Ed Wilson Araújo
Se política fosse guiada por lógica, José Reinaldo Tavares (sem partido) seria o primeiro candidato ao Senado na chapa do governador Flávio Dino (PCdoB).
A coerência e a correspondência, princípios da lógica, recomendariam ao governador retribuir o apoio que obteve do então governador José Reinaldo Tavares, em 2006, quando Flávio Dino elegeu-se deputado federal.
Tavares considera-se o avalista do ingresso de Dino na política. Não só isso. Ele computa à sua ruptura com José Sarney todo o sucesso das oposições que levou Jackson Lago (2006) e Flávio Dino (2014) ao Palácio dos Leões.
Coloca-se ainda na balança a regra de que todo ex-governador naturalmente vai para o Senado. Foi assim com José Sarney, Epitácio Cafeteira, João Alberto, Roseana Sarney, Edison Lobão e João Castelo.
Apenas José Reinaldo ficou fora. Para ele, está passando da hora e esperava ser candidato com o aval e a proteção do Palácio dos Leões, mas não encontrou viabilidade e anunciou o racha.
Uma coisa é a lógica; outra, a condução das alianças partidárias obedecendo à regra do pragmatismo eleitoral.
Nesse enquadramento, José Reinaldo não tem a moeda principal: o controle de um partido. Ele ainda tenta se filiar ao DEM, mas a legenda já está na mira do Palácio dos Leões.
Além de não ser “proprietário” de um partido, Tavares optou por caminho oposto ao do governador durante todo o processo que levou ao impeachment de Dilma Roussef (PT).
Enquanto Dino assumia publicamente a defesa da presidente petista e também de Lula, Tavares alinhava-se ao golpismo e à sustentação do governo Michel Temer (PMDB), votando “sim” às reformas trabalhista e previdenciária (esta não concluída).
Esse dado da conjuntura nacional precisa ser observado, mas não é critério universal para compor a chapa ao Senado, visto que o governo corteja a deputada federal Eliziane Gama (PPS), que também votou favorável ao impeachment.
Mais uma vez, a lógica não funciona, até porque o governo compõe com vários deputados golpistas, a exemplo de Pedro Fernandes, André Fufuca e o próprio Juscelino Filho, que controla o DEM no Maranhão e pode ser uma barreira aos planos de José Reinaldo Tavares.
O racha provocado pelo desentendimento entre o governo e o deputado postulante ao Senado ainda pode ter conserto.
Muita gente ficou surpresa e traumatizada com o anúncio da ruptura. Para mim, é tudo normal. Trata-se apenas do jogo de forças na disputa por espaços no modo pragmático de fazer política.
José Reinaldo não tem preferências ideológicas. Ele está além do bem e do mal. Nasceu e cresceu sob a proteção da oligarquia liderada por José Sarney, depois aliou-se a Flávio Dino e, sem apoio, busca outro caminho, provavelmente na eventual chapa com Eduardo Braide (PMN) disputando o governo.
A ruptura ainda depende do controle do DEM e do cenário nacional. Se Tavares se firmar no controle do partido, com mão de ferro, pode compor com Braide.
Se perder o DEM para Flávio Dino, pode até voltar humilhado a uma candidatura de deputado federal sob a proteção do Palácio dos Leões, apenas para não ficar sem mandato.