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Carta do II Seminário Comunicação e Poder no Maranhão

Nós, organizações que participamos do II Seminário de Comunicação e Poder no Maranhão, dias 27 e 28 de julho de 2022, reafirmamos a importância do debate e da ação em torno da democratização da mídia. Trata-se de um tema fundamental no Brasil, gerando dois eventos em nosso estado, num intervalo de cinco anos.

E estamos convictos da necessidade de começar a pensar, desde já, num terceiro seminário de Comunicação e Poder no Maranhão, a ser realizado no segundo semestre de 2023. 

Ao fazer o debate, levamos em conta que o Brasil hoje é marcado por uma extrema-direita que avançou, assumindo um protagonismo num campo político conservador.  Esse avanço se deu por uma estratégia de comunicação que, a partir de modernas tecnologias e muito dinheiro investido, vem disseminando violência, incluindo ódios e mentiras.  

É uma comunicação que mobiliza parte da sociedade brasileira, atingindo questões fundamentais,  passando por todo tipo de  ataque às possibilidades democráticas, incluindo as tentativas de apagamento de uma memória dolorosa da nossa história.

Essa comunicação de extrema direita ganha força num país marcado por um cartel de comunicação empresarial, com grandes emissoras de TV, que são de direita, movidas por interesses econômicos dos ricos, que defendem privilégios, em clara oposição as pautas de cunho popular.  

E ao tratar de Comunicação e Poder, particularmente no Maranhão, apontamos algumas prioridades: 

1 – Organização e consolidação de projetos jornalísticos que possam produzir conteúdos comprometidos com a classe trabalhadora, com justiça social, direitos humanos, igualdade racial,  gênero e orientação sexual, preservação do meio ambiente e reforma agrária. Isso significa ter referências sólidas de uma comunicação contra-hegemonica.    

2 – Seguir investindo e tentando ampliar o trabalho de formação política, com a produção coletiva de conhecimento e troca de experiências, na perspectiva de formar novos e antigos comunicadores populares, para ocupação de diferentes espaços.

3 – Estimular a comunicação oriunda das periferias, dos povos e comunidades tradicionais, comprometida com a diversidade da classe trabalhadora, das lutas por terra-território e bem viver, a partir de suas múltiplas organizações, movimentos e coletivos. 

4 – Avançar na ampliação de uma rede de solidariedade, com ações conjuntas de comunicação.

5 – Democratizar o orçamento público. Comunicação é um direito. E é inaceitável que o suado dinheiro do contribuinte, de um povo empobrecido, seja quase que exclusivamente destinado aos cofres de poderosos grupos comerciais, que já são naturalmente financiados pelo agronegócio, bancos privados, mineração, grandes empresas. O investimento público tem que garantir liberdade de expressão, pluralidade de vozes, possibilitando a quebra do silêncio diante das diferentes formas de violência, rotineiramente promovidas por elites econômicas, estruturas oligárquicas, latifúndio, agronegócio.

Núcleo Piratininga de Comunicação (RJ)

Agência Tambor

Associacão Brasileira de Rádios Comunitárias do Maranhão — ABRAÇO-MA

Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão

Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultoras e Agricultores Familiares do Maranhão – FETAEMA

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Sindicato dos Bancários do Maranhão

Fóruns e Redes de Cidadania do Maranhão

Sindicato dos Urbanitários do Maranhão

Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias do Maranhão Pará e Tocantins – STEFEM

Associação Nacional de História – Sessão Maranhão

Caritas Brasileira Regional Maranhão

Movimento pela Soberania Popular na Mineração

Rede de Agroecologia do Maranhão – RAMA

Forum Maranhense de Mulheres

Carabina Filmes

Levante Popular da Juventude

Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa do Maranhão – Sindisalem

APRUMA – Seção Sindical do ANDES-SN

Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado do Maranhão – SINDSEP/MA

Sindicato dos Servidores do Judiciário Federal e do MPU no Maranhão – SINTRAJUF

Sindicato dos Profissionais do Magistério da Rede Pública Municipal de São Luís – Sindeducação

Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência no Estado do Maranhão – SINTSPREV

Central Única dos Trabalhadores (CUT-MA)

Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-MA)

CSP Conlutas

Movimento de Defesa da Ilha

São Luís, 28 de julho de 2022.

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Esperteza ou traição? Lahesio não assume Bolsonaro pra valer no Maranhão

O ex-prefeito de São Pedro dos Crentes e candidato ao Governo do Maranhão, Lahesio Bonfim (PSC), vem adotando um discurso de paz e amor.

Em suas mais recentes entrevistas ele desvia o foco quando a pergunta é sobre polarização esquerda x direita.

Na rádio Mirante AM, ao ser indagado sobre a sua afinidade com o presidente Jair Bolsonaro, Bonfim saiu pela tangente.

Disse que é apenas um eleitor do presidente, mas respeita cada pessoa que prefira votar em Lula, Ciro etc.

