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Edmar Oliveira lança “Crônicas de um Piauinauta”, em São Luís

Obra tem o selo da editora Passagens e reúne textos sobre “a sombra do século passado” projetada na atualidade. Lançamento terá uma roda de conversa com o autor e o professor Flávio Reis, no Chico Discos, dia 22 (sábado), às 17h. Livro tem acesso gratuito para download (veja o link no final da postagem)

Piauiense do sertão, radicado no Rio de Janeiro há mais de 40 anos, Edmar Oliveira é um conhecido médico psiquiatra. Viveu a efervescência da contracultura, em Teresina, através da participação no jornal alternativo Gramma e como protagonista do curta de Torquato Neto, O Terror da Vermelha, filmado em 1972.

No Rio, trabalhou com Nise da Silveira e se alinhou à luta antimanicomial. Foi diretor do Instituto Municipal Nise da Silveira, no Engenho de Dentro (RJ). Aposentado do serviço público, considera-se um escritor tardio, tendo publicado dois livros sobre a prática em Saúde Mental (sendo Ouvindo Vozes, o mais conhecido), três romances, entre os quais, Sitiado, romance histórico sobre a passagem da Coluna Prestes no Nordeste, e Não Existe Pretérito Perfeito, ambientado nos anos de chumbo da ditadura. Além disso, escreveu contos e muitas crônicas.

Seu livro mais recente, Crônicas de um Piauinauta, publicado pela editora Passagens, é uma seleção de textos escritos entre 2007 e 2017 no blog intitulado Piauinauta, focando um período crucial, em que passamos da euforia do avanço inclusivo petista ao pesadelo da regressão bolsonarista. Divididas em cinco partes, a obra no coloca em contato direto com o estranho mundo que foi se configurando a partir de então.

Atento aos sinais nem sempre percebidos, em meio à fabricação de espetáculos que dominam o cotidiano, Edmar indica logo de cara como percebe o espírito do nosso tempo, ao afirmar que este é “um século que ainda não começou”. Observação provocante e certeira: com todo o avanço tecnológico e os impactos sociais resultantes, é a sombra do século passado, de suas guerras e impasses ideológicos, que se eleva sobre nossas sociedades nos dias que correm.

O olhar arguto de Edmar, a ironia desconcertante e sua escrita enxuta encontram o ponto alto na forma da crônica. Ler este livro é rever alguns sinais gritantes do cotidiano, presentes no noticiário, que delineavam o quadro distópico da atualidade.

Abaixo, a orelha do livro Crônicas de um Piauinauta, que será lançado no próximo sábado, 22/06/24, no Chico Discos:

“UM SÉCULO QUE NÃO COMEÇOU

Neste livro lemos minicrônicas discorrendo e escritas, quase sempre, em cima de acontecimento recente. Com a publicação agora, essa distância ganha um significado surpreendente. São relembrados acontecimentos importantes, que foram esquecidos por falta de espaço nas nossas memórias, atacadas por bordoadas de informações da modernidade digital. E, muitas delas, com relevância para a espiral da História, mesmo que, no momento em que foram escritas, parecessem não ter qualquer ligação. As impressões da realidade prenunciavam o vulcão da idiotia nacional, que logo aconteceria.

Como se o século anterior tivesse aprisionado a espiral da História, o que só se percebe agora, numa leitura com distanciamento.

Este é um século que ainda não começou, apesar do avanço tecnológico. Prisioneiros do século XX, 1964 retorna e nos surpreende, com uma farsa que, felizmente, não se afirmou. Mas será que nos livramos dele, quando a extrema-direita ousou aparecer sem vergonha em todo o planeta?”

Segue o link da versão em e-book: https://editorapassagens.blogspot.com/2024/01/cronicas-de-um-piauinauta.html

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2ª Mostra de Sotaques reúne cantadores e grupos juninos na praça Deodoro

Nesta quarta, dia 19 de junho, a diversidade de ritmos e sotaques do nosso São João terá um encontro de percussionistas, compositores e cantadores na 2ª edição da Mostra de Sotaques.

O evento é aberto ao público e abre a programação do Balaio de Sotaques do Sesc Deodoro, a partir das 17h. O Arraial no Sesc Deodoro acontece nos dias 21, 22 e 24 de junho, das 18h às 22h.

