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Abraji repudia ataques de Eduardo Bolsonaro a Míriam Leitão

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudia os ataques do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) à jornalista Míriam Leitão. Causa indignação que um parlamentar, detentor de cargo e salário públicos, use sua voz para ofender mais uma vez a jornalista, citando de forma desqualificada e jocosa o período em que ela foi presa e torturada sob o regime militar no Brasil (1964-1985). É um tipo de ataque recorrente, praticado não só pelo deputado, mas por seu pai, o presidente da República, a uma profissional da imprensa, na busca para desvalorizar seu trabalho e tentar silenciá-la no debate político.
 
Míriam Leitão tem contribuído para o jornalismo político e econômico há mais de 40 anos, sendo uma das profissionais mais respeitadas do país. O ataque de Eduardo Bolsonaro, notadamente defensor desse período sombrio da história do país, causa indignação não só no meio jornalístico como no político e econômico. É de se lamentar que um parlamentar eleito com os mecanismos democráticos use seu discurso para atacar profissionais que se colocaram sempre na defesa da democracia e apoie um período em que direitos civis foram suprimidos no Brasil. A Abraji se solidariza com Míriam Leitão e com todos os profissionais, sobretudo as mulheres, que têm sido constantemente atacadas e ofendidas nas redes sociais por agentes públicos.

Diretoria da Abraji, 4 de abril de 2022

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Explicar e entender

Eloy Melonio *

Se perguntar não ofende, o que dizer de explicar?

Tudo, menos silenciar. Pois é, mas nem sempre é fácil falar das coisas da vida, do mundo, do dia a dia. E, assim, decidi contar algumas historinhas bem pessoais para tentar explicar como me sinto neste cipoal de novidades apelidado de “mundo digital”. E, quem sabe, provocar algum tipo de reflexão.

Para começar, precisei do incentivo e inspiração de duas pessoas. Primeiro, do meu filho: “Pai, isso dá uma crônica!”. Em seguida, de Caetano Veloso, com quem disputo o primeiro lugar na parada dos “tecnofóbicos”, raça em extinção formada por aqueles que “têm medo da tecnologia”. Digo “extinção” porque as crianças de hoje já nascem com um smartphone na mão perguntando à mãe se ela já criou sua conta no Instagram.

No meu caso, não é exatamente medo ou aversão. É uma certa dose de resistência ou desinteresse, acomodada na zona de conforto de quem sempre teve ajuda fácil. Acho que esse também é o caso do nosso baiano arretado, autor de tantos sucessos da MPB.

Dito isso, vou começar pelo fim. Ou seja, pela história mais recente.

Dia desses, na fila do caixa do café da manhã num supermercado, vi o jovem à minha frente efetuar seu pagamento com a aproximação do seu relógio à máquina do cartão de crédito. Tudo muito simples, rápido e prático. Chegada a minha vez, imitei a sua ação. Não com um relógio, mas com os meus “óculos”. Minha esposa e o rapaz do caixa acharam graça. Eu, nem tanto. Porque foi um gesto espontâneo, ou seja, uma reação irreverente para revelar certo desgosto com o meu velho cartão de crédito. E de me indignar com meu atraso tecnológico.

À mesa, conversamos sobre o acontecido e esse novo mundo cercado de pix, Apple watch, Uber “e coisa e tal”. Aí, algumas risadinhas para disfarçar a vergonha. E tudo voltou ao velho normal.

O certo é que eu estou “anos-escuridão” da condição ideal quanto ao uso de tudo o que a tecnologia e a Internet oferecem. Cheguei a tomar algumas decisões quanto a isso: vou aprender porque quero me virar sozinho. Não passou disso. Mas ainda resta alguma esperança. E ninguém morre de esperança, morre?

No mesmo dia, tinha de ir a um evento à noite. Como estava chovendo e eu não queria dirigir, fui de Uber. O motorista deixou-me à porta do Teatro João do Vale, no centro histórico de São Luís (MA). Foi a minha segunda viagem nesse serviço de carro sob demanda. E eu não fiz nada, absolutamente nada. Minha neta tomou todas as providências pelo celular: chamada e pagamento antecipado. Que moleza! A mim coube apenas manter a tradicional conversa com o motorista sobre seu trabalho enquanto seguíamos por ruas esburacadas.

Depois desses dois episódios, o enredo das historinhas fica mais linear. E você pode até antecipar o seu final.

