Ainda é muito cedo para fazer especulações sobre a disputa eleitoral de 2022, mas algumas imagens começam a ter um pouco mais de nitidez.
Um dos cenários prováveis é a formação do palanque no Maranhão com um candidato do PT a presidente (Lula ou Fernando Haddad), Flávio Dino (PCdoB) senador e Carlos Brandão (PSDB) ou Weverton Rocha (PDT) governador.
Flávio Dino esteve afinado com Lula e o PT por vários motivos programáticos e pragmáticos. E tudo indica que estarão juntos em 2022. Não foi por acaso que o governador usou a camisa com a estampa “Lula livre” (veja imagem destacada) quando votou na eleição de 2020.
No cenário da volta do PT ao poder em Brasília e Flávio Dino eleito senador, é bastante provável que ele seja convidado a compor a equipe ministerial de um eventual novo governo petista.
Se tudo der certo Flávio Dino vira ministeriável; portanto, a vaga de primeiro suplente de senador passará a ser bastante cobiçada no processo de negociação para formar a chapa do Palácio dos Leões.
Mas, isso só vai acontecer se e somente se “tudo der certo”; ou seja; caso o PT volte ao poder e Flávio Dino ganhe o Senado.
O “se” explica quase tudo e há um longo caminho a percorrer até 2022.
Gago na infância e alfabetizado tardiamente, o paraibano Assis Chateaubriand Bandeira de Melo fundou um império de comunicações no Brasil – os Diários Associados.
Sua vida é marcada por dezenas de episódios com variadas qualidades e temeridades em farta documentação apresentada na biografia “Chatô: o rei do Brasil” (de Fernando Morais) e nos documentários fartamente distribuídos em plataformas de streaming.
Chateaubriand tinha a expertise de utilizar a sua poderosa máquina de comunicação para achacar, chantagear e mentir de forma grotesca visando atingir seus objetivos pautados em uma cobiça sem limites.
Amigo e desafeto de empresários, banqueiros, presidentes, políticos e dos bandidos de colarinho branco, entre figuras de outros naipes, ele era amado e odiado pelas diversas personagens que cruzaram sua vida atribulada.
Entre tantas peripécias marcadas por conchavos, manobras e negociatas, Chateaubriand foi até senador pelo Maranhão.
Leia aqui sobre a passagem de Assis Chateaubriand na cidade de Caxias, no Maranhão, acompanhando a comitiva do então governador Eugênio Barros.
Foto destacada / Chateaubriand inaugurando a ponte de concreto sobre o riacho das Lages, divisa do Centro com Cangalheiro. No canto direito o governador Eugenio Barros e com a mão na cabeça o prefeito de Caxias Alcindo Cruz. / Crédito: revista O Cruzeiro
O senador Roberto Rocha (PSDB) vai pensar duas vezes antes de tocar em frente o projeto (nº 465/2018) de alteração no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (PNLM).
Na primeira tentativa de debater a proposição, em uma audiência pública realizada sexta-feira (1º de novembro), em Santo Amaro, o parlamentar sentiu o tamanho da rejeição popular.
Roberto Rocha foi seguidamente vaiado na chegada, durante a audiência e até mesmo quando se retirava da cidade, tendo de entrar no seu carro com apoio de escolta da Polícia Militar.
Cartazes
e palavras de ordem com tons de rejeição ao projeto e ao senador deram o tom da
reunião. Havia tanta gente que o evento, iniciado na Casa de Artesanato, teve
de ser deslocado para Clube do Mota, a fim de comportar centenas de moradores
de Santo Amaro, Primeira Cruz e Barreirinhas, os três municípios com territórios
na área do PNLM.
Os moradores se deslocaram da Casa de Artesanato para o Clube do Mota em passeata, entoando cantos, palavras de ordem e até o hino nacional. “O parque é nosso, não queremos que transforme em negócio” foi frase mais incisiva.
Na
população transborda um forte sentimento de que o projeto do senador Roberto
Rocha tem o objetivo de beneficiar a especulação imobiliária, visto que o PNLM
é uma das regiões mais cobiçadas do Maranhão e está no caminho da Rota das
Emoções.
Moradores, ambientalistas, movimentos sociais, pesquisadores, organizações dos povos e comunidades tradicionais observam no projeto uma intenção de transformar a região em um negócio atrativo para a rede hoteleira e as suas ramificações no setor das empreiteiras, bancos e capital estrangeiro, onde só quem ganha são os ricos.
Roberto
Rocha, fazendeiro na região sul do Maranhão, sabe o que diz.
Em
um de seus pronunciamentos durante a audiência, sinalizou uma certa intenção
especulativa no local. “Desci de helicóptero num lugar tão bonito que deu
vontade de comprar um terreno, além do que o que eu já tenho”, revelou o
senador. Mas, diante da repulsa do plenário, tentou contemporizar: “vou parar
porque acho que já falei até demais”.
Uma
leitura crítica do projeto visualiza as contradições. Na métrica amplia o
tamanho do PNLM, mas retira o chamado “filé”; ou seja, as áreas mais propícias
aos grandes empreendimentos imobiliários.
Nessa lógica serão excluídas do parque 23 comunidades do total de 60 povoações onde vivem aproximadamente 5 mil trabalhadores e trabalhadoras rurais da agricultura familiar, extrativistas, marisqueiras, pescadores, artesãs e criadores de animais de pequeno e médio porte.
Vivendo
em harmonia com os recursos naturais do PMLM, essas comunidades temem que o
projeto de alteração nos limites provoque uma explosão imobiliária e
consequentemente impactos sócio-ambientais nocivos à biodiversidade dos
territórios de Santo Amaro, Barreirinhas e Primeira Cruz.
Nesse
contexto, a repulsa ao PSL nº 465/2018 foi geral no evento de Santo Amaro.
A
audiência também foi esvaziada de uma prometida pompa da representação política
oficial. No release distribuído pela assessoria de Roberto Rocha estava
prevista a participação dos outros dois senadores do Maranhão: Weverton Rocha
(PDT) e Eliziane Gama (Cidadania, ex-PPS). Nenhum dos dois compareceu e nem
mesmo o relator do projeto no Senado, Elmano Férrer (Podemos), do Piauí
Deputados
estaduais e federais também não compareceram.
Sem apoio da bancada
maranhense e rejeitado pelo povo, Roberto Rocha caminha sozinho no parque e
pode até se perder na imensidão das dunas tocadas pelo vento, que sempre muda a
paisagem do lugar.