Neste domingo, quando os moradores da capital maranhense saírem de casa para votar, eles vão passar ao longo dos seus percursos por milhares de lixeiras novas fincadas nos postes de todos os bairros.
De repente, no final da gestão do prefeito Edivaldo Holanda Junior (PDT), parece ter caído uma chuva de dinheiro e, milagrosamente, essas cédulas, semelhantes aos santinhos dos candidatos, espalhadas pelo chão, brotaram como trepadeiras nos postes.
O dinheiro é tão fértil que as lixeiras cresceram até mesmo em lugares demasiado impróprios: no meio do lixo, nos esgotos, nos matagais, nas sarjetas, nas calçadas mal feitas, nas beiradas dos terrenos baldios etc.
Às vezes dá a impressão de que o dinheiro público, transformado em lixeiras, escorre feito o chorume da política mal feita.
Nunca antes na História se viu algo tão espetacular como o milagre da multiplicação das lixeiras, que vai entrar para os registros como a marca principal da gestão de oito anos do prefeito, completando um ciclo de mais de três décadas do PDT no comando de São Luís.
Como não há uma política de transparência sobre o uso do dinheiro público, ninguém sabe quem ganhou a licitação e menos ainda se tem conhecimento sobre o valor gasto nessa compra gigantesca.
Alguém precisava vender e a Prefeitura de São Luís comprou as lixeiras aos milhares.
E ninguém foi consultado sobre essa prioridade. Como é de costume, a gestão da cidade é tocada à revelia do interesse público, uma das formas de corrupção do conceito de política.
Só sabemos que o dinheiro do cidadão ludovicense foi convertido em milhares de latas do lixo.
Na eleição para decidir o futuro prefeito da cidade, os candidatos deveriam assumir o compromisso de fazer uma auditoria nas contas públicas sobre a aquisição das lixeiras.
Afinal, temos o direito de saber quem vendeu e o valor da compra.
Durante os debates os prefeituráveis Eduardo Braide (Podemos) e Duarte Junior (Republicanos) falam exageradamente em sujeira, como se a política fosse uma espécie de escória da vida pública e privada.
Já que estão atolados em acusações mútuas sobre práticas imundas, o ideal é mergulharem de vez no monturo e tornar pública a licitação das lixeiras.
Seria uma oportunidade para ambos limparem as suas imagens de políticos sujos, atribuídas por eles próprios ao longo de toda a campanha eleitoral.
Eu, cidadão, #estou pronto para saber quanto dinheiro foi gasto nas lixeiras. E aí, # bora resolver essa incógnita?
Eduardo Braide elabora o conceito de político equilibrado, maduro, confiante, supostamente mais preparado para administrar a cidade, atribuindo serenidade à sua pessoa. Duarte Junior carrega os hormônios da juventude, corre nas caminhadas de rua, ergue o braço musculoso para demonstrar força, agilidade e eficácia como gestor resolutivo
Os fatos novos na campanha para a Prefeitura de São Luís trouxeram à tona ataques e contrataques entre Duarte Junior (Republicanos) e Eduardo Braide (Podemos) na propaganda eleitoral no rádio e na TV.
Bater e apanhar faz parte do jogo. Depois, as forças políticas se reacomodam, vêm os pedidos de desculpas e tudo fica normal.
Mas, agora, o momento é da disputa sem trégua e os efeitos da batalha mais acirrada podem inclusive levar o eleitor a mudar o voto.
Duarte Junior partiu para a ofensiva tentando desconstruir a gestão de Eduardo Braide na Caema (Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão) e insiste na tese de que o candidato do Podemos é investigado por corrupção.
A reação do adversário veio em tom forte, expondo áudios e personagens que depõem contra a conduta até então sem ranhuras graves sobre a vida e os atos do gestor Duarte Junior, acusado de proferir expressões misóginas e homofóbicas, além de bater em pessoa idosa.