Mas não vá pensando que eu sou assim tão avesso à tecnologia! É que um tecnofóbico de classe média não sobrevive sem esse turbilhão de apetrechos e aplicativos do mundo digital. Gosto de usar meu notebook para vasculhar o Facebook. Tenho um smartphone com Whatsapp, Instagram etc. E movimento razoavelmente bem a minha conta pelo aplicativo do meu banco.

Já entendi que os meus problemas com o mundo virtual são reais. Encontrar um endereço com a ajuda de um aplicativo já me deu uma tremenda dor de cabeça. Fiquei mais perdido do que cachorro em dia mudança.

Mas nem tudo são frustrações. Quase morri de felicidade quando, seguindo instruções, consegui transferir o WhatsApp do celular para o notebook, usando o QR Code. Um avanço e tanto, comemorado com gritos e socos no ar. Recentemente fiz um empréstimo consignado sem precisar ir ao banco.

Antes do desfecho, uma cena que já faz parte dos meus anais. Depois de cinco meses de uso, minha esposa descobriu que a mala do nosso carro não travava. Tentamos de tudo, e nada! Preocupado, pensei em pedir ajuda na concessionária. Como estávamos perto de uma oficina de lanternagem, chamei um funcionário e lhe pedi ajuda. Expliquei-lhe o problema e aguardei ansioso a solução. Ele pegou o chaveiro e se afastou uns quinze ou vinte metros do carro e pediu que eu abrisse a mala. Tentei, mas ela não abriu. Isso me deixou mais tranquilo. Depois, aproximou-se do carro e repetiu o pedido. O que você acha que aconteceu?

Foi uma lição e tanto. Por um segundo, aceitei fácil e resignadamente a ideia de que as máquinas estão mais inteligentes do que nós.

Igualzinho a mim, Caetano já confessou que não sabe procurar músicas nas plataformas de streaming, pois não usa o celular e lida muito mal com a internet (Veja, 13-10-2021). Alegrei-me em saber que não estava sozinho nesse cruzamento “da Ipiranga com a avenida São João”. Na verdade, acho até que estou alguns acordes à frente do meu ídolo, pois já consigo “tocar” músicas no Spotify.

Não sei se minhas vaciladas serviram para alguma reflexão. Mas acho que deu para perceber que “alguma coisa acontece” quando se tem alguém para explicar.

Antes de fechar nossa conversa, queria citar um antigo bordão, popularizado por Sócrates, macaco-personagem do humorístico Planeta dos Homens (REDE GLOBO, 1976 e 1982): “Não precisa explicar. Eu só queria entender”.

Nostálgico, vejo que as coisas antigas não funcionam mais. Inclusive os bordões.

* Eloy Melonio é professor, escritor, poeta e compositor

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Amores, im/permanência e maturidade

Inspirada estreia solo de Carolinaa Sanches (vocalista dos grupos Caburé Canela e Pisada da Jurema), “Curva de rio” chega às plataformas de streaming dia 8 de abril (sexta-feira)

Por Zema Ribeiro*

Após disponibilizar dois singles, a cantora Carolinaa Sanches lança no próximo dia 8 de abril (sexta-feira), o álbum “Curva de rio”, sua estreia solo – ela integra os grupos Caburé Canela e Pisada da Jurema, além de ser artista visual e uma das gestoras da editora artesanal Grafatório, cujas obras-primas lançadas garantem a felicidade de quem ama livros.

O trabalho reafirma seu talento e maturidade artística. “Curva de rio” abre com “Cantar” (Carolinaa Sanches), o segundo single apresentado ao público, que conta sobre o mágico, difícil e sagrado ofício do verbo que lhe empresta o título. Ela se acerca de gerações distintas de cantores, nas presenças da veterana Alzira E., além de Gustavo Galo (da Trupe Chá de Boldo) e Isabela Lorena, também da Pisada da Jurema.

“Quando você chegou/ eu quis comemorar/ eu quis dançar até o amanhecer/ eu quis beijar você”, segue “Instante” (Carolinaa Sanches/ Layse Moraes), segunda faixa do álbum. A esta altura o ouvinte já está envolvido e bem poderia ser ele, ela, qualquer um de nós, devolvendo à Carolinaa a declaração. Cantada a seis vozes – além de Carolinaa e a parceira, CaruhSpisla, Francesco Mugnari, Guilherme Kirchheim e Mariana Franco –,um clima samba-jazzy se instala, no diálogo entre contrabaixo (Mariana Franco), teclado (Lucas Oliveira) e bateria (João Bolognini).

