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Nota da Abraji: inquérito do STF contra fake news vitima liberdade de imprensa

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) publicou nota sobre a censura determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, para silenciar reportagens relacionadas ao presidente do STF, Dias Toffoli, e a empreiteira Odebrecht. Leia na íntegra e veja no neste site

O inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar a disseminação de “fake news” contra os ministros do próprio tribunal atingiu hoje seu primeiro alvo: a liberdade de imprensa. 

O ministro do STF Alexandre de Moraes determinou, nesta segunda-feira (15.abr.2019), que o site O Antagonista e a revista Crusoé retirem do ar conteúdo relacionado à reportagem “O amigo do amigo de meu pai” (capa da mais recente edição da Crusoé), que trata de supostas relações entre o presidente do Supremo, Antonio Dias Toffoli, e a empreiteira Odebrecht. Na mesma decisão, Moraes determinou que a Polícia Federal intime “os responsáveis” pelo site e pela Revista “para que prestem depoimentos no prazo de 72 horas”. Caso os veículos não retirem os conteúdos do ar, receberão multa diária de R$ 100 mil.

A decisão faz parte do Inquérito 4781, que foi aberto por Toffoli em 14.mar.2019, tramita em sigilo no STF e é relatado por Moraes. Segundo o relator, o inquérito trata da “existência de notícias fraudulentas (fake news), denunciações caluniosas, ameaças e infrações revestidas de animus caluniandi, diffamandi ou injuriandi, que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros e familiares, extrapolando a liberdade de expressão”.

A reportagem da Crusoé apontou a existência de um documento no qual o empreiteiro Marcelo Odebrecht, em resposta a questionamentos da Polícia Federal no âmbito das investigações da Operação Lava Jato, revela que o codinome “o amigo do amigo de meu pai” se refere a Toffoli. O codinome havia sido usado em emails trocados entre Marcelo Odebrecht e executivos da empreiteira.

Após a publicação da reportagem, Toffoli solicitou a Moraes “a devida apuração das mentiras recém divulgadas por pessoas e sites ignóbeis que querem atingir as instituições brasileiras”. 

Moraes, ao determinar que a reportagem fosse retirada do ar, considerou que “há claro abuso no conteúdo da matéria veiculada”  –  sem explicar em que consiste tal abuso.

O ministro afirmou ainda que se trata de “típico exemplo de fake news”  – sem esclarecer como o tribunal conceitua “fake news”, já que não há consenso sobre o tema nem entre especialistas em desinformação.

O único elemento que Moraes cita para qualificar a reportagem como falsa é uma nota na qual a Procuradoria Geral da República afirma não ter recebido informação sobre os esclarecimentos de Marcelo Odebrecht. A Crusoé, em seu texto, diz que “cópia do material”  foi remetida para a PGR. Embora esse seja um aspecto secundário da reportagem, Moraes afirma que “obviamente o esclarecimento feito pela Procuradoria Geral da República torna falsas as afirmações veiculadas na matéria”. O documento citado pela Crusoé não apenas existe como está disponível na internet. A íntegra foi também publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo. 

É grave acusar quem faz jornalismo com base em fontes oficiais e documentos de difundir “fake news”, independentemente de o conteúdo estar correto ou não. Mais grave ainda é se utilizar deste conceito vago, que algumas autoridades usam para desqualificar tudo o que as desagrada, para determinar supressão de conteúdo jornalístico da internet. O precedente que se abre com essa medida é uma ameaça grave à liberdade de expressão, princípio constitucional que o STF afirma defender. 

Também causa alarme o fato de o STF adotar essa medida restritiva à liberdade de imprensa justamente em um caso que se refere ao presidente do tribunal. 

A Abraji apela ao Supremo Tribunal Federal para que reconsidere a decisão do ministro Alexandre de Moraes e restabeleça aos veículos atingidos o direito de publicar as informações que consideram de interesse público.

Diretoria da Abraji, 15 de abril de 2019.

