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Intervenção armada: crime inafiançável e imprescritível

por RICARDO LEWANDOWSKI, na Folha de São Paulo 

Ministro do Supremo Tribunal Federal e professor titular de teoria do Estado da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

“Preço a pagar por atravessar o Rubicão pode ser alto”

Na Roma antiga existia uma lei segundo a qual nenhum general poderia atravessar, acompanhado das respectivas tropas, o rio Rubicão, que demarcava ao norte a fronteira com a província da Gália, hoje correspondente aos territórios da França, Bélgica, Suíça e de partes da Alemanha e da Itália.

Em 49 a.C., o general romano Júlio César, após derrotar uma encarniçada rebelião de tribos gaulesas chefiadas pelo lendário guerreiro Vercingetórix, ao término de demorada campanha transpôs o referido curso d’água à frente das legiões que comandava, pronunciando a célebre frase: “A sorte está lançada”.

A ousadia do gesto pegou seus concidadãos de surpresa, permitindo que Júlio César empalmasse o poder político, instaurando uma ditadura. Cerca de cinco anos depois, foi assassinado a punhaladas por adversários políticos, dentre os quais seu filho adotivo Marco Júnio Bruto, numa cena imortalizada pelo dramaturgo inglês William Shakespeare.

O episódio revela, com exemplar didatismo, que as distintas civilizações sempre adotaram, com maior ou menor sucesso, regras preventivas para impedir a usurpação do poder legítimo pela força, apontando para as severas consequências às quais se sujeitam os transgressores.

No Brasil, como reação ao regime autoritário instalado no passado ainda próximo, a Constituição de 1988 estabeleceu, no capítulo relativo aos direitos e garantias fundamentais, que “constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis e militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático”.

O projeto de lei há pouco aprovado pelo Parlamento brasileiro, que revogou a Lei de Segurança Nacional, desdobrou esse crime em vários delitos autônomos, inserindo-os no Código Penal, com destaque para a conduta de subverter as instituições vigentes, “impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”. Outro comportamento delituoso corresponde ao golpe de Estado, caracterizado como “tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído”. Ambos os ilícitos são sancionados com penas severas, agravadas se houver o emprego da violência.

No plano externo, o Tratado de Roma, ao qual o Brasil recentemente aderiu e que criou o Tribunal Penal Internacional, tipificou como crime contra a humanidade, submetido à sua jurisdição, o “ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil”, mediante a prática de homicídio, tortura, prisão, desaparecimento forçado ou “outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental”.

E aqui cumpre registrar que não constitui excludente de culpabilidade a eventual convocação das Forças Armadas e tropas auxiliares, com fundamento no artigo 142 da Lei Maior, para a “defesa da lei e da ordem”, quando realizada fora das hipóteses legais, cuja configuração, aliás, pode ser apreciada em momento posterior pelos órgãos competentes.

A propósito, o Código Penal Milita restabelece, no artigo 38, parágrafo 2º, que “se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato manifestamente criminoso, ou há excesso nos atos ou na forma da execução, é punível também o inferior”. Esse mesmo entendimento foi incorporado ao direito internacional, a partir dos julgamentos realizados pelo tribunal de Nuremberg, instituído em 1945, para julgar criminosos de guerra. Como se vê, pode ser alto o preço a pagar por aqueles que se dispõem a transpassar o Rubicão.

Imagem destacada / Alan Marques / FolhaPress

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Ameaça de Bolsonaro: golpe ou quartelada?

Algumas características do golpe civil-militar de 1964 precisam ser colocadas na balança para analisar o cenário atual em que o presidente Jair Bolsonaro ameaça uma ruptura institucional.

O que havia antes de 1964?