Bem orientado por marqueteiros, o candidato evangélico sabe que no Maranhão Lula tem um histórico de ótima votação, por isso evita a chamada polarização.

Existe aí um misto de esperteza, hipocrisia e traição, visto que ele é o candidato terrivelmente evangélico da ultradireita mais identificada com Jair Bolsonaro.

Com esse perfil, soa muito estranho que nas entrevistas ele não defenda o presidente com unhas e dentes e nem afronte Lula, como é praxe das candidaturas de extrema direita.

Coloca-se no cenário também a desconfiança de que Lahesio já esteja a serviço do Palácio dos Leões, servindo como laranja dos candidatos a governador, Carlos Brandão (PSB); e a senador, Flávio Dino (PSB), as maiores representações do campo político de Lula no Maranhão.

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Oportunidade para a formação em música clássica percorre o Maranhão


A Academia Jovem Concertante está de volta ao Maranhão e desenvolve uma série de atividades em São Luís e em mais seis cidades no estado: Santa Inês, Pindaré Mirim, Igarapé do Meio, Buriticupu, Bom Jesus das Selvas e Miranda do Norte. Em cada uma delas serão realizados concertos didáticos e sociais em escolas e instituições de ensino, até 8 de agosto, sob a direção artística da pianista Simone Leitão (foto), além de concertos abertos ao público, com acesso gratuito.

O diferencial da etapa maranhense é uma equipe de três jovens mentores artistas, com a presença do maestro paraibano Marcos Arakaki, que rege e prepara a orquestra. No programa estão obras de Heitor Villa-Lobos, J.S. Bach, Edvard Grieg, Clovis Pereira e Guerra-Peixe.

A Academia Jovem Concertante Maranhão 2022 é patrocinada pelo Instituto Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, numa realização do Ministério do Turismo, Secretaria Especial de Cultura do Governo Federal, Brasil Classical e Olga Produções. Para esta rodada de atividades no Maranhão a Concertante conta com 26 jovens músicos, na sua maioria maranhenses.

Mapa de talentos

A AJC foi fundada em 2012 pela pianista e doutora em Música, Simone Leitão, com a missão de qualificar jovens músicos clássicos de todo o país e levar a música sinfônica a localidades que naturalmente não são expostas a esse idioma artístico. Nesses 10 anos, o projeto visitou 15 estados do país em 18 etapas, duas delas no Maranhão (em 2014 e 2015).

“O talento não tem CEP”, afirma Simone Leitão, doutora em Música e criadora do projeto da Orquestra Jovem Concertante. “Acreditamos que o Maranhão tem muitos talentos e poucas oportunidades de treinamento, por isso estamos de volta. Mais do que oferecer conhecimento de forma horizontal, o projeto propõe o intercâmbio entre a região Sudeste e outros estados do Brasil”, completa.

Em cada etapa são selecionados jovens de 16 a 28 anos de idade – estudantes de música ou em fase de profissionalização – para um programa de qualificação com base em prática orquestral intensa, em um sistema de clínica imersiva e música de câmara.

“A Academia Jovem Concertante é um incrível projeto de orquestra, que não só ajuda jovens músicos a alavancarem suas carreiras, mas também leva a música de concerto a lugares e pessoas que não tem um fácil acesso a esse tipo de música ao vivo. É o meu 8° ano de AJC e já tocamos em obras, praças de cidades em interior, teatros e salas de concertos”, diz Carol Santa Rosa, atual spalla da orquestra (principal violinista), selecionada em edição anterior do projeto.

Os instrumentos são violino, viola, cello, contrabaixo e flauta. Cada selecionado tem todas as despesas pagas e recebe uma bolsa incentivo.

SERVIÇO

Agenda de Concertos da Academia Jovem Concertante
 
03/08 – 20h – Buriticupu – Praça da Cultura

04/08 – 20h – Bom Jesus das Selvas – Praça João Fabricante

06/08 – 20h – São Luís – Teatro Arthur Azevedo

07/08 – 17h – Miranda do Norte – Igreja Católica de Nossa Senhora Aparecida

Patrocínio: Instituto Vale por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura

Realização: Ministério do Turismo, Secretaria Especial de Cultura do Governo Federal, Brasil Classical e Olga Produções

SIMONE LEITÃO

Recitalista, camerista e solista de orquestras nas Américas, Europa e Ásia, é uma das mais atuantes pianistas brasileiras. Levou a música clássica brasileira ao exterior por meio do projeto Brasil Classical Series e idealizou programas que popularizam a música erudita no Brasil, como a Academia Jovem Concertante e a Semanas Internacional de Música de Câmara do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. Possui D.M.A. (Doctor of Musical Arts) em Piano Performance e História da Música pela Universidade de Miami (Estados Unidos), Mestrado pela Norges Musikkhögskole (Academia de Música da Noruega, Oslo) e Bacharelado em Música pela Uni-Rio. É especialista nas obras para piano e orquestra de Vil la-Lobos.

