Jornalista maranhense apresenta programa na plataforma digital YouTube e mostra que mulheres têm propriedade para falar sobre a paixão nacional
texto: Rafaella Rodrigues
Durante muito tempo os conceitos enraizados pelo senso
comum, estabeleceram como predominante a perspectiva masculina para falar sobre
futebol. Felizmente esse cenário tem se mostrado adepto a mudanças.
Apresentadoras em veículos massivos de comunicação abrem portas para alterações
no cenário, com a presença de Mylena Ciribelli, Glenda Kozlowski, Renata
Fan, Fernanda Gentil e tantas outras, que são a prova a respeito das mudanças
cabíveis e aceitas na atual sociedade.
É nesse quesito que a jornalista e apresentadora do Bate Papo
Futebol Clube Quécia Carvalho tem buscado seu espaço. A youtuber de apenas
20 anos vem alcançando desde crianças a adultos, por meio de uma linguagem simples
e objetiva temas centrais do canal. Esse é um momento que não pode passar
despercebido. É preciso observar a representatividade feminina e jovem por trás
de um veículo massivo de comunicação com grande poder de difusão.
O interesse pela área esportiva acompanha Quecia Carvalho
desde a infância. “Pode parecer clichê, você falar que brasileiro já nasce em
contato com o futebol, mas a verdade é que foi isso. Eu cresci assistindo jogos,
os principais campeonatos e a copa do mundo. Não entendia nada de futebol na
época, também não lembro um dia exato em que tudo começou. Não consigo lembrar,
não tem um dia exato que eu passei a torcer para tal time. Eu sei que isso
sempre fez parte da minha infância, e eu sempre acompanhei”, comenta a
jornalista.
O projeto para o canal Bate Papo
Futebol Clube foi a primeira experiência de imersão da apresentadora neste
segmento. “Eu era uma torcedora apenas, e com o programa eu pude realmente
conhecer o futebol, perceber que o futebol não é só o que a gente vê ali na TV
ou ouve no rádio. O futebol tem tática, tem técnica, tem uma série de coisas.
Então esse conjunto que forma a festa que é o futebol. E o programa me permite
isso, me proporciona conhecimento do que é o futebol”, revela Quecia Carvalho.
De Bate Papo com o futebol
Exibido semanalmente no Youtube com a finalidade de
apresentar o mundo do futebol, jogadores, os profissionais envolvidos,
entusiastas das “quatro linhas”, O BPFC é
produzido pela BELLL audio.visual, e tem contado com alguns colaboradores, caso
da Glória
Confecções (responsável pelo figurino da apresentadora), do Blog BNC Notícias e da ABRAÇO (Associação Brasileira de
Radiodifusão Comunitária – Secção Maranhão).
Para o idealizador do canal Marcos Belfort, a abordagem por
trás da elaboração do projeto “é buscar uma maneira de falar sobre futebol
e o universo envolvente que esse esporte proporciona. Para isso, a linguagem é
a mais popular possível. Inclusive o nome do programa se baseou nessa questão,
trocar uma ideia, conversar, levar um lero, bater um papo”.
Através de feedbacks dos inscritos muitas alterações foram
realizadas desde o programa piloto “é na prática que você ver o que dá certo e
deve manter, e o que não é tão legal assim. Por isso, a gente sempre conversa
sobre essas ideias, o que dá pra melhorar. É através dessa interatividade
que a construção do programa acontece cada vez melhor”, comenta Quecia
Carvalho.
O trajeto que o Bate Papo
Futebol Clube vem percorrendo tem sido promissor principalmente na questão
empoderamento. Considerada por muitos, a temática futebol ainda é ligada ao
gênero masculino. “É um ambiente muito dominado por homens em que você vê
poucas mulheres. E as poucas que falam são muito criticadas, através de haters
pelo fato de ser mulher; por isso se você quiser conquistar um público, você
tem que dar o dobro do que um homem teria que dar se tivesse no seu lugar. Tem
toda essa cobrança por trás, e deparar com situações como essas são muito
comuns, infelizmente. O segredo é acreditar no seu potencial; A partir do
momento que você passa a focar no seu trabalho e esquece um pouquinho a
‘aprovação popular’ percebe que não é preciso convencer ou agradar ninguém. O
reconhecimento vem com o tempo e esforço”, esclarece a Jornalista.