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70 anos do Clube de Engenharia do Maranhão

O Clube de Engenharia do Maranhão (CEM) está colocando em prática, neste ano em que comemora 70 anos, uma programação com palestras, cursos e programas de responsabilidade social. As atividades começaram no dia do aniversário do CEM, 18 de março, e prosseguem até o dia 7 de dezembro.

Neste mês e em março já foi lançado o Plano de Atividades 2019. O Eng. Civil Mário Calheiros, especialista em Estrutura de Concreto e Fundação, ministrou a palestra “Concreto protendido, conceitos iniciais” e o Eng. Civil João Celso Martins Marques, mestre na área de Estruturas, ministrou a palestra “Sistemas estruturais aplicados à construção de pontes”.

Na atual gestão, que tem como presidente o engenheiro civil Emanuel Miguez, o Clube de Engenharia realiza atividades em defesa dos direitos dos engenheiros e promove ações na area de educação continuada, com a oferta de treinamentos e atualizações para estudantes e profissionais de engenharia.

Neste ano de celebração do aniversário de 70 anos da entidade, essas atividades terão continuidade e serão reforçadas. Também será colocado em prática projetos de responsabilidade social.

A primeira atividade na area de responsabilidade social será o Projeto de Engenharia Pública que tem como objetivo oferecer suporte técnico gratuito para as pessoas que tenham baixo poder aquisitivo e queiram construir suas residências. Pode participar quem mora em áreas populares e tenha terreno próprio.

O CEM vai oferecer aos beneficiados os projetos de arquitetura e de engenharia, os orçamentos de materiais e de mão de obra e a supervisão na execução das obras. Os projetos são para construções de até 40m².

Imagem / divulgação: Presidente do CEM, Emanuel Miguez; e os engenheiros Mário Calheiros e Luís Hadade

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Discurso do deputado Edilázio Junior transpira ódio dos pobres e baixadeiros

O deputado federal Edilázio Junior (PSD) reuniu um grupo de moradores do metro quadrado mais caro de São Luís – a Península – para fazer um pronunciamento bastante sintonizado com o pensamento escravocrata contemporâneo.

Segundo o parlamentar, a construção de um cais na praia da Ponta d’Areia vai “contaminar” o bairro mais luxuoso da cidade com uma leva de mototaxistas, carrinhos, pobres, vendedores ambulantes e baixadeiros.

A construção do cais foi anunciada pelo Governo do Estado com o objetivo de facilitar o deslocamento entre a capital São Luís e uma das regiões mais populosas e importantes do Maranhão – a Baixada.

Se a obra for concluída será importante também para acessar um enorme potencial turístico localizado na Floresta dos Guarás, no litoral ocidental do estado.

O que faz o deputado diante de um novo investimento em infra-estrutura?

Ofende e insulta as pessoas como um discurso estúpido, típico de um legítimo representante do bolsonarismo nesta era da estupidez.

Na origem das espécies é que se detecta o pensamento vivo do parlamentar. Ele é um dos sobreviventes do núcleo familiar que depredou o Maranhão.

Dele não se podia esperar outro comportamento e visão de mundo, a não ser o deplorável pronunciamento carregado de ódio, racismo e segregação. Basta assistir aos vídeos.

Ele só quer os pobres por perto na condição de serviçais, como a babá de São Bento, que deve ficar “condenada” a tomar o ferry-boat na Ponta da Espera e uma van no Cujupe para se deslocar de São Luís para a Baixada.

Não é a primeira vez que a Península é colocada no centro do debate sobre a ocupação territorial de São Luís.

Já se chegou a ventilar que esta parte da cidade seja fechada como espécie de área privada, quase uma tentativa de isolar os seus moradores finos do resto da cidade.

A Península é o metro quadrado mais caro do Maranhão, onde moram pessoas honradas que compraram imóveis com o suor do rosto e entre a vizinhança uma certa elite de prefeitos e operadores de outros negócios poderosos.

