Depois da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, anulando todos os processos da Lava Jato que condenaram o ex-presidente Lula (PT), um novo cenário eleitoral está posto para 2020.
Elegível, Lula pode ser candidato a presidente ou cabo eleitoral de luxo de algum petista, como Fernando Haddad, além de outro nome a definir pelo partido.
Concretamente, o PT terá candidatura própria e resta saber qual será a(o) candidata(o) a vice-presidente. Assim, a palavra final será de Lula, sendo ele candidato ou não.
Diante das lições do passado e da conjuntura atual, alguns critérios para a definição da chapa devem ser colocados na balança:
1 – critério político-partidário: Lula deve buscar um(a) vice fora do campo democrático-popular; ou seja, tende a dialogar com as forças do centro-direita onde precisa ampliar as bases e o eleitorado, visto que já terá a fidelidade do setor progressista no eventual segundo turno polarizado contra a extrema direita;
2 – perfil da candidatura: o PT precisa de um(a) companheiro(a) de chapa da direita liberal para acalmar o mercado, garimpando aliança com um nome do Centrão menos degenerado, algo como uma nova edição de José Alencar;
3 – sinalização para o mercado: os critérios anteriores são imprescindíveis para uma declaração de paz ao mercado, de tal forma que o nome, o partido e o perfil sejam degustados pela elite econômica internacional que controla as instâncias de poder;
4 – aspecto geográfico: o(a) vice precisa ser as regiões Sudeste, Sul ou Centro-Oeste, onde o campo democrático-popular tem mais rejeição, visto que o Nordeste já é um território onde o petismo e o lulismo navegam com certa facilidade;
5 – gênero e religião: Lula sempre foi atento às questões de gênero, tanto que escolheu Dilma Roussef para sucedê-lo, devendo ficar atendo novamente a uma candidatura a vice feminina, no estilo da senadora Katia Abreu, vinculada ao agronegócio na região Centro-Oeste;
6 – religiosidade: a onda conservadora cresceu no eleitorado e tem papel fundamental nas decisões, a tal ponto que um nome originário do segmento evangélico possa ser colocado na balança para compor a chapa em 2022;
7 – densidade eleitoral: embora colocado em último lugar na lista dos critérios, “ter voto” é tudo em uma eleição, sendo um aspecto somatório de todos os anteriores mas sempre transversal na definição do nome, em qualquer cenário;
Os critérios listados são pensados na fotografia do cenário atual, mas podem ser modificados na dinâmica da conjuntura, sempre vulnerável aos fatos novos e aos movimentos internos e externos das forças políticas, econômicas e culturais em trânsito no espaço público.
O visual tranquilo da praia de Mamuna, no município onde vive a maior população quilombola do país, tem um vizinho incômodo. Do alto das dunas e de frente para o mar é possível ver, do lado direito, a cobiçada plataforma do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão.
Mamuna e as outras povoações do Território Quilombola de Alcântara foram surpreendidas na semana passada com a resolução federal publicada no Diário Oficial da União em 27 de março. Assinada pelo general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República e coordenador do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro (CDPEB), a Resolução nº11 ordena “providenciar, por meio do Comando da Aeronáutica, a execução das mudanças das famílias realocadas, a partir do local onde hoje residem e até o local de suas novas habitações, incluindo o transporte de pessoas e semoventes [animais domésticos]”. Na prática, a medida pode expulsar de seus lares 300 famílias.
Nenhuma ação oficial sobre a remoção de quilombolas havia sido anunciada até então, embora a liberação do uso comercial da base de Alcântara por meio do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST), em vigor desde dezembro e firmado entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos em março, já inquietasse há tempos a população local.
Recebida em meio a preocupações sobre o impacto do novo coronavírus nas comunidades, a notícia provocou alvoroço entre os moradores. A resolução determina ações de nove ministérios para efetivar a mudança, mas não estipula prazo nem o número de famílias a serem removidas.
“Em um momento em que ninguém esperava, sai uma resolução dessa e as pessoas ficam aflitas, nervosas, chegando até a adoecer – Dorinete Serejo, moradora da comunidade Canelatíua e coordenadora do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial de Alcântara (Mabe)”
Caberá ao Ministério da Agricultura, por meio do Incra, apontar “frações do terreno compatíveis com os reassentamentos de cada comunidade quilombola, considerando, para fins de planejamento, que a área de consolidação do Centro Espacial de Alcântara será desocupada”, detalha o documento.