MARCOS ARAKAKI

Regente da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, tem passagens pela Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem e Orquestra Sinfônica da Paraíba, onde atuou como regente titular e, no exterior, dirigiu a Filarmônica de Buenos Aires, a Sinfônica de Xalapa, Orquestra da American Academy of Conducting, em Aspen, a Filarmônica da Universidade Autônoma do México, a Kharkiv Philharmonic da Ucrânia e a Boshlav Martinu Philharmonic da República Tcheca. Desde 2008 vem desenvolvendo um trabalho à frente da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem.

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Mercado de games cresce no Maranhão

Dois jogos maranhenses participaram do Big Festival, maior festival de games, criação e negócios e networking da América Latina.

O mercado de games vem crescendo significativamente no Maranhão. De acordo com mapeamento realizado pela Associação de Desenvolvedores de Jogos do Maranhão (AMAGAMES), o faturamento do setor saltou de 100 mil em 2019 para 500 mil no ano passado. São nove empresas no segmento e cerca de 130 desenvolvedores de jogos atuando no estado.

O crescimento no mercado e a qualidade dos jogos desenvolvidos no Maranhão têm se destacado e conquistado projeção nacional e internacional.

Big Festival disponibilizou mais de 200 jogos para o público. Foto: Ascom / Sebrae

Pelo segundo ano consecutivo, dois jogos maranhenses foram selecionados para participar do Big Festival (Best International Games Festival), que aconteceu no período de 7 a 10 de julho, em São Paulo.

Em 17 categorias diferentes, foram selecionados para participar do Big Festival 92 jogos de 31 países, sendo 24 de produtoras brasileiras.

Os jogos maranhenses que participaram do evento como finalistas foram o UniDuni, do Studio Clops – que concorreu na categoria Melhor Multiplayer, e o Undergrave, desenvolvido pelo Wired Dreams Studio, participando do Panorama Brasil, uma mostra não competitiva.

A gestora de projetos de Economia Criativa do Sebrae no Maranhão, Danielle Abreu, explicou que a atividade de jogos eletrônicos faz parte desse segmento, que no Brasil tem experimentado um crescimento forte não só na receita, mas também no número de usuários. “O faturamento da indústria de games representa hoje mais do que as indústrias de cinema, música e literatura que, somados, geram divisas bastante expressass”, afirmou ela.

Ações com foco na formalização, capacitação para a gestão empreendedora e de acesso a mercado, como a participação das duas empresas no Big Festival, são iniciativas empreendidas pelo Sebrae Maranhão, que desde 2018 vem apoiando esse segmento. “O Maranhão tem um potencial fantástico e o Sebrae tem ajudado a consolidar isso, por meio de ações de planejamento empresarial, modelagem de negócios, gestão de projetos de equipes, finanças, marketing, com atenção para a propriedade intelectual”, constata a gestora Danielle Abreu. “Nos honra muito saber que o segmento tem crescido tanto a ponto de ter um destaque em nível nacional e internacional”, disse ela.

Heitor Dias, cofundador do Clops Game Studio, ressaltou o apoio do Sebrae para o segmento. “O Sebrae Maranhão é um dos parceiros mais importantes e atuantes do ecossistema de desenvolvimento de jogos no estado. A atuação vai desde a capacitação dos estúdios, incentivo e ampliação da formalização dos empreendimentos e também a contribuição para que as empresas consigam maturidade o suficiente para a atuação no mercado internacional. Somos muito gratos por sua atuação e faremos de tudo para que essa experiência se aprimore e continue ajudando cada vez mais o mercado local”, afirmou Heitor.

Região Nordeste concentra 14% dos desenvolvedores de jogos do Brasil.

De acordo com os dados divulgados pelo site Forbes, houve um crescimento de mais de 160% na quantidade de estúdios nacionais em atuação, na comparação com o ano de 2019, quando eram 375, pulando para 1009 em 2022. A Pesquisa Nacional da Indústria de Games foi publicada pela Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais (Abragames), em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (ApexBrasil), constando a evolução do segmento.

Ainda segundo os dados da pesquisa, a região Nordeste concentra 14% do número de desenvolvedores do Brasil. A maior concentração permanece na região Sudeste (57%), seguida da região Sul (21%), Centro-Oeste (6%) e Norte (3%).

Imagem destacada: Heitor Dias apresenta o UniDuni, um dos jogos finalistas na categoria Multiplayer. Foto: Ascom /Sebrae

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RicoChoro ComVida na Praça retoma apresentações presenciais

Projeto terá três edições presenciais em agosto, em parceria com a Ação da Cidadania na campanha “Pacto pelos 15% com fome”

Por Zema Ribeiro*

15% da população brasileira não têm o que comer atualmente, no maior retrocesso da história do país. É pensando nestes mais de 33 milhões de brasileiros que a Ação da Cidadania lançou, no último dia 15 de julho, a campanha “Pacto pelos 15% com fome”, que visa “promover uma grande aliança entre entidades da sociedade civil e empresas, grupos de mídia, agências de comunicação e publicidade, pessoas físicas, artistas e influenciadores, para atuarem na linha de frente no combate à fome e às desigualdades sociais”. O objetivo é “viabilizar doações diretamente para as instituições do Pacto e cadastrar voluntários na luta contra a insegurança alimentar”.

