Site do PT / Foto: Ricardo Stuckert – Homenageado em Sessão Solene da Assembleia Nacional de Angola, o presidente Lula afirmou, nesta sexta-feira (25), que a visita ao país “marca o reencontro do Brasil com a África, relança a cooperação bilateral e prepara uma agenda robusta para comemorar, em 2025, nossos 50 anos de relações diplomáticas”. Além de novas parcerias, Lula pretende reforçar as já existentes em áreas como agricultura, defesa e saúde, entre outras.
“Queremos inaugurar uma nova agenda de cooperação com Angola, que também sirva de modelo para outros países”, afirmou o presidente brasileiro. “O Brasil tem condições de voltar a ser um grande parceiro de Angola em seu desenvolvimento”.
Segundo Lula, um desenvolvimento voltado ao combate às desigualdades, fundado no fortalecimento da agricultura e da indústria, no progresso científico e tecnológico, em transição energética e na proteção do meio ambiente e da biodiversidade. “Buscamos o verdadeiro desenvolvimento, que exige combate à pobreza e promoção da inclusão social, educação de qualidade e atenção à saúde de nossas populações”, frisou o chefe do governo brasileiro.
O presidente destacou que o Brasil vê no continente africano como um todo e em Angola em particular um vizinho próximo, com semelhanças e afinidades profundas. “Mais da metade dos 203 milhões de brasileiros se reconhece como afrodescendente. As matrizes africanas são constitutivas de nossa identidade nacional e de nosso modo de ser. Vendo o modo de ser caloroso das pessoas aqui, entendemos melhor por que no Brasil viemos a ser o que somos”, ressaltou.
O presidente disse se sentir feliz por testemunhar o ressurgimento do intercâmbio econômico e comercial com o país africano. “Os empresários que acompanham minha visita demonstram grande interesse nas oportunidades de negócios que a economia angolana oferece. O fluxo comercial entre nossos países voltou a crescer após sete anos de estagnação. No primeiro semestre de 2023, foi quase 65% maior em relação ao mesmo período de 2022”, destacou.
Lula também defendeu que haja uma diversificação do comércio bilateral, ainda muito concentrado em petróleo e bens primários. “A Câmara de Comércio Brasil-Angola, criada em junho, vai contribuir para isso. O setor de turismo sustentável também tem enorme potencial de crescimento”, afirmou Lula, que destacou ainda a cooperação nas questões de Defesa, que envolve desde iniciativas comuns nas áreas tecnológica e industrial até a formação de quadros militares, bem como o intercâmbio de informações sobre questões relevantes de doutrinas de segurança.
Outro tema tratado pelo presidente durante a sessão solene é a parceria na área de agricultura. Segundo ele, o programa de regiões irrigadas e políticas de apoio à agricultura familiar no Vale do Rio Cunene será um marco dessa nova fase de cooperação bilateral.
Formulada com base em demandas angolanas, a iniciativa fortalecerá o planejamento de recursos hídricos e a organização das cadeias produtivas naquela província. Ela permitirá transformar as terras irrigadas em fonte de recursos para a segurança alimentar e o desenvolvimento social. “Sabemos que Cunene é a província com mais risco de desertificação. Saúdo o governo angolano pelo sucesso das obras de transposição das águas do rio Cunene, que traz esperança à população desta região”, afirmou Lula.
Valores comuns
O presidente também ressaltou que Brasil e Angola compartilham valores essenciais, como a paz, o direito ao desenvolvimento e a democratização das instâncias decisórias internacionais.
“Com os países africanos de língua portuguesa, construímos relações especiais de longa data no âmbito da CPLP. Vejo com satisfação a retomada da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS) com a recente reunião em Cabo Verde e que contou com ativa participação angolana”, disse. “Além de seus objetivos originais, voltados à preservação da paz e da segurança na região, queremos atualizar a iniciativa com novos temas como a proteção do meio ambiente marinho e a cooperação científica e tecnológica”.
Lula declarou que, em um mundo marcado “pelos conflitos e pela paralisia dos foros de segurança globais”, é muito significativo que a União Africana tenha concedido ao presidente angolano, João Lourenço, o título de “líder para paz e reconciliação”.
“Esse é um justo reconhecimento por seu papel como mediador da crise entre Kinshasa e Kigali. Por essas tantas credenciais, estendi hoje ao presidente João Lourenço o convite para que Angola participe da próxima Cúpula do G-20 que sediaremos no Rio de Janeiro em novembro de 2024. Será uma ocasião importante para discutirmos juntos questões como a coordenação econômica e a reforma da governança global”, afirmou o chefe do governo brasileiro.
Segundo destacou, interessa também aos dois países o permanente fortalecimento da democracia e dos direitos humanos, inclusive na governança global. Nesse ponto do discurso, Lula agradeceu ao governo angolano pelo apoio manifestado durante a tentativa de golpe no Brasil em 8 de janeiro.
“Registro aqui nossa gratidão aos nossos amigos angolanos pelo apoio estendido ao Brasil pelo Presidente João Lourenço e seu governo, quando vivemos, em 8 de janeiro deste ano, ataques violentos à sede dos Três Poderes em Brasília. Recordo, igualmente, que a luta pela liberdade e pelos direitos humanos no Brasil tem como um de seus marcos mais importantes a luta contra a escravidão”, sublinhou. “Essa chaga, em nossa história, vitimou milhões de africanos e deixou ao País um nefasto legado de desigualdade social e de preconceito. Combater esse legado é objetivo primordial de meu governo”.
Nesse momento, Lula prestou uma homenagem a Bernardette Pacífico, líder quilombola e ialorixá que atuou corajosamente pela defesa de sua comunidade na Bahia, assassinada com vários tiros, no último dia 17, em Simões Filho (BA). O crime ocorreu seis anos após o assassinato de um de seus filhos, Fábio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo.
“Bernardette foi vítima da intolerância dos que querem calar os mais vulneráveis. Faço esse registro como reconhecimento a todas as heroínas que lutaram e lutam, muitas vezes anônimas, pela igualdade e pela dignidade humana em nosso país. O exemplo dessas mulheres inspirou as atuais políticas de promoção da igualdade racial e de gênero, que são centrais no meu governo”, declarou o presidente.