tremendamente sensível e inteligente. Então, continuo defendendo que sindicatos façam jornais de papel. Se não souber como fazer, me procura que eu ajudo”, provocou Santiago.

Jornal no quilo

Enquanto as mudanças acontecem, Hamilton Pereira, 52 anos, está ganhando mais dinheiro vendendo jornais “velhos”, armazenados com as sobras da sua banca, localizada no Mercado Central, em São Luís.

Jornais antigos são vendidos no quilo na banca de Hamilton

Depois de quatro décadas trabalhando como jornaleiro ele percebeu, há cinco anos, que somente a venda de jornais diários não rendia mais e decidiu agregar valor ao seu negócio. Assim, além dos diários, passou a vender exemplares antigos que são comprados para usos diversos. Ele percebeu que as pessoas pediam encomendas de jornais velhos e faz dessa demanda parte de seu comércio. Também começou a vender CD com reggae, sofrência e outros ritmos musicais, caça-palavras e DVDs.

“É mais negócio, hoje em dia, vender jornal velho, rende melhor que o novo”, afirmou Pereira. O quilo do usado custa R$ 4,00. Os clientes preferenciais, nos últimos anos, são os donos de bichos de estimação, principalmente cachorros. “Compram para forrar espaços onde os animais domésticos dormem ou ficam mais tempo. Para eles é mais prático, econômico e higiênico. Forrando com jornal, fica fácil de limpar o local dos bichos”, explicou.

Os exemplares antigos são comprados também para empacotamento de produtos em lojas e quitandas, com o objetivo de acomodar o transporte de peças frágeis como louças e ovos; limpar vidraças; revestir caixa de isopor com peixe para viagens; forrar gaiolas com passarinho, entre outras finalidades. “Tem muitas utilidades, sai bem e todo dia”, computou Pereira, que começou vendendo jornais avulsos pelas ruas, no início da adolescência e, logo depois, se fixou no Mercado Central.

Ele se orgulha ao dizer que somente com a profissão de jornaleiro criou os seus três filhos. “Todos estão independentes e trabalhando”, comemorou.

Diferente dos diários focados em notícias e reportagens do cotidiano, os jornais alternativos com periodicidade mais elástica geralmente têm artigos e reportagens com textos longos, analíticos e interpretativos, que acabam se transformando em documentação e referência para estudos acadêmicos.

O Vias de Fato, por exemplo, tem uma coleção com todas as edições arquivadas e o acervo impresso é fonte de pesquisa para estudantes e professores. “Ironicamente, também existe uma cobrança pra que se faça a digitalização do acevo”, avisou Emilio Azevedo.

Se ir a uma banca ou ao jornaleiro para buscar um produto jornalístico e pagar por ele tornou-se algo até estranho para a maioria da população, ainda é um hábito cultivado por fiéis amantes do “velho” jornal de papel.

Os jornaleiros sentem na pele as transformações na indústria da notícia. Todos os vendedores de impressos ouvidos pela reportagem estão apreensivos e de certo modo pessimistas com o fim do jornal de papel.

Entre mudanças, transformações e ressignificações, o mais importante de tudo é que o Jornalismo siga aperfeiçoando as suas finalidades – informar, instruir, educar, esclarecer, buscar a verdade, provocar, polemizar, prestar serviço e, sobretudo, produzir conhecimento sobre a realidade. Eis o papel do jornal, mesmo que seja digital.

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Organizações de jornalistas e juristas repudiam denúncia de procurador do MPF contra Glenn Greenwald

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) publicaram notas críticas sobre a iniciativa do procurador Wellington Divino Marques de Oliveira, do Ministério Público Federal (MPF), que acusou sem provas o jornalista Glenn Greenwuald, do The Intercept Brasil, de participar da invasão de celulares de autoridades brasileiras.

Greenwald é um dos autores da série de reportagens denominada “Vaja Jato”, publicada pelo Intercept desde 2019, revelando os diálogos travados em um aplicativo de mensagens entre figuras da Justiça como o ex-juiz e atual ministro Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol para orientar o andamento de processos da Operação Lava Jato.

De acordo com as duas entidades, a iniciativa do procurador agride a liberdade de imprensa.

“Lamentavelmente, o MPF ignora a Constituição Brasileira, que assegura a liberdade de imprensa. Ignora também decisão de 2019 do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou que o jornalista não fosse investigado no âmbito da Operação Spoofing, da Polícia Federal, destinada a investigar invasões de celulares de autoridades.”, diz a nota da Fenaj.

A Abraji, ao se posicionar sobre a ação do MPF, afirma: “É um absurdo que o Ministério Público Federal abuse de suas funções para perseguir um jornalista e, assim, violar o direito dos brasileiros de viver em um país com imprensa livre e capaz de expor desvios de agentes públicos. A Abraji repudia a denúncia e apela à Justiça Federal para que a rejeite, em respeito não apenas à Constituição, mas à lógica.”

O procurador também foi repudiado pela Associação Brasileira de Juristas Pela Democracia (ABJD), por meio de uma representação ao MPF sustentando que o procurador Wellington Divino Marques de Oliveira cometeu abuso de autoridade contra o jornalista Glenn Greenwald e pede que seja instaurado procedimento de investigação para apuração de conduta ilícita. 

O procurador Wellington Oliveira deve ser enquadrado na Lei de Abuso de Autoridade (nº 13.869) por denunciar sem provas Glenn Greenwald, afirma a ABJD.

