Nascido na Vila Passos, região central de São Luís, com longa permanência também no bairro do Monte Castelo, o tradicional Boi de Pindaré, de sotaque da Baixada, com sede hoje no Bairro de Fátima, é o novo homenageado pelo Projeto “Amo, Poeta e Cantador: Murais da Memória pelo Maranhão”.
O amo, cantador e compositor João Câncio dos Santos, que fundou a brincadeira em 15 de maio de 1960, é a figura de destaque desse mais novo e grande mural, que será confeccionado pelo artista plástico e grafitteiro Gil Leros.
A imagem do mestre João Câncio será grafittada no muro da sede do Boi, no Bairro de Fátima, às margens da Avenida dos Africanos, que liga a Avenida dos Franceses à Avenida Senador Vitorino Freire, no bairro da Areinha.
Berço de outros tantos mestres do Bumba meu Boi do Maranhão, como ‘Coxinho’ e ‘Zé Olhinho’, o Boi de Pindaré conta atualmente com 85 brincantes, com destaque especial para as dezenas de crianças que abrilhantam as apresentações anuais da brincadeira – descendentes, filhos, netos e bisnetos, dos fundadores e brincantes mais antigos.
Segundo a atual presidente do Boi de Pindaré, Benedita Arouche, mais conhecida como ‘Dona Bita’ no meio cultural de São Luís, há brincantes, inclusive, da chamada primeira infância, que vai até os cinco anos. “Procuramos manter vivas as nossas tradições religiosas e culturais, e, nesse sentido, a família toda acaba se envolvendo. Temos crianças de até três anos dançando no Boi”, conta Dona Bita.
A escolha do Boi de Pindaré para ser homenageado pelo Projeto “Amo, Poeta e Cantador” chegou, segundo a presidente da brincadeira, como um presente para toda a diretoria e brincantes: ‘num momento tão difícil de pandemia e, já por dois anos consecutivos, sem os tradicionais e oficiais festejos de Bumba Boi nos meses de junho e julho’. Ela afirma que não tem sido fácil manter a brincadeira, que também realiza várias obras sociais, com tão poucos recursos e doações. “Nesse cenário, ficamos muito felizes e honrados com a escolha do Boi de Pindaré, selecionado entre tantos outros ‘Bumba Bois’ de sotaque da Baixada e até mesmo dos outros sotaques. O meu muito obrigada a todos do projeto”, disse Dona Bita.
O senador Roberto Rocha (PSDB) vai pensar duas vezes antes de tocar em frente o projeto (nº 465/2018) de alteração no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (PNLM).
Na primeira tentativa de debater a proposição, em uma audiência pública realizada sexta-feira (1º de novembro), em Santo Amaro, o parlamentar sentiu o tamanho da rejeição popular.
Roberto Rocha foi seguidamente vaiado na chegada, durante a audiência e até mesmo quando se retirava da cidade, tendo de entrar no seu carro com apoio de escolta da Polícia Militar.
Cartazes
e palavras de ordem com tons de rejeição ao projeto e ao senador deram o tom da
reunião. Havia tanta gente que o evento, iniciado na Casa de Artesanato, teve
de ser deslocado para Clube do Mota, a fim de comportar centenas de moradores
de Santo Amaro, Primeira Cruz e Barreirinhas, os três municípios com territórios
na área do PNLM.
Os moradores se deslocaram da Casa de Artesanato para o Clube do Mota em passeata, entoando cantos, palavras de ordem e até o hino nacional. “O parque é nosso, não queremos que transforme em negócio” foi frase mais incisiva.
Na
população transborda um forte sentimento de que o projeto do senador Roberto
Rocha tem o objetivo de beneficiar a especulação imobiliária, visto que o PNLM
é uma das regiões mais cobiçadas do Maranhão e está no caminho da Rota das
Emoções.
Moradores, ambientalistas, movimentos sociais, pesquisadores, organizações dos povos e comunidades tradicionais observam no projeto uma intenção de transformar a região em um negócio atrativo para a rede hoteleira e as suas ramificações no setor das empreiteiras, bancos e capital estrangeiro, onde só quem ganha são os ricos.
Roberto
Rocha, fazendeiro na região sul do Maranhão, sabe o que diz.
Em
um de seus pronunciamentos durante a audiência, sinalizou uma certa intenção
especulativa no local. “Desci de helicóptero num lugar tão bonito que deu
vontade de comprar um terreno, além do que o que eu já tenho”, revelou o
senador. Mas, diante da repulsa do plenário, tentou contemporizar: “vou parar
porque acho que já falei até demais”.
Uma
leitura crítica do projeto visualiza as contradições. Na métrica amplia o
tamanho do PNLM, mas retira o chamado “filé”; ou seja, as áreas mais propícias
aos grandes empreendimentos imobiliários.
Nessa lógica serão excluídas do parque 23 comunidades do total de 60 povoações onde vivem aproximadamente 5 mil trabalhadores e trabalhadoras rurais da agricultura familiar, extrativistas, marisqueiras, pescadores, artesãs e criadores de animais de pequeno e médio porte.
Vivendo
em harmonia com os recursos naturais do PMLM, essas comunidades temem que o
projeto de alteração nos limites provoque uma explosão imobiliária e
consequentemente impactos sócio-ambientais nocivos à biodiversidade dos
territórios de Santo Amaro, Barreirinhas e Primeira Cruz.