Na propaganda eletrônica Eduardo Braide vinha mantendo a postura convencional de qualquer líder nas pesquisas – apresentar propostas e não polemizar.
O republicano, por sua vez, partiu para a ofensiva.
Em síntese, os últimos dias do segundo turno ganham os contornos típicos de uma novela, com três ingredientes fundamentais: dinheiro, poder, intrigas e traições.
A trama entre os oponentes apresenta os seguintes perfis:
19 Eduardo Braide constrói um conceito de político equilibrado, maduro, supostamente mais preparado para administrar a cidade. Ele visa formatar a imagem de serenidade, postulado da confiança no público, tentando, com isso, estabelecer vôo próprio e amenizar o fato de ser filho de um político tradicional, o ex-presidente da Assembleia Legislativa (Carlos Braide), patrono da herança eleitoral da família. O bordão “Eu sou Braide. Estou pronto” traduz isso.
10 Duarte Junior demonstra carregar os hormônios da juventude. É afoito, corre nas caminhadas de rua, sacode o braço musculoso para demonstrar força e eficácia como gestor do Procon e do Viva Cidadão. Busca ainda estabelecer diferença em relação ao filhotismo político do seu antagonista e produz a narrativa de que venceu na vida com esforço e trabalho próprios. Assim, ele sistematiza dois bordões: “Filho do povo, igual a você” e “Bora resolver”
As imagens de estúdio e da campanha de rua, importadas para as telas da televisão e dos dispositivos móveis, reforçam os conceitos dos candidatos junto ao eleitorado para obter reconhecimento, afinidade e construir laços de racionalidade e/ou afetivos na hora de votar.
Na novela, onde amor e ódio pulsam com vigor, pode ser que Duarte Junior leve vantagem. Ele é um ator mais preparado, sabe incorporar o drama que vai motivar o eleitor. Eduardo Braide, por sua vez, foca mais no aspecto racional.
Eleição é paixão e a campanha na reta final está inundada por um turbilhão de mensagens publicitárias, informações e desinformações, numa avalanche de conteúdo que confunde cada vez mais a maioria do eleitorado não militante na política partidária.
Eis a síntese. Os sucessivos ataques de ambos os lados estão provocando uma certa margem de dúvida no eleitorado. E só o debate cara a cara na TV vai proporcionar um nível de esclarecimento suficiente para o público tomar a decisão final.
A velha disputa interna do PT no Maranhão ganha mais um capítulo na eleição para a Prefeitura de São Luís em 2020.
Durante o 1º turno a maioria do partido marchou unificada com o candidato a vice-prefeito e vereador Honorato Fernandes na chapa liderada por Rubens Junior (PCdoB), integrando o campo político-eleitoral do governador Flávio Dino (PCdoB).
No segundo turno o PT oficialmente declarou apoio a Duarte Junior (Republicanos), seguindo o comando do Palácio dos Leões, mas uma tendência do partido – a CNB (Construindo um Novo Brasil), liderada pelo deputado estadual José Inácio – abriu uma dissidência e está no palanque de Eduardo Braide (Podemos), apontado como bolsonarista.
Em uma nota pública (veja abaixo), a CNB justifica o apoio ao bolsonarista; porém, no mesmo texto, aponta fidelidade ao governador Flávio Dino na eleição de 2022.
“Cumpre destacar, desde já, o compromisso da CNB – Maranhão com o Governador do Estado, e o projeto que ele representa para a esquerda brasileira, motivo pelo qual ressaltamos o nosso total apoio ao futuro candidato de Flávio Dino ao Governo do Maranhão, por entender que é preciso dar continuidade ao ciclo de avanços e conquistas que transformaram a vida do povo maranhense e garantiram mais dignidade aos mais pobres através do Governo Dino.”, pregou a CNB.
Outra nota (veja aqui), da Executiva Municipal do PT de São Luís, rechaça qualquer tipo de aproximação com Eduardo Braide e firma compromisso com Duarte Junior (Republicanos), candidato do governador Flávio Dino.