“Curva de rio” é delicado, bonito, gostoso de ouvir. Um alento nestes tempos trevosos. Letras inteligentes dialogam com melodias que convidam à dança. Carolinaa Sanches literalmente põe o coração na voz. “Cartas claras sobre a mesa/ desfrutar dos nossos sóis/ e a gente de peito aberto/ cada vez chega mais perto/ de entender o que é nós”, como diz na letra de “Nós” (Carolinaa Sanches), canção de amor que se equilibra entre o xote e o jazz, pontuada pelos contrabaixos de Mariana Franco (que também canta na faixa), a bateria de Paulo Moraes e o clarinete de Pedro José – os três, seus colegas de  Caburé Canela.

Ao longo do disco, Carolinaa revela-se, desnuda-se, derrama-se, entrega-se por completo. “Entre uma palavra e outra/ entra uma palavra noutra/ nenhuma boca chama assim meu nome/ nenhuma boca deixa em chama assim”, começa a letra de “Primeira primavera” (Carolinaa Sanches/ Barbara Blanco), cantada em dueto com Fernanda Branco Polse. Sim, o amor (e suas declarações) permeia(m) “Curva de rio” – um rio que transborda amores –, mas aqui o mais universal (e manjado) dos temas de música e poesia é cantado de forma extremamente original.

Se “amar é um elo entre o azul e amarelo”, como diria o conterrâneo Paulo Leminski – ele curitibano, ela londrinense –, a cantora e compositora dialoga com o universo do poeta em “Profundo amarelo” (Carolinaa Sanches), outra faixa em que baixo e clarinete se destacam. Versos como “não fosse tanto era quase/ não fosse isso era menos” invertem o título do famoso livro do artista multimídia (antes de o termo ser inventado), o que ela também é, mantendo o diálogo, o respeito e fazendo merecida reverência.

Em “Órbita” (Carolinaa Sanches), a canção mais experimental do disco, ela canta, em quarteto com Pedro José, Mariana Leon e Mariana Franco: “sentir seu coração/ faz-me entrar em outra constelação / e mesmo sem entrar em órbita/ eu já consigo tirar meus pés do chão/”. O ouvinte é tripulante da nave musical, viagem sem volta tanto a quem já conhecia a artista dos grupos que ela integra quanto àqueles a quem será apresentada por este lançamento.

Primeiro single lançado, em fevereiro passado, e primeira faixa a ganhar videoclipe, “Petricor” (Maria Thomé), literalmente o cheiro da chuva, é canção ensolarada – e não reside aí nenhuma contradição –, espécie de arco-íris do disco. O baião, de autoria da percussionista da Caburé Canela, reafirma a estreita ligação de Carolinaa Sanches com a cultura popular nordestina, algo percebido ao longo de todo “Curva de rio”.

O inspirado disco termina com “É” (Carolinaa Sanches), canção de despedida com os dois pés nos terreiros das religiões de matriz africana, infelizmente ainda alvos de tanta discriminação e violência. A faixa reflete sobre o individual e o coletivo, reivindicando o respeito aos seres humanos, mais que independentemente de suas diferenças, mas para além e também por causa delas. É faixa quase exclusivamente feminina, a que comparecem Thais Hamer (alfaia e voz), Maria Thomé (tambor de mão e voz), Edna Aguiar (voz), Guilherme Kirchheim (voz), Isabela Lorena (voz), Naná Souza (voz), ThunayTartari (voz) e Mariana Franco (voz). “Junto ser único”, palavra de ordem.

Carolinaa Sanches não anda só; além de aqui e acolá seus colegas de bandas comparecerem, ao álbum plural se fazem presentes mais de 20 artistas, entre autores, intérpretes e instrumentistas. Artista de raro talento, em seu solo ela está muito bem acompanhada, como a subverter o dito popular: Gabriel Kruczeveski (flauta transversal, efeitos, violão e voz), João Bolognini (bateria), Lara Moratto (flauta transversal), Lucas Oliveira (teclado), Maria Thomé (tambor de mão, caxixi, zabumba, triângulo e voz), Mariana Franco (contrabaixos, violão e voz),Paulo Moraes (bateria) e Pedro José (clarinete, viola caipira e voz) formam sua banda base.

