Cantora lançou o single Xaxarimbó e tem mais duas apresentações hoje e sábado
São Luís, MA – A cantora maranhense Alexandra Nícolas retornou ao Brasil para uma temporada memorável de shows durante o período mais festivo no Maranhão, o São João.
Nessa sexta-feira (28), às 22h, ela faz show no Arraial do Ipem.
Cheia de energia e esbanjando amor pela cultura maranhense e nordestina, Alexandra estreou na temporada junina ludovicense no palco da praça Maria Aragão, onde apresentou pela primeira vez o single “Xaxarimbó”, que tem composição de Betto Pereira e Gilberto Mineiro.
Radicada no Canadá há cinco anos, Alexandra trouxe de volta suas raízes e lançou “Xaxarimbó”, uma vibrante mistura de xaxado e carimbó, aos olhos de maranhenses e turistas encantados.
O show de estreia foi um sucesso, com um público entusiasmado que lotou a praça e transformou a noite em uma verdadeira celebração de ritmos e cultura. A performance tem a direção musical assinada por Jesiel Bives, que também assumiu os arranjos e teclados. A banda que acompanha Alexandra é composta por Edinho Bastos na guitarra, Darc Brandão na percussão, Davi Júnior no baixo, Ronald Nascimento na bateria e Eliésio do Acordeon.
“Voltar a São Luís para lançar o Xaxarimbó é como voltar para o coração da minha música. Cada nota, cada ritmo tem um pedacinho do Maranhão,” declarou Alexandra Nícolas, emocionada com a recepção calorosa do público.
Agenda de shows
Para quem perdeu o primeiro show de Alexandra na terra natal, a artista ainda terá mais shows na temporada junina, em outros arraiais da cidade. Confira a agenda dos próximos shows:
28/06, sexta, 22h: Arraial do Ipem
29/06, sábado, 20h: Arraial da Trupe (Radional)
Sobre Alexandra Nícolas
Alexandra Nicolas nasceu em São Luís (MA) e carrega em seu canto a força feminina, dada a influência da mãe, da avó e da tia que a criaram. O prenúncio da carreira promissora começou aos 12 anos de idade, em rodas de samba da família festeira, que sempre a apoiou na escolha pela arte e pelo fazer musical. Durante a carreira, Alexandra lançou 2 álbuns : “Festejos” e “Feita de pimenta”. Agora, lança o quarto single, “Xaxarimbó”.
Dedicada à pesquisa, a intérprete também auxiliou nos estudos que levaram ao reconhecimento do gênero musical “Forró” como Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil e da Humanidade, pelo Ministério da Cultura, Governo Federal, em 2021. Atualmente, ela responde como coordenadora estadual do Fórum Nacional do Forró de Raiz. No Canadá, recentemente, Alexandra Nícolas tomou conta da cena forrozeira, fazendo apresentações em casas de shows com bilheteria esgotada. Diante de tanto sucesso, foi convidada a se apresentar no Festival Brasileiro do Canadá, em Toronto.
Em 2024, a cantora maranhense iniciou um trabalho de pesquisa sobre os forrozeiros residentes no Canadá, tendo sido convidada a proferir uma palestra na Universidade de Montreal, no Quebec, sobre o “Forró como Patrimônio Imaterial do Brasil”. A expectativa de Alexandra Nícolas é ampliar o dialogo sobre a preservação e a difusão do forró em âmbito global. Ela se prepara para realizar o maior Festival Internacional de Forró no Canadá, em 2025.
A Diretoria da Apruma – Seção Sindical do Andes – Sindicato Nacional-SN, nos termos do Artigo 13 de seu Regimento, convoca todos os sindicalizados e sindicalizadas para a Assembleia Geral Ordinária no dia 27 de junho de 2024 (quinta-feira), com primeira chamada às 15h, e segunda às 15h30, na modalidade presencial; e, por videoconferência para todos os campi, considerando o que dispõe o Estatuto do ANDES-SN em seu artigo 48, § 4o: “nas S.SIND. e AD – S.SIND. multicampia, a assembleia geral poderá ocorrer: a) por videoconferência, em locais previamente estabelecidos no edital de convocação, desde que assegurada a transmissão simultânea e a participação presencial do(a)s sindicalizado(a)s”.
