Nesse vídeo (Programa Bandeira 2), apresentado pelo saudoso jornalista Silvan Alves, o prof Ed Wilson Araújo apresenta os resultados da sua tese de doutorado para um grupo de ouvintes entrevistados durante o trabalho de campo.
Parte dos ouvintes integrava a Somar (Sociedade dos Ouvintes Maranhenses de Rádio), criada pelo saudoso João Carlos Gomes.
Na reportagem consta ainda o depoimento do jornalista e radialista Roberto Fernandes, um dos ícones dos programas comunitários com a participação dos ouvintes.
A tese já havia sido defendida na PUCRS e aprovada com louvor, depois transformada no livro “Ouvintes falantes: produção e recepção de programas jornalísticos no rádio AM”
João Carlos Silva Gomes faleceu quarta-feira (28 de julho), aos 60 anos de idade. Ele foi um dos entusiastas e fundador da Somar (Sociedade dos Ouvintes Maranhenses de Rádio), entidade que congrega a audiência dos programas jornalísticos das emissoras AM.
Nessa entrevista (ouça aqui) concedida para a pesquisa de doutorado sobre produção e recepção dos programas jornalísticos, João Carlos fala sobre a sua vivência de ouvinte e os primeiros passos para a organização da audiência participativa no rádio.
Uma das imagens mais emblemáticas do rádio podia ser vista com frequência por quem passava na esquina das avenidas Getúlio Vargas e Franceses, no Apeadouro, bairro tradicional de São Luís.
Ali funcionava um bar da família de João Carlos Silva Gomes; e ele, quando não estava atendendo à clientela, ficava grudado em uma atração muito especial no estabelecimento – o orelhão, de onde disparava telefonemas para as emissoras de rádio AM sediadas em São Luís.
Ele não só gostava de rádio, era um apaixonado pelo meio de comunicação que ainda ouvia no aparelho de pilha, sempre a postos, no trabalho ou em casa. João Carlos colecionava centenas de cartões telefônicos que utilizava diariamente nas ligações para as emissoras.
A cena descrita acima ficou na memória, assim como a sua voz, eternizada em incontáveis participações nos programas jornalísticos do rádio AM.
João Carlos faleceu quarta-feira (28 de julho de 2021), aos 60 anos de idade, vítima de câncer.
Ele se foi, mas deixa um legado no rádio porque plantou uma semente na organização da audiência.
Em setembro do ano 2000, os ouvintes que sempre telefonavam para os programas sentiram a necessidade de se conhecer pessoalmente e João Carlos foi um dos entusiastas da ideia de criar uma entidade que congregasse os radioapaixonados.
E assim começaram as primeiras articulações para o nascimento da Sociedade dos Ouvintes Maranhenses de Rádio (Somar), que chegou a ter um programa de rádio na Timbira AM, chamado “De ouvinte para ouvinte”.
A audiência reunida na Somar via em João Carlos um grande ativista. Ele falava quase diariamente nas emissoras e nos fins de semana visitava os ouvintes de casa em casa, estabelecendo laços afetivos e organizativos para a criação da entidade.
Através da Somar foi instituído também o Dia Estadual do Ouvinte (projeto apresentado pelo deputado Pavão Filho) e a entidade participou ativamente, através do rádio, do trabalho de esclarecimento da população visando à coleta de assinaturas para o projeto de iniciativa popular que desembocou na Lei da Ficha Limpa.
Ouça abaixo a entrevista concedida por João Carlos Silva Gomes, dia 27 de outubro de 2013, para a pesquisa de doutorado “O rádio tece a cidade”, do professor Ed Wilson Ferreira Araújo. O depoimento do presidente da Somar foi fundamental para a construção da tese, de nossa autoria, que está em fase de revisão para ser publicada em 2022.
João Carlos Silva Gomes deixa a esposa, Helena Gomes, e três filhos: Beatriz, 36 anos; Thiago, 35 anos; Rafael, 34 anos; e os netos Pedro Victor, 15 anos; e Arthur Vinicius, 12 anos.
Fica nesse registro o nosso imenso agradecimento pelo valoroso legado de João Carlos Silva Gomes para a História do rádio e o seu afeto pelos ouvintes. Que Deus o receba em paz.
Abril despedaçado no rádio do Maranhão. Em 21.04.2020 faleceu Roberto Fernandes. Pouco mais de um ano depois (28.04.2021) perdemos Carlos Henrique, o popular “Galinho Maravilha”. Ambos tombaram na batalha contra a covid19.
O sentido da perda é coletivo. Familiares, amigos, colegas de profissão, pesquisadores e a imensa audiência ficaram órfãos de duas vozes marcantes na comunicação de massa.
O “Programa do Galinho” foi uma das experiências mais longevas no rádio com o mesmo apresentador – Carlos Henrique – atuando durante 50 anos na rádio Educadora AM 560 Khz.
Em meio século, das 6h às 7h da manhã, ele comandou um programa preservando quase todas as características do rádio antigo: música, recados e avisos para os ouvintes espalhados pelo Maranhão afora, utilidade pública e umas pitadas de humor.
Carlos Henrique manteve sua audiência fiel ao longo de toda uma vida. Qual o segredo de tanto sucesso? Muitos fatores podem ser listados, mas um deles era perceptível: a linguagem simples. Galinho conversava com seus ouvintes. Era espontâneo. Só isso.