Os prédios luxuosos têm valores estratosféricos se comparados ao mercado imobiliário nacional. É muito comum, neste lugar tão caro, ver esgoto transbordando e carros pipa abastecendo os prédios com água potável.

Esta contradição daria um longo debate sobre o Plano Diretor e o loteamento de São Luís para lobistas fortes.

Por enquanto, vamos ficar por aqui, sabendo que o discurso de Edilázio Junior serve para duas coisas: 1) o governo não deve recuar da construção do cais; 2) o Fórum em Defesa da Baixada Maranhense tem o dever de emitir uma nota de repúdio ao discurso do parlamentar.

Imagem: divulgação

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Prefeitura inicia campanha de vacinação contra a gripe em Slz

Meta é imunizar cerca de 255 mil pessoas até o dia 31 de maio; gestão do prefeito Edivaldo promoverá dois dias “D”, além de colocar à disposição do público-alvo postos de saúde e equipes de vacinação nos shoppings da capital

A Prefeitura de São Luís, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semus), iniciou nesta quarta-feira (10), a Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza na capital maranhense. A meta é imunizar 254.958 pessoas contra a gripe. Em toda a cidade vão funcionar 63 postos de vacinação, em unidades de saúde, de segunda a sexta-feira. A ação é parte dos esforços do prefeito Edivaldo Holanda Junior voltados à saúde preventiva da população.

A campanha será realizada até 31 de maio, tendo como marcos dois dias “D”, um municipal, em 13 de abril e outro nacional, em 4 de maio. O secretário municipal de Saúde, Lula Fylho, diz que durante toda a campanha a população será sensibilizada para vacinar. “O prefeito Edivaldo determinou que sejam feitas ações extras para assegurar o cumprimento da meta; por isso, na rotina de trabalho das unidades as equipes profissionais vão fazer a abordagem dos usuários, mostrando que a melhor forma de prevenir a gripe e as complicações decorrentes dela é a vacinação”, explicou.

A gestão do prefeito Edivaldo fará do Dia D Municipal uma grande mobilização. A intenção é imunizar o maior número possível de pessoas que integram o público-alvo da campanha formados por gestantes, puérperas, crianças de um a menores de seis anos de idade (5 anos, 11 meses e 29 dias), trabalhadores de saúde, povos indígenas, idosos, professores de escolas públicas e privadas, pessoas com comorbidades e outras condições clínicas especiais, adolescentes e jovens de 12 a 21 anos sob medidas socioeducativas, além de funcionários do sistema prisional e pessoas privadas de liberdade.

Além destas estratégias, a Semus vai disponibilizar pontos de vacinação em locais públicos. Nos dias 26 e 27 de abril, e em maio (nos dias 3 e 4, 10 e 11, 17 e 18, 24 e 25), a vacina estará disponível nos shoppings Rio Anil (na avenida São Luís Rei de França, Turu), da Ilha (na avenida Daniel de La Touche, Cohama) e São Luís (na avenida Carlos Cunha, Jacarati). O horário de atendimento será das 14h às 19h. A Semus orienta a população a apresentar o cartão de vacina, para identificar se o cronograma obrigatório do Programa Nacional de Imunização está sendo cumprido.

A vacinação contra a Influenza é a medida mais efetiva para a prevenção, e a melhor estratégia para diminuir as complicações, internações e a mortalidade decorrentes das infecções pelo vírus da gripe. A vacina contra a doença tem eficácia de seis a 12 meses e protege contra os tipos A e B do vírus.

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Subaru intocado: carro usado para transportar material arqueológico pirateado das comunidades quilombolas está “guardado” em Bacuri

O misterioso veículo importado da marca “subaru”, cor branca (foto acima), foi localizado na garagem de uma casa, na sede do município de Bacuri, a 233 Km de São Luís.

Uma fonte do blog identificou o carro, que estava desaparecido desde o dia 7 de fevereiro de 2019, quando a Polícia Civil cumpriu mandado de busca e apreensão em uma casa no povoado Portugal, onde estavam guardadas dezenas de peças de valor histórico e arqueológico saqueadas de duas comunidades quilombolas (São Félix e Mutaca).