Os locais das Assembleias serão os seguintes: Campus São Luís: Auditório Ribamar Carvalho; Campus de Bacabal: Auditório do campus de Bacabal; Campus Codó: Auditório do Campus de Codó; Campus Grajaú: Sala de videoconferência do Centro de Ciências de Grajaú; Campus Imperatriz: sala de videoconferência da Unidade José Batista; Campus Balsas: Sala de videoconferência do Centro de Ciências de Balsas; Campus São Bernardo: Sala de videoconferência do Centro de Ciências de São Bernardo; Campus Chapadinha: Sala de multimídia do Centro de Chapadinha; Campus Pinheiro: Aguardando informações do local.
A Educação em uma perspectiva histórica no capitalismo é o tom da entrevista com a professora Fatima Felix.
Temas como o Novo Ensino Médio, a crítica sobre a concepção de empreendedorismo e da forte presença do setor empresarial na Educação, a complexidade do governo Lula frente às forças conservadoras e a resistência do campo progressista percorreram o diálogo com a pesquisadora.
Fatima Felix tem doutorado em Filosofia e História da Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1995) e estágio de pós-doutorado na área de Política e Financiamento da Educação, na USP (1999). Atuou como docente na Universidade Estadual do Maranhão, Universidade Federal do Maranhão e Universidade Estadual de Campinas. Atualmente, realiza pesquisas e coordena no Maranhão o Grupo de Pesquisa História, Sociedade e Educação no Brasil (HISTEDBR).
É autora da clássica obra “Administração escolar: um problema educativo ou empresarial?” publicada pela Cortez/Autores Associados, 1984.
Recentemente, Fatima Felix escreveu uma emocionante Carta ao Presidente Lula sobre a situação da greve dos docentes e a condição de trabalho na educação federal.
Escuta Ciência é um programa de divulgação científica que tem o objetivo de popularizar trabalhos acadêmicos ou da cultura popular. A produção tem apoio da Apruma Seção Sindical e é fruto da Oficina de Divulgação Científica realizada durante a greve dos docentes e técnicos administrativos da UFMA, no primeiro semestre de 2024.
O programa tem produção e apresentação dos professores Carlos Agostinho Couto e Ed Wilson Araújo. Os trabalhos técnicos são de Jorge Sousa.
A Rádio Nacional, da EBC, está veiculando um conteúdo chamado “História Hoje”. O tema do programete é o Dia de São João (ouça aqui).
Por incrível que pareça, mencionaram os festejos juninos das seguintes cidades: Caruaru (PE), Campina Grande (PB), Porto (Portugal), Tucson (Arizona – EUA), Quebec (Canadá), Naiguatá (Venezuela) e da catedral de Saint Paul (Londres – Reino Unido).
Após o programa, o locutor anunciou que a TV Brasil, emissora da EBC, vai transmitir ao vivo os festejos juninos da Bahia.
Nada, simplesmente nada, sobre “o maior São João do mundo”.
Trata-se de um apagamento cultural absurdo. No Maranhão, durante os festejos juninos, a nossa intensidade é tão grande que as manifestações ou “brincadeiras” prestam homenagem a quatro santos: Santo Antônio, São João, São Pedro e até São Marçal.
É inadmissível que uma emissora pública desconheça a diversidade cultural do Brasil e deixe de mencionar um território étnico, cultural, musical, percussivo, corporal, indumentário e dramático tão relevante como o Maranhão.
(Carta enviada ao quadro docente do Departamento de Comunicação Social da UFMA e alun@s)
Colegas professoras(es) e estimados(as) alunas(os),
Em assembleia geral dia 20 de junho (quinta-feira), a Apruma Seção Sindical, filiada ao Andes Sindicato Nacional, decidiu encerrar a greve deflagrada em 15 de abril. A assembleia também aprovou o retorno às atividades dia 1º de julho.