“Em reunião da Executiva Municipal, realizada na última terça-feira (17), foi definido por 13 votos favoráveis e uma abstenção, o apoio do PT ao candidato Duarte Jr. no 2° turno. A questão foi debatida e a decisão tomada. O PT neste segundo está com Duarte Jr.”, reiterou a direção local petista.
Entre textos e posições distintas, o PT só elegeu um prefeito nos 217 municípios do Maranhão, em Coroatá; e a candidatura coletiva NÓS para uma das 31 vagas da Câmara dos Vereadores de São Luís.
No passado, o braço local da CNB levou a má fama de “sarnopetista”, devido ao alinhamento à oligarquia liderada por José Sarney, que não se esgotou durante a participação do PT no governo Roseana Sarney.
Mergulhando nas águas profundas da política o sarnopetismo segue fazendo tabela com a ex-governadora e o seu pai-conselheiro. Agora, na disputa do segundo turno em São Luís, o MDB migrou para Eduardo Braide e a CNB foi junto.
Pode até parecer coincidência, mas não é.
Veja abaixo a nota da CNB na qual justifica o apoio a Eduardo Braide:
*RESOLUÇÃO DA CNB-MA SOBRE O SEGUNDO TURNO EM SÃO LUÍS*
O segundo turno das eleições de São Luís exige das forças do campo democrático e popular uma profunda reflexão acerca da conjuntura que se desenhou no pleito da capital.
Finalizado o primeiro turno em 15 de novembro, têm-se na disputa eleitoral do segundo turno dois candidatos que integram partidos da base aliada do governo federal: Eduardo Braide e Duarte Júnior.
Braide é do Podemos e Duarte é do Republicanos. Ambos os partidos não possuem alinhamento ideológico com o PT ou com o campo democrático-popular.
Ao analisar meticulosamente quem apoiar neste segundo turno, o PT e as demais forças de esquerda devem considerar que não se trata de uma opção meramente ideológica, posto que ambos os candidatos não possuem afinidade política com o campo democrático-popular.
O candidato Duarte Júnior, que abandonou as fileiras do PCdoB para se filiar ao partido dos filhos de Bolsonaro (Republicanos), já fez declaração pública – como se fosse motivo de orgulho – de que integra o partido da base aliada de Jair Bolsonaro, usando tal discurso como meio de conquistar apoio político e votos. Outrossim, o candidato Duarte desferiu recentemente ataques ao então candidato do PCdoB à prefeitura, Rubens, e à militância do partido, fazendo insinuações pejorativas e referendando uma posição antipartidária de negação da política.
É importante destacar também que o candidato Eduardo Braide tem adotado uma posição independente na Câmara dos Deputados, tendo votado contrariamente à orientação do governo Bolsonaro em temas importantes como a Reforma da Previdência, o Novo Marco Legal do Saneamento Básico, MP da flexibilização das regras trabalhistas durante a pandemia e o Novo FUNDEB, matérias em que Eduardo Braide se posicionou da mesma forma que a bancada do PT.
A análise sobre o segundo turno deve ser político-eleitoral, com o fito de buscar concretizar um modelo de gestão que seja capaz de desenvolver São Luís e garantir melhorias para a nossa população, sobretudo a mais pobre.
No que se refere à política de alianças, o Podemos em Recife já declarou apoio à candidata Marília Arraes, do PT, no segundo turno, o que reforça a tese de que esse novo momento eleitoral reúne forças e projetos opostos em torno de uma causa maior, que é o desenvolvimento e o bem-estar das cidades e do seu povo.
É legítimo que o PT, seus militantes e lideranças, ou qualquer partido progressista, façam a opção política de apoiar qualquer dos candidatos a prefeito de São Luís, visto que não se trata de uma disputa com a presença de figuras que representam o campo popular e democrático que a esquerda integra.