PM auxiliou no cumprimento do mandado na casa do povoado Portugal
Populares ajudaram a carregar os objetos recuperados que haviam sido…

O saque nos quilombos, com características e pirataria e contrabando, era comandado pelo casal franco-brasileiro Magnólia de Oliveira e François-Xavier Pelletier, integrantes da ong Home Nature.

O subaru era frequentemente visto nas estradas da zona rural de Bacuri, percorrendo as comunidades quilombolas e transportando parte do material retirado dos sítios arqueológicos.

A dupla saqueava os antigos engenhos dos quilombos e retirava objetos remanescentes do período colonial, até que a reportagem do Blog do Ed Wilson revelou a nova versão da “pirataria francesa” no Maranhão.

…. retirados do subsolo mediante escavações irregulares nas áreas quilombolas…
… e selecionados para finalidades semelhantes a contrabando

O subaru branco já era um carro muito conhecido até mesmo na zona urbana, mas sumiu do mapa após as denúncias de saque nos quilombos.

François-Xavier Pelletier e Magnólia de Oliveira fugiram de Bacuri e o carro ficou escondido em uma casa no Centro da cidade, até ser descoberto recentemente.

Parte dos objetos está sob guarda na Secretaria de Assistência Social de Bacuri

Após o cumprimento do mandado de busca e apreensão na casa do povoado Portugal, os achados arqueológicos foram transportados e depositados em dois lugares: na Delegacia da Polícia Civil de Bacuri e na Secretaria Municipal de Assistência Social.

A Polícia Civil segue investigando o caso (veja aqui)

Saiba mais sobre a pirataria francesa em terras quilombolas do Maranhão aqui e veja nesta matéria o cumprimento do mandado de busca e apreensão pela Polícia Civil.

Fotos: divulgação

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São Luís que queremos

São Luís que queremos é o tema do debate entre os jornalistas Ed Wilson Araújo, Flávia Regina e Emilio Azevedo, que ocorrerá segunda-feira (08/04), a partir das 11h, no Radiojornal Tambor.

A partir deste primeiro programa, a cidade e a Ilha de São Luis, seus problemas e soluções serão assuntos semanais, num quadro dentro do radiojornal Tambor, sempre com um convidado diferente.

Confira o Radiojornal Tambor às 11h no site: agenciatambor.net.br
Acesse https://www.mixcloud.com/ag-tambor/ para encontrar programas gravados.
#dedodeprosa 
#jornaltambor
#cidadedesaoluis
#planodiretor

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Livro: Manuela D’Ávila lança “Revolução Laura” em São Luís

“Revolução Laura” aborda a experiência de Manuela enquanto mulher e mãe na política. Evento acontece na Casa do Maranhão.

Considerada uma das maiores lideranças feministas do país na atualidade, a ex-candidata a vice-presidente da República em 2018, Manuela D’Ávila, estará em São Luís na próxima terça-feira (09) para o lançamento de seu livro “Revolução Laura: reflexões sobre maternidade e resistência”, lançado pela editora gaúcha Belas Letras.

O evento será realizado a partir das 18h, na Casa do Maranhão, com venda de exemplares, sessão de autógrafos e um bate-papo que contará com a presença do governador Flávio Dino. As inscrições para participação estão sendo feitas gratuitamente através da plataforma Sympla, no endereço: https://www.sympla.com.br/lancamento-do-livro-revolucao-laura—sao-luis-ma__492655

O livro, que teve a primeira edição esgotada em apenas 15 dias, retrata o desafio de uma mulher que aceitou o desafio de concorrer à presidência do Brasil e chegou ao segundo turno como candidata a vice-presidente sem abrir mão da maternidade. E mostra como ser mãe não somente revolucionou a vida de Manuela, mas intensificou a luta para que privilégios não existam mais.

