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Agroindústria de farinha será gerenciada por mulheres em São Domingos do Maranhão

A 17km do município de São Domingos do Maranhão, no povoado Viola, o Governo do Estado, por meio do Sistema da Agricultura Familiar, inaugurou nesta terça-feira (06), a agroindústria de beneficiamento de mandioca.

Esta é a primeira agroindústria que será administrada por mulheres. No povoado, elas protagonizam histórias de muito trabalho e luta pelo empoderamento feminino na agricultura familiar.

Leilane Lima, é tesoureira da Associação do Povoado, que possui 22 agricultoras e agricultores associados, e de onde um grupo de mulheres tomou a frente da organização da agroindústria, um papel que sempre fora desempenhado exclusivamente por homens.

“Para nós, mulheres, representa uma força enorme e uma forma de nos empoderar. Tomamos a frente de um negócio que homens administravam totalmente e que agora temos o nosso grupo de mulheres focado em manter essa agroindústria”, disse.

Segundo Leilane, o papel dos homens é no serviço braçal, no cultivo e lida na roça, já as mulheres vão participar do processo desde a ralação da mandioca até o empacotamento da farinha. 

O secretário de Estado da Agricultura Familiar, Júlio César Mendonça, enfatizou sobre mais uma ação do Governo do Maranhão visando o fortalecimento da cadeia produtiva da mandioca. “Esta é a terceira agroindústria de beneficiamento de mandioca inaugurada na nossa gestão e é de suma importância para fortalecer, incentivar e valorizar o trabalho dos agricultores familiares beneficiados pela cadeia da mandioca. Ficamos felizes em ver mais essa ação sendo concretizada na vida das famílias do povoado Viola e mais ainda por esse produto ser incluído nas cestas básicas destinadas às famílias em situação de vulnerabilidade social,” destacou Mendonça.

Inauguração da agroindústria de beneficiamento de mandioca

A farinha do povoado Viola vai ser incluída nas cestas básicas com produtos da agricultura familiar, no âmbito do Plano Emergencial de Empregos Celso Furtado. Serão 5 toneladas de farinha que irão para a mesa de pessoas em situação de vulnerabilidade social do Maranhão.

A farinha recebeu também o Selo Gosto do Maranhão, uma iniciativa do Governo do Maranhão, por meio do Sistema SAF, para valorizar e fortalecer as identidades sociais e produtivas dos segmentos da agricultura familiar. Os produtos serão identificados como sinônimo de origem do campo.

O secretário de Estado de Comunicação e Assuntos Políticos, Rodrigo Lago, presente na inauguração, ressaltou o papel do Plano Emergencial de Empregos Celso Furtado na dinamização da renda para os agricultores do povoado Viola.

“Mais um grande investimento do Governo do Maranhão para a agricultura familiar, hoje, a inauguração da agroindústria do povoado Viola, em São Domingos do Maranhão. É um incentivo à agricultura familiar e também à economia, através de ações como essa, inserida no Plano Celso Furtado com geração de emprego e renda para a população do Maranhão”, pontuou.

Inauguração da agroindústria de beneficiamento de mandioca

Agroindústria de farinha da Viola

Com investimentos de R$ 250 mil destinados à construção e compra de equipamentos, o Governo visa, com esta ação, expandir e fortalecer a cadeia produtiva da mandioca na região, além de gerar trabalho e renda para as famílias.

A capacidade diária da produção é de 840 kg de farinha. Por ano, o volume previsto de comercialização é de R$ 605.000,00 com 201 toneladas.

A cadeia da mandioca abrange 17 municípios maranhenses, com investimentos de mais de R$ 2,5 milhões, beneficiando cerca de 700 produtores.

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Índios, farinha e os franceses nos primórdios de São Luís

Ed Wilson Araújo

As origens de São Luís são contadas por duas narrativas. Uma parte dos historiadores sustenta a tese da fundação e colonização portuguesa. Outros estudiosos argumentam a primazia dos franceses.

Na minha condição de simples jornalista eu não me atrevo a opinar sobre as duas versões nem tenho conhecimento teórico para aderir a nenhuma delas.

Meu interesse pontual nesse texto é apenas resenhar a importância da farinha na relação entre os franceses e os índios do Maranhão, quando da tentativa de implantar aqui a França Equinocial, no início do século XVII.

Os relatos estão presentes na obra “Os papagaios amarelos”, de Maurice Pianzola, uma das referências bibliográficas para entender, em parte, a fundação da cidade.

Pianzola fundamenta seu relato baseado em cartas, documentos e registros dos conquistadores, entre eles o monge Yves d’Évreux, o padre Claude d’Abbeville, o cavaleiro (tenente-coronel) François de Razilly, o tenente-general Daniel de La Touche (senhor de La Ravardière) e o nobre Charles de Voux, entre outros.

Um dos trechos da obra de Pianzola faz referência à farinha como ingrediente essencial da guerra, que incluía também a habilidade dos índios na fabricação de canoas para o deslocamento entre os rios.