Cumpre destacar, desde já, o compromisso da CNB – Maranhão com o Governador do Estado, e o projeto que ele representa para a esquerda brasileira, motivo pelo qual ressaltamos o nosso total apoio ao futuro candidato de Flávio Dino ao governo do Maranhão, por entender que é preciso dar continuidade ao ciclo de avanços e conquistas que transformaram a vida do povo maranhense e garantiram mais dignidade aos mais pobres através do Governo Dino.
Diante deste cenário, a CNB Maranhão DECIDE declarar apoio ao candidato Eduardo Braide (Podemos) neste segundo turno, por acreditar que ele é o mais preparado para gerir São Luís e garantir melhores condições de vida para a população, e, principalmente, por ter assumido o compromisso de efetivar políticas que dialogam diretamente com o modo petista de governar, tendo como princípios basilares a luta contra as desigualdades e a defesa da justiça social.
São Luís, 20 de novembro de 2020. CNB – Maranhão Coordenação
Candidato do Podemos tem apartamento na “Península” avaliado em R$ 628 mil. O republicano possui casa no valor de R$ 361 mil, no bairro Quintas do Calhau
Somado, o patrimônio dos candidatos que disputam a Prefeitura de São Luís em 2020 é de R$ 1 milhão, 713 mil, 620 reais e 62 centavos.
De acordo com os dados registrados na Justiça Eleitoral, o deputado federal Eduardo Braide (Podemos) declarou como bens no menor valor uma conta corrente com apenas R$ 74,37 (Setenta e quatro reais e trinta e sete centavos) e patrimônio máximo um apartamento de R$ 628.206,73 (Seiscentos e vinte e oito mil, duzentos e seis reais e setenta e três centavos), localizado na “Península”, metro quadrado mais caro de São Luís, no edifício José Gonçalves dos Santos Filho (imagem destacada).
Os bens totais somam R$ 1.067.620,62 (Um milhão, sessenta e sete mil, seiscentos e vinte reais e sessenta e dois centavos).
Veja aqui e também na imagem abaixo os bens declarados por Eduardo Braide
Filho de político – o pai Carlos Salim Braide foi presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão – Eduardo Braide declarou ainda “quotas ou quinhões de capital” com o seu genitor e o irmão Fernando Salim Braide no valor de R$ 73.333,33 (Setenta e três mil, trezentos e trinta e três reais e trinta e três centavos).
Já Duarte Junior tem menos posses. Mas, apesar de usar no bordão publicitário de campanha um apelo à vida modesta – “filho do povo, igual a você” – o candidato apresentou uma declaração de bens com R$ 646.000,00 (Seiscentos e quarenta e seis mil reais).
O bem de menor valor é o saldo em conta corrente totalizando R$ 25.000,00 (Vinte e cinco mil reais) e no teto dos bens o candidato registrou uma casa situada na rua Lago Verde, valendo R$ 361.000,00 (Trezentos e sessenta e um mil reais), localizada no bairro Quintas do Calhau.
Veja aqui e na imagem abaixo os bens declarados por Duarte Junior
Vamos seguir acompanhando a evolução patrimonial dos dois candidatos. Ambos têm pretensões eleitorais futuras e é fundamental monitorar a movimentação dos bens de cada um.
Nem Ilha Rebelde nem Atenas Brasileira. A capital do Maranhão vota em massa na direita. Está em curso uma renovação geracional tradicional protagonizada pelos “velhos atenienses” de rostos juvenis com as suas hastags #estoupronto e #boraresolver
As urnas abertas no primeiro turno da eleição para a Prefeitura de São Luís reafirmaram a preferência da população por dois filhos de políticos tradicionais e um outsider. Os três primeiros colocados – Eduardo Braide (Podemos / 37,81% dos votos), Duarte Junior (Republicanos / 22,15%) e Neto Evangelista (DEM / 16,24%) – com as suas respectivas coligações, representam a direita local em tons diferentes do bolsonarismo.
Somados, eles obtiveram 390.146 sufrágios do total de 553.499 votos válidos dia 15 de novembro.