Com uma proposta educativa, a “Mostra de Sotaques” traz as apresentações diversas onde os artistas vão explicar a origem dos grupos, bem como conversar com o público sobre as características de cada ritmo e os instrumentos usados nas produções.

Na segunda edição da mostra, o público vai festejar e se divertir com o show “Toques, cantos e encantos” com as caixeiras da Mestra Roxa, tambor de Crioula Oriente, Dança do Lelê de São Simão, Cacuriá Balaio de Rosas, Dança do Coco Pirinã e Boi do Mestre Basílio (sotaque zabumba). A noite encerra com um show musical do Grupo Criou-lá. 

Natural do quilombo Santa Rosa dos Pretos, Itapecuru-Mirim, desde criança Mestra Roxa acompanhava sua mãe e as demais caixeiras nos festejos da sua terra local. Ela espalha as sementes de saberes ancestrais tanto nas festas do Divino Espírito Santo como caixeira régia e coreira do Tambor do Mestre Felipe.

O Tambor de Crioula Oriente foi criado a partir dos trabalhos sociais realizados com jovens na comunidade Vila Passos. Seus compositores e intérpretes compõem músicas próprias com temas ligados à história afro-brasileira, resistência negra e atualidades maranhenses e brasileiras.

A Dança do Lelê de São Simão é centenária e chega ao Balaio de Sotaques com sua música de melodias e versos improvisados ao som do cavaquinho, rabeca, violão, pandeiro, tambor e cabaça. Natural das regiões de Rosário e São Simão, a manifestação teve o comando do senhor Laurentino Cardoso Sacramento, que muito contribuiu com a cultura maranhense.

A alegria e a tradição são marcas do trabalho do Cacuriá Balaio das Rosas, antigo Cacuriá de Dona Teté. Detentora do título honorável de dama da cultura popular maranhense, Teté se transmutou em um símbolo do nosso estado, imortalizada em suas canções, seu toque de caixa e sua paixão pela cultura popular.

Com a riqueza do ritmo e dos cantos inspirados nos babaçuais do interior do Maranhão, a Dança do Coco é uma brincadeira dançante em roda acompanhada de muita cantoria. A sonoridade fica ainda mais bonita com as batidas do côco que os dançarinos carregam nas mãos. Com mais de 50 anos de trajetória, o Coco Pirinã é um dos principais grupos do Maranhão.

O bumba meu boi de Mestre Basílio é originário do município de Guimarães (MA), na região da Baixada. De raiz essencialmente negra, o sotaque de zabumba tem uma cadência forte e marcante. O grupo é composto por 70 brincantes, entre vaqueiros, tapuias, chapéus de fita, campeadores, cantadores e tocadores.

O grupo “Criou lá” faz um show vibrante, dançante, com uma proposta que vai além do entretenimento. Músicas com letras fortes, estética sonora ousada e variedades de ritmos aos sons dos nossos tambores, revelando a forte identidade do Maranhão na atitude, poesia e conceito.

A agenda do Sesc Balaio de Sotaques contempla todas as manifestações culturais e o arraial resgata a força e a beleza das nossas tradições. Mais do que entretenimento, o Balaio de Sotaques tem como proposta educativa a valorização da identidade maranhense por meio da celebração da cultura e da difusão das manifestações, transmissão de saberes oriundos desse universo em que a memória, a ritualidade, a oralidade e a ancestralidade estão presentes.

MOSTRA SOTAQUES

Local: Praça do Pantheon (ao lado da Deodoro)

Dia: 19 (quarta-feira)

17h – Show musical “Toques, cantos e encantos”, com Mestra Roxa

17h30 –  Tambor de Crioula Oriente

18h – Dança do Lelê de São Simão

18h30 – Cacuriá de Dona Teté

19h30 – Dança do Coco Pirinã

20h – BMB do Mestre Basílio (Z)

21h – Show musical, com Grupo Criou-lá

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Bandeirinhas e os ‘novos’ bandeirantes no Maranhão

Se feita de forma adequada, é politicamente correta a cobrança da colocação de bandeirinhas no Centro Histórico de São Luís.

Os festejos e a decoração atraem turistas, movimentam a cadeia produtiva do São João e geram renda em diferentes camadas da sociedade: do empresário ao vendedor ambulante.

No entanto, não é adequada a postura do jovem que gravou um vídeo insultando o governador e outros gestores diretamente responsáveis pela decoração.

O rapaz revelou a sua indignação com insultos típicos da terra arrasada que se instalou no Brasil bolsonarista.