– Ampla campanha de comunicação organizada pelo complexo Ipes/Ibad contra uma suposta “ameaça comunista” no Brasil;

– Influência direta dos Estados Unidos na preparação da intervenção de 1964;

– Mobilização da opinião pública e manifestações de rua pró-golpe, a exemplo da Marcha da Família com Deus pela Liberdade;

– Sintonia entre as Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) para executar a intervenção militar;

Havia portanto uma convergência de atores políticos e militares, além do apoio expressivo da população, resultando a deflagração do golpe previamente organizado desde o início dos anos 1960.

O que temos em 2021?

– Um presidente rejeitado em todas as pesquisas de opinião;

– A economia em crise;

– A maioria da população já demonstrou em sucessivos levantamentos a derrota de Jair Bolsonaro na eleição de 2022;

– Não há consenso nas Forças Armadas sobre uma intervenção militar;

– Os Estados Unidos estão fora da disputa interna do Brasil nesse momento; ou seja, não participam diretamente da organização de nenhum golpe aqui;

Minoria barulhenta

Diferente de 1964, quando havia vários fatores convergentes, neste 2021 Jair Bolsonaro não tem a convergência das Forças Armadas.

No Congresso Nacional, os presidentes da Câmara e do Senado já se manifestaram contrários a qualquer ruptura institucional.

Os Estados Unidos estão mais preocupados em conter os seus problemas internos – a economia, a pandemia e o trumpismo – sem uma participação direta na política brasileira como havia na década de 1960.

No entanto, o bolsonarismo, embora minoritário, é alimentado por uma horda fanática capaz de tudo, inclusive de qualquer sacrifício ou ato tresloucado para manter o presidente no poder.

O bolsonarismo também computa a seu favor uma força considerável nas polícias militar e civil, desde a base (soldados e agentes), passando pelos escalões médios e alguns setores de comando.

Em síntese, a correlação de forças não indica hegemonia do bolsonarismo no conjunto da sociedade, mas dá pistas de que a minoria fanática e barulhenta pode ser perigosa.

Considerando o exposto, uma eventual ruptura institucional nesse momento está mais para quartelada.

Golpe, nos moldes de 1964, ainda não é visível no horizonte, mas pode evoluir para tal…

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Veja reportagens sobre o lançamento do livro “Vozes do Anjo: do alto-falante à Bacanga FM”

A primeira etapa de divulgação do livro “Vozes do Anjo: do alto-falante à Bacanga FM” foi pauta em duas matérias da TV Mirante.

Emissoras AM e FM, blogs, sites, Agência Tambor, Sistema Mirante de Comunicação, rádio Timbira e o vereador Marcial Lima também repercutiram o lançamento da obra.

Fica o nosso agradecimento a todos(as) os(as) profissionais e meios de comunicação que ajudaram a publicizar a obra, fruto de uma pesquisa iniciada em 2016, resultando no livro publicado pela Editora da UFMA.

A obra é uma realização do Observatório da Mídia no Maranhão (OMMAR), tem apoio do ObEEC (Observatório de Experiências Expandidas em Comunicação) e do Serviço Social do Comércio (SESC).

“Vozes do Anjo: do alto-falante à Bacanga FM” tem organização de Ed Wilson Araújo e Saylon Sousa, em coautoria de Rodrigo Mendonça, Rodrigo Anchieta e Robson Correa.

https://www.youtube.com/watch?v=3UzgQr5Me3k
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Podbook do livro “Vozes do Anjo: do alto-falante à Bacanga FM” já está disponível

Uma obra para ler e ouvir. Assim é o livro “Vozes do Anjo: do alto-falante à Bacanga FM”, que será lançado hoje (27 de agosto), a partir das 19h, na igreja Nossa Senhora da Penha, no bairro Anjo da Guarda.

Todas as entrevistas do trabalho de campo realizado na pesquisa sobre comunicação radiofônica no Anjo da Guarda podem ser acessadas no podbook disponível na plataforma Spotfy.

A iniciativa de disponibilizar as entrevistas tem o objetivo de ampliar a oferta de consumo do livro e possibilitar o conhecimento detalhado sobre as entrevistas da pesquisa que resultou na versão impressa.

