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São Luís 410 anos: viva a diversidade!

Os festejos alusivos ao aniversário de São Luís tiveram uma programação eclética na praça Maria Aragão.

Pelo palco passaram música de raiz africana, brega, piseiro, cantores católicos e evangélicos.

Do gospel ao pancadão, tocou tudo, como deve ser.

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Poema Sujo, de Ferreira Gullar, ganha recriação em fotografias

Visões de um Poema Sujo, de Márcio Vasconcelos, reinventa os versos do livro escrito pelo maranhense no exílio, em 1975.

Abertura do evento será dia 13 de setembro, às 19h30, na Lima Galeria, cobertura da Loja Fátima Lima, Av. dos Holandeses, no Calhau

Após ser apresentada no Museu AfroBrasil, em São Paulo, na Galeria Cora Coralina, em Goiânia, no Festival de Fotografia de Paraty e no Festival Valongo de Fotografia, em Santos, a exposição Visões de um Poema Sujo chega a São Luís, com concepção e fotografia de Márcio Vasconcelos, curadoria de Diógenes Moura e textos de Diógenes Moura e Celso Borges.

São 90 fotografias de Márcio Vasconcelos inspiradas em uma das principais obras do poeta maranhense Ferreira Gullar. Visões de um Poema Sujo ganhou o XIV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia. O olhar do artista registra e reinventa a cidade do poeta, que nasceu e viveu em São Luís nos anos 30 e 40 do século XX. Poema Sujo foi escrito de maio a outubro de 1975, quando Gullar estava exilado em Buenos Aires, durante a ditadura militar.

O Poema Sujo é o livro de Ferreira Gullar mais conhecido internacionalmente e já foi publicado na Alemanha, Espanha, Colômbia e EUA. Foitema e inspiração de outras peças, mas é inédita a sua utilização na fotografia artística, como agora realiza o projeto Visões de um Poema Sujo.

Márcio Vasconcelos realizou uma vasta pesquisa preliminar para levantar informações sobre o poema, sua criação, contexto histórico, momento de vida do autor, episódios importantes para a obra e seu autor, textos críticos, teses, bibliografia e personalidades envolvidas. A constatação de sua importância atemporal e o processo de criação “catártico” que Ferreira Gullar imprimiu ao escrevê-la. “Crio sensações visuais como se estivesse no lugar dele. Como seria essa São Luís? Quais os tons, nuances”, explica.

O artista vem se destacando por sua intensa e relevante atividade no cenário da fotografia, com diversos prêmios nacionais. Além de Visões de um Poema Sujo, Márcio Vasconcelos foi agraciado mais duas vezes com o Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia. Em 2021, com o trabalho Bumba meu boi do Maranhão – patrimônio cultural imaterial da humanidade e , em 2011, com Na trilha do cangaço – O sertão que Lampião pisou. O fotógrafo vem contribuindo para a difusão da cultura brasileira e sua diversidade, formando há anos um importante acervo na documentação de manifestações populares, religiosas e do folclore brasileiro.

Perfis

Márcio Vasconcelos nasceu em São Luís, Maranhão. Fotógrafo autodidata e independente, é autor dos livros Bumba meu boi do Maranhão – patrimônio cultural imaterial da humanidade (Editora Pitomba, 2021), Visões de um Poema Sujo(Editora Vento Leste 2016), Arte nas Mãos: Mestres Artesãos Maranhenses (Sebrae, 2007), NagonAbioton – um estudo fotográfico e histórico sobre a Casa de Nagô (Programa Petrobras Cultural, 2009), Zeladores de Voduns do Benin ao Maranhão (Editora Pitomba, 2016, 1º Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras da Fundação Cultural Palmares – Petrobras) e Na Trilha do Cangaço: o sertão que Lampião pisou (Vento Leste Editora, 2016, XI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia). Premiado no XIV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia com o projeto Visões de um Poema Sujo, inspirado no poema de Ferreira Gullar.