Uma coisa é reivindicar políticas públicas da Cultura. Há espaços e métodos adequados para isso.

Outra coisa é usar as redes sociais para insultar gestores publicamente, reforçando uma prática que vem se tornando usual do ambiente político.

Xingar e agredir verbal ou fisicamente os adversários ou gestores são atos deploráveis que atentam contra a democracia.

O que pode parecer uma brincadeira juvenil é algo sério demais. Foi com esse tipo de comportamento que uma horda de brutalidade tentou um golpe em 8 de janeiro de 2023.

ORNAMENTAÇÃO x DEVASTAÇÃO

Como dito acima, é pertinente a cobrança da instalação de bandeirinhas. No entanto, enquanto as atenções se voltam para a ornamentação do Centro Histórico, um gigantesco processo de devastação acontece no Maranhão.

Quilombolas, indígenas, comunidades tradicionais, extrativistas e os trabalhadores da agricultura familiar sofrem todos os tipos de violência no campo.

O Maranhão parece recuar ao século 16, quando as expedições denominadas entradas e bandeiras dizimaram e escravizaram indígenas e pilharam as nossas riquezas naturais.

Os bandeirantes cometeram todos os tipos de atrocidade para escravizar mão de obra indígena em busca por ouro, prata e diamante.

Nessa altura do século XX está em curso o maior de todos os processos de destruição dos recursos naturais, no Maranhão, pelo agronegócio.

As empresas do agro, os grileiros e latifundiários são os novos bandeirantes, nesta versão armados com tratores e aviões.

O campo no Maranhão está em guerra: de um lado, as comunidades tradicionais resistindo às violências generalizadas; de outro, o ogro.

Genericamente denominados “gaúchos”, os novos bandeirantes usurpam terras, destroem o patrimônio material e imaterial das comunidades tradicionais, vilipendiam as formas de vida ancestrais e cometem todos os tipos de abuso contra os direitos humanos.

Tudo isso ocorre sem que o Governo do Estado tome medidas enérgicas para regular as licenças ambientais e conter as mortes e ameaças contra mulheres e homens extrativistas e agricultores.

Nesse cenário, camponeses vivem um clima de terror no Maranhão. Suas terras são tomadas à força, os rios e o ar estão contaminados pela pulverização de veneno, as fontes de produção de alimentos escasseiam dia a dia, aumentando a fome e a miséria.

Tudo bem que as bandeirinhas são importantes, mas o Maranhão arde em uma fogueira de violência sem limites, transformando tudo em cinza.

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Andes repudia o PL da Gravidez Infantil

NOTA DA DIRETORIA DO ANDES-SN DE REPÚDIO AO PL Nº 1904/2024 (CONHECIDO COMO “PL DA GRAVIDEZ INFANTIL”)

O ANDES-SN tem posição sobre o aborto: somos e lutamos pela legalização do aborto, não queremos meninas, mulheres e pessoas que gestam presas ou mortas! As resoluções congressuais do Sindicato Nacional nos colocam ao lado dos movimentos de mulheres e feministas na defesa por justiça reprodutiva. Diante disso, compreendemos que a aprovação da tramitação, em regime de urgência, do PL no 1904/2024, na última quarta-feira (12/06), foi um golpe e um ataque aos direitos de meninas, mulheres e pessoas que gestam.

O PL da Gravidez Infantil equipara aborto a homicídio, alterando a legislação existente, que permite a gestações de risco, resultantes de um estupro que apresente risco à vida da mulher ou que tenham um diagnóstico de anencefalia fetal, o direito de interromper a gravidez de forma legal, gratuita e segura. Este projeto, além de violar os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, garantidos desde 1940, criminaliza as mulheres que efetuarem aborto depois de 22 semanas de gestação, condenando-as a até 20 anos de prisão.

As meninas, mulheres e pessoas que gestam vítimas de estupro serão obrigadas a gestar o fruto da violência sofrida. Entre estas mulheres, as meninas menores de 14 anos serão as mais penalizadas, uma vez que são as maiores vítimas de estupro (60% das vítimas) e as que recorrem tardiamente ao sistema de saúde, por terem dificuldade de identificar a gestação. Além disso, poderão ser julgadas pelo Juizado da Infância e da Juventude e encaminhadas para internação no sistema socioeducacional. A situação piora para as meninas vulneráveis socialmente e as negras, as quais têm menos acesso a atendimento à saúde e são as que mais sofrem com a violência obstétrica.