Durante cinco anos de apuração, estudos teóricos, redação e revisão, os pesquisadores Ed Wilson Araújo, Saylon Sousa, Rodrigo Anchieta, Rodrigo Mendonça e Robson Correa (foto destacada) entrevistaram várias personagens atuantes na emissora de alto-falante denominada “Rádio Popular”, que funcionou de 1988 a 1998; assim como os protagonistas da rádio comunitária “Bacanga FM”, inaugurada em 1998 e até hoje em funcionamento.

Ao todo são 33 anos de História da comunicação popular e comunitária em um dos bairros mais pulsantes cultural e politicamente na região metropolitana de São Luís.

Saiba mais sobre o livro aqui e mais aqui

Foto destacada / Autores de “Vozes do Anjo” / da esquerda para a direita: Robson Correa, Rodrigo Mendonça, Ed Wilson Araújo, Rodrigo Anchieta e Saylon Sousa / Imagem: Benedito Junior

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Viana é palco do novo “Mural da Memória” em homenagem ao cantador Diomar Leite

O município de Viana, localizado na Baixada Maranhense, recebe esta semana, entre 23 e 26 de agosto, a equipe do Projeto “Amo, Poeta e Cantador: Murais da Memória pelo Maranhão”. Nestes dias, o artista plástico Gil Leros, com o uso da técnica do graffiti, produzirá mais um grande mural da memória, dessa vez para homenagear o fundador do bumba meu boi “Nossa União de São Cristóvão de Viana”: Diomar Leite.

De sotaque de matraca da baixada, o boi “Nossa União” de São Cristóvão possui, oficialmente, cerca de 30 anos de história, tendo sido fundado por Diomar Leite no início da década de 1990. Mas, na realidade, estudos e pesquisas mostram que a brincadeira é centenária, datando do início do século XX, sendo parte importante dos costumes e tradições da comunidade São Cristóvão.

A brincadeira ficou paralisada por alguns anos, mas ressurgiu, com força total, sob a liderança do falecido Diomar Leite. Ele é, para muitos, ‘um grande mestre da cultura popular do Maranhão’, como declara o também mestre José Manoel Sousa, o popular ‘Baeco’, amigo pessoal de Diomar Leite, estando com ele à frente do boi “Nossa União” por muitos anos. “Diomar é mestre dos mestres. Grande organizador e dirigente do Boi Nossa União de São Cristóvão”, reconheceu o entusiasmado ‘Baeco’.

Com o falecimento de Diomar, ‘Baeco’ assumiu o comando do boi. Mas, problemas de saúde o obrigaram a passar a direção do “Nossa União” para a sua afilhada Ana Selma. Ele, contudo, está sempre presente, todos os anos, nas brincadeiras.

O povoado São Cristóvão nasceu à margem leste do lago de Maracaçumé, onde existia, até o final do século XIX, um engenho de açúcar, e fica distante cerca de 50 quilômetros do Centro de Viana, cidade com pouco mais de 52 mil habitantes (dados do IBGE de 2019), fundada em 08 de julho de 1757. Viana tem, portanto, 264 anos.

O boi Nossa União de São Cristóvão é composto atualmente de 150 brincantes. Traz em suas fileiras o patrão, o amo, Pai Francisco, Mãe Catirina, cazumbas, índias, caboclos de pena, burrinhas, cacique rolador do boi, carregadeira de santo, bailantes homens, bailantes mulheres e vaqueiros. O ritmo da música é mais lento do que o de sotaque de matraca da ilha. Mas, os instrumentos usados também são as matracas e os pandeirões. Esses têm um tamanho menor do que os de sotaque da ilha.

A construção de grandes “Murais da Memória” e de um documentário em homenagem a personalidades que marcaram a história do bumba meu boi do Maranhão compõem uma idealização do artista plástico Gil Leros, em parceria com o bumba boi da Floresta, de Apolônio Melônio, com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Benfeitoria e do Sitawi Finanças do Bem.