“Quando a gente mudar a nossa cultura vai achar estranho pais que nunca estão com seus filhos. Alguém está. Esse alguém é a mãe. Isso tem relação com mulheres não ocuparem espaço público. É fácil, fácil pra um homem. Quando desfila com o filho, vira mito.”, diz a autora.

Já lançada em diversas capitais brasileiras, a obra se apresenta como um recorrido mental de impressões que parecem bilhetes, crônicas ou anotações simples. Foi escrito aos pedaços, durante uma longa trajetória em que Manuela percorreu 19 estados amamentando Laura em campanha presidencial e foi construindo uma nova forma de ocupação do espaço político.

A publicação é também uma jornada de aprendizado e acolhimento sobre privilégios; sobre as lutas para que privilégios não existam mais. É sobre direitos. É sobre feminismo e liberdade. É sobre afeto, carreira e amor, porque não tem sentido ser pela metade. É sobre estar e não estar; presença e ausência. Sobre acolher, sonhar um outro mundo e ser o outro mundo sonhado. Profundamente, é sobre uma revolução chamada Laura. Uma revolução de amor, de amor próprio, de potência.

SOBRE O LIVRO

Revolução Laura: reflexões sobre maternidade e resistência.

Editora Belas Artes, 2019. 192p.

Preço de capa: R$ 44,90.

SERVIÇO

O que?: Lançamento do Livro “REVOLUÇÃO LAURA: reflexões sobre maternidade e resistência”.

Onde? Casa do Maranhão, Rua do Trapiche, Praia Grande.

Quando?: Dia 09 de abril, a partir das 18h

Contato/Pauta: Samir Aranha. (98) 9.9135-2308 – aranha.sam@gmail.com

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São Pedro dos Crentes (parte 3): futebol é tabu na Assembleia de Deus

Ed Wilson Araújo

O blog publica a terceira reportagem sobre São Pedro dos Crentes, cidade encravada no sul do Maranhão, com aproximadamente 5 mil habitantes, fundada por fiéis da Assembleia de Deus nos idos de 1940. Nessa matéria abordo as relações entre os evangélicos e as práticas desportivas.

Você pode ver os textos anteriores aqui e aqui

As poucas opções de entretenimento na pequena São Pedro dos Crentes criam ambiente propício para a frequência às igrejas como principal fonte de sociabilidade entre os moradores.

Práticas desportivas, por exemplo, são assuntos delicados de tratar com os jovens. Nem precisa instigar muito para saber que entre o bônus e o ônus de ser assembleiano algo é frustrante – jogar futebol. Em síntese, os rapazes sentem-se meio intimidados porque a doutrina tem algumas restrições à arte da bola.

Repudiar o futebol não é consenso na Assembleia de Deus, mas na provinciana São Pedro dos Crentes este esporte é tratado como tabu. Alguns líderes religiosos proíbem a prática do esporte mais popular do Brasil; outros, interpõem restrições bíblicas aos fiéis. Nesta forma de ver o mundo, o futebol abriria caminho para os descaminhos como o consumo de álcool e outras práticas consideradas profanas.

O pastor Manoel Lima (vídeo abaixo), principal liderança religiosa de São Pedro dos Crentes e presidente da Comadesma (Convenção dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Maranhão), argumenta que o berço do futebol é o paganismo. “Baseado nas origens do futebol, que nasce como uma festa comemorativa a um deus pagão, por conta disso, o paganismo, que é uma grande idolatria e se torna um pecado diante das informações bíblicas, a Assembleia de Deus informa os crentes para se afastarem disso por conta que o pecado ofende a santidade Deus”, sintetizou Lima.

Pastor Manoel Lima: futebol é coisa de paganismo

O deus (do futebol) Pagão

No futebol, de fato, havia um deus para as torcidas do Santos e do São Paulo, clubes onde o centroavante goleador Paulo César de Araújo, o “Pagão”, fez sucesso com jogadas fantásticas nos anos 1950 e 60.