O ANDES-SN faz coro com os movimentos que declaram assertivamente “Criança não é mãe, e estuprador não é pai”. Não podemos admitir que crianças vítimas de violência continuem sendo violentadas pelo Estado, o qual obriga que meninas interrompam sua infância ou sejam penalizadas por resistirem ao resultado dos abusos que lhes foram deferidos.

Nem presas e nem mortas!

Criança não é mãe!

Gravidez forçada é tortura!

Brasília (DF), 14 de junho de 2024.

Diretoria do ANDES – Sindicato Nacional

(Foto: Roberto Parizotti/FotosPublicas)

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Nota de apoio à defensora de direitos humanos Renata Souza

O Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH), articulação com 48 organizações da sociedade civil e movimentos sociais, vem a público manifestar extrema preocupação, além de total apoio e solidariedade, a defensora de direitos humanos e deputada estadual (PSOL), Renata Souza, que na madrugada de segunda-feira (10/06), recebeu ameaças encaminhadas para o e-mail institucional dela e de contatos de sua equipe, com conteúdo racistas e misóginos.

No e-mail, além de proferir ofensas racistas e misóginas, a pessoa diz que ela ela será uma “mulher morta”. A ameaça enviada à parlamentar afirma ter todos os dados pessoais da deputada e que, por ser menor, nada acontecerá com ele.

“Nada pode me parar, sou menor, réu primário. Vai dar em cesta básica. Você é uma mulher morta, aproveite bem os dias enquanto eu não tomo sua vida à força. Lembre-se do meu nome, pois não tenho medo de nada […]. Sou eu quem vou te tirar dessa pra uma melhor, pele de merda”, diz um trecho do e-mail.

Para o CBDDH, as intimidações racistas e ameaças de morte feitas contra deputadas do PSOL fazem parte de um quadro de violência política instalado no país nos últimos anos. O discurso de ódio e ameaças de assassinatos tem como alvo defensoras de direitos humanos parlamentares, principalmente mulheres negras e/ou com atuação pela defesa de direitos reprodutivos das mulheres, LGBTQUIAPN+ e da população negra.

O objetivo é intimidar as/os parlamentares nas casas legislativas e nas ruas, causar impactos e paralisar as atividades delas, especialmente em anos em que há corrida eleitoral em curso no Brasil, como agora em 2024.

Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, a parlamentar registrou boletim de ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), nesta terça-feira (11/06). No perfil da rede social X (antigo Twitter), a deputada, destacou que é uma mulher preta, favelada e grávida, eleita com a “força do voto de 174.132 pessoas”, e que não será interrompida.

“Carrego em meu ventre uma nova vida, um novo futuro. Também carrego a luta em defesa das favelas e das periferias, das mulheres, da população LGBTI+. Tudo isso me torna um alvo de ódio, de discursos misóginos, racistas e violentos, que tentam intimidar e frear minhas ações junto com coletivos de resistência. Mas NÃO SEREI INTERROMPIDA!

Renata Souza tem 41 anos é jornalista e doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nascida e criada no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, em 2018, foi eleita deputada estadual.

Outras ameaças 

Essa não é a primeira vez que a parlamentar registra um boletim de ocorrência na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), da Polícia Civil do Rio, após receber ameaças, em 2020. Souza acionou a polícia após intimidações pelas redes sociais.

À ocasião, a deputada recebeu mensagens de uma pessoa que ameaçou sua vida e disse “você fala de mais (sic)… Vai perder a linguinha“. E a pessoa seguiu na mensagem: “por isso que Marielle (sic) morreu“, em referência ao assassinato da vereadora Marielle Franco. Renata foi assessora parlamentar de Marielle Franco até o brutal assassinato da vereadora junto com seu motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018.

Nesse sentido, o Comitê repudia veementemente a violência política sofrida pela deputada Renata Souza e vem a público exigir celeridade na investigação destas graves ameaças pelas autoridades competentes.

Violência Política a DDHs

A violência política não impacta só a vida e a integridade das defensoras e defensores, mas é um ataque direto à democracia brasileira. Proteger defensoras e defensores parlamentares contra esse tipo de violência é garantir diversos direitos humanos, ao mesmo tempo.

Neste contexto, com intuito de enfrentar a violência política nas Eleições, o Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH) lançou em 2022, o Guia Prático: Proteção à Violência Política Para Defensoras e Defensores de Direitos Humanos.

