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Eleições 2020: São Luís é conservadora e provinciana

Ed Wilson Araújo

Nem Ilha Rebelde nem Atenas Brasileira. A capital do Maranhão vota em massa na direita. Está em curso uma renovação geracional tradicional protagonizada pelos “velhos atenienses” de rostos juvenis com as suas hastags #estoupronto e #boraresolver

As urnas abertas no primeiro turno da eleição para a Prefeitura de São Luís reafirmaram a preferência da população por dois filhos de políticos tradicionais e um outsider. Os três primeiros colocados – Eduardo Braide (Podemos / 37,81% dos votos), Duarte Junior (Republicanos / 22,15%) e Neto Evangelista (DEM / 16,24%) – com as suas respectivas coligações, representam a direita local em tons diferentes do bolsonarismo.

Somados, eles obtiveram 390.146 sufrágios do total de 553.499 votos válidos dia 15 de novembro.

São Luís, outrora denominada “Ilha Rebelde”, porque teria uma tendência de voto progressista, deu uma guinada radical ao conservadorismo – prolongamento da marca dos dois mandatos do atual prefeito, herdeiro de 30 anos do mesmo grupo político entranhado na gestão da cidade.

O resultado também questiona o mito da Atenas Brasileira, fruto de uma suposta superioridade letrada de São Luís, cultuada pelo saudosismo de uma badalada efervescência cultural da cidade no século XIX.

Em que pesem o mérito e as qualidades dos nossos escritores, motivo de orgulho, o mito da Atenas Brasileira não corresponde à realidade. A maioria expressiva da população maranhense sequer sabia ler nem escrever e o conjunto da população estava alheio à invenção ateniense tupiniquim.

Apenas os letrados e o seu entorno reconheciam a grandiosidade intelectual ludovicense. O mito da Atenas Brasileira é uma invenção criada para emoldurar o glamour dos filhos da elite escravocrata do Maranhão que estudavam na Europa e depois voltavam à província.

E a maioria dos iluminados egressos do novo mundo não se preocupava com as barbaridades da sua terra natal.

Civilização e barbárie

Naquela sofisticada efervescência cultural do século XIX, em 14 de novembro de 1876, São Luís foi o palco de quatro atos de desumanidade contra um menino negro de oito anos.

Primeiro: o garoto foi torturado e assassinado.

Segundo: houve um sepultamento às pressas do corpo mutilado.

Terceiro: apontada como autora, Dona Anna Rosa Viana Ribeiro, típica representante da aristocracia provinciana, foi absolvida por unanimidade.

Quarto: o promotor do caso, Celso Magalhães, que levou a júri a douta Anna Rosa Ribeiro, foi execrado da cidade.

O rumoroso episódio ficou conhecido como “O crime da baronesa”.

Cena de garimpo no Centro Histórico de São Luís

Muitas reprises de atos semelhantes marcam a cidade. Recentemente, um empresário espancou e torturou um homem negro morador de rua, amarrou a vítima em uma caminhonete apeado como um porco e arrastou pelas ruas do Centro Histórico de São Luís, até a morte.

Passado presente

A tradição de cultuar o passado, como a invenção da Atenas Brasileira, está reproduzida em grande escala na tradição política clientelista do Maranhão.

Com algumas boas exceções nos três poderes, os filhos dos políticos conservadores reproduzem os legados dos seus predecessores. Eduardo Braide e Neto Evangelista preenchem esse critério na eleição de 2020, mas os exemplos idênticos são muitos há tanto tempo.

Entre mortos e feridos nas eleições 2020 salvou-se, na Câmara Municipal, uma candidatura coletiva do PT, o NÓS, no total de 31 vereadores.

No mais, está em curso uma renovação geracional conservadora protagonizada pelos velhos atenienses de rostos juvenis com as suas hastags #estoupronto e #boraresolver

Imagem destacada / Eduardo Braide, do Podemos e Duarte Júnior, do Republicanos, vão disputar o 2º turno em São Luís (MA) — Foto: Arte / G1

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Candidatos escondem Bolsonaro em São Luís

Os três candidatos melhor posicionados na pesquisa Ibope para a Prefeitura de São Luís querem distância de qualquer associação das suas campanhas com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Direta ou indiretamente vinculados à base bolsonarista, Eduardo Braide (Podemos), Duarte Junior (Republicanos) e Neto Evangelista (Democratas) querem distância do presidente.

Bolsonaro esteve recentemente no Maranhão e foi ignorado pelos candidatos a prefeito. Apenas Silvio Antônio (PRTB), em último lugar nas pesquisas, faz questão de assumir a ligação com o presidente.

A rejeição de Bolsonaro é ainda maior depois da derrota de Donald Trump na eleição dos EUA.