No Maranhão, a primeira iniciativa a abraçar a causa é o projeto RicoChoro ComVida na Praça, que terá três edições presenciais em agosto: dias 6, 20 e 27, nas praças do Letrado (Vinhais), Nossa Senhora de Nazaré (Cohatrac) e Largo da Igreja do Desterro, respectivamente, sempre às 19h. Os eventos são gratuitos e abertos ao público.

“Este evento sempre prezou pelo diálogo e pela diversidade, além do afeto. Palco e plateia em comunhão no exercício de fazer e fruir boa música, alimento para a alma. Agora, diante da tragédia social brasileira, irmanamo-nos a esta importante iniciativa da Ação da Cidadania, sempre lembrando o início de tudo, com os ideais do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. É colocar em prática a máxima dos Titãs: “a gente quer comida, diversão e arte”, aproveitando ainda para agradecer à sensibilidade do deputado Bira do Pindaré, pelo apoio ao projeto”, comenta o sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos, idealizador e coordenador de RicoChoro ComVida na Praça.

No primeiro sarau, as atrações são a dj Josy Dominici, o Regional Caçoeira e os cantores Vinaa e Djalma Chaves; depois é a vez do dj Marcos Vinícius, Instrumental Tangará, a cantora Bia Mar e o cantor Carlinhos da Cuíca; e na última edição desta temporada, o sarau terá como atrações o dj Jorge Choairy, o Quarteto Crivador e o cantor Cláudio Lima, com a participação especial da cantora Dicy.

RicoChoro ComVida na Praça é uma produção de RicoChoro Produções Culturais e Girassol Produções Artísticas. O evento garante acessibilidade cultural para pessoas com deficiência, com assentos prioritários, banheiros acessíveis, audiodescrição e tradução simultânea em libras, a língua brasileira de sinais.

  • Zema Ribeiro é jornalista. Coordenador de produção da Rádio Timbira AM, produz e apresenta, aos sábados, na emissora, o Balaio Cultural, com Gisa Franco. Escreve no Farofafá
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Carta em defesa do Estado Democrático de Direito supera meio milhão de adesões

Já passa de 500 mil assinaturas a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”

A iniciativa do movimento ‘Estado de Direito Sempre!’ foi criada na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. É inspirada na Carta aos Brasileiros de 1977, um texto de repúdio ao regime militar, redigido pelo jurista Goffredo Silva Telles e lido também na faculdade do Largo de São Francisco.

O documento defende o sistema eleitoral e o respeito ao resultado das eleições de outubro e condena “as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”.

A carta e os seus apoiadores e apoiadoras reúnem pessoas públicas, organizações corporativas, movimentos sociais diversos, magistrados e parlamentares, professores, lideranças populares, entidades dos direitos humanos e afins.

Você pode ler e assinar aqui

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Achados e perdidos

Eloy Melonio

“Amigo é aquele que, antes do ombro, dá o coração.”

(Mhario Lincoln)

Para anunciar a escalação do nosso timaço ― da forma como ele realmente merecia ― só mesmo chamando Galvão Bueno, com sua voz inconfundível. Não sem antes impor uma condição: ele deve anunciar seus nomes como se fossem os craques da Seleção Brasileira.

E, se quiser, pode consultar seu “VAR” particular, ou seja, “o Velho Arnaldo”, para uma consideração técnica (Pode isso, Arnaldo?).

Esse “isso” não tem nada a ver com as posições ou qualidades dos “jogadores”, mas com os nomes pelos quais eram chamados quando estavam no campinho de peladas onde nos encontrávamos quase todas as tardes.

Então, vamos lá! Imagine-se agora ouvindo a narração de Galvão Bueno: O time da COHAB-Anil vai de Farinha, Magriça, Pé de Bicho, Maguari, Maior, Dentadura de Galinha, Gringo, Elefante, Natal, Via e Bombom.

Não são nomes tão estrambóticos assim, não é mesmo? Eram, na verdade, apelidos que nasciam de flagrantes inusitados que a galera não deixava escapar. E, raramente, alguém se chateava com isso. Apenas uma explicaçãozinha para sustentar a leveza das nossas intenções: “Via” era o apelido de um “estrábico” do elenco. Os outros deixo por conta da imaginação de vocês. Ah, e vou logo avisando: não vou revelar o meu.

Espero que não se decepcionem com esta informação: esse time nunca existiu no sentido de agremiação futebolística. Podia ser esse ou outro qualquer. Ou seja, era mais que um time de peladeiros dos primeiros anos da COHAB-Anil (conjunto residencial de classe média baixa, entregue em 1967). Era um time de amigos. Amigos que eu não vejo há muito, muito tempo. Amigos que inscreveram seus nomes nos anais de minha saudade. E que talvez já não estejam mais neste nosso mundo.