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Manifestação em São Luís repudia o PL do Estupro

O Fórum Maranhense de Mulheres, Movimento de Mulheres em Luta, Mãe Andresa, Maria Firmina, Mulheres do PT e do PSTU, Juventude Rebeldia e Núcleos de Pesquisas da UFMA e UEMa convidam para o ato contra o PL que protege o estuprador e criminaliza a a vítima de estupro.

A manifestação está convocada para a tarde dessa sexta-feira, 14 de junho, a partir das 17 horas, na praça Nauro Machado.

Compartilhe e convide mais uma, mais um pra esse ato!

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Mulheres mobilizadas contra o PL do Estupro

CRIANÇA NÃO É MÃE, ESTUPRADOR NÃO É PAI!

Na última terça-feira, dia 12, o conservadorismo opressor que caracteriza esta Câmara dos Deputados do Brasil demonstrou mais uma vez sua face ao aprovar – em regime de urgência – o Projeto de Lei 1904/24, de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e outros 32 parlamentares. O projeto equipara o aborto de gestações com mais de 22 semanas ao crime de homicídio, um movimento que marca um retrocesso alarmante nos direitos reprodutivos das mulheres brasileiras.

Atualmente, o aborto no Brasil é permitido em três situações: quando a gravidez é resultado de estupro, quando há risco à vida da gestante e em casos de anencefalia fetal. Essas exceções são garantidas desde 1940 e visam proteger a saúde e os direitos das mulheres em situações extremas. No entanto, o novo projeto de lei altera drasticamente essa realidade, limitando o aborto legal apenas até a 22ª semana de gestação, mesmo em casos de estupro.
Equiparar o aborto ao homicídio em gestações com mais de 22 semanas é uma medida cruel e desumana. Muitas vítimas de estupro, especialmente meninas e adolescentes, demoram a buscar ajuda devido ao trauma e à falta de acesso à informação. Penalizar essas vítimas com penas que podem chegar a 20 anos de prisão é uma afronta à justiça. É inadmissível que uma mulher que aborta devido a um estupro possa receber uma pena maior do que o próprio estuprador, cuja pena média é de 15 anos.

Um grupo de 18 entidades do setor se uniram para criar a campanha “Criança Não é Mãe”, que caracteriza as mudanças propostas na lei como o “PL da Gravidez Infantil”. Segundo os criadores do movimento, a alteração na legislação prejudicará principalmente as crianças menores de 14 anos, que representam o maior grupo que necessita dos serviços de aborto após o terceiro trimestre. Segundo eles, nessa faixa etária — em que qualquer gravidez é fruto de um estupro presumido —, há mais demora em descobrir ou mesmo identificar uma gestação. Além disso, em dois terços dos casos, o autor do estupro é da própria família da menina — o que inibe a vítima de procurar serviços de saúde ou de denunciar o crime para as autoridades logo nas primeiras semanas de gravidez. A campanha ainda destaca que a eventual mudança na lei significará que os envolvidos no aborto poderão ser condenados pelo crime de homicídio simples, com pena de prisão de até 20 anos. Enquanto isso, a legislação estabelece uma pena de cerca de 10 anos — ou metade do tempo — para o crime de estupro. Revoltante.

O autor do projeto, Sóstenes Cavalcante, admitiu que a proposta visa “testar” o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu comprometimento com os evangélicos.
Este uso cínico da legislação para ganhos políticos é um ultraje. O presidente da Câmara, Arthur Lira, ao colocar o projeto em regime de urgência, demonstra uma clara tentativa de manipular a agenda legislativa para assegurar apoio político e impor uma pauta tão nociva quanto sádica.
As mulheres mais afetadas por essa legislação serão as negras e pobres, que já enfrentam barreiras significativas ao acesso à saúde e justiça. De acordo com o Atlas da Violência, a maioria das vítimas de estupro no Brasil são mulheres negras e crianças. Este projeto de lei não só ignora essa realidade, como a agrava, aumentando a discriminação e a violência contra essas populações vulneráveis.