Nesse
contexto, a repulsa ao PSL nº 465/2018 foi geral no evento de Santo Amaro.
A
audiência também foi esvaziada de uma prometida pompa da representação política
oficial. No release distribuído pela assessoria de Roberto Rocha estava
prevista a participação dos outros dois senadores do Maranhão: Weverton Rocha
(PDT) e Eliziane Gama (Cidadania, ex-PPS). Nenhum dos dois compareceu e nem
mesmo o relator do projeto no Senado, Elmano Férrer (Podemos), do Piauí
Deputados
estaduais e federais também não compareceram.
Sem apoio da bancada
maranhense e rejeitado pelo povo, Roberto Rocha caminha sozinho no parque e
pode até se perder na imensidão das dunas tocadas pelo vento, que sempre muda a
paisagem do lugar.
Cercado de dúvidas e conjecturas sobre o ambicioso mercado de terras, o projeto que revisa a delimitação do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (PNLM) será debatido nessa sexta-feira, 1º de novembro, em audiência pública no município de Santo Amaro, a partir das 10 horas, no Centro de Artesanato Casa Branca.
A audiência é convocada pelo senador Roberto Rocha (PSDB-MA), autor do projeto nº 465/2018, prevendo modificações no Decreto nº 86.060, de 2 de junho de 1981, que criou o PNLM, uma unidade de conservação com área de 156.608,16 hectares nos municípios de Santo Amaro, Barreirinhas e Primeira Cruz, no Maranhão.
Estão convocados para a audiência a população de
Santo Amaro, associações, representantes de órgãos ambientais, pesquisadores, movimentos
sociais, prefeitos, parlamentares e o relator do projeto no Senado, Elmano
Férrer (Podemos), do Piauí.
Segundo Roberto Rocha, o projeto tem o objetivo de
promover o turismo sustentável na região, sob o argumento de que na área do
PNLM não é permitida a construção de escolas, unidades de saúde, igrejas e
empreendimentos hoteleiros e de lazer.
De acordo com o projeto do senador, na época da criação do parque, em 1981, foram inseridas na área de proteção “diversas comunidades e núcleos urbanos que tiveram o seu desenvolvimento comprometido devido ao fato de terem sido incluídos em uma unidade de conservação cujas regras de utilização do espaço físico são extremamente restritivas.”
O texto do projeto cita as comunidades de Travosa,
Betânia, Espigão e Vai-Quem-Quer, localizadas em Santo Amaro. “Segundo dados do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, autarquia que
administra o Parque, há 2.654 pessoas morando em locais que oficialmente fazem
parte da unidade de conservação, o que não deveria ocorrer nos termos da
legislação que rege os parques nacionais”, justifica a proposição do senador.
Roberto Rocha propõe a revisão dos limites do PNLM para retirar as áreas onde vivem as comunidades tradicionais. Segundo o argumento do senador, essas povoações foram indevidamente incluídas na área da unidade de conservação quando ela foi criada no início da década de 1980.
Especulação imobiliária no cenário
Entidades representativas dos trabalhadores e
trabalhadoras rurais, ambientalistas e pesquisadores analisam com cautela e
apreensão o projeto. Elas argumentam que a iniciativa do senador visa excluir as
comunidades tradicionais do parque para permitir a especulação imobiliária em
uma região cobiçada pelo denominado mercado de terras.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais e Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) repudiou o projeto. De acordo com a entidade, a proposta atende aos interesses da especulação imobiliária e, se aprovado, deve excluir 23 comunidades que integram a unidade de conservação ambiental.
Segundo a confederação, na área dos três municípios do PNLM vivem 60 comunidades com aproximadamente 5 mil mulheres e homens que sobrevivem da agricultura familiar. Para a Contag, um dos objetivos da revisão dos limites visa beneficiar a especulação imobiliária provocando o deslocamento compulsório dos moradores sem garantir medidas protetivas para as comunidades tradicionais.
Um artista da região compôs até música ensejando críticas à iniciativa do senador.
Pesquisadores ouvidos pela Agência Tambor questionam vários aspectos do projeto quanto aos impactos sociais e ambientais. Ouça aqui e neste link as entrevistas com Benedito Souza Filho e Maristela de Paula Andrade.
Segundo o antropólogo e professor da Universidade Federal do Maranhão, Benedito Souza Filho, as comunidades tradicionais já viviam na região antes da demarcação do parque na década de 1980; portanto, não foram incluídas indevidamente na área delimitada. “Estamos falando de pessoas que habitavam e sobreviviam ali desde o século 19”, esclareceu o antropólogo.
O Ministério Público Federal (MPF) cobra a realização de estudos técnicos com a participação da população para dialogar sobre os impactos ambientais e antropológicos nas áreas onde pode haver modificações de limites, a fim de garantir a proteção do meio ambiente e da diversidade cultural na região.
Pode ser até coincidência, mas a revisão nos limites proposta por Roberto Rocha acontece no curso de outra iniciativa – a inclusão do parque no Programa Nacional de Desestatização. Traduzindo: o governo Jair Bolsonaro quer privatizar a gestão do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
O projeto de Roberto Rocha está em análise na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) do Senado.