São Luís, outrora denominada “Ilha Rebelde”, porque teria uma tendência de voto progressista, deu uma guinada radical ao conservadorismo – prolongamento da marca dos dois mandatos do atual prefeito, herdeiro de 30 anos do mesmo grupo político entranhado na gestão da cidade.
O resultado também questiona o mito da Atenas Brasileira, fruto de uma suposta superioridade letrada de São Luís, cultuada pelo saudosismo de uma badalada efervescência cultural da cidade no século XIX.
Em que pesem o mérito e as qualidades dos nossos escritores, motivo de orgulho, o mito da Atenas Brasileira não corresponde à realidade. A maioria expressiva da população maranhense sequer sabia ler nem escrever e o conjunto da população estava alheio à invenção ateniense tupiniquim.
Apenas os letrados e o seu entorno reconheciam a grandiosidade intelectual ludovicense. O mito da Atenas Brasileira é uma invenção criada para emoldurar o glamour dos filhos da elite escravocrata do Maranhão que estudavam na Europa e depois voltavam à província.
E a maioria dos iluminados egressos do novo mundo não se preocupava com as barbaridades da sua terra natal.
Civilização e barbárie
Naquela sofisticada efervescência cultural do século XIX, em 14 de novembro de 1876, São Luís foi o palco de quatro atos de desumanidade contra um menino negro de oito anos.
Primeiro: o garoto foi torturado e assassinado.
Segundo: houve um sepultamento às pressas do corpo mutilado.
Terceiro: apontada como autora, Dona Anna Rosa Viana Ribeiro, típica representante da aristocracia provinciana, foi absolvida por unanimidade.
Quarto: o promotor do caso, Celso Magalhães, que levou a júri a douta Anna Rosa Ribeiro, foi execrado da cidade.
O rumoroso episódio ficou conhecido como “O crime da baronesa”.
A tradição de cultuar o passado, como a invenção da Atenas Brasileira, está reproduzida em grande escala na tradição política clientelista do Maranhão.
Com algumas boas exceções nos três poderes, os filhos dos políticos conservadores reproduzem os legados dos seus predecessores. Eduardo Braide e Neto Evangelista preenchem esse critério na eleição de 2020, mas os exemplos idênticos são muitos há tanto tempo.
Entre mortos e feridos nas eleições 2020 salvou-se, na Câmara Municipal, uma candidatura coletiva do PT, o NÓS, no total de 31 vereadores.
No mais, está em curso uma renovação geracional conservadora protagonizada pelos velhos atenienses de rostos juvenis com as suas hastags #estoupronto e #boraresolver
Imagem destacada / Eduardo Braide, do Podemos e Duarte Júnior, do Republicanos, vão disputar o 2º turno em São Luís (MA) — Foto: Arte / G1
As pesquisas de opinião em período eleitoral nem sempre correspondem à realidade plena. Algumas são visivelmente forjadas com o intuito de favorecer o contratante. Outras, de institutos razoavelmente confiáveis, são mais próximas da vontade do entrevistado.
Geralmente, as sondagens induzem o voto e têm um papel significativo na formação das correntes de opinião que influenciam o conjunto do eleitorado.
Dito isso, é fato que o candidato Eduardo Braide (Podemos) vem liderando a disputa ao longo da campanha. Todos os institutos de pesquisa mostram essa tendência.
Mas, na reta final, é natural que o líder seja atacado e os candidatos mais competitivos dêem um tom mais agressivo na propaganda eleitoral, nas redes sociais e nos debates.
Nem sempre liderar pesquisas tanto tempo é vantajoso porque o primeiro colocado será sempre atacado pelos adversários.
Liderança contínua e por larga margem são dois aspectos carregados de contradições em uma disputa majoritária. Braide sente isso na pele agora na reta final, quando começa a desidratar, correndo até o risco de perder a eleição no segundo turno.