Foto destacada / divulgação / O artista Gil Leros segue pintando murais em várias regiões do Maranhão /

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Lançamento: livro “Vozes do Anjo” relata duas experiências de comunicação popular e comunitária em São Luís

A formação do Anjo da Guarda, bairro localizado na área Itaqui-Bacanga, em São Luís, tem muitas personagens e fatos marcantes. Parte dessa História é contada no relato sobre duas experiências de comunicação registradas no livro “Vozes do Anjo: do alto-falante à Bacanga FM”, que será lançado sexta-feira (27 de agosto), às 19 horas, na igreja Nossa Senhora da Penha.

Denominado “Rádio Popular”, o sistema de som em alto-falante ou “voz” foi criado em 1988 com a participação de religiosos católicos, lideranças comunitárias do bairro, artistas, jovens, mulheres e homens atuantes nas pastorais sociais.

A “Rádio Popular” funcionou durante 10 anos, até 1998, quando a comunidade dialogou sobre a criação de uma emissora FM. E assim surgiu a rádio comunitária Bacanga FM 106,3 Mhz, em pleno funcionamento e completando 23 anos de existência nesse ano de 2021.

O livro “Vozes do Anjo: do alto-falante à Bacanga FM” costura a criação do bairro às duas emissoras. Fruto de uma pesquisa iniciada em 2016, no curso de Rádio e TV da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a obra é uma produção do OMMAR (Observatório da Mídia no Maranhão), com apoio do ObEEC (Observatório de Experiências Expandidas em Comunicação). A edição tem o selo da Editora da UFMA (EdUFMA) e a impressão viabilizada pela Direção Regional do Serviço Social do Comércio (Sesc) no Maranhão.

Obra tem a capa de Isis Rost e diagramação de Bruno Ferreira

Durante cinco anos de trabalho os pesquisadores Ed Wilson Araújo, Saylon Sousa, Rodrigo Anchieta, Rodrigo Mendonça e Robson Correa entrevistaram várias fontes vinculadas diretamente à criação das duas emissoras. O radialista e líder comunitário Luis Augusto Nascimento, um dos fundadores da Rádio Popular e da Bacanga FM, destaca a importância dos dois meios de comunicação em todo o processo de lutas dos moradores do bairro nas suas reivindicações por transporte coletivo, infraestrutura, água potável, educação e saúde, entre outras. As rádios para ele também são o palco de divulgação dos valores culturais do Anjo da Guarda.

“O livro representa uma das profícuas experiências de pesquisa acadêmica em comunicação no estado do Maranhão, mas também uma excelente oportunidade de conhecermos parte significativa da história contemporânea da sua capital”, pontuou o coordenador do OMMAR, professor doutor Carlos Agostinho Couto, na apresentação da obra.

No prefácio do livro, a pesquisadora Ana Carolina Escosteguy ressalta: “Há muito o que dizer deste trabalho, de suas características e qualidades, que, com certeza, o fazem merecedor de se tornar um alento e uma referência na pesquisa em comunicação”

A pesquisa para a produção do livro constou de revisão bibliográfica e trabalho de campo. Todas as entrevistas em áudio estão disponíveis em uma plataforma digital e podem ser acessadas, assim como a obra em pdf. A capa é de Isis Rost e a diagramação de Bruno Ferreira

O livro está organizado em etapas, conectando a evolução das duas rádios em cinco capítulos, com as respectivas abordagens sobre a relação entre comunicação e mobilização popular no Anjo da Guarda; o surgimento da Rádio Popular no alto-falante; a transição para a Bacanga FM; o posicionamento da emissora na Internet; e um balanço sobre os 20 anos da legislação que disciplina o serviço de radiodifusão comunitária.

Neste último capítulo é feito um apanhado sobre a criação e a luta para a obtenção da outorga para a Bacanga FM no contexto de organização da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no Maranhão. Ambas, a entidade e a rádio, foram criadas em 1998, ano marcante na luta pela democratização da comunicação no Maranhão.