O efeito da vitória de Joe Biden é devastador sobre o campo político da ultradireita fundamentalista e das suas bandeiras anticiência, homofóbica, racista, misógina e contra os preceitos civilizatórios fundamentais.

Bolsonaro, o maior representante do trumpismo no Brasil, é uma espécie de vírus político pandêmico. Quando não mata, deixa sequelas graves.

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O fantasma do VLT ronda Neto Evangelista

Uma das maiores aberrações da campanha eleitoral para a Prefeitura de São Luís, em 2012, o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) volta à pauta da disputa de 2020. E dessa vez vai respingar no candidato a prefeito Neto Evangelista (DEM)

À época, o então prefeito João Castelo (PSDB), candidato à reeleição, enfiou uns metros de trilhos e um vagão às pressas no Aterro do Bacanga, mediante a promessa de que iria implantar o VLT.

Neto Evangelista, candidato a vice-prefeito na chapa de João Castelo, participou da propaganda eleitoral respaldando a promessa. “Com o VLT São Luís ganha um transporte público igual das principais cidades do Brasil e do mundo. Parabéns, povo de São Luís. O VLT é nosso”, dizia Evangelista na TV.

O prometido VLT virou chacota na cidade e nem os próprios eleitores de Castelo acreditaram. Ele acabou perdendo a eleição para Edivaldo Holanda Junior (PDT), que governa a cidade por dois mandatos (2013-2016 e 2017 – 2020).

Cerca de um ano depois da eleição, em pronunciamento na Assembleia Legislativa, o mesmo deputado Neto Evangelista voltou a defender o VLT e disse que o então prefeito João Castelo tinha um projeto técnico elaborado para implantar o equipamento.

Evangelista aproveitou a oportunidade para cobrar o prefeito Edivaldo Holanda Junior sobre a execução do projeto. A pergunta, agora, é: Neto Evangelista, candidato a prefeito, vai implantar o VLT, ressuscitando o mencionado projeto que ele garantiu ter sido preparado por João Castelo?

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Coligação de Neto Evangelista reúne Roseana Sarney, o PSL bolsonarista e o PDT de Weverton Rocha

O campo conservador engorda as fileiras em São Luís. Dessa vez o “velho” MDB controlado pela família liderada por José Sarney vai compor ao lado do pré-candidato a prefeito Neto Evangelista (DEM).

A coligação até agora já tem o bolsonarista PSL, o MDB, o PTB e o PDT, controlado pelo senador Weverton Rocha.

Até pouco tempo considerado adversário dos Sarney, eleito em 2018 na chapa do governador Flávio Dino (PCdoB) com o discurso anti-oligarquia, o senador pedetista acomoda facilmente seus novos interesses ao lado de Roseana Sarney.

Com o apoio do MDB, Neto Evangelista torna-se um candidato competitivo para enfrentar o líder nas pesquisas, Eduardo Braide (Podemos), que recentemente obteve apoio do PSDB.

Do PDT Neto Evangelista vai agregar uma estrutura de poder há 30 anos enraizada na máquina administrativa de São Luís. O PSL bolsonarista soma um valioso tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV. E Roseana Sarney, gostemos ou não, ainda tem um certo recall eleitoral em São Luís.

Além disso, Neto Evangelista, ex-secretário de Desenvolvimento Social do Governo do Maranhão, faz parte do consórcio de postulantes à Prefeitura direta ou indiretamente vinculado ao governador Flávio Dino (PCdoB).

Assim, essa aliança heterogênea reúne partidos da extrema direita (PSL), legendas progressistas como o PDT, o velho MDB centrista e aliados de peso do governador, a exemplo do senador pedetista Weverton Rocha.

Sem Madeira

Antes de formalizar o apoio a Neto Evangelista, a ex-governadora Roseana Sarney foi cortejada duas vezes pelo ex-juiz federal e pré-candidato a prefeito Carlos Madeira (Solidariedade).

Ex-juiz Carlos Madeira ofereceu a vice e cargos ao MDB

O próprio Madeira e o secretário de Segurança do Governo Flávio Dino, Jefferson Portela (PCdoB), fizeram uma visita à ex-governadora, dia 5 de agosto.

Depois, o magistrado aposentado concedeu uma entrevista à rádio Mirante AM, dia 27 de agosto, quando fez elogios explícitos ao ex-presidente José Sarney e ofereceu a posição de vice para o MDB na chapa, além de secretarias em uma eventual vitória e composição da equipe na Prefeitura de São Luís.

Ouça aqui a entrevista completa, no programa Ponto Final, da rádio Mirante AM

Apesar dos afagos e ofertas de Carlos Madeira o MDB preferiu a aliança com Neto Evangelista.

Imagem destacada / divulgação: Roseana Sarney, ao centro, com Neto Evangelista e a cúpula de políticos do MDB