Diógenes Moura nasceu em Recife, Pernambuco. É escritor, curador de fotografia e editor independente. Autor dos livros Vazão 10.8 – a última gota de morfina, O Livro dos Monólogos – Recuperação para Ouvir Objetos, O antiacarajé atômico – dias pandêmicos, Fulana despedaçou o verso, entre outros. Premiado no Brasil e no exterior, entre 1999 e 2013 foi Curador de Fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo, onde realizou exposições, edições de livros e reflexões sobre o pensamento fotográfico. Pesquisa desde a filosofia da palavra em tempos de cólera aos limites da imagem entre o ontem e o muito além. Só entende fotografia vendo-a como literatura.

Celso Borges é poeta, jornalista e letrista de São Luís (MA). Parceiro de Zeca Baleiro, Chico César, Fagner e Criolina, tem 11 livros de poesia publicados, entre eles Pelo Avesso, Persona Non Grata, XXI, Música e Belle Époque, os três últimos no formato de livro-CD. No palco, realizou os projetos Poesia Dub, com o jornalista Otávio Rodrigues; A Posição da Poesia é Oposição, com Christian Portela e Luiz Claudio e Sarau Cerol, com Beto Ehongue. Em 2010/2011 apresentou o programa Biotônico, na rádio Uol, ao lado de Zeca Baleiro e Otávio Rodrigues. Com Baleiro coproduziu o álbum A Palavra Acesa de José Chagas, com participação de Fagner, Ednardo, Lula Queiroga, Chico César etc. Tem poemas publicados nas revistas Coyote, Poesia Sempre, Oroboroe Celuzlose. Foi curador da Feira do Livro de São Luís em 2013 e 2014.

VISÕES DE UM POEMA SUJO

Exposição de fotografias de Márcio Vasconcelos

Abertura – 13 de setembro, terça-feira, às 19h30

Local – Lima Galeria, Cobertura da Loja Fátima Lima, Av. dos Holandeses, q-1, n-1, Calhau.

Imagem destacada / Ritual em terreiro de matriz africana / Foto: Marcio Vasconcelos

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1ª Mostra Científica, Artística e Cultural terá programação diversificada

As equipes de trabalho da 1ª Mostra Científica, Artística e Cultural reuniram-se para alinhar os preparativos do evento, que, entre outros objetivos, busca aproximar a Universidade Pública e a sociedade.

Com o tema “A Universidade Pública no cotidiano maranhense”, a mostra é organizada pela Associação dos Professores da UFMA (Apruma), dia 15 de setembro (quinta-feira), durante todo o dia.

As atividades têm foco na defesa da Educação, da Universidade Pública e do Ensino 100% presencial, fundamental também para a manutenção da pesquisa e da extensão! Haverá certificação de participação acadêmica.

A 1ª Mostra Científica, Artística e Cultural é aberta à sociedade. A Apruma convida a comunidade universitária, amigos, família e vizinhos para conhecermos um pouco mais do que é feito no principal centro de pesquisa do Maranhão.

Veja a prévia da programação:

Local: Estacionamento do Castelão (em frente à Caixa Econômica):*

Atividade: Feira da Resex de Tauá-Mirim

Local: Hall do Prédio Castelão

Atividades: Testagem Covidl9, vacinação (Covidi9 e Influenza), massoterapia, teste de glicemia, aferição de pressão, orientações de saúde, socorro e reanimação cardíaca, orientações de saúde bucal, plantão psicológico, assessoria jurídica e demais atividades de extensão.

Local: Área de Vivência Bacanga

Atividades: apresentação de trabalhos científicos, lançamentos de livros, apresentações
artísticas e performances.

Local: Praça do CCSo (Centro de Ciências Sociais)

Atividades: mostras fotográficas e rodas de leitura.

Às 15h30, no Auditório Ribamar Carvalho, Área de Vivência do Bacanga, terá a palestra “Reuni Digital e os impactos no ensino presencial”, com professor Mauro Titton (UFSC).

Encerramento: Estacionamento do Castelão, com Boi de Pindaré e Bloco Afro Akomabu, e homenagem póstuma ao professor Luizão, o Dr. Quilombola.

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Definição

Poema de nossa autoria…

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Pulverizador de ódio

O presidente Jair Bolsonaro transformou o Dia da Independência no Dia da Ofensa.