Imagem destacada: Evaristo Sá/AFP

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Relatório do Iphan: dupla franco-brasileira fez escavações ilegais em quilombos no Maranhão

Documento oficial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reafirma na inspeção feita em Bacuri as denúncias publicadas pelo Blog do Ed Wilson sobre as violações de sítio arqueológico na comunidade quilombola São Félix. Os delitos foram praticados pela paraense Magnólia Gonçalves de Oliveira e seu comparsa francês François-Xavier Pelletier.

Leia abaixo as reportagens do Blog do Ed Wilson

A nova pirataria “francesa” em comunidades quilombolas do Maranhão

Pirataria “francesa”: Polícia Civil apreende objetos históricos furtados de comunidades quilombolas no Maranhão

A dupla franco-brasileira fez perfurações e escavações não autorizadas, furto e transporte irregular dos artefatos pertencentes às áreas quilombolas de São Félix e Mutaca. Em relação ao furto de objetos na comunidade Mutaca, o Ministério Público acionou a Justiça, que expediu mandado de busca e apreensão cumprido pelas polícias Civil e Militar na casa onde moravam Magnólia Oliveira e François-Xavier, localizada no povoado Portugal, na periferia de Bacuri, município do litoral ocidental do Maranhão.

Moradores de São Félix observam a mutilação do sítio arqueológico.
Foto: Marizélia Ribeiro.

Concluída a ação policial com ordem judicial, ficou provado que na casa alugada para a dupla franco-brasileira estavam escondidos centenas de achados arqueológicos retirados de São Félix e Mutaca. Em seguida, o Iphan realizou inspeção técnica e emitiu parecer com base em imagens, relatos e trabalho de campo feito por arqueólogo.

De acordo com o relatório do Iphan, as escavações são ilegais, feitas sem autorização, configurando mutilação de sítio arqueológico e transporte de material sem permissão.

Objetos selecionados foram encontrados na casa do povoado Portugal, onde morava a dupla François e Magnólia. Foto: relatório do Iphan

No item “Conclusão e Encaminhamento”, o relatório aponta várias irregularidades cometidas por Magnólia Oliveira e François-Xavier e, ao final, recomenda a tomada de providências contra a dupla de infratores.

O documento do Iphan lista vários trechos da legislação brasileira infringidos por Magnólia e François-Xavier, que agiram de forma ilegal. Para aliciar os moradores dos quilombos, a dupla “prometia” que os objetos retirados das escavações serviriam para implantar um museu em Bacuri e atrair turistas para o povoado Portugal.

Na casa do povoado Portugal também foram encontrados resíduos com anotações em sacos plásticos. Foto: relatório do Iphan

Segundo o relatório do Iphan, “foi elucidado que os objetos constituem artefatos configurados como patrimônio cultural brasileiro de interesse arqueológico, que, por sua vez, são portadores de referência à identidade, dos diferentes grupos que habitam ou habitaram a área em questão.”

Veja abaixo o trecho final do relatório:

“Em síntese, a partir do relatado, pode-se inferir que as escavações arqueológicas, promovidas pelos Senhores François Polletier e Magnólia Gonçalves de Oliveira, na comunidade São Felix, foram realizadas de forma ilegal. Citam-se os seguintes aspectos:

– Escavação sem portaria autorizativa, contrariando a Portaria 07 de 1988.

– Mutilação de sítio arqueológico, conforme Art. 3º da Lei 3.924 de 1961 e Art. 63 da Lei 9.605 de 1988;

– Transporte de material arqueológico sem permissão, segundo Portarias IPHAN 195, 196 e 197 de 2016.

O relatório recomenda, ainda, “tomar as devidas providências quanto à atuação irregular dos Senhores François Polletier e Magnólia Gonçalves de Oliveira.”

Colar misterioso

A brasileira e seu comparsa francês não tiveram qualquer autorização de nenhuma instituição do governo brasileiro para realizar perfurações, escavações e transporte de artefatos históricos e arqueológicos.

Na página 11 do relatório há o registro sobre um colar que teria sido retirado nas escavações, mas não foi encontrado na casa onde Magnólia Oliveira e François-Xavier escondiam os achados arqueológicos.

“Durante a conversa com os moradores da localidade foi relatado que um colar (“colar de crioula”) havia sido encontrado nas escavações da casa grande, local próximo da escavação executadas pelos “franceses” e o mesmo não se encontra entre os materiais que estão na casa, como também, uma âncora de embarcação.”, aponta o relatório do Iphan.

A divulgação do relatório, datado de 10 de dezembro de 2019, reitera técnica e institucionalmente as informações levantadas pelas reportagens do Blog do Ed Wilson desde fevereiro de 2019 sobre a violação das áreas quilombolas. A sequência de matérias sobre a violação dos quilombos foi inclusive contemplada no Prêmio de Jornalismo do Ministério Público do Maranhão, na categoria webjornalismo, em dezembro de 2019.

Jornalista e professor da UFMA Ed Wilson Araújo recebe prêmio do procurador-geral de Justiça Luiz Gonzaga Coelho pela reportagem sobre pirataria francesa em Bacuri

Após as reportagens e a repercussão em diversos meios de comunicação do Maranhão e na Teia de Comunicação Popular do Brasil as perfurações foram suspensas e a dupla de infratores não circula mais pelas áreas quilombolas de Bacuri. Segundo testemunhas, François-Xavier deixou a casa do povoado Portugal alguns dias antes da operação policial. Ele colocou no carro várias caixas e malas e nunca mais voltou.

Leia as matérias sobre a premiação do Blog do Ed Wilson no site do Ministério Público, no site Agenda Maranhão, no Jornal Pequeno e na Agência Tambor.