Roda Viva e Ponto Final
Roberto Fernandes tinha uma carreira profissional consolidada no Jornalismo. Ele foi um dos criadores do formado de programa radiofônico aberto à participação dos ouvintes, quando ainda trabalhava na rádio Educadora AM, onde passou longa temporada ancorando o “Roda Viva”, antes de mudar para a Mirante AM.
Na época, a mudança de emissora foi motivo de comoção por parte da audiência. Muitos ouvintes chegaram a cogitar que Roberto Fernandes não teria a mesma liberdade editorial se trocasse a emissora católica progressista pela rádio sob controle da oligarquia liderada por José Sarney.
Mas Roberto soube manter equilíbrio profissional e brilhou também como âncora no “Ponto Final”, onde a sua voz ficou eternizada na crônica diária denominada “Mensagem do Dia”, transformada em podcast e exibida atualmente na abertura do programa.
Silêncio e migração
As partidas de Carlos Henrique (78 anos) e Roberto Fernandes (61 anos) ocorrem no curso de novas transformações no rádio. Os locutores emblemáticos estão indo embora junto com as emissoras AM, em fase de migração para a FM.
Das seis AM outrora sediadas em São Luís (Educadora 560 Khz, Mirante 600 Khz, Difusora 680 Khz, Capital 1180 Khz, Timbira 1290 Khz e São Luís 1340 Khz) restam apenas três: Educadora, Mirante e Timbira.
A Difusora migrou para a Nova FM e a São Luís agora é Massa FM. A rádio Capital foi desativada após a destruição dos transmissores.
Alô! Alô! Bom dia! Um aviso pro interior No programa do “Galinho” Carlos Henrique anunciou Me traz um cavalo com cela e outro na cangalha Pra levar a carga Que a Turma do Saco mandou.
A letra dessa música traduz o papel fundamental do rádio na integração geográfica e afetiva da sua audiência. Nos anos 1960 e 70, quando muitas pessoas saíram do continente para morar em São Luís, em busca de trabalho ou formação profissional, uma das formas de “falar” com os parentes do interior era através do rádio, por meio de recados, cartas e avisos locutados nas vozes das “lendas” como Roberto Fernandes e Carlos Henrique.
Daqui a alguns anos o rádio AM ficará apenas na memória dos seus protagonistas. A migração é uma realidade como tantas outras mudanças processadas nas comunicações ao longo do tempo.
No entanto, o rádio vai sobreviver de outras formas. Ele não morre, apenas muda, faz adaptações e ressignificações, incorpora as novas tecnologias e segue em frente.
Existem várias formas de acessar as ilhas da Reserva
Extrativista (Resex) de Cururupu: pelo porto principal localizado na própria
sede do município ou nos povoados Pindobal e Ponta dos Almeida (Aquiles
Lisboa), portos secundários onde também é possível tomar embarcações e visitar
lugares belos na região das Reentrâncias Maranhenses, Floresta dos Guarás ou
Arquipélago de Maiaú (os três nomes designam a mesma região).
Chegando em Cururupu, você pode acessar uma estrada rural até chegar em Ponta dos Almeida (Aquiles Lisboa), com um deslocamento de aproximadamente uma hora (de carro). No primeiro semestre a estrada fica bastante danificada devido às chuvas intensas. Por isso é recomendável fazer a viagem entre os meses de agosto até dezembro.
Veja no vídeo abaixo como é feito o percurso de barco.
Mangunça é uma ilha pouco habitada e na área do “fundo da
ilha” está localizada a comunidade Taboa, onde vivem seis famílias.
Com belas paisagens de campos, mata, lagos, restinga, apicum,
dunas e praia, a Taboa é um lugar desafiador para conhecer. As imagens são de
Marizélia Ribeiro.
Não existem rotas convencionais de barcos nem pousadas para o eixo Mangunça/Taboa. Se você quiser desfrutar esses lugares tem de juntar uma turma corajosa e despojada, alugar uma embarcação e encarar a aventura.
Depois de sair da vila principal de Mangunça você segue de
barco até o pequeno porto de Taboa. Chegando lá, o deslocamento até a vila de
seis casas é feito de carroça e a pés.
Leve protetor solar, chapéu, repelente, saco de dormir, rede
ou barraca para acampar. A culinária é farta, principalmente peixe para comer
cozido, grelhado ou frito.
Esqueça o bucolismo. Na Taboa se trabalha muito, de chuva a
sol, com pescaria, criação de gado, ovinos e caprinos, pequena agricultura
familiar e extrativismo.
A vida é dura, mas você encontra pessoas muito agradáveis,
como Dutra, Deleon, Nalva, Nildo, Louro e tantos outros que nos receberam nas
suas casas.
Embora seja um lugar isolado, de difícil acesso, na Taboa os
moradores fazem adaptações com placas solares para obter energia que ilumina
das casas e fazem “rodar” aparelhos eletrodomésticos.
Veja como funciona o sistema de energia solar na casa de Nalva e Nildo.
O principal meio de comunicação ainda é o velho rádio AM. Sinal de celular é um sonho, mas um dia chega. Sem luz elétrica, um dos baratos em Taboa é acender uma fogueira e bater papo até tarde da noite, sob um deslumbrante céu estrelado.
Abaixo, veja como é a relação entre os moradores da Taboa e os programas jornalísticos de rádio AM.