Pagão, o “bailarino clássico” do Santos, é inspiração para Chico Buarque
Pagão deixa o legado da camisa 9 e assinatura na súmula para o peladeiro Chico Buarque

Pagão era tão reverenciado que virou ídolo do cantor Chico Buarque, a ponto de o menestrel só jogar no Politheama com a camisa 9, em homenagem ao craque santista. Para o radialista Walter Dias o estilo de Pagão era de um “bailarino clássico”, tão habilidoso a ponto de ser comparado ao rei Pelé. Apenas no Santos Pagão jogou 345 partidas e marcou 157 gols. Buarque também presta homenagem ao seu ídolo assinando na súmula das peladas do Politheama o nome do jogador elegante que encantou multidões.

Segundo o professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), pós-doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pastor da Igreja Evangélica Congregacional, Lyndon de Araújo Santos, não existe qualquer fundamentação na História e nem nos textos bíblicos sobre a relação direta entre futebol e paganismo.

“O futebol moderno tem origem na Inglaterra, no contexto operário pós-segunda revolução industrial, nos fins do século XIX. Trata-se de uma prática esportiva secularizada, não necessariamente “pagã”. Se há alguma referência indireta entre futebol e religião, estaria na prática de um jogo de pelota entre os maias e astecas na América Colombiana, que seria um misto de futebol com basquete, um jogo ritual com uma bola que representava o conflito cósmico, em que os perdedores eram sacrificados. O conceito de paganismo é difuso e equivocadamente posto como sinônimo à idolatria”, explicou o pastor Lyndon Santos.

Pastor Lyndon Santos: o futebol tem origem no contexto operário da Inglaterra

As restrições da Assembleia de Deus ao futebol podem ter origem no puritanismo, conceito fundamental para a ascese protestante. Segundo Max Weber, na obra A ética protestante e o ‘espírito’ do capitalismo , ascese é o controle rigoroso e disciplinado sobre o corpo diante das tentações e prazeres do mundo. Essa austeridade implicava no corpo disciplinado para o foco principal do capitalismo – o trabalho diário e metódico como um dever religioso e a forma ideal de cumprir a vontade de Deus. Essa concepção puritana de vocação profissional, baseada na conduta ascética, é uma espécie de estilo padrão de vida capitalista.

Desde Lutero – argumentou o pastor Lyndon Santos – “a profissão foi interpretada como vocação divina, qualquer profissão, no intuito de desconstruir a exclusividade do clero como vocacionado por Deus. Todos, então, são sacerdotes, o sacerdócio universal dos santos. Calvino retoma esta ideia ao dizer que essa nova concepção de trabalho serviu para o desenvolvimento do espírito do capitalismo que, historicamente, emancipou-se da ética e da religião, como um sistema secularizado”.

Nessa perspectiva, o corpo está voltado para o trabalho tanto secular como o religioso. O crente assembleiano é aquele que realiza o “trabalho” ou a “obra de Deus”. Assim, o puritanismo via na prática dos jogos esportivos e nos prazeres da diversão algo meio nocivo à conduta de vida ordeira. Weber (p. 151-152) detalha o contexto da concepção puritana e a sua repulsa ao esporte: “Na verdade, aliás, a aversão do puritanismo ao esporte não era uma questão simplesmente de princípio […]. Apenas devia servir a um fim racional: à necessária restauração da potência física. Já como simples meio de descontrair e descarregar impulsos indisciplinados, aí se tornava suspeito e, evidentemente, na medida em que fosse praticado por puro deleite ou despertasse fissura agonística, instintos brutais ou o prazer irracional de apostar, é evidente que o esporte se tornara pura e simplesmente condenável. O gozo instintivo da vida que em igual medida afasta do trabalho profissional e da devoção era […] o inimigo da ascese racional, quer se apresentasse na forma de esporte “grã-fino” ou, da parte do homem comum, como frequência a salões de baile e tabernas.”

