Por Luiz Eduardo Neves dos Santos
Essa rua e o bairro do Monte Castelo foram meu microcosmo por 30 anos, desde que nasci até sair da casa de meus pais para seguir minha vida e assumir outras responsabilidades. Aqui fui feliz na infância, na adolescência e em parte da vida adulta.
Joguei futebol descalço na rua, brinquei de pega-pega, esconde-esconde, cai no poço, cancão, rouba-bandeira, bethe, joguei voleibol, andei de bicicleta e skate, banhei de chuva, participei de gincanas, conversei com amigos até tarde da noite, fui para festinhas na casa dos vizinhos, assisti a filmes vários no Cine Monte Castelo, fui às quermesses da festa de Nossa Senhora da Conceição, descansei à sombra da imponente barrigudeira, bem como dancei até de manhã na festa de bumba-meu-boi de zabumba na Newton Bello.
Fui ao mangue na maré seca por curiosidade, tomei baré na quitanda de seu Queixada e seu João, tomei cerveja no bar do Melo e comi pizza na Popaye. Sambei nos ensaios da escola de samba Império Serrano e também no boi de seu Antero.
Na época do Carnaval era comum ver grupos de fofões com suas roupas estampadas coloridas e máscaras de papel marchê, pessoas sujas de maizena e homens vestidos de mulheres. Foi um tempo de muitas atividades e relacionamentos sociais intensos.
Este lugar não existe mais, ficaram apenas alguns nomes intactos, como algumas construções também. Ainda se podem olhar alguns mesmos moradores lá. Mas o lugar em que vivi se foi, como as águas de um rio se vão para a imensidão do mar.
O Dudu de outrora se foi também, mas nem o lugar e nem eu se perderam no tempo, eu, o Monte Castelo e a Manoel Beckman, ao contrário, nos encontramos no tempo, nas reminiscências vivas, boas ou não, na experiência vivida de uma época de descobertas, frustrações e alegrias.
Todas as vezes que retorno ao Monte Castelo não o reconheço, mas não é algo para me lamentar, pois, como geógrafo da cidade que sou, sei que lugares e territórios possuem dinâmicas próprias de vida, eles nascem e morrem sob diversos aspectos, constantemente.
O meu microcosmo continua vivo aqui dentro de mim, isto que vale. Meu encontro com o espaço-tempo passado não constitui um peso, ao contrário, é sempre um prazer voltar.