Esta conversa toda só para falar ― isso mesmo! ― sobre “amizade”. De amigos que se perdem e que se acham. E também por causa dessa “roda viva” de que nos fala Chico Buarque: “Tem dias que a gente se sente/ Como quem partiu ou morreu”. Nessa canção, as estrofes sempre terminam com os versos: “Mas eis que chega a roda-viva/ E carrega (destino/saudade) pra lá”.

Em se tratando de amizade, a “roda-viva” ― sem aviso prévio ― pode “trazer ou levar” as pessoas a quem nos ligamos pela afeição, simpatia, estima. Como disse antes, imagino que a galera do time anunciado por Galvão Bueno já está (quase) toda “perdida”.

Mas eis que ― depois de cerca de vinte anos ― chegou o Ricardo para entrar no time dos “achados” (ou “reencontrados”) na curva do vento. Um amigo com quem convivi por cerca de oito a dez anos. E com ele, a inspiração para esta crônica. Eita roda-vida danada!

Amigos, todos os temos. E o bom da vida é que temos todos os tipos de amigos. Generosos, confiáveis, amáveis, problemáticos. Um sem-número de adjetivos se aplica a essa categoria social. Temos o “médico-amigo” das campanhas eleitorais. Os best-friends das redes sociais. Já tivemos até “O Amigo da Onça”, um típico malandro brasileiro criado pelo cartunista Péricles de Andrade, que foi sucesso na Revista O Cruzeiro (1928–1975).

A arte sempre reserva um cantinho para a amizade. Milton Nascimento, por exemplo, revela o melhor lugar para se guardar os amigos. O grupo Fundo de Quintal achou os versos mágicos para amplificar esse lado bonito da vida: “A amizade/ Nem mesmo a força do tempo irá destruir / Somos verdade / Nem mesmo este samba de amor pode nos resumir”. Um hino cristão, aproveitando a sabedoria do provérbio 18:24, refere-se a Jesus como “um amigo mais chegado que um irmão”.

Hoje os meus amigos são outros. Outros senhores, outros perfis, outros humores. Igual mesmo só o “laço” que nos une. E, entre “achados e perdidos”, a galera da COHAB-Anil sempre estará guardada no lado esquerdo do meu peito.

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Eloy Melonio é contista, cronista, ensaísta, letrista e poeta.

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Movimento BATISTAS POR PRINCÍPIOS repudiam manifestações antidemocráticas do 7 e setembro

Nota desconvite ao 07/09

Diante da convocação feita às igrejas evangélicas, por diversas lideranças, para saírem às ruas em apoio às manifestações do próximo dia 7 de setembro, fazemos as seguintes considerações:

1. Defendemos e propagamos a liberdade de expressão e opinião, garantidas pela Constituição Brasileira, na convicção de que nenhum cidadão do nosso país está acima das normas constitucionais;

2. Estranhamos o lamentável fato de que pastores, embora ensinem em suas igrejas uma eclesiologia democrático-congregacional, expressem sua solidariedade a uma manifestação de claro apoio a iniciativas autoritárias e pouco democráticas do atual Presidente da República;

3. Denunciamos, com perplexidade, o evidente caráter contraditório da manifestação, uma vez que — em nome da defesa da liberdade — faz a apologia inconstitucional do fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal;

4. Expomos nossa desconfiança em relação a um movimento que pretende dar salvo-conduto a um presidente que, juntamente com seus filhos, ainda deve explicações a sérios e graves indícios de corrupção e uso indevido de verbas de gabinete constituídas por dinheiro público — indícios que estão sendo investigados e, por si, revelam situações que parecem desmontar discursos hipócritas contra a corrupção;

5. Discordamos de todo e qualquer apoio acrítico ao atual governo — bem como à voluntária submissão ao papel de massa de manobra que se tem visto em vários setores da sociedade, em especial no ambiente evangélico — tendo em vista:
a) o fracasso na condução da crise de saúde no país como resultado da pandemia do Coronavírus;
b) o fracasso da política econômica, que se confirma pelo aumento do desemprego, da fome e da miséria, bem como de outras diversas maneiras, inclusive no crescente abandono do país por multinacionais muito conhecidas e aqui presentes há várias décadas;
c) o fracasso no controle inflacionário, resultando no absurdo e crescente aumento de preços, cujos mais notórios são dos alimentos, gás de cozinha e combustíveis, situação que deixa ainda mais vulneráveis aqueles que, de alguma forma, já se encontram prejudicados pela pandemia;
d) o fracasso no prometido combate à política predatória do chamado Centrão, cujo maior representante está hoje assentado num dos gabinetes do Palácio do Planalto, na qualidade de Ministro da Casa Civil;
e) o fracasso na estabilização política;
f) o fracasso nas políticas educacionais;
g) o fracasso no plano de prevenção à crise hídrica e de energia elétrica que, depois de claros sinais, agora se avizinha.