Pichações no muro do estacionamento do principal hotel de São Pedro dos Crentes associam Deus e dinheiro. Foto: Ed Wilson Araújo

De acordo com o pastor Lyndon Santos, o puritanismo foi uma corrente protestante oriunda do movimento calvinista (sécs. XVI-XVIII) que zelava pela pureza ética, moral e comportamental do fiel, como evidência da eleição e da salvação. Puritano é aquele(a) que, mesmo estando inserido no mundo rejeitava este mundo naquilo que ele tem de prazer, volúpia, tentação, luxúria etc. “Max Weber desenvolveu a ideia de um ascetismo intramundano como um elemento que fazia parte do calvinismo puritano. Esse ascetismo intramundano contrastava com o ascetismo católico medieval que era extramundano (a exemplo dos mosteiros). Neste ascetismo estava o trabalho como meio de demonstração da obediência e de santidade”, detalhou Santos.

Calvino – esclareceu Santos – retoma esta mesma ideia quanto a uma nova concepção de trabalho. Esta serviria para o desenvolvimento do espírito do capitalismo que, historicamente, emancipou-se da ética e da religião, como um sistema secularizado.

Ao pé da letra o puritanismo era levado em conta logo nos primórdios da fundação de São Pedro dos Crentes. Nos anos 1970, por exemplo, assistir televisão era um ato de pecado. Hoje os hábitos mudaram. As Assembleias de Deus no Brasil, na década de 1990, começaram a flexibilizar os usos e costumes, como assistir televisão, uso de roupas fora dos padrões conservadores, corte de cabelo, prática esportiva e maquiagem e adereços para as mulheres. Embora sejam preponderantes os traços do conservadorismo, a cidade campeã de votos para Jair Bolsonaro na eleição presidencial está repleta de inimigos do puritanismo – os bares e botecos.

Bar tem bebedeira e jogatina no acesso à rua do comércio e de serviços em São Pedro dos Crentes. Foto: Ed Wilson Araújo

Logo na entrada principal de São Pedro dos Crentes um “templo” da bebida alcoólica e da jogatina movimenta os fins de semana até com torneio de sinuca, música em alto volume e muita gente fumando. Os bares estão distribuídos em vários ambientes da área central da cidade, mas a concentração maior é na famosa rua da Vaquejada, lugar de concentração dos botecos, onde as festas rolam até altas horas, antes e depois dos cultos nas igrejas evangélicas.


As crentes Eldeni, Andreza e Eudeli, moradoras da rua da Vaquejada.
Foto: Ed Wilson Araújo

Eldeni de Oliveira Aguiar, 20 anos, é crente desde criança e filha de evangélicos. Ela é uma das moradoras da rua da Vaquejada. “Aqui tem uns cinco bares e um clube também. É muito complicado [morar na rua dos bares], mas a gente vai levando a vida”, descontraiu.

Na quarta reportagem da série vou abordar a divisão entre as congregações e lideranças evangélicas e partidárias em São Pedro dos Crentes.

Ref: Citação da obra A ética protestante e o “espírito” do capitalismo (Companhia das Letras, 2004), com edição de Antônio Flávio Pierucci.

Imagem: Pagão com a camisa de campeão paulista 1958 retirada deste site

Imagem: Pagão e Chico Buarque retirada deste site

Imagem: Pastor Lyndon Santos retirada deste site

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Abril com gosto de fel

O governo Jair Bolsonaro parece amaldiçoado. No setor da educação caíram dois raios no mesmo lugar. Ninguém se entende no Inep e a gráfica que imprimia as provas do Enem, faliu!

Para completar, bolsonetes e o próprio presidente dizem que o nazismo é de esquerda.

Por fim, posa com uma arma de alto poder destrutivo em Israel e o porta-voz da Presidência da República diz para os jornalistas não ficarem na frente do atirador.

Fecha o pano!

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Assembleia Legislativa precisa emitir nota oficial repudiando evento pró-ditadura militar

Editorial do jornal Vias de Fato cobra explicações sobre a permanência da divulgação de um evento pró-ditadura militar na Assembleia Legislativa (Alema). O presidente da Casa, deputado Othelino Neto (PCdoB), assegurou que a organização do evento sequer fez solicitação para realizá-lo nas dependências da Alema e que, se for feita a solicitação, será negada.

