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O rádio cada vez mais vivo

Hoje é o “Dia do Rádio”, em homenagem ao nascimento do educador, médico e antropólogo Edgard Roquette-Pinto, fundador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. 

Quando ouço um podcast jornalístico, de humor ou ficção fico cada vez mais animado com a ideia de que as mudanças nas produções do mundo sonoro incorporam os “velhos” gêneros e formatos do rádio convencional.

Um dos melhores podcast da minha lista é o “Café da Manhã”, da Folha de São Paulo. Simples, curto, direto no assunto, o programa tem uma dupla de apresentadores e todos os dias aborda um tema no “velho” formato de entrevista jornalística.

O “Café da Manhã” é o rádio vivo em mutação, disponível para escutar a qualquer tempo, de acordo com a demanda do ouvinte, em uma plataforma digital.

Embora tenha o suporte tecnológico diferente e agregue a vantagem de ouvir sob demanda, o melhor podcast da Folha de São Paulo é uma deliciosa entrevista convencional.

Novas mudanças estão em curso do mundo sonoro. A migração do AM para o FM já é uma realidade. E breve teremos o rádio digital no Brasil.

Mas, por enquanto, o “velho” meio demonstra sua força.

No Maranhão, por exemplo, o Governo do Estado está veiculando aulas preparatórias ao Enem nas “velhas” rádios AM, enquanto as atividades presenciais não voltam à normalidade devido à pandemia covid19.

Roquette-Pinto sempre pensou o rádio como um meio eminentemente educativo e essa perspectiva segue atualizada.

O jornalismo local e a prestação de serviços ganharam força com o advento das rádios comunitárias. Espalhadas em todo o Brasil, elas conversam diretamente com a população das cidades. Nos pequenos municípios essas emissoras são, na maioria das vezes, o único meio de comunicação. As comunitárias desempenham um papel fundamental na divulgação da produção cultural local, fazem as transmissões esportivas dos campeonatos intermunicipais, dos eventos e campanhas educativas de interesse público.

Quantos talentos musicais nos grotões do nosso país são revelados pelas rádios comunitárias! Durante a pandemia, elas tiveram um papel fundamental na educação da população, veiculando conteúdos sobre as medidas protetivas.

As inovações tecnológicas são sempre bem-vindas. A experiência da Rádio Web Tambor é auspiciosa em vários sentidos. Antes da pandemia tínhamos sede com estúdio físico e transmissão ao vivo pelo Facebook.

Quando a pandemia agravou, nós suspendemos as atividades presenciais e o principal programa diário – Jornal Tambor – passou a ser transmitido pelo Instagram.

Recentemente voltamos ao Facebook e abrimos um canal no YouTube com transmissão simultânea. Toda a equipe da Rádio Web Tambor continua trabalhando em suas casas.

Parte do Jornal Tambor é uma entrevista ao vivo. Depois da transmissão, o áudio é convertido em podcast – o TamborCast – disponibilizado no Spotfy e panfletado eletronicamente pelo WhatsApp.

O rádio é uma boa referência para pensar como o velho e o novo dialogam sempre, transformando as suas matrizes culturais em formatos industriais, como diria Jesús Martín-Barbero.

Aquele verso da música cantada por Lulu Santos … “tudo muda o tempo todo no mundo”… encaixa bem para pensar o rádio e as suas mutações.

Imagem destacada / Antes da pandemia os programas eram apresentados no estúdio físico da Rádio Web Tambor

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SILÊNCIO NA PODEROSA: a Difusora AM está muda(ndo)

Passei o dia juntando recortes para escrever esse artigo, concluído às 23h59min do domingo 16 de setembro de 2018, na virada do dia 17, quando a rádio Difusora AM (680 KHz) saiu do ar, materializando a migração para a Nova FM (93.1 MHz).

As últimas palavras na AM foram pronunciadas pelo radialista Jonas Mendes, que assumiu o microfone às 22h e conduziu a emissora até meia noite, quando os aparelhos foram desligados.

Ouça aqui os últimos minutos da transmissão da Difusora AM e aqui o momento da estreia da Nova FM.

