O golpe parlamentar-jurídico-midiático que derrubou a presidente Dilma Roussef (PT) não deu certo no todo, só em parte.
Lula está preso, mas lidera as pesquisas.
O PT, com suas qualidades e defeitos, continua vivo.
Os artífices do golpe planejaram a exterminação do petismo e colocaram o PMDB, liderado por Eduardo Cunha, para fazer o “trabalho sujo” encaminhando o impeachment.
A ideia dos golpistas era “limpar o terreno” para que o príncipe da elite paulistana, a serviço das corporações do capitalismo internacional, subisse no palco de 2018 como o salvador da pátria.
Esse príncipe, Geraldo Alckmin, patina em todas as pesquisas. E os tucanos, com a maior coligação e tempo de TV, além da fortuna de campanha, buscam uma luz no fim do túnel.
A única saída para Geraldo Alckmin é a polarização com Bolsonaro, na tentativa de criar uma antítese àquele que ameaça ir ao segundo turno contra o candidato de Lula – Fernando Hadad (PT).
Na campanha da TV, a propaganda de Geraldo Alckmin é explicita nesse intento de ser o antípoda de Bolsonaro – “não é na bala que se resolve”.
Em contraponto, faz o discurso apelando ao equilíbrio, o bom senso, a razão e o coração.
O primeiro filme da campanha tucana, belo e organizado, busca construir um conceito de Geraldo Alckmin vinculado à ideia de pacificador e aglutinador.
O apelo à paz e o repúdio ao ódio constroem a narrativa desesperada dos tucanos, eles próprios protagonistas do ódio ao PT, na campanha organizada e sistematicamente veiculada nos meios de comunicação, no curso da estratégia de desmonte da democracia, da esquerda e da política que resultou no golpe.
Ficam claras, portanto, as digitais dos estrategistas tucanos na tentativa exasperada de polarizar Alckmin x Bolsonaro.
Os marqueteiros tucanos sabem que não adianta refutar o discurso de ódio usando as mesmas armas.
Eles perceberam que o estilo agressivo de Ciro Gomes (PDT), tentando ser na verborragia a antítese de Bolsonaro, não funciona.
No fundo, os tucanos tentam fazer de Geraldo Alckmin uma especie de candidato paz e amor, mas sem a popularidade de Lula e o cheiro de povo.
Há milagres que nem a TV opera. O filme do tucano até começa bem, com o discurso pacificador de uma atriz negra, cabelo black power, tentando construir uma identidade que não existe na figura do senhor de engenho Geraldo Alckmin.
Marqueteiros constroem mitos e heróis, mas falta para o candidato tucano algo que até Bolsonaro tem – o mínimo de liga com o povo.
Imagem: Nelson Almeida AFP 17 agosto 2018