Foram mais de 60 dias de movimento. Lutamos com todo empenho para manter a greve viva, realizando várias atividades com a generosa colaboração de docentes do DCS, ações realizadas também em outros departamentos.
Fica aqui o nossa gratidão por todos(as) que colaboraram e pela torcida dos demais para o sucesso da greve.
Saímos do movimento de cabeça erguida, certos de que pautamos o debate sobre a educação pública, seriamente ameaçada pela ideia de educação como mercadoria, que invade a Universidade.
Por isso fizemos da greve (importante dizer: unificada, com a força dos técnicos-administrativos e de coletivos de estudantes) um movimento de resistência ao projeto ultraliberal e de defesa do ambiente acadêmico como lugar de produção de conhecimento crítico.
Considerando a conjuntura atual, a greve é avaliada pelos sindicatos filiados Andes como vitoriosa, sim!
Para não cansar você, no próximo e-mail vou enviar a lista detalhada das nossas conquistas.
Por enquanto, em valores reais, haverá uma injeção de R$ 5,5 bilhões nas universidades e institutos federais.
No plano salarial, teremos 9% de reajuste em janeiro de 2025 e 3,5% em maio de 2026.
Durante a greve, fizemos o bom combate e saímos dela mais fortes.
Neste episódio entrevistamos o médico urologista e cirurgião geral Antonio Gonçalves, professor associado da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), lotado no Departamento de Medicina II.
O entrevistado fala sobre a mudança da sigla DSTs para ISTs, explica a área de abrangência do(a) urologista, alerta sobre os cuidados com a genitália, orienta sobre o câncer de pênis e a importância da próstata, entre outros assuntos relevantes.
Escuta Ciência é um programa de divulgação científica que tem o objetivo de popularizar trabalhos acadêmicos ou da cultura popular. A produção tem apoio da Apruma Seção Sindical e é fruto da Oficina de Divulgação Científica realizada durante a greve dos docentes e técnicos administrativos da UFMA, no primeiro semestre de 2024.
O programa tem produção e apresentação dos professores Carlos Agostinho Couto e Ed Wilson Araújo, com trabalhos técnicos do mestre em Comunicação Jorge Sousa.
No térreo de um dos sobrados mais encantadores do Centro Histórico de São Luís, decorado com livros, discos de vinil, CDs, capas de DVDs, revistas e tantos outros objetos retrô, um homem baixo, calvo, de voz mansa e óculos com aros retangulares prepara lentamente a massa de um delicioso pão de queijo, ao som de Antônio Nóbrega, rodando em uma sofisticada vitrola.
Acompanhado de café, uma das especialidades da casa, o lanche e a conversa são calmantes para o corre da cidade. No cruzamento das ruas São João e Afogados, número 393/397, o casarão azul, oxigenado por janelões, é pilotado por Francisco de Assis Barbosa, 63 anos, aposentado.
Nascido no município de Peri-Mirim, na Baixada Maranhense, ele migrou para São Luís aos 14 anos de idade. O gosto por livros vem desde os anos 1980, quando freqüentava as bancas e os sebos extintos da avenida Magalhães de Almeida, na parte velha da cidade. “Antonio dos Prazeres era o que mais vendia livros, não pelo título, mas pela espessura da obra. Alguns até tinham conhecimento dos autores, mas tem dono de sebo que não gosta de leitura”, compara.
Dois outros sebos – Papiros do Egito e Poeme-se – fizeram parte da sua formação de livreiro. Desde então virou um leitor compulsivo “dos clássicos russos aos brasileiros”, pontua. Uma das suas leituras preferenciais, na atualidade, é o chileno Roberto Bolaño, autor de “Os detetives selvagens” e “2666”.