SERVIÇO

Pauta: Lançamento do livro “Vozes do Anjo: do alto-falante à Bacanga FM”.

Autores: Ed Wilson Araújo, Saylon Souza, Rodrigo Anchieta, Rodrigo Mendonça e Robson Silva

Quando: 27 de agosto (sexta-feira)

Onde: Igreja Nossa Senhora da Penha (Rua Honduras, s/n, Anjo da Guarda)

Horário: 19h

Valor do livro: R$ 30,00 (trinta reais)

OBS: Devido às condições sanitárias e em cumprimento ao decreto do Governo do Maranhão, o evento é limitado a 150 pessoas convidadas, mantendo distanciamento no (amplo) salão da igreja, uso de máscara e higienização das mãos.

Foto destacada / Entrada principal do Anjo da Guarda nos anos 1980 / Imagem: Acervo do jornal O Imparcial /

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Paulo Leminski faria hoje 77 anos: veja poemas marcantes do escritor

Nascido em 24 de agosto de 1944, em Curitiba (PT), o poeta faleceu em 7 de junho de 1989, com apenas 45 anos de idade.

Aos 12 anos ele ingressou no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, onde estudou Latim, Teologia, Filosofia e Literatura Clássica, mas abandonou a vida religiosa.

Faixa preta de caratê, o poeta tinha interesse em cultura japonesa e zen-budismo.

Paulo Leminski foi crítico literário e tradutor de expoentes da Literatura como James Joyce, John Fante, Samuel Beckett e Yukio Mishima.

Na sua formação, teve influência dos irmãos concretistas Augusto e Haroldo de Campos. Com o livro “Metamorfose” ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia, em 1995.

Alguns textos de Leminski foram gravados por Caetano Veloso, Gilberto Gil e Guilherme Arantes. Na música, o poeta fez parcerias com Itamar Assumpção, José Miguel Wisnik e Wally Salomão.

Veja abaixo 10 poemas emblemáticos do autor:

Bem no fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Dor elegante

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

O que quer dizer

O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz.

M. de memória

Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.
Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Tróia,
assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.
um dia, o diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.
Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
Rimbaud se mandou pra África,
Hemingway de miragens.
Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.

Parada cardíaca

Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.
Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Aviso aos náufragos

Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.

Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.

Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta pagina, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim que é a vida?

Sintonia para pressa e presságio

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Soo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.

Não discuto

não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino

A lua no cinema

A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!

Esse post tem informações da Revista Bula e do site ebiografia.com

Foto destacada / Paulo Leminski / capturada no site Estante Virtual

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Deus é liberdade, não opressão

Por Ed Wilson Araújo

A tolerância é uma das maiores virtudes.

Em nome dela tentamos entender as diferenças e ver qualidades naquela pessoa que anda na contramão das nossas ideias, preferências e gostos.

Acontece geralmente quando tomo um taxi ou carro de aplicativo. Entro no veículo e o motorista está sintonizado na Jovem Pan ou em alguma rádio evangélica, tipos de emissoras muito ouvidas pelo público da ultradireita ou conservadores médios.

Conto até dez, em nome da tolerância, tentando descontrair com alguma conversa amena.

Em um desses meus deslocamentos o condutor ouvia música gospel não sertaneja nem forrozeira, despertando a minha atenção para uma suave melodia que aplainava o sol a pino do meio dia.

Puxei uma conversa sobre a música e fomos dialogando sobre fé, Deus, amor etc.

Contei a ele que uns dias antes eu tinha entrado na igreja da Sé, no Centro Histórico de São Luís, apenas para agradecer a Deus por estar vivo e com saúde. Nada mais.

O motorista, evangélico adventista, emendou a conversa e disse que a minha atitude – agradecer – era rara. Segundo ele, as pessoas tendem sempre a pedir, pedir e pedir, às vezes deixando a gratidão em segundo plano.

Depois, emendou: “a gente deve sempre se humilhar diante de Deus, se prostrar aos pés d’Ele”.