E nesse áudio (completo) ouça a despedida da AM e o instante em que a FM entra em cena.

Esta emissora é a primeira de São Luís a fazer a migração. Foi inaugurada em 29 de outubro de 1955, de propriedade do fazendeiro Raimundo Bacelar. Passou 63 anos no ar, atravessando várias fases e mudanças na linha editorial.

Os pesquisadores no Maranhão têm um campo fértil para o trabalho de campo, e teórico, sobre o rádio. Daria para fazer um frondoso roçado. Falo especialmente do rádio AM, a nossa lavoura arcaica do mundo sonoro, pouco atrativa para os nativos digitais.

Como todas as AMs, a Difusora 680 Khz, codinome “a poderosa”, teve um papel importante na conexão entre os ouvintes de São Luís e dos municípios do continente, conectando os familiares dispersos na migração em busca de melhores condições de vida no fluxo de pessoas do interior para a capital. Programas como “Correio do Interior” e tantos outros sustentam este argumento.

A Difusora AM também notabilizou-se no cenário radiofônico maranhense em 1971, quando veiculou uma adaptação do programa “A guerra dos mundos”, de Orson Welles, originalmente veiculado nos Estados Unidos, em 1938, na CBS (Columbia Broadcasting System).

A transmissão local foi ao ar por dois motivos principais: o aniversário da Difusora AM e um teste informal para mensurar a força do rádio em São Luís, no início da década de 1970, quando a televisão começava a tomar a audiência do meio radiofônico em São Luís.

Entre 1997 e 2011, “a poderosa” foi arrendada e passou a transmitir a programação religiosa da Rede Aleluia, recolhendo neste período todos os formatos jornalísticos que sempre deram a tônica na grade, bem como a participação da audiência.

No futuro próximo os receptores de rádio virão sem a opção de AM

Passado tanto tempo, as AMs ainda cumprem papel fundamental na geopolítica do Maranhão, especialmente na programação jornalística, com a marca indelével dos ouvintes ativos. Esta recepção barulhenta, falante, crítica ou áulica, é parte importante na produção das emissoras.

O perfil da Nova FM 93.1 Mhz ainda é uma incógnita. O jornalismo, marca forte no rádio AM, vai “migrar” para o FM?? É uma pergunta de pesquisa. Por falar nisso, já está circulando o livro resultante do trabalho coletivo do Grupo de Pesquisa em Rádio e Mídia Sonora da Intercom. Com o título “Migração do rádio AM para o FM: avaliação de impacto e desafios frente à convergência tecnológica” (Editora Insular), a obra é coordenada pelas professoras Nair Prata (UFOP) e Nélia Del Bianco (UnB/UFG).

Toda mudança vem carregada de impacto. Muita gente lamenta a morte do AM, com saudosismo, tristeza e repúdio. O rádio, como tantos dispositivos tecnológicos, é sempre refeito e ultrapassado pelas novidades. Diversas vezes já decretaram a sua morte, mas ele resiste e se adapta aos ambientes de convergência cultural.

Na web, o rádio se reinventa com a mesma habilidade que saiu da condição de “vitrolão” nos momentos de crise, logo após a popularização da televisão.

Defensores da migração argumentam que essa mudança vai melhorar a qualidade do som (morre o chiado), abrirá mercado e competitividade no FM e tornará o rádio mais dinâmico, moderno e atraente.

Por outro lado, a migração vai deixar um vazio na audiência em lugares distantes, onde a FM não alcança (veja aqui).

Lugares distantes como a ilha de Lençóis, em Cururupu, só sintonizam emissoras AM do Maranhão e Pará

A migração é tudo ao mesmo instante porque o radio é um meio mutante, o próprio sentido da fênix, renascendo das suas matrizes culturais metamorfoseadas nos formatos industriais, como diria Martín-Barbero.

Este artigo não pode acabar sem tocar no assunto central: comunicação é poder! A rádio Difusora AM fazia parte do Sistema Difusora de Comunicação (SDC), formado também pela TV Difusora, rádio Difusora FM, portal idifusora.com, além de outros meios eletrônicos em diversas cidades maranhenses sob o domínio do senador e candidato à reeleição (2018) Edison Lobão (MDB), ex-ministro das Minas e Energia no governo Dilma Roussef (2011-1014) e ex-governador do Maranhão (1991-1994).