Para além das pesquisas, a campanha real nas ruas e o bom desempenho na comunicação podem mudar o jogo nos últimos minutos. O próprio Braide sabe disso. Em 2016, ele foi protagonista de um sucesso inesperado, fruto de dois debates na televisão.
Logo ele, bom de debate no passado, vem se esquivando de algumas arenas em 2020.
No sistema eleitoral institucionalizado no Brasil, a competitividade é tradicionalmente atrelada às origens familiares (filhotismo) na política, ao poder econômico, à base social e partidária (coligações) e ainda ao desempenho pessoal da candidatura no corpo a corpo e nas plataformas de comunicação.
Braide agrega vários desses ingredientes. É filho de político tradicional de família abastada, reúne partidos do campo pragmático e tem boa desenvoltura retórica.
Apesar de tudo isso, ele pode perder uma eleição que durante toda a campanha estava dada como favas contadas.
Os três candidatos melhor posicionados na pesquisa Ibope para a Prefeitura de São Luís querem distância de qualquer associação das suas campanhas com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Direta ou indiretamente vinculados à base bolsonarista, Eduardo Braide (Podemos), Duarte Junior (Republicanos) e Neto Evangelista (Democratas) querem distância do presidente.
Bolsonaro esteve recentemente no Maranhão e foi ignorado pelos candidatos a prefeito. Apenas Silvio Antônio (PRTB), em último lugar nas pesquisas, faz questão de assumir a ligação com o presidente.
A rejeição de Bolsonaro é ainda maior depois da derrota de Donald Trump na eleição dos EUA.
O efeito da vitória de Joe Biden é devastador sobre o campo político da ultradireita fundamentalista e das suas bandeiras anticiência, homofóbica, racista, misógina e contra os preceitos civilizatórios fundamentais.
Bolsonaro, o maior representante do trumpismo no Brasil, é uma espécie de vírus político pandêmico. Quando não mata, deixa sequelas graves.
O senador bolsonarista Roberto Rocha (PSDB) opera com todas as armas para destituir o deputado estadual tucano Wellington do Curso (WC) das pretensões de disputar a Prefeitura de São Luís.
No velho estilo autoritário, o coronel tucano vem fazendo pressões e dividindo o partido para impor a desistência de WC e adesão à pré-candidatura de Eduardo Braide (Podemos).
Ele usa como argumento uma hipótese sem força nos fatos: caso WC desista para apoiar Eduardo Braide a eleição seria decidida em primeiro turno.
Qualquer pessoa com o mínimo de vivência sobre os pleitos em São Luís sabe que em 2020 existem várias candidaturas competitivas com ampla tendência de levar a decisão para o segundo turno.
Até mesmo Eduardo Braide tem ciência de que a sua liderança nas pesquisas é preocupante e perigosa porque ele será alvo do bombardeio de todos os adversários.
Internamente, o trator de Roberto Rocha sobre WC vem desagradando muito os pré-candidatos a vereador do PSDB. Embora não tenha coligação na eleição proporcional, eles avaliam que, na ausência do candidato majoritário tucano, ficarão preteridos e sem palanque próprio, algo fundamental para mobilizar as campanhas à Câmara Municipal.
A chapa da vereança argumenta que Wellington do Curso é um candidato competitivo, vem pontuando nas pesquisas e não deve abrir mão para submeter o protagonismo do PSDB a uma aliança.
O senador bolsonarista, por sua vez, sustenta que a convergência entre o PSDB e o Podemos é o resultado de um acordo celebrado na eleição de 2016, quando WC apoiou Braide no segundo turno contra Edivaldo Holanda Junior (PDT). Em 2018, na eleição para governador, o candidato derrotado Roberto Rocha obteve o apoio de Eduardo Braide (à época no PMN) contra Flávio Dino.
Caso abra mão da pré-candidatura, WC está prometido para ser o vice na chapa de Braide.
