Texto do estudante de Rádio de TV da UFMA, Teodoro Montenegro, construído a partir do evento “Literatura (En)cantada: empoderar-se da língua”, realizado dia 6 de março de 2020, no auditório central da Universidade Federal do Maranhão
“O Pequeno Príncipe” é um livro difícil de explicar. Talvez, porque a narrativa se construa dentro de quem lê, não importa se criança ou adulto: o que se encontra no livro não é uma estória já processada, mas sim uma estória vivida por quem lê. Esse era o método utilizado para alfabetização, o qual, magistralmente, explicavam Wesley Sousa, Joelma Correia e o convidado francês Frédéric Pagès, durante o evento “Literatura (En)cantada: empoderar-se da língua”. “Brincar com as palavras, não pensar com elas”. Essa frase foi dita pela (antes de tudo) alfabetizadora Joelma Correia, que afirmava ter encontrado nos franceses (inclusive no convidado) a fórmula de “entender a alfabetização das crianças”. Coincidência ou não, “O Pequeno Príncipe” é de um autor francês – Saint-Exupéry. Os palestrantes do evento foram responsáveis por fomentar a discussão sobre a educação no século 21, pondo em questão os métodos pedagógicos herdados do século passado, que também fez parte do processo de colonização do Brasil (que perdura até hoje).
O ensino no Brasil é cercado por quem possui o privilégio de mantê-lo. Em algumas escolas do Brasil, principalmente particulares, o ensino é padronizado, seguindo as normas capitalistas de ensino ao desempenho técnico e de trabalho, onde a histórias das minorias sociais muitas vezes é romantizada, quando não excluída. Sendo uma forma de ensino nada acessível para alunos que têm quaisquer dificuldades de acompanhar o ritmo das aulas, o aluno se torna refém da sua própria educação. Mostra-se mais cabível esse modelo “bancário”, denominado por Paulo Freire, onde o professor deposita informação no aluno a ser apenas reproduzida posteriormente, para a manutenção de estruturas sociais que insistem em preservar mais privilégios do que direitos igualitários. Nas palavras da própria Joelma Correia: “crianças de classe popular devem ser impedidas de serem idiotizadas”.
O que os palestrantes trouxeram para discussão foi uma forma universal de ensino. As brincadeiras da infância foram (e são) a melhor escola que o ser humano já teve. A criança improvisa um roteiro, descobre as vontades antes de seus nomes, as entendem de dentro para fora. Enfim, existem várias formas de explicar esse método, pois além de vários autores já o terem descrito (Walter Benjamin, em “O Narrador”, diz que o narrador é alguém que ensina, que consegue dar conselho, torna comunicáveis suas experiências), é um método que se desenvolve na sua própria natureza, como um diálogo entre o mundo exterior e o indivíduo. “Educação dialógica” foi o termo utilizado pelo educador Paulo Freire para descrever a educação à base de estimular a criança a aprender através de suas próprias experiências. A única forma possível é usando a sua própria realidade de ferramenta educativa. É uma forma compartilhada de ensino, há uma troca de ideias entre aluno e professor e entre aluno e aluno: a única forma de preservar algo é tornando-o comum a todos.
Isso, segundo a alfabetizadora Joelma Correia, é o que seria uma educação verdadeiramente acessível. Muito se fala, no âmbito político, em construir mais escolas, aumentar qualidade do ensino etc. Porém, o problema se encontra no “como?”, quais os métodos utilizados neste momento para a educação infantil e quais suas reais consequências – questiona a alfabetizadora (?). Torna-se extremamente necessária a discussão desses métodos pedagógicos, visto que o planeta Terra está entrando em colapso por todos os âmbitos: social, político, ecológico, econômico… E tudo isso tendo origem na educação que foi criadora e criatura de uma estrutura tóxica para quem a ela pertence, algo que (literalmente) nos é ensinado e que acaba sendo o próprio problema, por isso, também, que as experiências se tornam primordiais para o ensino como um todo.