Ofendeu as mulheres, os pobres, os desempregados e principalmente o bolso dos brasileiros.

A ostentação do 7 de setembro com dinheiro público foi uma aberração nociva à economia do país e uma agressão ao povo brasileiro.

Nunca antes na História do Brasil um presidente ofendeu tanto a pátria.

Imagem destacada capturada nesse link / Presidente Bolsonaro discursando em trio elétrico em Brasília — Foto: Cadu Gomes/Agência O Globo

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O que será o amanhã…

O que mais preocupa na avalanche conservadora não é o presente. É o futuro.

As igrejas neopentecostais e as think thanks de ultradireita estão “investindo” na conversão das crianças, que serão as futuras gerações perdidas.

Fora isso, os discípulos de Olavo de Carvalho estão aí.

Não é pessimismo, é a realidade.

Imagem destacada / Olavo de Carvalho portando arma de fogo / Foto capturada aqui

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410 Anos de São Luís, uma festa para poucos

Luiz Eduardo Neves dos Santos

Geógrafo, Doutor em Geografia e Professor Adjunto do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas da Universidade Federal do Maranhão, UFMA, Campus Pinheiro.

Toda vez que se aproxima a data que marca o aniversário de São Luís, o 8 de setembro, uma enxurrada de reportagens, livros e textos são relembrados e também produzidos na mídia local, a maioria em tom ufanista, no melhor estilo Afonso Celso. Muitos dos escritos que vangloriam São Luís derivam de letrados e intelectuais das chamadas confrarias, grupos de acadêmicos que não param de crescer nestas bandas, e servem, dentre outras coisas, para o envaidecimento mútuo, os autoelogios, as condecorações e honrarias entre seus próprios membros.

Esta tônica serve para o tratamento dado à São Luís, com o eterno retorno a seu ilustre passado de glórias, posicionamento tantas vezes desprovido da crítica e da ironia, no que o historiador Flávio Reis chamou de “insossa cultura do elogio”. Por isso, é necessário contrapor e contestar o que já está impregnado no imaginário coletivo de toda uma população, expressões como “Atenas brasileira”, “Ilha do amor”, “Cidade dos azulejos”, “Patrimônio da humanidade”, “única capital brasileira fundada por franceses” reforçam o ideário ufano-saudosista e camuflam uma São Luís desigual e segregada.

O que comemorar então nestes 410 anos de São Luís? Quem comemora e quem participa desta festa? Na paisagem da cidade se multiplica pessoas nos sinais de trânsito com pedaços de papelão e placas nas mãos pedindo comida; em grandes avenidas dá para sentir o mau cheiro do esgoto que emana das galerias subterrâneas; as páginas policiais dos jornais locais estão sempre jorrando sangue; e a poluição hídrica e atmosférica destruiu os rios, sujou o mar e afeta diariamente a saúde de milhares no entorno das indústrias pesadas.

A aniversariante é uma cidade bastante fragmentada espacialmente, em que diferentes classes sociais – delimitadas principalmente por renda, raça e gênero – se distribuem em territórios muito bem definidos. Destarte, esta fragmentação congrega, num extremo, territórios de condomínios fechados na “Península”, no Renascença e no Calhau, enclaves fortificados em lugares onde a rua é apenas lugar de passagem, que margeia os muros altos e eletrificados e dá acesso aos portões automáticos das propriedades. De outro lado, abrange uma infinidade de casebres, palafitas, casas de taipa e as pequenas moradias de um ou dois cômodos nos territórios da exclusão e dos aglomerados subnormais, que somam mais de 100 mil habitações na cidade, espalhadas, dentre outras, na Ilhinha, no Jaracaty, na Cidade Olímpica e na Fé em Deus, um todo socioespacial com características específicas, próprias da cidade informal, com suas regras e normas de convivência e sobrevivência, já que a presença do poder público ali é residual.