Cheguei ao meu destino refletindo sobre aquela frase, embora não concorde com o sentido apregoado pelo rapaz.

A minha relação com Deus é de amizade. Quando entro em uma igreja, católica ou evangélica, vou em busca de um encontro afetivo sem me sentir humilhado.

Deus é grande, mas não é um ditador.

A minha fé compreende uma relação de afeto e, como cristão, sinto-me tocado a olhar para o mundo e ver como ajudar o outro, individual e coletivamente.

Na minha formação na Pastoral da Juventude aprendi que as desigualdades econômicas e sociais não são obras de Deus.

Seu filho, Jesus, veio aqui para nos ensinar a repartir o pão, o conhecimento, o poder e a riqueza. Esse é o sentido da fé libertadora, aquela que prega igualdade e justiça.

Fé e liberdade caminham juntas. Deus não está ao mundo para nos oprimir. Ele vive no meio de nós como um amigo, solidário, companheiro e atento.

Deus cuida de nós o tempo inteiro, presente ao nosso lado, estendendo a mão quando precisamos, nos bons e maus momentos.

Por isso é sempre bom agradecer. Não precisa ter um pedido alcançado. A gratidão deve ser todo dia, a cada momento.

Como foi bom ser tolerante com a música daquele rapaz adventista. Reforcei com ele, mesmo nas nossas diferenças, a compreensão de que Deus é amor.

Naquele dia eu me senti ainda mais livre para professar a minha fé, sem me humilhar, porque a fé liberta e não serve à opressão.

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É Fantástico! Jornalismo da TV Globo poupa o agronegócio da crise hídrica

O Ensino Médio no Brasil deveria ter uma disciplina voltada para a leitura crítica dos meios de comunicação.

Seria uma forma de preparar a juventude para o consumo dos produtos culturais distribuídos na mídia convencional, nas plataformas digitais e nos aplicativos de mensagens.

Os telejornais, por exemplo, precisam ser vistos com uma espécie de lente de aumento.

Não se trata de considerar que os meios de comunicação manipulam todas as pessoas o tempo inteiro, como se a mídia fosse uma poderosa indústria de domínio da consciência.

Mas, é preciso fazer um consumo reflexivo sobre os conteúdos.

Domingo, 22 de agosto, no Fantástico, a maior e mais abrangente revista eletrônica semanal do Brasil, trouxe a público uma densa reportagem sobre a crise hídrica no Brasil.

Construído com muita habilidade retórica, o enquadramento da matéria conduz o telespectador a relacionar preponderantemente a escassez de água com o desmatamento da Amazônia.

É obvio que a destruição da floresta tem relação com a crise hídrica e outros tantos danos ambientais.

No entanto, a arquitetura da reportagem, ao focar na Amazônia, tira a responsabilidade do agronegócio sobre a devastação de um dos biomas mais importantes do planeta – o cerrado.

Todos sabemos que o cerrado é considerado a “caixa d’água” da Terra porque nele estão as nascentes de vários rios que alimentam bacias hidrográficas fundamentais para o ambiente sustentável.

No cerrado também vivem povos e comunidades tradicionais e parte relevante da agricultura familiar.

Então, o que fez a reportagem do Fantástico?

Priorizou a fala de um especialista para direcionar a crise hídrica para o desmatamento da Amazônia.

Em seguida, a matéria pôs em relevo um empresário do agronegócio no meio a uma lavoura gigante perdida pela seca, como se ele, agronegócio, fosse uma vítima sofrida do problema e não tivesse um polpudo seguro bancário para amparar a prejuízo da safra.

Todos os dias dezenas de tratores correntões destroem imensas áreas de cerrado no Brasil, provocando uma devastação se controle sobre áreas naturais de reserva hídrica nos territórios a serem ocupados pelo agronegócio.

Quem assistiu à reportagem do Fantástico foi dormir pensando que somente o desmatamento da Amazônia é o vilão da seca e o empresário do agronegócio é um pobre coitado que perdeu a safra.