6. Afirmamos com ênfase que a convocação para tal manifestação pública, embora exiba como fachada a defesa da liberdade e da democracia, na verdade se revela como astuta tentativa do atual governo de provocar rupturas institucionais e criar ambiente favorável a instalação de um governo autoritário e personalista.

Sendo assim, conclamamos aos irmãos e irmãs, especialmente aos batistas que sempre defenderam princípios de verdadeira democracia e separação entre Igreja e Estado, a não comparecerem às ruas na próxima terça-feira, dia 7 de setembro, aproveitando melhor o seu tempo com outras atividades mais recompensadoras e que, ao fim e ao cabo, demonstrem o autêntico respeito que temos pelo Dia da Independência.

MOVIMENTO BATISTAS POR PRINCÍPIOS

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A terra redonda na Macondo de Gabriel García Márquez

Relendo “Cem anos de solidão”, eis que numa passagem da obra fui remetido ao cenário contemporâneo do terraplanismo e de outras derivações do obscurantismo.

O trecho abaixo é o desdobramento de várias visitas do cigano Melquíades a Macondo, a cidade imaginária de Gabriel García Marquéz.

Melquíades já havia impressionado a vila com a apresentação do gelo e do imã. As constantes visitas do cigano eram sempre apreciadas por José Arcádio Buendía, até que um dia…

Finalmente, numa terça-feira de dezembro, na hora do almoço, soltou de um golpe só toda a carga de seu tormento. As crianças haveriam de recordar pelo resto de sua vida a augusta solenidade com que seu pai sentou-se à cabeceira da mesa, tremendo de febre, devastado pela prolongada vigília e pela ferida aberta de sua imaginação, e revelou a elas sua descoberta:

– A terra é redonda feito uma laranja.

Úrsula perdeu a paciência. “Se é para ficar louco, pois que fique você sozinho”, gritou. “Não trate de pregar nas crianças suas ideias de cigano.” José Arcádio Buendía, impassível, não se deixou amedrontar pelo desespero da mulher, que numa explosão de cólera estraçalhou o astrolábio no chão. Construiu outro, reuniu no quartinho os homens da aldeia e demonstrou a eles , com teorias que para todos eram incompreensíveis, a possibilidade de regressar ao ponto de partida navegando sempre rumo ao Oriente. A aldeia inteira estava convencida de que José Arcádio Buendía havia perdido o juízo, quando Melquíades chegou para pôr as coisas em ordem. Ele exaltou em público a inteligência daquele homem que através de pura especulação astronômica havia construído uma teoria já comprovada na prática, embora até então desconhecida em Macondo, e como prova de sua admiração deu a ele um presente que haveria de exercer uma influência decisiva no futuro da aldeia: um laboratório de alquimia.

Fonte: Cem anos de solidão (p. 10 – 11). Editora Record, 2015

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Ana Jansen: a rainha em carne e osso e as lendas sobre a poderosa líder política do Maranhão no século 19

Uma versão sintética dessa reportagem foi publicada no TAB Uol.

Motivado por um ódio incomensurável, o comendador e negociante Antonio José Meireles importou da Inglaterra centenas de penicos de louça, tendo ao fundo a fotografia da sua maior desafeta, de tal modo que os usuários pudessem defecar e urinar sobre a imagem dela.

A venda dos urinóis no armazém do comendador foi um sucesso. Entusiasmado com a empreitada, Meireles só não contava com a peripécia da sua algoz. Ela própria acionou emissários para comprar todos os penicos. E quando não restava nenhum exemplar, mandou um grupo de 30 escravos à porta do comendador e, armados com potentosas estacas de pau, estraçalharam os urinóis até virarem pó.

O episódio real, contado na obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello, é um entre tantos conflitos em que Ana Joaquina Jansen Pereira (1787 – 1869) triturou adversários até a humilhação.

Donana Jansen, Dona Ana Jansen, Donana ou Nha Jança, batizada Ana Joaquina de Castro Jansen, nasceu em São Luís e tinha ascendência nobre de uma família que entrou em decadência.

Herança, prole e poder

Pobre, já era mãe solteira antes do primeiro relacionamento com o coronel português Isidoro Rodrigues Pereira – o homem mais rico do Maranhão. Com ele, na condição de amante, teve cinco filhos antes de casar e mais uma depois do matrimônio.

Quando o coronel faleceu, deixou para Ana Jansen um grandioso patrimônio em terras, dinheiro, imóveis e escravos. Afortunada, ela virou uma personagem central no cenário político e econômico do século 19 na Província do Maranhão.

Habilidosa nos negócios, soube multiplicar a riqueza e associar o dinheiro à política, impulsionando sua família ao núcleo da elite local. Durante quase 40 anos exerceu influência total sobre escravos, desembargadores, chefes de polícia, cobradores de impostos, intelectuais, jornalistas e parlamentares.