Mas, WC já percebeu o desfecho de uma eventual capitulação. Se desistir do protagonismo em 2020, mesmo em uma eventual vitória de Braide, vai desaparecer do cenário político.
Escorpiões são assim mesmo. Roberto Rocha foi capaz de negar a sua eleição de senador como apêndice de Flávio Dino e depois virou o maior inimigo do governador. Imagine o que ele será capaz de fazer com WC apenas na condição de vice-prefeito…
Lembrando que Roberto Rocha tem o mesmo sonho de consumo de Braide – ser governador. Sinal de que essa onda de paz e amor entre o PSDB e o Podemos é passageira.
No mais, é sempre importante lembrar: Roberto Rocha “foi eleito” senador em 2014 montado nas costas de Flávio Dino, surfando na onda de desgaste da oligarquia liderada por José Sarney.
Em 2018, na eleição para governador, já inimigo dos seus antigos aliados, o tucano disputou contra Flávio Dino e teve apenas 2% dos votos. Melhor dizendo: 2,05% = 64.446 votos! Isso em uma eleição majoritária.
Muito metido a estrategista, no velho estilo de coronel, Roberto Rocha quer primeiro atropelar Wellington do Curso para ficar ele sozinho “dono” do PSDB. Depois, vai confrontar Braide, quando o interesse de ambos for o mesmo – o Palácio dos Leões.
Assim, traindo uns e atropelando outros, Roberto Rocha vai sedimentando aquilo que já é quase uma profecia dos analistas políticos: ele nunca será governador do Maranhão.
É consenso entre os analistas políticos que a candidatura do deputado estadual Eduardo Braide (PMN) ao Governo do Maranhão mudaria o cenário eleitoral, apontando uma disputa em dois turnos.
Sem ele, as pesquisas indicam a reeleição do governador Flávio Dino (PCdoB) logo no dia 7 de outubro.
A desistência daquele que poderia alterar esse resultado gera uma série de especulações.
Uma delas interpreta que Eduardo Braide se acovardou, preferindo uma eleição mais cômoda de deputado federal, guardando a munição para a sucessão de Flávio Dino em 2022 e 2026.
Em meio às especulações há um dado real da conjuntura. Ele não teve uma coligação minimamente competitiva para entrar na disputa, ficando restrito ao minúsculo PMN.
O grupo liderado por José Sarney (PMDB) calculou que se ofertasse algumas legendas de aluguel para Braide, corria-se o risco de ele próprio ser o segundo colocado, deixando Roseana Sarney (PMDB) em terceiro lugar.
Mesmo assim, Braide carregaria o estigma de “ser o candidato de Sarney” no segundo turno contra Flávio Dino.
Pensando assim, não foi covardia e sim esperteza e projeção de futuro, seguindo a tradição.
Braide, se eleito deputado federal, é candidato a prefeito de São Luís em 2020. Muitos dizem que ele já está com o diploma de mandatário da capital na mão. Falta só combinar com o povo.
Aí sim, depois de passar pelo teste eleitoral da capital, entra na disputa pelo governo. Foi assim com Jackson Lago (PDT) e Flávio Dino, naquela ideia de que São Luís é o farol.
Na minha modesta opinião, certas covardias estão cheias de espertezas. Braide vai primeiro esperar o embate Roseana x Flávio em 2018 e ver como ficam os vitoriosos, os feridos e os mortos.
E, caso seja eleito prefeito de São Luís, será um nome para reorganizar o campo conservador no Maranhão.
O que não vai faltar é viúva de José Sarney querendo um novo padrinho.
Imagem/divulgação: Eduardo Braide e o candidato a senador José Reinaldo Tavares
Simultaneamente, o deputado estimula a candidatura de Eduardo Braide e fragmenta os tucanos. Nesta etapa dinâmica da pré-campanha, atrapalha e ajuda o projeto da reeleição do governador.
É preciso ficar muito atento aos movimentos do deputado federal José Reinaldo Tavares (PSDB).