De olho na telinha do YouTube
Com os avanços tecnológicos é impossível questionar a
velocidade na propagação de conteúdos pelas plataformas no cyberpaço. As mídias
digitais vieram para alterar a forma como as pessoas se comunicam, se
relacionam, como se divertem e também como apreciam informações.
O YouTube não é uma exceção quando se aborda o assunto.
Fundado oficialmente em 14 de fevereiro de 2005, o site de compartilhamento foi
criado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim e um ano depois a empreitada
alcançou maiores proporções com a compra da página da Internet pela empresa
Google. Desde então tem diversificado e distribuído seu conteúdo, o
compartilhamento e obtido feedbacks dos produtos veiculados.
A possibilidade de um novo segmento no mercado com conteúdo
reproduzido alterou os modos de consumo de mídia. O
compartilhamento, produção e elaboração de vídeos acabou aceito na sociedade
como profissão. Os youtubers surgem como uma reação ao consumo de conteúdo online
com possibilidade de rentabilidade.
Com uma grande gama de modalidades esportivas, o espaço destinado
ao segmento esportivo nos meios tradicionais não consegue abranger a
totalidade. Por meio das novas plataformas e das mídias sociais atuantes a
comunicação como toda é um importante fator de interatividade com o público.
Uma comunicação full-time, não só rápida, mas acima de tudo de fácil acesso,
com uso das novas tecnologias.
Na visão de profissionais da comunicação, o YouTube é aceito
como veículo destinado ao conteúdo esportivo. Sobre o programa BPFC, o
publicitário Gutemberg Silva destaca os diferenciais propostos pela plataforma
como “um mercado muito grande, com uma lacuna a ser explorado pelas mulheres
com todo seu profissionalismo, pois sabemos que este ainda é um nicho dominado
pela gênero masculino, eu não falo de machismo, mas sim, que a cobertura do
trabalho esportivo em todo mundo, ainda não possui uma equidade de gêneros no
meio. Fico feliz em ver uma bancada de debate esportivo, dividida por homens e
mulheres, falando do mesmo assunto com suas propriedades particulares e havendo
o respeito mútuo. Bom, é louvável, ideias como essas tornarem-se exitosas, pois
afinal sempre estamos buscando por novos canais de comunicação, com uma nova
linguagem e também um novo olhar”.
A pesquisa recentemente divulgada pelo site
Sportsvalue, empresa voltada em marketing esportivo, aponta o Brasil como
um dos maiores consumidores de conteúdos associados ao futebol entre os países
emergentes. Na capital maranhense a ferramenta ainda possui pouca visibilidade
como propagadora de conteúdo. Nesse contexto que o radialista Marcos
Belfort observou essa possibilidade de mercado e idealizou o canal Bate Papo
Futebol Clube veiculado pelo YouTube.
Esticando a rede
O Brasil é conhecido como país do futebol, mas a programação
disposta na tv aberta não contempla fielmente a paixão nacional. Para o
idealizador do canal, “nas tvs tradicionais abertas, o espaço é muito restrito.
A verdade é que o futebol está entre as temáticas mais debatidas na cultura brasileira.
Essa foi a intenção ao abordar um tema tão enraizado na cultura nacional e
popular”, comenta Belfort.
Lançado no dia 21 de junho de 2018, o Bate Papo
Futebol Clube é um modo divertido de se manter atualizado através de conversas
em torno de torneios, ligas, curiosidades e atualidades da paixão nacional
brasileira. O conteúdo é produzido em vídeos com duração média de 5-10 minutos
e recebe convidados para comentar em torno das temáticas atuais do futebol.
Independente da área no mercado, muitos são os desafios
enfrentados. Ser mulher não é sinônimo de vulnerabilidade ou incapacidade. O
futebol é uma paixão nacional e aproveitar os novos meios de difusão de
conteúdo para veicular a temática é uma excelente jogada. Pode parecer uma
pequena partida amistosa, mas ninguém se torna um grande jogador de futebol sem
entrar em campo.