Só aí a gente vai entender porque tem tanta propaganda com o bordão “o agro é pop, o agro é tech, o agro é tudo”.

Leia mais sobre mídia e agronegócio aqui.

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Maranhão tem representante na Abraço Brasil

A Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço Brasil) elegeu nesse sábado (21), em assembleia geral, sua nova diretoria.

No evento, que ocorreu de forma virtual, em função das medidas sanitárias ainda vigentes no país, Geremias dos Santos foi reconduzido à presidência da entidade. Além dele, outros 20 nomes compõem o grupo que estará à frente da entidade até 2024.

O Maranhão está representado na nova diretoria da Abraço Brasil pelo jornalista e professor da UFMA, Ed Wilson Araújo, atual presidente da Abraço-MA, eleito para a Diretoria de Formação e Inovação Tecnológica.

Na avaliação do presidente reeleito, o encontro foi bastante positivo e a expectativa para o próximo período é de muito trabalho. “A participação foi bastante expressiva, mesmo sendo de modo remoto. Nós conseguimos cumprir todos os pontos previstos na pauta, como a eleição em si, a avaliação política da gestão e a prestação de contas. Agora é arregaçar as mangas e lutar pelas nossas rádios comunitárias”, reiterou.

Apenas uma chapa se inscreveu ao pleito. De acordo com um dos membros da comissão eleitoral, Patrícia Schuster, outro grupo tentou se colocar na disputa, porém, a composição apresentou problemas. “Infelizmente, a nominata não chegou pelos canais descritos no regimento. Afora isso, ela estava incompleta. Mas, isso não comprometeu em nada o processo e a democracia terminou sendo a vitoriosa”, ponderou.

O Brasil conta atualmente com aproximadamente cinco mil rádios comunitárias outorgadas que são regidas pela lei 9.612/1998. Entre as bandeiras defendidas pela Abraço Brasil está a rediscussão desse marco. “Nosso esforço estará todo ele concentrado nessa lei. Precisamos avançar, discutir mais canais, acesso à verba pública, aumento de potência. E nós pregamos a união para que tudo isso se materialize. Não queremos ir para a faixa estendida. Sabemos que isso pode ser um golpe às comunitárias. Deixamos isso muito claro nas nossas intervenções”, finalizou.

Veja abaixo os(as) integrantes da nova diretoria da Abraço Brasil

1 – Geremias dos Santos (MT) – Presidente

2 – Eloidemar Guilherme (RS) – Vice-Presidente

3 – Maria Fátima Cruz (RN) – Primeiro Secretário

4 – Wagner Souto (PE) – Segundo Secretário

5 – Valdeci Borges (GO) – Primeiro Tesoureiro

6 – Julimar Gonçalves de Carvalho (DF) – Segundo Tesoureiro

7 – Ailton Santos (RO) – Diretor Jurídico

8 – Benedito Ballio Prado (BA) – Diretor de Relações Internacionais

9 – Mylena Rocha (SE) – Diretora de Comunicação

10 – Rejane Barros (AL) – Diretora de Cultura, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

11 – Laélia Brito Freitas (PA) – Diretora de Gênero e Etnia

12 – Daniel Pereira dos Santos (PB) – Diretor de Organização

13 – Ed Wilson Ferreira Araújo (MA) – Diretor de Formação e Inovação Tecnológica

Suplentes da Diretoria Executiva:

1 – Joaquim Goulart (RS)

2 – Thomas Sena (RN)

3 – Maria Fátima Gomes (MG)

Conselho Fiscal

Efetivos:

1 – Elisinete Santos Sousa (AM)

2 – Antônio Maurício de Medeiros (AP)

3 – Ricardo Rodrigues Campos (PI)

Suplentes:

1 – Sérgio Dourado de Oliveira Matos (MG)

2 – João Carlos Heissler (RS)

Com informações da Abraço Brasil