Essa soma de talentos e a entrega de cada um/a a cada nota, garantem uma diversidade de timbres que mantém o disco distante de qualquer sintoma de monotonia. “Curva de rio” foi gravado em Londrina, no Toqô Estúdio, por Gabriel Kruczeveski, que assina também sua mixagem e masterização. A direção musical é de Mariana Franco. A capa é assinada pela própria Carolinaa Sanches, sobre foto de Paula Viana.

Carolinaa Sanches resume o conceito por trás do título do disco: “A princípio pensava na curva de rio como um espaço onde as “coisas” param. No meio do processo fui entendendo que as coisas param por um tempo, pois o rio está sempre em movimento e as leva para outros lugares. Então as coisas passam pela curva. As “coisas”, nesse trabalho, dizem respeito mais às “pessoas” mesmo. Como é um trabalho que envolve muitos anos, envolve diferentes amores em que me inspirei para as músicas, e também, foi um álbum construído a muitas mãos. Tenho pensado que a curva sou eu. O espaço que permitiu que outras acessassem e conhecessem essa parte do rio. Aceitando a impermanência e também a permanência das relações. A curva de rio pode ser vista de cima e também de dentro, mergulhada nos amores profundos, que mesmo que findem, ficam”.

“Curva de rio” tem patrocínio do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Londrina).Ouça sem moderação!

Serviço: “Curva de rio”, álbum de Carolinaa Sanches. Disponível nas plataformas de streaming na próxima sexta-feira (8). Siga a cantora nas redes sociais e plataformas digitais: instagram, spotify, youtube, deezer e applemusic.

Link para pré-save: https://tratore.ffm.to/curvaderio_

*ZEMA RIBEIRO é jornalista. Coordenador de produção da Rádio Timbira AM, apresenta aos sábados, na emissora, o Balaio Cultural, com Gisa Franco. Escreve no Farofafá.

Imagem destacada / Carolinaa Sanches / Foto: Paula Viana

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Despedida de Flavio Dino teve coro “Fora Bolsonaro”

Uma cerimônia com mais de três horas de duração marcou simbolicamente o fim de dois mandatos consecutivos (sete anos e três meses) do governador Flávio Dino, dia 31 de março de 2022, no teatro Artur Azevedo, em São Luís.

Já passava de 22 horas quando o homenageado subiu ao palco para proferir o seu discurso de despedida.

A retórica de Flávio Dino, eivada de passagens bíblicas, advertia o seu aliado e sucessor, Carlos Brandão, sobre os seres estranhos que habitam o Palácio dos Leões, sede do governo do Maranhão.

O ainda governador mencionava os fantasmas que arrastam correntes para escravizar o povo, os demônios e outros seres perigosos que rondam o poder.

Dino fez menção especial ao diabo. “Ele existe, é fortíssimo, e costuma soprar no ouvido de governador, prefeito e presidente. Tem um que eu desconfio que é o próprio diabo”, sinalizou, em referência implícita ao seu algoz Jair Bolsonaro.

Ato contínuo, a plateia em coro puxou a palavra de ordem “Fora Bolsonaro”.

Ouça abaixo o coro no tempo 17:00 (dezessete minutos) do áudio

Para ouvir o coro “Fora Bolsonaro”, desloque
o tempo do vídeo até 17:00 (dezessete minutos)

Entusiasmado com a resposta eufórica do público, o governador emendou, em alusão à proximidade da eleição de 2022, cujas pesquisas apontam derrota do atual presidente: “Falta pouco, graças a Deus. Vade retro, Satanás”

Aplaudido efusivamente pela audiência do teatro, o governador prosseguiu o discurso aconselhando o seu sucessor Carlos Brandão sobre os entes maléficos do Palácio dos Leões.

Egresso da tradicional direita do Maranhão, o sucessor de Flávio Dino assistia ao discurso na primeira fila da plateia.

Saiba mais sobre a cerimônia de despedida do governador aqui no texto “O sermão de Flavio Dino a Carlos Brandão”.

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O sermão de Flavio Dino a Carlos Brandão

O governador do Maranhão recentemente empossado, Carlos Brandão, só não faz uma boa gestão se não quiser. Conselhos não lhe faltaram, na memorável noite de 31 de março de 2022, durante o espetáculo de despedida do governador Flávio Dino, estrela no palco do Teatro Arthur Azevedo.

Muitas singularidades marcaram o discurso do então governador, em especial as recomendações e as lições transmitidas ao gestor que assume o Palácio dos Leões.