Com o tempo, Francisco Barbosa virou Chico Discos, um empreendimento que já passou por quatro endereços. Tudo começou em março de 2005, na Fonte do Ribeirão, com um sebo e locadora de DVD. Mudou para a rua 7 de Setembro, em 2008; e ficou dois meses na rua dos Afogados, até fincar raízes no atual endereço.
PROMISCUIDADE CULTURAL
Ainda não há um consenso sobre os usos da expressão sebo. Ela pode servir para designar algo surrado, como os velhos cadernos de anotações de compra a crédito (os fiados) nas quitandas de feira.
A pessoa que lida com sebo é também designada como alfarrabista ou vendedor de obras antigas. No geral, o lugar do comércio ou troca livros usados faz referência a algo ensebado ou velho de tanto uso e manipulação ao longo do tempo. Sebo é lugar de coisas sebosas, mas geralmente freqüentado por gente asseada.
O proprietário define o Chico Discos como “sebo promíscuo”, lugar onde se compra, vende e troca livros usados e discos de vinil. Além de sebo e livraria, o ambiente é um bar, cafeteria, cachaçaria e livraria, porque também vende livros novos.
Vez por outra o sobrado instagramável recebe eventos “só para amigos seletos”, alerta Barbosa. Entre eles, os mais antigos. “Por exemplo, gente que era estudante quando ia ao sebo na Fonte do Ribeirão e hoje é professor universitário”, detalha. Mas o ambiente é freqüentado por uma clientela variável. “Alguns vêm aqui só para tirar foto, tomar café, beber ou procurar obras exigidas para as provas de Língua Portuguesa e Literatura nas universidades públicas”, explica.
Leitor contumaz, ele manifesta a óbvia preferência por vender livros, mas revela que as bebidas, os lanches e os petiscos têm boa procura. Em 2005, antes da sua aposentadoria, ele tirou um ano de licença sem vencimento para se dedicar integralmente ao sebo. Indagado sobre a viabilidade do empreendimento, vai direto ao ponto: “Não tem romantismo no comércio. Livro é mercadoria.”
MARANHÃO:POTÊNCIA EDITORIAL
A frase emblemática do sebista remete à São Luís do passado, quando havia um vasto mercado livreiro turbinado pela máquina de produção editorial das tipografias e a pujança dos jornais impressos. A obra de doutorado de Roberto Sousa Carvalho, “Maranhão, província tradutora: livros e tradutores em São Luís do séc. XIX”, publicada pela Editora da UFMA (2022), apresenta argumentos e dados estatísticos sobre o expressivo movimento intelectual focado na tradução de grandes obras literárias publicadas na Europa, principalmente.
“A participação de tradutores na vida editorial da cidade de São Luís, durante o século XIX, é forte indicativo de que o especializado trabalho que realizaram ia muito além da simples necessidade de títulos estrangeiros ditada pelo mercado editorial – negócio livreiro, aliás, que apenas se iniciava no Brasil. Daí a assunção: o trabalho de tradução, em solo maranhense, permite que se o encare como resultante de uma orientação de caráter coletivo, tamanha a quantidade de especialistas que labutaram nesta seara.”. (CARVALHO, 2022, p. 20)
“Cerca de 45 tradutores maranhenses verteram para a língua portuguesa 266 títulos, sem computar outras 97 traduções de não nascidos na Província e de anônimos, o que fez São Luís se equiparar ao Rio de Janeiro, porque foram as únicas províncias brasileiras a se destacar no campo da tradução, no século XIX.” (CARVALHO, 2022, p. 41)
Figuram entre os tradutores Odorico Mendes, Sotero dos Reis, Cândido Mendes, Gonçalves Dias, Estevão Rafael de Carvalho, Felipe Conduru, Antonio Rego, Pedro Nunes Leal, José Ricardo Jauffret, Cesar Marques, Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade), Henriques Leal etc.
Havia ainda os tradutores anônimos. Poucos meses depois de publicado na França, em 1862, o clássico “Os miseráveis”, de Victor Hugo, já estava convertido para o português, em São Luís, através de uma parceria entre as tipografias de Belarmino de Mattos e de Corrêa de Frias, informa o escritor Roberto Carvalho, apontando o detalhe: “Os miseráveis” ludovicense não tem a identificação do tradutor.