Um homem que se locupletou quase a vida inteira dos favores, cargos e privilégios da oligarquia deve ter aprendido muitos segredos com seu padrinho José Sarney.
Este mesmo animal político, movido por uma paixão (Alexandra Tavares) e poderes palacianos, lançou três candidatos – Aderson Lago (PSDB), Edison Vidigal (PSB) e Jackson Lago (PDT) – contra Roseana Sarney, em 2006, adubando a vitória da Frente de Libertação do Maranhão.
Pela primeira vez, desde 1965, José Sarney provou o fel de uma traição que lhe tirou o bem mais precioso – a chave do cofre do Palácio dos Leões. E o arquiteto dessa façanha foi seu meio filho José Reinaldo Tavares.
De todos os políticos que jogam no Maranhão, José Reinaldo conhece o poder e sabe usar as armas do governo e da oposição quando lhe convém aos interesses particulares.
Ele tem sangue frio, é pragmático e navega no mundo e no submundo das estratégias eleitorais.
José Reinaldo é tão frio que, mesmo depois de sentir o aperto das algemas na operação Navalha, em 2007, já escreveu vários artigos propondo uma repactuação com José Sarney.
Basta observar o ziguezague dele para perceber sua astúcia: nasceu, cresceu e se locupletou com José Sarney (PMDB), armou a vitória de Jackson Lago (PDT) contra Roseana Sarney (PMDB) em 2006, engajou-se na eleição de Flávio Dino (PCdoB) em 2014, rompeu com o governador comunista, filou-se ao PSDB e estimula a candidatura de outro partido PMN (Eduardo Braide) para o governo do Maranhão.
Ele fez uma trajetória igual à de qualquer político tradicional. Não importa se o governo é de esquerda, centro ou direita.
A essa altura do processo eleitoral, José Reinaldo acende uma vela para os comunistas e outra para seu velho amigo José Sarney, com o qual nunca rompeu, apenas afastou-se por uma circunstância especial de amor e poder.
Em maio de 2018, a cinco meses da eleição, José Reinaldo opera para implodir o PSDB e estimular a candidatura de Eduardo Braide (PMN). Por um lado, tenta alavancar o segundo turno; de outro, fragiliza a candidatura do tucano Roberto Rocha.
Observe atentamente. Para quem tem fama de agregador, quando montou a Frente de Libertação do Maranhão, José Reinaldo agora opera a diáspora da oposição.
Nessa dinâmica da política, qualquer resultado lhe pode ser benéfico.
Se a candidatura de Eduardo Braide vingar e for ao segundo turno, José Reinaldo pode refazer a ponte com José Sarney para derrotar Flávio Dino e se posicionar no pós-2022, quando haverá um campo aberto sem a figura do governador comunista na condição de candidato ao Palácio dos Leões.
Fragmentando a oposição com os ataques ao PSDB, José Reinaldo ajuda o governador agora em 2018 e cria um cenário que pode até ser decidido em primeiro turno.
Se Flávio Dino vencer, Tavares se reaproxima dos comunistas, usando o argumento de que implodiu a candidatura de Roberto Rocha e fragilizou a oposição.
José Reinaldo sabe que dificilmente se elege senador. O trabalho dele é articular, conspirar e colher os resultados.
Ele pode ser vitorioso pelo simples fato de levar a eleição para o segundo turno, caso consiga construir a candidatura de Eduardo Braide. Mas, terá ganho também se operar forte no desmonte do PSDB, atrapalhando a candidatura de Roberto Rocha.
De uma coisa temos certeza. José Reinaldo é um conservador de direita, mas se movimenta com qualquer grupo que atenda aos seus interesses privados.
Basta ver como se posiciona.
Sob o argumento de que Dilma Roussef e o PT eram corruptos, votou pela degola da presidente. Já na votação que levaria Michel Temer às barras da Justiça, foi contra.
Você, car@ leitor@, bem sabe onde e com quem ele aprendeu a jogar esse jogo.