Como toda peça retórica, o discurso foi ornado com os fins de agradar, comover e convencer, tais quais as provas ética, patética e lógica, conforme ensinam os doutos na arte de pregar.

Naquela platéia lotada, quase todos estavam agraciados e comovidos, mas nem todos convencidos.

Um ouvinte, em especial, acomodado confortavelmente na primeira fila da platéia, precisava escutar o sermão com bastante acuidade sonora e visual – Carlos Brandão.

Flávio Dino caprichou na prova lógica do sermão porque ele se dirigia a uma pessoa muito diferente. Carlos Brandão é um típico político de direita, conservador, feito de matéria estranha ao barro teórico, à militância e às práticas políticas vinculadas aos ideais iluministas.

https://www.youtube.com/watch?v=kgvXJ4n1DyM
O discurso do governador Flavio Dino está
disponível no tempo 2:50:00 do vídeo.

Daí o esforço do governador para convencer o seu interlocutor privilegiado.

Eivadas de passagens bíblicas, duas passagens do discurso merecem ênfase.

A primeira referenciou o Sermão da Montanha e as Bem-Aventuranças, contendo o núcleo duro da pregação, quando Flávio Dino disse para Carlos Brandão olhar nos olhos do povo e abrir o coração para transformar a política em uma ação profundamente amorosa.

Em outras palavras, recomendou a prática dos princípios da justiça, amar o próximo como a si mesmo, honestidade, paz, misericórdia, caridade, perdão e não servir a dois senhores.

Assim está escrito no Sermão da Montanha: “Ninguém pode servir a dois senhores porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro” (Mateus: 6:24)

Cuidado com o diabo!

A segunda ênfase, conectada à primeira, foi uma advertência e diz respeito aos residentes exóticos do Palácio dos Leões. “No palácio habitam muitos seres que estão lá há séculos. Os piores são os fantasmas que arrastam correntes da escravidão do povo. Não pode deixar os fantasmas tomarem conta, porque eles estão lá para isso, estão lá para tentar. O diabo existe, fortíssimo, e costuma soprar em ouvido de governador, prefeito e presidente”, advertiu Dino.

E completou: “[…] o diabo fica por acolá dizendo ‘tu é o cara, tu é poderoso, olha como tu é bom’. Aí a pessoa começa a acreditar e quando ele olhar já não é mais ele mesmo. Ele se tornou no seguidor do mal e deixou de ser um servidor público, deixou de ser gente (pessoa).”

Quando tomou posse no primeiro mandato, em 1º de janeiro de 2015, Flavio Dino proferiu um Sermão aos Leões, dirigindo-se às enigmáticas e impolutas esculturas guardiãs do palácio do governo.

Leia aqui ou abaixo o meu artigo sobre o Sermão aos Leões

Passados 7 anos e três meses, em dois mandatos consecutivos, ele se despede sugerindo a continuidade do caminho, das ações e das práticas por ele implantadas no Maranhão.

Carlos Brandão está devidamente alertado sobre os fantasmas e os demônios, inquilinos perpétuos do Palácio dos Leões. “As tentações são grandes, mas o bem vence o mal”, sacramentou Dino.

Padre Antonio Vieira, no Sermão da Sexagésima, ensina que a eficácia do sermão está na capacidade de comover os ouvintes, levando-os à reflexão, mobilizando suas paixões com o objetivo de convertê-los:

“De maneira que o frutificar não se ajunta com o gostar, senão com o padecer; frutifiquemos nós, e tenham eles paciência. A pregação que frutifica, a pregação que aproveita, não é aquela que dá gosto ao ouvinte, é aquela que lhe dá pena. Quando o ouvinte a cada palavra do pregador treme; quando cada palavra do pregador é um torcedor para o coração do ouvinte; quando o ouvinte vai do sermão para casa confuso e atônito, sem saber parte de si, então é a preparação qual convém, então se pode esperar que faça fruto”.

Vieira discorre ainda sobre os ouvintes difíceis de converter:

“Os piores ouvintes que há na Igreja de Deus, são as pedras e os espinhos. E por quê? – Os espinhos por agudos, as pedras por duras. Ouvintes de entendimentos agudos e ouvintes de vontades endurecidas. Os ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vêm só a ouvir sutilezas, a esperar galantarias, a avaliar pensamentos […]. Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um entendimento agudo pode ferir pelos mesmos fios, e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quando as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra.”