Imponente sobrado era o QG da matrona. Foto: Adriano Almeida

O local privilegiado para a tomada de decisões era o suntuoso palacete da rua Grande, no Centro de São Luís, em eventos regados a música e banquetes. “Dia e noite ferviam ali dentro as tricas políticas e os enredos privados da terra”, registrou Jerônimo de Viveiros (p. 80) na obra “Ana Jansen, Rainha do Maranhão”.

Conservadora na política, subversiva nos costumes

Na memória coletiva, o imaginário sobre Ana Jansen está povoado de relatos sobre uma mulher perversa que mandava torturar e matar seus escravos e cometia atrocidades contra os seus inimigos.

A doutora em História Econômica (USP), Marize Helena de Campos, compreende Ana Jansen além do maniqueísmo. “Ela atravessa a história como uma mulher que desafiou regras, lugares, modelos e discursos. Considero um erro qualificá-la como vilã ou heroína. Há que se considerar o contexto em que Ana Jansen viveu e vivenciou seu poder, ideias e práticas”, enquadra.

Ao ficar viúva, antes dos 30 anos de idade, foi companheira do desembargador Francisco Carneiro Pinto Vieira de Melo, gerando mais quatro filhos, sem casar.

Do segundo casamento, com um negociante sediado em Belém do Pará, Antonio Xavier da Silva Leite, não teve descendentes.

Para a doutora em História e professora da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), Elizabeth Abrantes, a liderança política e o poder econômico de Ana Jansen incomodavam os homens no contexto de uma sociedade patriarcal, misógina e escravista. “Ela exerce papéis não previstos para o sexo feminino e por isso vai ter muitos opositores, sendo alvo de uma série de boatos, intrigas, calúnias e difamações que vão contribuir para a construção do imaginário negativo que se tem até hoje”, explica.

As lendas e a política real

Não há registros de processos judiciais contra Ana Jansen por morte ou tortura de escravos, diferente do rumoroso julgamento da baronesa Ana Rosa Viana Ribeiro, acusada de torturar e matar um menino negro de oito anos de idade, em 1876.

“As violências do escravismo são injustificáveis, embora fossem parte do sistema. Por isso, algumas histórias atribuídas a Ana Jansen sequer têm racionalidade, como por exemplo mandar matar e jogar os escravos em um poço. Ela era uma comerciante e empresária muito perspicaz e jamais iria ‘jogar dinheiro fora’ ou desperdiçar um patrimônio”, pondera Abrantes.

Computa-se à influência de Ana Jansen a decisão do coronel Isidoro Pereira de doar 2.000$000 (dois contos de réis) à Santa Casa de Misericórdia para criar a Roda dos Enjeitados ou Casa da Roda, projeto filantrópico de acolhida dos bebês de mulheres pobres ou que não podiam fazer o reconhecimento da maternidade porque seriam concebidas fora do casamento.

No Brasil do século 19 só havia dos partidos: o liberal Bem-te-vi e o conservador Cabano.  À época, para alcançar os seus objetivos, as elites lançavam mão dos métodos usuais em uma província escravocrata do Brasil imperial, quando o poder era exercido mediante chantagens, coações, violência física, fraudes eleitorais e corrupção generalizada.

Uma frustração marcante

Embora fosse fiel ao império, a matrona sofreu um revés na sua maior pretensão.

Acostumada a colecionar vitórias contra políticos, homens ricos e intelectuais, Ana Jansen engoliu uma derrota amarga quando teve negado o pedido para obter o título de Baronesa de Santo Antônio junto ao imperador D. Pedro II, em 1843. Entre os argumentos e documentação apresentados no pleito, ela demonstrou a sua atuação para sufocar os rebeldes da Guerra da Balaiada (1838 -1841), o maior levante popular da Província do Maranhão, e a contribuição junto às forças do império na Revolução Farroupilha (1835-1845), no sul do Brasil.

Ela não foi baronesa de direito, mas de fato era a “Rainha do Maranhão”, exercendo o matriarcado em uma sociedade patriarcal.

Entre as suas vítimas constou ainda o político e intelectual Candido Mendes de Almeida, tirado à força de um navio quando tentava largar para o Rio de Janeiro, onde tomaria posse na Assembleia Geral Legislativa. Ele fora ainda desafiado para um duelo à bala pelo filho da matrona, o comandante da Guarda Nacional Isidoro Jansen Pereira. Mendes compareceu ao desafio, mas o adversário, ausente, mandou um recado avisando que o conflito seria resolvido “no cacete” em outro momento.

A vida transborda para os jornais

Em 1843 ela retaliou o ilustrado escritor e professor de grego Francisco Sotero dos Reis, demitindo-o da direção do tradicional Liceu Maranhense. Reis era articulista do periódico “A Revista”, gazeta cabana, adversário do jornal “O Guajajara”, controlado pela família de Ana Jansen.