O SDC sempre funcionou como linha auxiliar do maior império midiático do Maranhão, o Sistema Mirante de Comunicação, controlado pela família do ex-presidente José Sarney.

Lobão & Sarney usaram as suas máquinas de jornalismo e propaganda como peças estratégicas no processo de construção hegemônica no Maranhão.

Após a vitória do governador Flávio Dino (PCdoB), derrotando Roseana Sarney (MDB) em 2014, o jornalismo da TV Difusora e da rádio Difusora FM mudaram suas linhas editoriais, aproximando-se das teses do Palácio dos Leões. A adesão seria fruto de um arrendamento pilotado pelo deputado federal e candidato a senador Weverton Rocha (PDT), aliado de Flávio Dino.

A Difusora AM ficou de fora do arrendamento e manteve uma linha editorial crítica ao governo, causando um estranhamento à audiência desavisada sobre a mobilidade da política no Maranhão, qual seja: no mesmo grupo de comunicação havia uma guerra declarada ao Palácio dos Leões na AM (em todos os programas jornalísticos). O mesmo não acontece na TV e na FM, onde o governo é bem tratado.

Outro dia, dando aula para estudantes da UFMA, refletia sobre o controle político nos meios de comunicação. O coronelismo eletrônico é tão violento no Brasil, em especial no Maranhão, que às vezes o público lê, assiste e ouve muitas narrativas em diversas plataformas jornalísticas, mas poucas se aproximam da verdade.

A Difusora AM está muda. No seu lugar surge a Nova FM, que soma outra emissora ao mesmo grupo político já detentor da Difusora FM.

A migração tem essas nuances. Serve também para concentrar poder. E os ouvintes, tão falantes no AM, terão voz na FM?

É o que se espera. Afinal, rádio sem ouvintes falantes é monotonia.

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Livro sobre migração do rádio AM para FM será lançado em dois eventos nacionais

O livro Migração do rádio AM para o FM – Avaliação de impacto e desafios frente à convergência tecnológica será lançado durante a realização de dois eventos: o 28º Congresso Brasileiro de Radiodifusão, no dia 22 de agosto, em Brasília e o 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, dia 7 de setembro, em Joinville. A obra, coordenada pelas professoras Nair Prata (UFOP) e Nélia Del Bianco (UnB/UFG), apresenta os resultados de uma pesquisa nacional que busca entender o impacto da migração do rádio AM para o FM no Brasil.

A investigação contou com a participação de quase uma centena de pesquisadores de todo o país, que entrevistaram 238 emissoras de rádio migrantes. Os resultados são apresentados em três capítulos do livro. No primeiro, é traçada uma linha do tempo do processo de construção da política pública da migração do AM para o FM. A análise dos resultados da investigação em âmbito nacional está no segundo capítulo. E, por fim, no terceiro capítulo, 77 autores interpretam os dados de cada estado à luz da história da formação do mercado de radiodifusão regional.  Participam da pesquisa os seguintes estados: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins, além do Distrito Federal.

A investigação é fruto do projeto de pesquisa “Migração do rádio AM para o FM: análise do processo, sustentabilidade, audiência e impacto no conteúdo, programação, profissionais e estratégias de relacionamento com a audiência”, do Grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora da Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Foi desenhado a partir de duas situações: emissoras AM que assinaram o termo de outorga e estão transmitindo em FM e emissoras AM que assinaram o termo de outorga, mas ainda não iniciaram as transmissões em Frequência Modulada.

O objetivo principal da pesquisa foi entender o processo de migração sob os aspectos relacionados ao processo de mudança – investimentos necessários à mudança; expectativa de aumento de faturamento e audiência; reconfiguração do conteúdo e da programação para se adaptar à nova frequência; mudanças na equipe de profissionais; construção de  estratégias de relacionamento com a audiência; e reposicionamento da marca da rádio no FM.