Não se sabe se o ouvinte Carlos Brandão saiu do Teatro Arthur Azevedo catequizado e convencido ou se as palavras de Flávio Dino entraram por um ouvido e saíram pelo outro, como se costuma dizer no Maranhão.

O certo é que o recado, as lições, os conselhos, as advertências e todas as partes do sermão vibraram até a praça João Lisboa.

Veja abaixo o texto Sermão aos Leões, escrito na posse de Flávio Dino em janeiro de 2015

SERMÃO AOS LEÕES: GOVERNADOR FLÁVIO DINO PREGA O
SÉTIMO MANDAMENTO NO MARANHÃO

Dia de trabalho: Flávio Dino toma posse anunciando
17 medidas de impacto no Maranhão. Foto: Francisco Campos

No céu, um drone e a lua em quarto crescente. Na terra, um mar de gente. 

Essas foram as testemunhas da posse do governador Flávio Dino (PCdoB).

Da sacada do Palácio dos Leões, após o ritual de transmissão da faixa, o novo governador falou sobre religião e política, lembrou os esquecidos, mandou um recado ao Brasil e pregou aos leões.

O sétimo mandamento – não roubarás! – atravessou toda a fala do governador.

DISCURSO E PRÁTICA

Durante a posse na Assembleia Legislativa, Flávio Dino decretou em fala: “Não vamos mais permitir que a corrupção continue roubando os sonhos do povo do Maranhão.”

Entre as medidas anunciadas no Palácio dos Leões, o governador assinou um decreto que suspende os pagamentos à empreiteira Constran, uma das empresas investigadas na operação Lava-Jato, que trouxe à tona a denúncia de pagamento de propina para a quitação de precatórios no Maranhão.

Outra medida assinada cria a Secretaria de Transparência e Controle, os olhos e ouvidos da utilização do dinheiro público.

No item fim dos privilégios, o governador anunciou a venda da Casa de Veraneio – símbolo da ostentação nas farras babilônicas da oligarquia.

MUDANÇAS

Virando a página do passado: sarneísta Arnaldo Melo
passa a faixa de governador a Flávio Dino. Foto: Francisco Campos

Em nome de Deus, Dino agradeceu pela vitória e anunciou um tempo de esperança, alegria, amor e fé no transcendente.

Para o novo governador, há uma relação intrínseca entre política e religião, porque ambas são atravessadas por valores, princípios e fé. 

É preciso religar o que estava separado – o governo e o povo.

Mudança, a palavra-chave da campanha e da posse, não é necessariamente dos políticos, mas da política.

Embalado pelo desejo de uma nova forma de governar, o governador anunciou e assinou 17 medidas de impacto. A posse foi um dia de trabalho. “O Maranhão tem pressa. As necessidades do povo não podem esperar”, enfatizou Dino.

O balanço geral das medidas anunciadas enfrenta os problemas emergenciais do Maranhão: combate à corrupção, atenção aos pobres, foco nas 30 cidades com pior IDH, erradicação da fome, fim das escolas de taipa e palha, reforço no sistema de segurança, valorização da agricultura familiar e à atenção básica na Saúde.

Apontando ao cenário nacional, Dino assegurou que o Brasil vai voltar e respeitar o Maranhão como terra de gente honesta e trabalhadora. “Viveremos um novo momento, do estado-problema ao enfrentamento dos problemas”, frisou.

DIÁLOGO COM OS LEÕES

Flávio Dino avisa os leões que não mais vão
rugir contra os pobres do Maranhão

Quando abriu o discurso falando de Deus e religião, Dino tinha um propósito: finalizar com o sermão aos leões, simbolizados nas duas imponentes esculturas fixadas na entrada do palácio-sede do governo do Maranhão.

Nos 50 anos de mandonismo da oligarquia Sarney, costumava-se bradar que os leões nunca tinham perdido uma eleição, referindo-se à máquina de fazer votos, inspirada na força (financeira) das feras.

Em 2014, os bichos perderam.

Ao final do discurso, o governador invocou a ironia e chamou os leões ao diálogo. “Quero dizer aos dois leões, o da direita e o da esquerda, que eles não vão mais rugir contra o povo do Maranhão. Eles não serão mais alimentados às custas da tortura do povo”, avisou.

“Prezados leões, vocês nunca mais vão rugir para os pobres do Maranhão”, sacramentou.