Não satisfeita, estendeu a perseguição a Nunes Cascais, dono da tipografia onde “A Revista” era impressa. Ele foi sabotado por diversos métodos até ser despejado do sobrado onde funcionava a oficina do jornal. “Na época, era desgraça ser parente de Cascais”, registrou Viveiros (p.42)

Na percepção do doutor em História (Universidade Federal Fluminense) e professor da Universidade Estadual do Maranhão, Marcelo Cheche Galves, os jornais da época representavam a imprensa artesanal e pré-capitalista. “As publicações viviam da política, não se pagavam com as tiragens ou anúncios e tinham vida efêmera. Eram engajados e defendiam abertamente as suas posições sem a preocupação com a ideia de neutralidade”, especifica.

A edição de 6 de junho de 1840 o jornal “O Guajajara” estampava na primeira página: “…na sua decima taquarada fez huma fala energica contra os dezordeiros e insurreição dos pretos, e expendendo fortes razões, concluio sem rebuço: Guerra e mais guerra, aos rebeldes e pretos levantados.”

O alvo do ataque eram os “balaios”, referência ao apelido de um dos líderes da Guerra da Balaiada, Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, artesão que fabricava um tipo de cesto de palha denominado “balaio”.

A guerra da água

A “Rainha do Maranhão” monopolizava a distribuição de água na capital da província, em sociedade com o empresário espanhol Santos José da Cunha. Seus escravos coletavam nas fontes ou chafarizes e vendiam o líquido de casa em casa, em pipas sobre carroças puxadas a burro.

Na época retornava de Paris o recém-formado engenheiro Raimundo Teixeira Mendes e logo vislumbrou um projeto de canalização da água em São Luís. Seu empreendimento visava ao lucro e oferecer o serviço mais ágil e higiênico.

Diante da ameaça do concorrente, Ana Jansen armou o combate, narrado por Viveiros: “Ainda não tinham decorridos oito dias da inauguração da Companhia de Águas do Rio Anil, e aparecia boiando nas águas do depósito do Campo do Ourique um gato morto, já em putrefação. Os negros da Rainha espalhavam a notícia – gato morto na caixa d’água -, que o povo repetia pelas ruas da cidade.” (p. 49).

Chafariz no Palácio Cristo Rei, no Largo dos Amores, remonta à época em que não havia água encanada na cidade. Foto: Adriano Almeida.

Depois do gato sucederam outras sabotagens. Enquanto a água encanada faltava, as carroças seguiram abastecendo a população por mais 15 anos. Teixeira Mendes faleceu e o empreendimento faliu. Só em 1874 uma nova empresa assumiu o projeto e conseguiu distribuir água encanada para a cidade.

E quando a serpente acordar…

Ana Joaquina Jansen Pereira Leite morreu aos 82 anos, em 11 de abril de 1869. Foi sepultada no cemitério dos Passos (hoje Estádio Municipal Nhozinho Santos). Deixou em testamento a recomendação para celebrarem 200 missas de corpo presente. Sua vida marcante foi adaptada para o teatro na peça “Ana do Maranhão”, da escritora Lenita Estrela de Sá, e ganhou versões para leitores infantis dos autores Beto Nicácio e Wilson Marques.

A serpente na Lagoa da Jansen é uma das marcas da cidade. Foto: Adriano Almeida

Dos seus 11 filhos, dez foram concebidos sem casamento. A prole computa ainda 53 netos e 14 bisnetos. Uma das suas descendentes, Terezinha Jansen, destacou-se no cenário da cultura popular do Maranhão.

Entre fatos, lendas e mistérios, a Rainha do Maranhão vive no imaginário da população. Uma das fabulosas histórias remete à “carruagem fantasma” de Ana Jansen, que altas horas da noite parte de um cemitério puxada por mulas sem cabeça, guiada por um cocheiro negro decapitado. Esse arquétipo seria a expiação dos pecados da matrona pelas supostas maldades praticadas em vida.

Centro Histórico de São Luís é cenário de lendas. Foto: Adriano Almeida

Na famosa Lagoa da Jansen, cartão postal de São Luís, flutua a grandiosa escultura de 74 metros da “serpente encantada”, ilustrando uma cobra gigante que cresce ao longo dos séculos nos subterrâneos da cidade. No imaginário das lendas, a serpente remete ao sebastianismo.

O rei de Portugal, Dom Sebastião, desaparecido em 1578, no Marrocos, ressurge nas noites de lua cheia na forma de um touro encantado com uma estrela na testa, cavalgando sobre as dunas da Ilha dos Lençóis, em Cururupu, a 200 km da costa ocidental do Maranhão. Se alguém tocar na estrela, a serpente acorda em São Luís e a cidade desaparece tragada pelas águas.

Presente na obra do padre Antônio Vieira, o sebastianismo transborda para os cantos ritualísticos do tambor de mina (ouça aqui):

Rei, ê Rei
Rei Sebastião,
Rei, ê Rei
Rei Sebastião,

Quem desencantar Lençóis
Vai abaixo o Maranhão

IMAGEM DESTACADA: Imagem do livro ‘Perfil de Ana Jansen’ (1985), de Waldemar Santos / Imagem: Reprodução.