A periferia de São Luís é um mundo, sua zona rural também, seus habitantes não podem participar da sua festa de aniversário, não podem gozar da cidadania, o poder público não se esforça o bastante para lhes proporcionar qualidade de vida e inclusão como sujeitos ativos na produção da cidade; cidade esta que é feita por e para os donos do poder econômico e político, para as famílias que têm  vários carros em suas garagens, para os grupos que se refugiam nos shoppings centers e para os que olham o mar através de suas varandas.

Estes sim podem comemorar, são grupos que incluem aqueles que estão dentro das casas legislativas sem fazer nada de útil para a população, estão ainda nos Palácios da Dom Pedro II, alguns podem ser encontrados nos Empórios da Fribal, em algum restaurante requintado ou em alguma Casa de Vinhos das áreas nobres ludovicense, outros podem ser vistos entrando em seus escritórios para participar de reuniões secretas, carregando malas suspeitas, ora fazendo lobbys, ora planejando como faturar o vil metal. Muitos se encontram atualmente em comitês, outdoors, em santinhos, nos para-brisas de carros, nas redes sociais com filtros reluzentes e nas propagandas eleitorais da TV pedindo voto, dizem que vão mudar a realidade das pessoas, no entanto, pretendem apenas continuar a exercer seus “podres poderes”, por isso, em toda eleição, em todo aniversário da cidade, a festa para a maioria é efêmera, regada a shows e atrações das boas, mas para um seleto grupo, a comemoração dura bastante tempo, tudo à custa da exploração do trabalho, da retórica de geração de empregos, da instauração dos ajustes espaciais, da guerra de lugares, da destruição ambiental, da poluição das praias, da fome, do assassinato de indígenas, quilombolas e camponeses, do racismo ambiental e da espoliação de moradores de suas casas, como já ocorreu na comunidade Cajueiro, e em muitas outras localidades de São Luís.

Evidentemente que há motivos para enaltecer São Luís, sua cultura, sua gente, mas não se pode esquecer de denunciar as mazelas e as contradições que ocorrem em seu território, algo acintosamente omitido por muitos, – inclusive por gente dentro da própria universidade – que se utilizam do discurso fácil e engessado sobre uma cidade que não existe concretamente e acumula graves problemáticas estruturais. A festa que se deseja para São Luís é a da gestão democrática e das vivências urbanas, em que a população tenha direito à participação nas decisões em suas comunidades, de forma que os grupos se sintam incluídos, tenham acesso a direitos básicos, como saneamento, água encanada, transporte público, serviços de saúde e educação gratuita e de qualidade e moradias dignas, estes sim, motivos para uma comemoração autêntica, a da cidadania ativa.

Imagem destacada / Paralisação de transporte coletivo em São Luís, durante a gestão do prefeito Edivaldo Holanda Junior, em 2016. De lá para cá, a situação piorou com o aumento das tarifas, a demissão de cobradores e precarização do trabalho dos motoristas. / Foto capturada aqui

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Palavras e cores

Eloy Melonio

“Há que se juntar cada palavra”
“Sou-te o mais humilde escravo na floresta do discurso”

E se as palavras tivessem cores?

Isso mesmo! Você digitaria uma palavra no seu notebook, e ela ― pum! ― surgiria em sua respectiva cor. Tal escrita ainda não é tecnicamente possível. Por enquanto, só o velho e cansado “negrito”. Mas acho que a tecnologia pode dar um jeito nessa aspiração. E aí, uma dúvida improvável: de que cor seria a palavra “amor”?

Convencionalmente, amor é vermelha. Mas nem tudo são flores nesse jardim das cores. E, assim, será inevitável a criação da Organização Mundial das Palavras (OMP) para definir essa situação. Para algumas palavras até posso imaginar a sua cor: sangue (vermelha), floresta (verde), leite (branca).

E quanto a “dor”, “saudade” e “tristeza”? “Sol” seria amarela ou branca? A olho nu, o Sol é amarelo. Para a ciência, branco. E aí, a necessidade do VCLP (Vocabulário Colorido da Língua Portuguesa, semelhante ao VOLP, da ABL). E da classe das “genéricas”, para as de difícil definição, como “tempo” e “vento”.