O sermão e a música Oração Latina, de Cesar Teixeira, hino das lutas libertárias, compuseram a épica da posse.

ADVERTÊNCIA

Quadrilhas organizadas e desorganizadas que furtaram o dinheiro público e pretendem dar continuidade a esta prática nefasta, tremei!

O governador declarou guerra à corrupção e proclamou a República no Maranhão.

Foi esse o registro da posse.

É verdade. E dou fé.

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Tortura e censura nunca mais

Hoje é um dia para não esquecer.

Em 31 de março de 1964 entrava em vigor a ditadura militar no Brasil.

Foram 20 anos do regime de exceção que imprimiu um dos capítulos mais violentos da História do Brasil.

Pessoas foram torturadas e mortas.

A imprensa foi amordaçada.

Diversos tipos de violações contra os direitos humanos mancharam o nosso país.

Muitas famílias até hoje choram os seus mortos e outras tantas sequer tiveram a chance de uma despedida porque os corpos dos desaparecidos políticos nunca foram encontrados.

Passados quase 60 anos de uma era tão cruel, ainda temos hoje no Brasil um presidente e sua legião de fãs que cultuam torturadores e celebram a violência.

Precisamos lembrar sempre a ditadura militar, repudiá-la e combater os seus defensores.

Fora Bolsonaro!

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Os rodoviários, os ônibus e a licitação a ser investigada

A greve dos rodoviários acabou, mas os problemas continuam…

Motoristas, duplamente explorados, acumulam a função de cobradores.

Os ônibus continuam poucos, lentos e sujos.

O preço da passagem subiu.

Os empresários seguem privilegiados com o auxílio milionário da prefeitura.

Os terminais privatizados estão sucateados.

A população usuária paga por todo esse caos.

Grande parte desses problemas foi gerada pela licitação suspeitíssima, que garantiu a reeleição do prefeito Edivaldo Holanda Júnior, o maior estelionato eleitoral recente em São Luís.

A licitação precisa ser auditada e profundamente investigada!

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Por que o alvo é o MEC?

Os sucessivos desastres administrativos no Ministério da Educação (MEC) ocorrem de forma compatível aos interesses do bolsonarismo.

Entregue pela primeira vez ao brutamontes Abraham Weitraub, o MEC municiou a sua metralhadora de ódio contra Paulo Freire, o Estado laico, a Universidade pública, o pensamento crítico e a Ciência.

O ensino, a pesquisa, o conhecimento e todos os parâmetros da civilização passaram a ser atacados sistematicamente.

Para isso, o MEC cortou verbas em setores estratégicos onde o pensamento frutificava.

Educação virou inimigo público número um do bolsonarismo, onde reina o império da ignorância, cujo representante máximo, Olavo de Carvalho (imagem destacada), deixou milhares de seguidores.

Os primeiros capítulos da “obra” de Abraham Weitraub têm um desfecho agora, na gestão Milton Ribeiro, quando veio à tona o esquema dos pastores diabólicos interferindo na liberação de recursos para as prefeituras mediante o pagamento de propina aos religiosos.

Todos os atropelos administrativos e éticos no MEC estão de acordo com o projeto de aniquilar o campo educacional, onde pulsam o pensamento e a crítica.

O bolsonarismo “trabalha” para exterminar as árvores frutíferas do conhecimento e deixar o terreno mal cuidado, onde vingue apenas a erva daninha do obscurantismo.

A guerra contra a Educação é algo programado e ativado na comunicação da extrema direita com frases esdrúxulas do tipo “acabar com a ideologia de gênero”, “combater o marxismo cultural” e implantar a “escola sem partido”.

Uma parte do “serviço” já foi feita no ciclo de Abraham Weitraub a Milton Ribeiro.

Coisa pior está por vir.

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Relançamento da obra “Noite sobre Alcântara” terá várias atividades

Nessa quarta-feira (30), a cidade de Alcântara vai ser palco para o relançamento do romance “Noite sobre Alcântara”, do escritor Josué Montello. 

A terceira edição da obra é uma realização do projeto é da Casa do Autor Maranhense, em parceria com a Casa de Cultura Josué Montello, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura e patrocínio da Equatorial Maranhão.

Em Alcântara o relançamento tem apoio e articulação do Museu Histórico de Alcântara – MHA e parcerias locais.

Além da programação especial, terá sorteio de livros entre os presentes!