A pesquisa de Carvalho corrobora também o desmonte de uma versão equivocada sobre São Luís ser a “Atenas Brasileira”, quando apenas uma fração da elite local sabia ler e escrever, em uma cidade onde a maioria da população era analfabeta, ainda no contexto da escravidão.
Denominar-se “Atenas Brasileira” nunca foi exclusividade da província do Maranhão. Algumas cidades, revela Carvalho, atribuíam-se o título relacionado à urbe intelectual grega.
“Em uma rápida inspeção nos jornais brasileiros do oitocentos, verificaremos que aparecem o qualificativo Atenas Brasileira para outras cidades/províncias. Este é o caso, por exemplo, de São Paulo e Bahia. Ao que se percebe, o título é uma referência genérica, emprestado a algumas localidades por alusão aos intelectuais e às suas produções, assim como porque sediaram instituições científicas-educacionais de destaque.” (CARVALHO, 2022, p. 20)
Para o poeta Nauro Machado, São Luís nunca foi Atenas. Era uma Tróia devastada na relação de amor e ódio com o escritor. A referência a Tróia aparece na obra do filósofo Marco Rodrigues, denominada “Hermenêutica da angústia: freqüências existenciais através da poética de Nauro Machado”, publicada em 2022, pela Editora Dialética.
Segundo o autor, o poeta vivia um tipo de exílio em sua própria cidade, como se fosse um pária ou estrangeiro, às vezes incompreendido, angustiado em uma eterna solidão; e, em outras situações, muito elogiado e reconhecido.
“A imagem de São Luís como uma Tróia arrasada, em contraposição a Atenas, é que as suas personas e respectivas vozes, as que de fato as representa com escol e brilhantismo, são inteiramente ignoradas, quando não silenciadas pela ignorância, tornando-as párias do descrédito. Nauro, nesse contexto, é uma ilha dentro da Ilha, um exílio existencial em suspensão num fora-dentro, nessa Ilha-Tróia que se encontra sempre sob ameaça de invasões, pilhagem, descaso, saques e destruição – apesar de resistir bela mesmo em condição de ruína e decadência”, explica Marco Rodrigues.
Veja abaixo uma demonstração da Tróia arrasada em que vivia Nauro Machado.
UM PREFÁCIO INDESEJADO
Quando o poeta completou 50 anos de idade, em 1985, mereceu uma reportagem especial no caderno Alternativo, do jornal O Estado do Maranhão, hoje extinto, mas à época vinculado ao Sistema Mirante de Comunicação, conglomerado de mídia sob a propriedade da família liderada por José Sarney.
Em meio aos vários elogios, a publicação também imprimia, na Coluna do PH, editada pelo colunista social Pergentino Holanda, uma severa crítica ao poeta.
Este repórter consultou o jornal nos arquivos da Biblioteca Pública Benedito Leite. Na edição de 2 de agosto de 1985, na Coluna do PH, com o subtítulo “Parabéns à poesia”, constam as seguintes notas:
“Nauro Machado faz, hoje, 50 anos de idade”
“Trata-se de um homem de quem me julguei amigo, em face das recíprocas demonstrações de cordialidade que marcaram certo período do nosso relacionamento. Mas em face, justamente, dos malentendidos que nos levaram a sérias e cáusticas divergências, inclusive como contendores de renhidas batalhas na imprensa, não somos, presentemente, amigos. Nem creio que venhamos, de novo, a sê-lo.”
Após um trecho em que tece elogios à poesia como expressão da cultura, PH volta à carga:
“De lado fica o homem que respondeu com farpas e pequenas agressões às demonstrações públicas de reconhecimento ao seu talento. Esquecido fica o homem que não teve a grandeza de rever seu compromisso de prefaciar meu livro de estréia – “Existencial de agosto”. De fato, como acertado, o prefácio foi escrito. Nele, porém, se registra as inflexões de um caráter que não pode ser exemplar.”