“Delibera-se, e é para constatar que resta justo o suficiente de farinha para a viagem de volta ao Maranhão. É preciso dar marcha à ré com todo o exército, deixando apenas uma antena composta de dois escravos tabajaras munidos de farinha para um mês…” (p. 72)

Ao discorrer sobre o deslocamento dos franceses no reconhecimento do território e na conquista dos povos indígenas, Maurice Pianzola diz:

“Trata-se realmente de uma expedição guerreira, posto que se propõe a ir mais além dos territórios ocupados pelos tupinambás, aliados tradicionais dos franceses.

A partir desse momento, nosso capuchinho não mais sairá da praça da aldeia. Quer ver tudo com os próprios olhos e compreender tudo. Passa horas entre as mulheres e as moças que enchem cofos de farinha de mandioca depois de terem-na torrado mais tempo do que normalmente, e misturam-na com especiarias para conservá-la. Prova a farinha fazendo careta, em meio aos risos, pois acha-a menos saborosa do que a farinha fresca, mas sem dúvida alguma de mais leve digestão.” (p. 74)

No tópico “Da partida dos franceses para ir ao Amazonas”, o autor descreve a expedição comandada por Daniel de La Touche, citando uma carta do capuchinho Yves d’Évreux:

“No ano, pois, de mil seiscentos e treze, no mês de julho no oitavo dia, o senhor de La Ravardière partiu do porto de Santa Maria do Maranhão, saudado por vários canhoneiros e mosquetaços disparados do forte de São Luís, como é hábito entre a gente de guerra, levando consigo quarenta bons soldados e dez marinheiros.”

Leva também, à guisa de reféns e segundo o costume nunca se sabe o que pode acontecer, vinte dos “principais selvagens”, e sua lancha, escoltada por algumas canoas indígenas, margeia prudentemente a costa e mete-se entre um rosário de ilhas e arrecifes. Arriba primeiro em Cumá, onde esperam por ele várias canoas carregadas de guerreiros e farinha, e depois chega aos Caietés, onde estão agrupadas vinte aldeias tupinambás.” (p. 76)

Como se pode observar, a farinha originária da cultura alimentar indígena está presente na segurança nutricional do povo Maranhense desde os primórdios da colonização, sendo um mantimento indispensável para abastecer as aldeias e os conquistadores nos processos de luta, dominação e resistência.

REFERÊNCIA

PIANZOLA, Maurice. Os papagaios amarelos. Brasília: Senado Federal, 2008

Imagem destacada / ilustração da chegada dos franceses em São Luís

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Os cachorros da era Bolsonaro & Guedes

Os efeitos agressivos da política econômica liderada por Paulo Guedes são percebidos de várias maneiras na vida comum das pessoas e dos bichos. Basta observar como estão os cachorros nas periferias das cidades e na zona rural: tristes e esqueléticos.

Quando o pobre comia carne, os cachorros roíam os ossos. Essa síntese traduz a importância do programa de segurança alimentar e nutricional implantado nas últimas duas décadas, que proporcionou a inclusão de milhões de brasileiros em padrões civilizatórios.

Fazer três refeições por dia, comer proteína, beber leite, ter direito a uma sobremesa de goiabada e levar a família a um restaurante uma vez por mês passaram a fazer parte da vida dos mais pobres. Os cachorros e as galinhas nos quintais saboreavam as sobras da comida farta na mesa do povo.

Uma série de políticas transversais viabilizou a chegada do capitalismo aos grotões. O dinheiro do Bolsa Família aqueceu a microeconomia no Brasil profundo. O Luz para Todos proporcionou um insumo fundamental – energia – para os pequenos e médios produtores e ao comércio.

Assim, o dono da quitanda na zona rural comprou o sonhado freezer para armazenar carne, leite e outros produtos porque havia consumo. Esses princípios básicos da economia fizeram girar a roda da indústria e dos transportes vinculados ao comércio de bens e serviços.

Os cachorros também foram beneficiários dos programas sociais com as sobras da mesa farta do povo.

Dessa forma, a prosperidade chegava ao Brasil profundo.

Mas, o preconceito de classe das elites nacionais, submissas ao capital internacional, impediram a escalada de desenvolvimento humano vivenciada no Brasil.

O golpe de 2016 e na sequência a radicalização do modelo ultraliberal, sob a chibata de Paulo Guedes, decretaram guerra aos direitos trabalhistas, à previdência e o extermínio da assistência social.

Somado ao preconceito, o ódio disseminado nos meios de comunicação e nas redes sociais tratou de estigmatizar o Bolsa Família como esmola aos pobres parasitas ou um programa de inspiração comunista (!).

De maneira subliminar, esse discurso já vinha sendo fartamente pronunciado pela boca de personagens como Caco Antibes, interpretado por Miguel Falabela, na série televisiva Sai de Baixo, da TV Globo.

A eleição de Jair Bolsonaro ampliou a discriminação e o preconceito contra os pobres, transformados em um dos principais alvos do Gabinete do Ódio.

Vieram, nessa perspectiva, uma série de medidas ultraliberais para impedir qualquer mobilidade social no Brasil.

A tirania econômica de Paulo Guedes vem tirando não só os empregos e os direitos do povo. Algo mais grave e violento acontece: corta da mesa dos mais pobres a o leite e a carne, deixando os cachorros sem o direito de roer os ossos.

Imagem destacada capturada neste site