A coleta dos dados foi feita por meio de questionário online aplicado junto às emissoras. De novembro de 2017 a abril/maio de 2018 os pesquisadores saíram a campo para o preenchimento do instrumento de pesquisa e, em maio/junho, os grupos de cada estado analisaram os dados coletados e escreveram os textos que compõem o livro.

O livro, publicado pela Editora Insular (www.insular.com.br), tem dois prefácios: um da coordenadora do Grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora da Intercom, professora Valci Zuculoto (UFSC) e o outro do diretor geral da ABERT, Luís Roberto Antonik.

Segundo uma das coordenadoras do projeto, professora Nair Prata, “fazer pesquisa empírica com tal extensão não é uma tarefa simples, mas os dados que vêm à luz compensam todo o empenho na investigação”. A outra coordenadora, professora Nélia Del Bianco, explica: “Com este trabalho, desvelamos um rádio que se esforça nas tentativas de se reinventar, buscando novos públicos, novas formas de sustentabilidade e novos modos de sobrevivência em um ecossistema midiático em profunda reconfiguração”.

Autores

 

Coordenação

Nair Prata

Nélia R. Del Bianco

Acre

Mônica Iurk

Fátima Bandeira

Alagoas

Lídia Ramires

Amapá

Paulo Vitor Giraldi Pires

Patrícia Teixeira Azevedo Wanderley

Amazonas

Edilene Mafra

Eliena Monteiro

Manoela Moura

Bahia

Eliana Albuquerque

Distrito Federal

Carlos Eduardo Esch

Espírito Santo

Edgard Rebouças

Goiás

Nélia R. Del Bianco

Mauro Celso Feitosa Maia

Maranhão

Carlos Benedito Alves da Silva Junior

Ed Wilson Ferreira Araujo

Jefferson Saylon Lima de Sousa

Nayane Cristina Rodrigues de Brito

Robson Silva Corrêa

Rodrigo Nascimento Reis

Roseane Arcanjo Pinheiro

Rosinete de Jesus Silva Ferreira

Mato Grosso do Sul

Hélder Samuel dos Santos Lima

Daniela Cristiane Ota

Minas Gerais

Cândida Borges Lemos

Debora Cristina Lopez

Kamilla Avelar

Paula de Souza Paes

Waldiane Fialho

Luana Viana

Pará

Netília Silva dos Anjos Seixas

Jessé Andrade Santa Brígida

Paraíba

Norma Meireles

Olga Tavares

Goretti Sampaio

Paraná

Ana Carolina de Araújo Silva

Claudia Irene de Quadros

Elaine Javorski

Flavia Lúcia Bazan Bespalhok

Graziela Bianchi

Lidia Paula Trentin

Pernambuco

Andrea Trigueiro

Daniel Ferreira

Elano Barbosa Lorenzato

Piauí

Evandro Alberto de Sousa

Orlando Berti

Rio de Janeiro

Helen Pinto de Britto Fontes

Rhanica Evelise Toledo Coutinho

Rio Grande do Norte

Adriano Lopes Gomes

Alexandre Ferreira dos Santos

Ana Lúcia Gomes

Ciro José Peixoto Pedrosa

Deyse Alini de Moura

Edivânia Duarte Rodrigues

Emanoel Leonardo dos Santos

Hélcio Pacheco de Medeiros

Jeferson Luís Pires Rocha

Rio Grande do Sul

Dulce Mazer

Diego Weigelt

Rondônia

Evelyn Íris Leite Morales Conde

Roraima

Pedro Henrique da Silva Ribeiro

Antonia Costa da Silva

Santa Catarina

Valci Regina Mousquer Zuculoto

Karina Woehl de Farias

Beatriz Hammes Clasen

Guilherme Gonçales Longo

Ediane Mattos

São Paulo

Roberta Baldo Bacelar

Maria Aparecida de Paiva da Cruz

Adriana Maria Donini

Marcos Júlio Sergl

Misaki (Mii Saki) Tanaka

Lenize Villaça

Sergipe

Mario Cesar Pereira Oliveira

Paulo Victor Melo

Tocantins

Valquíria Guimarães da Silva

Marluce Zacariotti