Falta, no entanto, uma nota oficial do poder Legislativo para ser distribuída nos meios de comunicação esclarecendo a opinião pública sobre a situação, porque a propaganda da extrema direita, envolvendo o nome do parlamento maranhense, continua.

Veja abaixo o editorial do jornal Vias de Fato.

Parlamento, ditadura, crimes e fake news

Não é possível ser tolerante com a intolerância. Não pode haver condescendência com os que defendem a barbárie. É preciso combater com firmeza aqueles que querem fraudar a história. A questão aqui é civilizatória.

Estamos falando do golpe de Estado dado no Brasil em 1.º de abril de 1964; que implantou uma ditadura sangrenta e hoje é exaltada pelo atual presidente do nosso país e alguns de seus seguidores.

Um exemplo disso foi uma atividade marcada para a Assembleia Legislativa do Maranhão, favorável ao golpe e a ditadura. O anúncio foi feito por uma livraria, que se apresentou como promotora do evento, ao lado de uma organização de extrema-direita. A ação foi marcada para o próximo dia 4 de abril, às 16 horas, no auditório Fernando Falcão, na sede do parlamento maranhense.

Nas redes sociais, a reação foi imediata. E diante da rápida repercussão negativa, o deputado estadual Othelino Neto (PCdoB), atual presidente da Casa, publicou em uma rede social, na noite do dia 28 de março, que considera “aviltante atos que reverenciam o golpe militar de 64”, afirmando também que “a Assembleia nem sequer recebeu pedido de cessão de espaços internos para esse evento”.

E ficam no ar as perguntas: baseado em quê anunciaram um evento na Assembleia com hora, local e palestrantes definidos? Foi uma provocação? Mais uma fake news? Quiseram criar um fato? Vão dizer que Othelino está mentindo? A livraria tem algum documento? Tem alguma liberação ou solicitação do espaço? Como anunciar um evento sem qualquer garantia que ele aconteça? É coisa de maluco? Ou piada de péssimo gosto? Enfim, por que um auditório da Assembleia aparece como sendo o local desse evento?

É bom que tudo isso seja devidamente esclarecido, até porque a exaltação da ditadura é hoje, cada vez mais, um problema sério em nosso país. O desastre decorrente do processo eleitoral brasileiro em 2018 deixou isso claro. A ditadura militar implantada no Brasil, a partir de abril de 1964, ainda precisa ser eficientemente denunciada. Existe muita desinformação, muita mentira.

Estamos falando de uma ditadura homicida, responsável por uma série de assassinatos. Um regime que promoveu inúmeras sessões de tortura, com requintes de crueldades, envolvendo até crianças, estupro de mulheres; incluindo mulheres grávidas! São crimes de lesa humanidade! O circo dos horrores foi rotina.

A ditadura liquidou a liberdade de expressão, fechou parlamentos, cassou mandatos, restringiu o Poder Judiciário, afastou juízes, censurou a imprensa, acabou com eleições, proibiu a organização social, calou artistas, prendeu e/ou expulsos do país inúmeros democratas. Muitos perseguidos e torturados recorreram ao suicídio. E vários desapareceram sem que ninguém, entre parentes e amigos, soubessem até hoje do seu paradeiro.

Sendo assim, em nome de todas as mulheres e homens, crianças e adultos que foram vítimas daquela ditadura, em nome de milhares e milhares de famílias que sofreram com aquela covardia absoluta, nós repudiamos toda e qualquer apologia a esse famigerado regime.

Em relação aos parlamentos brasileiros, eles precisam melhorar; melhorar muito! Mas com todas as suas distorções, contradições e problemas; eles precisam ser preservados enquanto instituições. Por isso, nunca fará sentido uma Assembléia Legislativa servir de palco, para aqueles que buscam justificar as atrocidades cometidas por uma ditadura.

  • Editorial Jornal Vias de Fato (31/03/19)