É revoltante observar que, mais uma vez, são homens brancos tomando as piores decisões possíveis sobre os corpos de mulheres pobres, pretas e periféricas.
O Projeto de Lei 1904/24 representa um retrocesso sem precedentes nos direitos reprodutivos das mulheres no Brasil. Em um momento em que países como a França celebram a inclusão do direito ao aborto na Constituição, o Brasil caminha na direção oposta, restringindo ainda mais os direitos das mulheres. A aprovação em regime de urgência, sem o devido debate e consideração nas comissões, é um desrespeito ao processo democrático e à voz das mulheres brasileiras.

Este texto é um chamado à indignação e à empatia. Não podemos aceitar que as vidas e os direitos das mulheres sejam usados como peões em jogos políticos. Devemos nos unir em defesa dos direitos reprodutivos, da saúde e da dignidade das mulheres brasileiras. O Projeto de Lei 1904/24 é um retrocesso perigoso e deve ser rejeitado com veemência.

Pela vida das mulheres e meninas do Brasil, pela justiça e pela humanidade, dizemos não ao PL 1904/24.

Amanda Corcino
Secretária da Mulher Trabalhadora da CUT

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Diálogos sobre ficção televisiva

O I Workshop de Estudos e Pesquisas em Ficção Televisiva, evento produzido e realizado conjuntamente pelos grupos de pesquisa ObEEC(UFMA), GP de Ficção Televisiva Seriada (Intercom), Grupa (PPGCOM-UNIP) e GELiDis (ECA/USP), terá palestra de abertura presencial pela Profa. Clarice Greco (PPGCOM-UNIP).

A palestra será realizada no ETC-Hub (UFMA), dia 19 de junho, às 15h. 

As demais serão on-line e você pode se inscrever separadamente em cada atividade.

Serão quatro encontros ao longo do ano, com palestras dos pesquisadores: Profa Dra. Clarice Greco (PPGCOM-UNIP), Profa. Dra. Ligia Prezia Lemos (ECA/USP), Profa. Dra. Larissa Leda F. Rocha (UFMA), e o Prof. Dr. Tomaz Penner (Mackenzie).

Todas as atividades terão emissão de certificado a cada participação!

O evento é gratuito, mas a  inscrição precisa ser feita antecipadamente, aqui: https://linktr.ee/Obeec

Tem mais informações no instagram do ObEEC: https://www.instagram.com/obeec.ufma/

SERVIÇO

Palestra de abertura do I Workshop de Estudos e Pesquisas em Ficção Televisiva

Data: 19 de junho (quarta-feira)

Horário: 15h

Local: ETC Hub – UFMA (no prédio da Rádio universidade FM)

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Caxias reimaginada em 4k

Por Isaac Souza

Desde dezembro de 2023, fazedores de cultura de Caxias – MA estão envolvidos em projetos para a produção de peças audiovisuais no âmbito do edital municipal da Lei Paulo Gustavo. Boa parte desses projetos propõe documentários de curta-metragem, faixa orçamentária com maior valor por projeto (mas também a de produção mais cara e dificultosa). Tive acesso privilegiado a dois desses trabalhos ainda não lançados: o documentário Imaginalizando a cidade, dirigido por Hans Lima e produzido por Jaqueline Mesquita (Casa Cultural Babaçu); e o documentário Pedras vivas, sobre patrimônio histórico arquitetônico de Caxias, dirigido pelo poeta Renato Meneses, da Academia Caxiense de Letras.

Em meu livro Cidade de Cristal, analisei como, na primeira metade do século XX, produtores de discurso caxienses usaram a imprensa (tecnologia de comunicação de massa) para narrar Caxias como “terra dos poetas” no momento em que a imagem de Caxias como “Manchester maranhense” (erigida na Belle Époque, conforme estudo da historiadora Jordânia Maria Pessoa) já se havia corroído. Uma das premissas teóricas do meu estudo é que as cidades não são apenas conjuntos arquitetônicos e urbanísticos, entes políticos ou recortes topo/geográficos – cidades são construções culturais, conjuntos de signos (significantes e significados) que os sujeitos levantam e derrubam, inventam e desinventam, montam e desmontam, conforme jogos de identificação: cidades são textos e são imagens.