Se ainda não têm cores, as palavras sempre tiveram “espírito” ― aquela parte “inteligente e sensível”, “a ideia predominante”. Por essa razão, falamos em “espírito da obra” e “espírito da lei”. E esse espírito, presente em cada vocábulo, tem se revelado suficiente para as línguas.

Na versão judaico-cristã, as palavras surgiram das trevas do “nada absoluto”. E tudo começou com um comando de Deus: “Haja luz!”. E a luz brilhou por causa da ideia de existência, implícita no verbo “haver”. Depois do “bum” da criação, o Criador passou a bola para a criatura. Coube a Adão a missão de nominar tudo à sua volta. E seu primeiro ato foi chamar sua companheira de Eva, a “mãe de toda a humanidade”.

Ainda bem que Deus concedeu ao homem o privilégio de “pensar e falar”― marca registrada que nos diferencia dos outros animais. Já imaginou o homem sem o poder e encanto das palavras? Experimente pensar num fim de semana nos Lençóis Maranhenses! À sua mente virão imagens acompanhadas de palavras (lagoa, rio, passeio de barco).

Imagine a cena: depois de caminhar por dias no deserto, uma pessoa está cansada e sedenta. Adiante, uma placa com uma seta: OÁSIS. Qual será a sua reação? O que fazemos quando a frase THE END (FIM) aparece na tela do cinema? Enfim, não há como negar que a palavra é tudo, porque tem essa relação necessária com os sentidos. Vivemos ― no dizer do poeta Cassiano Ricardo (1895-1974) ― numa “ilha cercada de palavras por todos os lados”.

E se Deus nada tivesse dito, o que seria da criação? Tê-la-ia criado apenas com sua boa intenção? No bom sentido, Deus é mais que um “cara gozador” (Chico Buarque). É um falador compulsivo. O que mais se vê na Bíblia é: “Disse Deus”; “E assim falou o Senhor”. Num outro viés, o professor israelense Yuval Noah Harari destaca a habilidade de fofocar dos sapiens como determinante na criação e no desenvolvimento da linguagem falada.

Desde o início do mundo, as palavras rodam por aí. Sem fronteiras, sem barreiras culturais ou intelectuais ― vivinhas da silva, no palco da interlocução. Nas páginas da ficção, fantasiadas do “ler para crer”. Nos livros didáticos, apadrinhadas no “Penso, logo existo”. Nos rabiscos do aluno aplicado, desalinhadas; e elegantes, na redação do vestibular.

Há muito queria escrever sobre a “palavra” ― essa coisinha com “som e significado” que pode, sozinha ou em grupo, produzir enunciação. Esse desejo se concretizou nos últimos meses, quando ― estudando “REDAÇÃO, PALAVRA & ARTE”, de Marina Ferreira (Atual Editora/2010 [ensino médio]) ― encontrei a semente e o adubo para o estudo e a fruição de textos inspiradores. Neles, “o discurso forte, penetrante, bem-articulado”, no conceito de Roland Barthes, que, sobre suas próprias palavras, acrescenta: “a força sagrada, vivificante, com a qual criava mundos ao meu redor”.

No livro em questão, textos inspiradores de multiartistas, como Arnaldo Antunes (ex-Titãs) ou de “feras” do fazer literário, como Moacyr Scliar (1937-2011), elevam o prazer estético da leitura.

Esse sentimento trouxe mais cor à ideia de que a arte é brilhantee expressiva. Na produção literária ― como nas artes em geral ― dois pontos se entrelaçam: a inspiração do artista e sua habilidade em dar asas à sua imaginação, exatamente o que fiz neste ensaio.

Foi essa percepção que me revelou as cores cintilantes nos dois versos da epígrafe deste ensaio. Neles, João Batista do Lago esboça, de forma magistral, a ideia de utilidade da palavra e servidão do artista, tecida nos poemas “Dialética da Sarjeta” e “Palavra”― ambos de seu livro “50 TONS DE PALAVRAS” (Ed. ANFITEATRO, Curitiba, 2019).

Infelizmente, não é o que se percebe em muitos textos que circulam nas redes sociais e em alguns livros recém-lançados em nossa cidade. Textos mal-arranjados passeiam como se fossem Literatura. Em linhas turvas, prosa recortada para forjar um poema, contos que não contam uma história ficcional, crônicas que mais se parecem com uma redação escolar.