O ranço de Pergentino Holanda decorria de um pedido feito a Nauro Machado para que prefaciasse o livro do colunista. O poeta relutou, até que escreveu um prefácio não elogioso, resultando na ira de PH.
Seguem, na mesma página, outras notas pejorativas fazendo referência aos conflitos entre o poeta, o escritor Josué Montello e o presidente da Academia Maranhense de Letras (AML) Luis Rêgo.
OUTRA SÃO LUÍS
Enfim, se nunca chegou a ser Atenas, aquela cidade ilustrada pelas elites intelectuais acabou. Não existe mais! Hoje, está reduzida a pequenos e saudosos espaços de produção e circulação da Literatura, como os sebos, por exemplo. Nauro Machado, na São Luís de 2024, seria insultado direta e indiretamente pela completa destruição da política cultural do Maranhão e da capital, São Luís, onde impera a barbárie “forrozeira”, “sertaneja”, “piseira” e de “axé music” nos grandes eventos junino e carnavalesco bancados com dinheiro público.
As imagens aéreas desses espetáculos grotescos dão a impressão de que São Luís, Cidade Cultural Patrimônio da Humanidade, é um enorme terreiro de vaquejada.
Nesse caso nem caberia uma comparação à Tróia de tantas batalhas gloriosas, mas a um “latifúndio cultural”, como bem colocou o poeta e compositor Joãozinho Ribeiro, em artigo publicado neste blog.
Voltando à personagem Chico Discos, quando perguntado sobre o trato com a clientela, ele lembra várias situações inusitadas. Conta que toda semana aparece alguém estranho. Quando o sebo funcionava na Fonte do Ribeirão, um senhor separou uma pilha de discos de vinil, passou duas horas escolhendo e disse que ia levar todos, mas no final revelou que não tinha radiola. Na lata, Chico pensou alto: “Quem não tem gaiola não compra curió.”
Eleitor declarado de Lula, sua preferência partidária é facilmente perceptível pela disposição das capas das obras de esquerda nas estantes, com destaque para livros com as imagens do MST e do petista presidente. “Ponho alguns exemplares estrategicamente posicionados para espantar bolsonaristas”, enfatiza.
QUEM É O LEITOR DE DIREITA?
Embora o ambiente lulista seja freqüentado por artistas, estudantes, professores, ativistas e afins do campo progressista, a clientela tem algumas variações. Entre os casos atípicos está o cliente pastor evangélico e deputado federal (reeleito) Gildenemir de Lima Sousa, do PL.
Ludovicense, neto e filho de evangélicos da Assembleia de Deus, ele cultiva a leitura desde criança. “Meu pai era pastor, tinha livros, e minha mãe era muito leitora. Ela lia a bíblia junto comigo. Desde cedo eu tive acesso aos clássicos: os russos Dostoiévski e Tolstói, Thomas Mann e André Gide e Marcel Proust, Homero, Dante, Cervantes, os alemães, franceses e a literatura brasileira”, revela. De todas as leituras, afirma que só não concluiu “Ulysses”, de James Joyce. “Já fiz várias tentativas e não consegui. Acho intransponível”, sinaliza.
Formado em Teologia, o pastor estudou Jornalismo na UFMA, mas não concluiu o curso.
Os seus livros – ele computa cerca de 10 mil volumes – estão armazenados em duas bibliotecas, em São Luís e Brasília. Segundo o pastor parlamentar, a leitura é um misto de necessidade e prazer. A sua preferência pelos clássicos russos, revela, se dá pela complexidade das personagens e a identificação do leitor com elas. “Eu me encontro ali naqueles perfis. A Literatura contribui para eu entender a alma humana. Por isso, desde os 16 anos de idade passei a assumir liderança na igreja. Eu comecei servindo os pastores, viajando durante 23 anos. Quando eu resolvi ser político, meu nome foi indicado por esses laços”, conta.