Ao assistir os documentários mencionados, não tive dúvidas de estar diante de duas peças que tentam (re)imaginar a cidade de Caxias. Tais imagens (ou imaginações) não coincidem, mas também não se chocam e tampouco anulam outras possibilidades – são imagens diferentes que podem se sobrepor e/ou se alternar. A imagem da Caxias construída no filme de Hans Lima é a de uma cidade no limite do moderno, no limite das contradições sociais e urbanísticas das cidades modernas na contemporaneidade. Quer dizer, uma cidade concretada, asfaltada, centrada, mas que em cujas reentrâncias latejam contradições – tais contradições (que o filme não esmiuça, mas expõe em imagem e história) fazem germinar tipos específicos de expressão artística, com destaque para as pinturas em paredes ao ar livre. É um filme que mostra um recorte de uma juventude talentosa e excluída que inventa formas de expressão com a matéria de que dispõe. Surge aí uma cidade fantasma, de muros cinzas e vazios, em que a vida teima em crescer na forma de desenhos, escritos e pinturas. A “cidade dos poetas” ainda está lá, mas agora como matéria de expressão desses artistas que tentam fazer de Caxias a cidade dos pintores de rua, ou a cidade dos desenhos.

O filme de Renato Meneses, por sua vez, enxerga e representa uma outra Caxias: a Caxias dos casarões degradados, dos paralelepípedos sepultados, das políticas de patrimônio ineficazes ou ignoradas. Trata-se de pesquisa robusta e coleta sensível de memórias que nos apresentam não uma cidade que surge, mas uma cidade que desaparece. Faz-nos olhar a cidade pelos olhos de pessoas que vivenciaram o sonho da preservação do acervo arquitetônico, urbanístico e paisagístico legado pelo passado e que testemunharam e testemunham a literal pulverização desse mesmo acervo em nome de palavras de ordem típicas da modernidade, notadamente, o “progresso” e o lucro. O filme, em si, não adota o tom nostálgico ou passadista, mas a angústia da perda, uma certa manifestação de luto, é evidente nas personagens entrevistadas, bem como a esperança rala de que algo possa ainda ser mantido ou recuperado. A “cidade dos poetas” está aqui apenas como trauma – a ela se impõe a cidade dos tratores, das marretas e dos rolos compressores, a cidade do asfalto triunfante.

Não tenho intenção de fazer crítica cinematográfica. Meu olhar amador, mas entusiasmado, assim como minha leitura fatalmente determinada pela minha formação, me fazem ver no filme de Hans Lima algo superior do ponto de vista plástico, enquanto que o de Meneses parece significativamente mais bem resolvido do ponto de vista do roteiro e da argumentação. Para além dessas e outras questões técnicas, a questão é que cada um deles lida com as dificuldades da posição temporal em que se coloca frente a seu assunto: Lima parece querer descrever as traquinagens infantis de uma cidade que ainda está em seu trabalho de parto – é uma cidade-anseio, uma cidade-vislumbre, cidade que ele intui em sua potência. Enquanto isso, Meneses confronta conscientemente uma cidade no leito de morte, tenta fazê-la falar, fazê-la vibrar, fazê-la gemer e protestar, porque intui que a cidade não é feita de pedra morta, matéria bruta, mas das pedras vivas, que são as palavras, as reminiscências e até mesmo os ressentimentos. Em ambos os casos, os realizadores lidam com o desafio incerto de dizer uma cidade-sonho, de criar imagens novas para a cidade cuja imagem antiga já não se sustenta mais. Eles se parecem com aqueles escritores de 1914, do jornal Belo Horizonteie e de outros, que estudei em minha dissertação, os quais viam a sólida “Manchester maranhense” se desmanchar no ar e, usando tinta e tipos móveis, se puseram a desenhar uma imagem que a substituísse, rascunhando assim a “terra dos poetas”. Os filmakers de 2024, por sua vez, frente à evanescência da terra dos poetas, passam a re[1]imaginar Caxias novamente – porém, agora, em 4K.

Isaac Souza, 06 de junho de 2024, nos ruidosos ventos da planície litorânea do Piauí.

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LATIFÚNDIO CULTURAL

Joãozinho Ribeiro (*)

As festas nordestinas sempre foram entendidas por mim como um dos maiores ativos da região. Não somente pelo aspecto cultural simplesmente, porém pelos econômicos, sociais, comunitários…Seja pelo ponto de vista simbólico, seja pela afirmação da cidadania e da autoestima da população. Sendo o São João um momento ímpar desta valorização e de reconhecimento dos criadores e produtores culturais em todos os sentidos e gêneros: cantores, compositores, músicos, cantadores, mestres, brincantes, bumba-bois, cordelistas, quadrilhas, cacuriás, grupos de danças variados etc.