Sinto inveja ao ver gente produzindo literatura com a facilidade e a frequência de quem faz uma lista de compras para o supermercado. Talvez porque sua motivação seja essa ânsia de ganhar “likes e palminhas” nas redes sociais. Felizmente, essa genialidade não me vê com bons olhos. Demoro-me em concluir um conto, crônica ou poema ― sempre desconfiando de que falta alguma coisa, ou que sobra alguma coisa. E haja coisas e mais coisas. Entre elas, revisões.

“De todas as artes, a mais bela, a mais expressiva, a mais difícil, é sem dúvida a arte da palavra”. Nessa citação, o filólogo e ensaísta português Latino Coelho(1825-1891) sabiamente inseriu “difícil” após as afetuosas “bela” e “expressiva” para dignificar a palavra. E, mais especificamente, a habilidade em lidar com ela, lapidá-la, tecê-la como quem tece um tapete persa.

Apesar disso, muita gente brinca com elas, tentando inventar o que já está inventado. Um caminho torto em busca de notoriedade, que ― ao fim e ao cabo ― entedia o leitor. Acho que nem Olavo Bilac (1865-1918) nem Ruy Barbosa (1849-1923) ousaram tanto em termos de “joguinho com a linguagem escrita”. Na observação do prof. Jáder Cavalcante, “para criar ou maquiar uma palavra, é preciso conhecer sua morfologia, sua semântica, e a sintaxe da frase onde está agasalhada. Não é algo tão simples como chupar um pirulito”.

Produzir literatura é trabalho sério, seríssimo. Um escritor de verdade se entrega de corpo e alma à sua arte. Porque sabe que, depois de pronta ― assim como a joia do ourives ―, ela descansará em outras mãos. E, aqui, faz-se necessário ouvir a voz de Clarice Lispector (1920-1977), porque tinha autoridade para tal: “Não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas” (A Hora da Estrela, Rio de Janeiro, Rocco).

Nunca me esqueço de três lições essenciais. A primeira, de Mark Twain: “Busque sempre a palavra certa, evitando a quase certa”. Em seguida, Ezra Pound: “carregar a linguagem de significado até o grau máximo possível”; e por último, Drummond: “Penetra surdamente no reino das palavras”. Essa peça textual em três atos é a garantia do encanto de que nos fala Ferreira Gullar.

Dito isso, recorro mais uma vez a Clarice Lispector: “A palavra tem que se parecer com a palavra. […] E a palavra não pode ser enfeitada e artisticamente vã, tem que ser apenas ela”. Esse “não pode” é certeiro, pois os alvos estão armados por aí.

Entre tantos mestres, Frei Beto é o que fala a língua do escritor, mesmo daquele que se julga preparado. Seu “Ofício de Escrever” (Ed. Rocco, 207) ― profundo e inspirador ― é uma faculdade da produção textual: “Não sou a obra que faço. Ela é melhor e maior do que eu”. Ainda assim, alguns se demoram e se recusam a apreender essa impecável lição do jornalista e frade dominicano.

Certamente não se constrói um prédio textual apenas com palavras. Para seu fundamento, o cimento da sintaxe. Para a fachada, as cores da semântica. Na concepção do projeto, um arquiteto que saiba adornar os aspectos plásticos das emoções e dos sentimentos.

Confesso que sou apaixonado pelas palavras. Não me refiro ao verbete puro e simples, mas à sublime expressão do pensamento que realça as linhas das minhas ideias e as páginas das minhas emoções. E porque são testemunhas das minhas incertezas: “(Tenho medo)” […] De minhas palavras/ se deixarem intimidar,/ e, timidamente,/ refrearem a queda livre/ do meu livre pensar”.

Nos palanques do embate eleitoral, as pobrezinhas são impiedosamente aviltadas. Verdade e mentira parecem irmãs; promessas vazias se enchem de poder. Todo o cuidado é pouco com as “flechas perdidas” que voam sobre nossas cabeças. Podem não matar, mas ferem sensivelmente a inteligência das pessoas de bom senso. Contadas as raras exceções, são tão “descoloridas” quanto as intenções de seus emissores. Porque não têm a tonalidade cor-de-rosa da linguagem consistente nem a coerência sintático-semântica da boa intenção.