Questionado sobre a incompatibilidade entre o bolsonarismo e o conhecimento, afirma que a leitura é uma forma de trazer ensinamentos através de exemplos bons e ruis. “A gente vai tirando lições das personagens e vamos jogando luz na complexidade que é a alma humana, para entender o futuro tem de fazer o retrospecto”, esclarece.
Pastor Gil se define como homem de direita, conservador, defensor dos bons costumes e da família tradicional.
Ele disse que não leu Karl Marx na íntegra, apenas resumos, e pretende se aprofundar no filósofo alemão Friedrich Nietzsche. “Nada dessa vida é totalmente descartável ou desprezível. Eu leio Paulo Freire e prefiro evitar extremismos. O fanatismo conjuga a religião e política com fins indevidos. A pessoa fanática não tem discernimento e eu sou contra xingamentos, sou pelo respeito, principalmente para quem é diferente de mim. Respeitar quem pensa diferente é um grande mote. Acima de tudo, o respeito, porque o mundo dá muitas voltas”, assegura.
Nessa São Luís de gregos e troianos, o poeta Nauro Machado tinha razão.
Você sabia que o clássico “Os miseráveis”, de Victor Hugo, foi traduzido e publicado em São Luís poucos meses depois do lançamento da obra na Europa?
Essa é uma das revelações da pesquisa do doutor em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa (Portugal), Roberto Sousa Carvalho, autor do livro “Maranhão, província tradutora: livros e tradutores em São Luís do séc. XIX”, publicado pela Editora da UFMA.
O 5º episódio do Escuta Ciência (clique aqui para ouvir) conversou com o pesquisador sobre o movimento intelectual formado por médicos e escritores dedicados ao ofício de traduzir relevantes textos que circulavam fora do Brasil.
O programa aborda também o surgimento da imprensa no Maranhão, em 1821, no nascedouro do jornal “O Conciliador”, além da pujante produção gráfica e editorial das tipografias instaladas em São Luís naquele período.
Escuta Ciência é um programa de divulgação científica que tem o objetivo de popularizar trabalhos acadêmicos ou da cultura popular. A produção tem apoio da Apruma Seção Sindical e é fruto da Oficina de Divulgação Científica realizada durante a greve dos docentes e técnicos administrativos da UFMA, no primeiro semestre de 2024.
O programa tem produção e apresentação dos professores Carlos Agostinho Couto e Ed Wilson Araújo.
O projeto Caminhos da Boiada, desenvolvido pelo Grupo de Estudos Culturais no Maranhão / Gecult-MA, da Universidade Federal do Maranhão, faz o lançamento da exposição Caminhos da Boiada: Personagens do Bumba-Meu-Boi, da artista Jurribs, que integra o projeto, durante a inauguração do Arraial do Largo de Santo Antônio, que acontece nesta quinta-feira, 20 de junho, a partir das 19h, no Centro Histórico da capital maranhense.
A exposição é composta de seis totens criados pela artista e confeccionados no tamanho 1,60m para representar personagens do auto do bumba-meu-boi, cada um, por sua vez, alusivo aos sotaques que caracterizam o folguedo (matraca, orquestra, costa-de-mão, zabumba e alternativo), além de mais uma peça, que integra os demais.
A exposição ficará instalada durante todos os dias do Arraial do Largo de Santo Antônio, entre 20 e 29 de junho.
APLICATIVO E MAPA
Além da exposição “Personagens do bumba-meu-boi”, o projeto Caminhos da Boiada estará com um estande/barraca durante as noites do Largo de Santo Antônio, ocasião em que serão distribuídas cópias do Mapa Caminhos da Boiada que, ao longo de 2023, catalogou e deu visibilidade a diversos grupos de bumba-meu-boi da Ilha de São Luís.