Confira a programação:

Manhã – 10 h às 11h30

Palestra 1. “Por um Turismo Literário em Alcântara: roteiro guiado pela obra ‘Noite sobre Alcântara’, de Josué Montello”, com Ducilea Ribeiro (Tecnóloga em Gestão de Turismo);

Palestra 2. “Alcântara através da obra de Montello”, com Wanda França (Bibliotecária da Casa de Cultura Josué Montello).

Local: “Centro Educa Mais Aquiles Batista Vieira” (Alcântara – MA).

Tarde – 15h

Ação de Incentivo à leitura e escrita a partir dos diários de Maria Olívia (personagem de Josué Montello)

Oficina de confecção de diários artesanais, com papel reciclado e de fibras vegetais

Vivência de desenho e pintura a partir de corantes naturais

Proponente / Parceria: Oca Maranhão Praia do Barco

Local: Largo da Capela do Desterro, às 15 h

Público: multiplicadores, dentre professores e integrantes de bibliotecas escolares e de clube de leitura

Noite – 19 às 23 h

Abertura da Exposição “Alcântara, História e Inspiração através da escrita montelliana”, na Galeria de Arte Diógenes Ribeiro, do Museu Histórico de Alcântara – MHA

Relançamento do livro “Noite sobre Alcântara”, de Josué Montello, no MHA;

Performance Poética: “Maria Olívia e seu Diário”, com Claudenice Paiva (graduanda do Curso de Gestão de Turismo do IFMA, estagiária do MHA);

Performance teatral “A visita do Império ao relançamento do livro Noite sobre Alcântara”, com Ana Clara Souza (Imperatriz) e Demétrio Boueres (Imperador) – Cia. de Teatro Culturarte (direção de Haroldo Júnior) – Alcântara / MA. Recepção aos presentes no Jardim do MHA.

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Mendigo, Oscar e as misérias humanas

Estamos entrando em uma etapa da civilização marcada pela indiferença e desprezo pelo outro.

O individualismo é o grande motor da vida.

As pessoas estão cada vez mais insensíveis à dor do próximo, seja essa dor causada por males físicos ou mentais.

Além da indiferença, a chacota cresce como forma de tripudiar sobre a dor, as falhas, as situações constrangedoras, as desgraças e as tragédias.

Se ocorre um acidente com morte, os curiosos vão lá não para ajudar, mas para filmar e expor as imagens nas redes sociais.

Recentemente virou chacota nacional o surto de uma mulher que manteve relações sexuais com um mendigo.

Ela é uma pessoa com doença mental e vem fazendo tratamento para buscar a cura. Se já estava atormentada pela sua situação de saúde, imagine quando tiver pleno conhecimento de como foi exposta nas redes sociais naquele momento do surto.

A pandemia, a fome, o desemprego e a miséria, a dependência tecnológica e a solidão estão levando milhões de pessoas a contraírem doenças mentais de variados tipos.

Às vezes pode começar com uma tristeza…depois depressão… e por aí vai.

Tem muita gente precisando de ajuda, mas a maioria “recebe” o desprezo, a ironia ou a indiferença.

Isso tudo pode acontecer com qualquer pessoa, rica ou pobre, famosa ou anônima.

Na cerimônia do Oscar, o ator Will Smith deu um tapa na cara do comediante Chris Rock.

O ator reagiu para defender a sua esposa Jada Smith de comentários inapropriados em tom de piada feitos pelo comediante Chris Rock sobre a mulher estar careca.

Acontece que Jada Smith tem alopecia, uma doença autoimune que acelera a queda dos cabelos.

Doenças não são brincadeira, sejam elas mentais ou físicas.

Uma parte da humanidade caminha para um retrocesso. Cultua fanatismo, adora mitos esdrúxulos, fortalece convicções absurdas, nega a Ciência, cultiva a exposição de tragédias, faz chacota das desgraças alheias e curte com ênfase o grotesco.

Duas mulheres são exemplos desse tipo de comportamento retrógrado. Uma, em surto; outra, sem cabelos.

Ambas, afetadas por diferentes mazelas do corpo e da alma, foram vilipendiadas.

E o mendigo?

As pessoas que normalmente passavam por ele e o desprezavam, agora idolatram o seu “heroísmo” por ter praticado relação sexual com uma mulher limpa e bem aparentada.

Resultado: uma tragédia (a mendicância) soma às outras (doença mental e física) produzindo mais degradação.