Coloridas brilham na imaginação do escritor como o Sol que desliza por trás do arrebol da tardinha; e no coração do leitor, como a Lua que se enche de fulgor no início da noite.

Em cores luminosas, essas entidades realçam o brilho no haicai de Carlos Seabra: Sonho colorido / o Sol dança com a Lua / você comigo.

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Eloy Melonio é professor, contista, cronista, ensaísta, letrista e poeta.

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Candidato bolsonarista esconde Bolsonaro no Maranhão

O médico e pastor evangélico Lahesio Bonfim (PSC), candidato a governador do Maranhão, é um caso raro de bolsonarista.

Ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, cidade evangélica localizada no sul do estado, Bonfim é um conservador raiz, mas esconde da sua campanha o candidato a presidente Jair Bolsonaro (PL).

Bonfim sabe que Lula sempre foi bem votado no Maranhão e não quer entrar em atrito com o eleitorado local.

O pastor que outrora era hostil ao “comunismo” e ao petismo, agora evita ataques ao ex-governador Flávio Dino, candidato ao Senado e maior aliado de Lula no Maranhão.

Diferente do bolsonarista tradicional, que faz muita questão de endossar os discursos e as práticas do “mito” contra Lula, a esquerda, o comunismo e o PT, o bolsonarista Lahesio Bonfim é uma variante da esperteza, do oportunismo e da traquinagem eleitoreira.

Ele omite Jair Bolsonaro só para não se prejudicar junto ao eleitorado majoritariamente lulista do Maranhão. Enfim, se esse Bonfim é capaz de esconder o seu candidato a presidente, imagine o que ele pode esconder mais…

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Drops de Lula em São Luís

Sempre muito esperado, o discurso do presidenciável Luis Inacio Lula da Silva (PT) em São Luís foi carregado de singularidades. Vejamos algumas:

Flávio Dino ministro

Sem cerimônias, Lula disse que Flavio Dino (PSB) ficará pouco tempo no Senado; ou seja, será convocado para o eventual ministério do governo petista.

Dada como certa, a eleição do socialista para o Senado e a convocação para a equipe de Lula abre a vaga na Câmara Alta para a primeira suplente Ana Paula Lobato, esposa do deputado estadual Othelino Neto, candidato à reeleição e atual presidente da Assembleia Legislativa.

Agradecimento à la Pedro

Lula demonstrou muita gratidão ao povo do Maranhão pelas expressivas votações obtidas aqui ao longo de várias eleições.

E emendou dizendo que a melhor maneira de expressar gratidão é nos moldes do artilheiro reverência do Flamengo, Pedro, um craque prestes a ser convocado para a seleção de Tite.

Palavra de mulher

Esposa de Lula, a socióloga Janja Silva estreou como oradora na campanha presidencial em São Luís. A participação mais expressiva no palanque tem o objetivo de dialogar com o público feminino, principalmente as mulheres mais pobres. Nesse segmento está uma grande faixa do eleitorado.

A estreia de Janja no palanque visa ainda enfrentar as aparições da campanha rival que escalou Michele Bolsonaro para os programas de televisão de Jair Bolsonaro. A primeira-dama tem a missão difícil de atenuar as sucessivas violências verbais do marido contra as mulheres.

Evangélicos

O discurso de Lula mirou também o público evangélico. Nesse segmento, o “católico” Jair Bolsonaro voltou a crescer, segundo pesquisa DataFolha. A escalação de Michele Bolsonaro para falar ao eleitorado religioso neopentecostal também é motivo de preocupação na campanha petista.

Fora fake

Lula tem dito reiteradamente à sua militância para dedicar-se ao combate à desinformação. Para o petista, é preciso travar uma guerra diária contra as mentiras disseminadas na campanha adversária.

Imagem destacada / Lula ao lado de Felipe Camarão, Carlos Brandão e Flávio Dino (foto: Ricardo Stuckert)