Os visitantes do Arraial terão a oportunidade de baixar o aplicativo Caminhos da Boiada, que também será lançado na ocasião, e que traz o mapeamento já realizado, além de informações sobre os grupos mapeados. Será uma forma interativa de experimentar um pouco o trabalho desenvolvido pelo projeto. A barraca do Caminhos da Boiada terá ainda à disposição produtos para quem desejar adquirir, como copos, matracas e camisas com a logomarca do projeto, arte também criada por Jurribs. Além de adquirir no arraial, os produtos podem ser encontrados através do perfil @mapacaminhosdaboiada no Instagram.
Obra tem o selo da editora Passagens e reúne textos sobre “a sombra do século passado” projetada na atualidade. Lançamento terá uma roda de conversa com o autor e o professor Flávio Reis, no Chico Discos, dia 22 (sábado), às 17h. Livro tem acesso gratuito para download (veja o link no final da postagem)
Piauiense do sertão, radicado no Rio de Janeiro há mais de 40 anos, Edmar Oliveira é um conhecido médico psiquiatra. Viveu a efervescência da contracultura, em Teresina, através da participação no jornal alternativo Gramma e como protagonista do curta de Torquato Neto, O Terror da Vermelha, filmado em 1972.
No Rio, trabalhou com Nise da Silveira e se alinhou à luta antimanicomial. Foi diretor do Instituto Municipal Nise da Silveira, no Engenho de Dentro (RJ). Aposentado do serviço público, considera-se um escritor tardio, tendo publicado dois livros sobre a prática em Saúde Mental (sendo Ouvindo Vozes, o mais conhecido), três romances, entre os quais, Sitiado, romance histórico sobre a passagem da Coluna Prestes no Nordeste, e Não Existe Pretérito Perfeito, ambientado nos anos de chumbo da ditadura. Além disso, escreveu contos e muitas crônicas.
Seu livro mais recente, Crônicas de um Piauinauta, publicado pela editora Passagens, é uma seleção de textos escritos entre 2007 e 2017 no blog intitulado Piauinauta, focando um período crucial, em que passamos da euforia do avanço inclusivo petista ao pesadelo da regressão bolsonarista. Divididas em cinco partes, a obra no coloca em contato direto com o estranho mundo que foi se configurando a partir de então.
Atento aos sinais nem sempre percebidos, em meio à fabricação de espetáculos que dominam o cotidiano, Edmar indica logo de cara como percebe o espírito do nosso tempo, ao afirmar que este é “um século que ainda não começou”. Observação provocante e certeira: com todo o avanço tecnológico e os impactos sociais resultantes, é a sombra do século passado, de suas guerras e impasses ideológicos, que se eleva sobre nossas sociedades nos dias que correm.
O olhar arguto de Edmar, a ironia desconcertante e sua escrita enxuta encontram o ponto alto na forma da crônica. Ler este livro é rever alguns sinais gritantes do cotidiano, presentes no noticiário, que delineavam o quadro distópico da atualidade.
Abaixo, a orelha do livro Crônicas de um Piauinauta, que será lançado no próximo sábado, 22/06/24, no Chico Discos:
“UM SÉCULO QUE NÃO COMEÇOU
Neste livro lemos minicrônicas discorrendo e escritas, quase sempre, em cima de acontecimento recente. Com a publicação agora, essa distância ganha um significado surpreendente. São relembrados acontecimentos importantes, que foram esquecidos por falta de espaço nas nossas memórias, atacadas por bordoadas de informações da modernidade digital. E, muitas delas, com relevância para a espiral da História, mesmo que, no momento em que foram escritas, parecessem não ter qualquer ligação. As impressões da realidade prenunciavam o vulcão da idiotia nacional, que logo aconteceria.
Como se o século anterior tivesse aprisionado a espiral da História, o que só se percebe agora, numa leitura com distanciamento.
Este é um século que ainda não começou, apesar do avanço tecnológico. Prisioneiros do século XX, 1964 retorna e nos surpreende, com uma farsa que, felizmente, não se afirmou. Mas será que nos livramos dele, quando a extrema-direita ousou aparecer sem vergonha em todo o planeta?”