Este celeiro de produção criativa tem se transformado ultimamente num grande filão econômico, e a música tem sido o seu carro-chefe. Este sentimento e o pressentimento de possibilidades de grandes negócios atraíram a atenção da poderosa indústria cultural do país; de produtoras que vendem pacotes de “atrações nacionais” o ano inteiro e todo ano para estados e municípios, modificando os lugares do acontecer solidário, tão característico dos nossos festejos populares, assim entendidos pelo professor Milton Santos, e colocando nos referidos espaços um repertório tão banalizado e descartável, alheio à história e à tradição locais de nossas genuínas manifestações, por muito tempo desprezadas e até mesmo reprimidas.

Tenho tocado nesta tecla já faz algum tempo, preocupado também em não enveredar pelo xenofobismo barato nem pelo bairrismo discriminatório. Como diria o grandioso Paulinho da Viola: “Sem preconceito, ou mania de passado”, estamos assistindo a um espetáculo dantesco, com certeza patrocinador de danos irreparáveis a curto, médio e longo prazo no meio ambiente cultural. Um desmonte contínuo das conquistas no plano das políticas de cultura, e um desfazimento da construção coletiva de mãos e mentes caprichosas de várias gerações: Valdelino Cécio, Michol Carvalho, Arlete Nogueira da Cruz Machado, Nélson Brito, Terezinha Jansen, Carlos de Lima, Domingos Vieira Filho, D. Celeste, Mestre Marcelino, Américo Azevedo, D. Zelinda Lima, Nerine Lobão, Moraes, Humberto, Mestre Felipe…

Aportam por aqui oportunismos e interesses de todos os gêneros e estilos: políticos, midiáticos, eleitorais, digitais, econômicos… Até com gente fabricando um São João inteirinho pra chamar de seu, sem o mínimo conhecimento ou respeito pelos significados simbólicos e ancestrais desta nossa rica tradição popular. Herança deixada por nossos avós, como bem lembrado pelos versos do genial Guriatã do Maracanã.

Transformar a festa popular mais legítima do Nordeste em palco para a espetacularização da cultura popular e consagração dos consagrados, que passam o ano inteiro batendo recordes e mais recordes de acessos nas plataformas digitais de música, impulsionados pela monetização da imagem e da alma e pelo direcionamento dos algoritmos, torna-se um verdadeiro sacrilégio cultural. Se bancados por dinheiro público, mais sacrilégio e sacanagem ainda!

Penso que passamos a lidar com algo que eu atreveria de chamar de uma espécie de latifúndio cultural. Uma apropriação por poucos das grandes fatias dos orçamentos públicos e privados da cultura. Um coronelismo cultural em plena era digital, onde repertório e programações oficiais espelham e repetem os gostos dos governantes estaduais e municipais, muitos deles ligados ao agronegócio; tratando de um festejo público como uma festa privada em uma de suas muitas fazendas.Um casamento (im)perfeito entre o latifúndio geográfico e o latifúndio cultural, ungidos pela desigualdade, excludência e invisibilidade artística, além da negação da diversidade.

A brincadeira e a morte do boi, para nós maranhenses, sempre teve um outro entendimento, e significados que estão diretamente ligados com nossas crenças, cultos, credos e ancestralidades. Atualmente, os coveiros da cultura colocam pás de terra nestas manifestações, sob a desculpa esfarrapada de que é isso que o povo quer – a contratação de “artistas nacionais” a peso de ouro, para encharcar as praças e arenas da massa desinformada e despossuída do acesso aos bens culturais.

Prefiro ficar com a sabedoria do irretocável Gilberto Gil: “O povo sabe o que quer, mas quer também o que não sabe.” O direito de escolha resta sacrificado, principalmente quando a democracia, no campo cultural, é atropelada pela vontade e pelo gosto particular dos governantes, geralmente ignorantes e autoritários.

Quando eu me lembro da minha bela mocidade…Quá Eulália, eu não fico pra dormir…Mãe Catirina, poupa esse boi! … Antes que aquele outro,o da Lua, resolva cercar o Planeta do Brasil…Como se não existisse o Sol…Lua, Lua cheia / Que nasce no meio das águas… No mês de maio / Tá todo mundo ensaiando / E desse jeito / Eu não vou ficar aqui…Essa matraca, já conheço, seu menino / Já esmurrou muito destino / Já fez cantador penar!… Agora que eu quero ver se couro de gente é pra queimar! (*) Poeta e compositor