Quilombolas não foram consultados
Representantes de várias organizações quilombolas contestaram a resolução, argumentando que a remoção só pode ser feita após consulta às comunidades, seguindo as determinações da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
“Quando não for possível obter o seu consentimento, o translado e o reassentamento só poderão ser realizados após a conclusão de procedimentos adequados estabelecidos pela legislação nacional, inclusive enquetes públicas, quando for apropriado, nas quais os povos interessados tenham a possibilidade de estar efetivamente representados”, diz o artigo.
Durante o trâmite do acordo para o uso comercial da base espacial de Alcântara, em fevereiro, houve pouco diálogo junto aos moradores. Mas a remoção dos quilombolas não havia sido, ainda, mencionada pelos interlocutores do governo federal.
“Tentamos de todas as formas negociar com as autoridades federais, o governador [Flávio Dino, PCdoB], a bancada maranhense e o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (Democratas). Antes de votar a AST, nós queríamos que as comunidades fossem consultadas para a gente colocar dispositivos de proteção ao território”, diz o antropólogo Davi Pereira Junior. Nascido em Itamatatíua, uma das comunidades mais antigas do Maranhão, ele assessora os territórios quilombolas da região.
A coordenadora do Mabe, Dorinete Serejo, acompanha a relação conflituosa entre os interesses do programa espacial e os das comunidades descendentes de matriz africana há 40 anos. “Nunca tivemos de bater frente a frente, mas se enfrentando pelos caminhos legais, com audiências, reuniões, conscientizando e levando esclarecimento para as comunidades.”
Nessa peleja, organizações locais sistematizaram o Protocolo Comunitário sobre Consulta Prévia, Livre e Informada das Comunidades, um documento com o objetivo de subsidiar e orientar as tratativas com o Estado acerca do Território Quilombola de Alcântara. Assinado por 197 comunidades, o protocolo trata como cláusula “pétrea” o procedimento de consulta, estabelecido na Convenção da OIT e assegurado pela lei brasileira.
Por que a localização interessa
O Centro de Lançamento de Alcântara é cobiçado pela engenharia aeroespacial pela localização geográfica próxima à linha do Equador, proporcionando economia de combustível do foguete, pelas boas condições climáticas, pela estabilidade geológica e pelo suporte logístico com acesso a São Luís.
Entre os 18 integrantes da Câmara Federal e os três senadores do Maranhão consultados para o acordo, apenas o deputado Bira do Pindaré (PSB) votou contra. Presidente da Frente em Defesa das Comunidades Quilombolas, o parlamentar ingressou com um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) visando sustar os efeitos da Resolução nº 11, e diz que vai acionar medidas judiciais para assegurar os direitos das famílias ameaçadas de remoção.
“Não havia nenhuma garantia diante daquela decisão da Câmara Federal [com o AST] de que as pessoas teriam a preservação dos seus territórios – Bira do Pindaré, deputado federal (PSB-MA)”
Embora a bancada federal tenha avalizado o acordo, o Governo do Maranhão, por meio da Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular, divulgou no dia seguinte à publicação da resolução, 28 de março uma nota repudiando o remanejamento.
“É inaceitável repetir equívocos do passado recente, em eventual novo remanejamento, quando sequer foram solucionados os passivos de implantação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Instamos o Governo Federal a reconhecer e respeitar o direito das comunidades quilombolas ao seu território, investindo em tecnologias que permitam a convivência pacífica, colaborativa e contributiva entre os quilombolas e o Programa Aeroespacial Brasileiro”, assinou o secretário Francisco Gonçalves da Conceição.
Famílias e culturas em risco
A remoção pode alcançar 30 comunidades com aproximadamente 300 famílias, totalizando cerca de 1 mil pessoas — o município todo tem 22 mil habitantes. Quem afirma é o antropólogo Davi Pereira Junior. Nascido em Itamatatíua, uma das comunidades mais antigas do Maranhão, ele assessora os territórios quilombolas da região. No levantamento feito junto às organizações locais, o antropólogo estima o impacto total sobre 800 famílias, considerando a tendência de assentar os removidos em áreas já povoadas por outras comunidades no município.
Em Alcântara, a presença de comunidades negras rurais, formadas por descendentes de africanos escravizados, vem de ao menos dois séculos atrás. No início da década de 1980, ainda na ditadura militar, ocorreu a primeira remoção de comunidades tradicionais para a implantação do CLA. Naquele período houve a desapropriação de 52 mil hectares e o deslocamento de 312 famílias originárias de 23 povoados do litoral, transportadas para sete agrovilas construídas pela Aeronáutica, nas proximidades da sede do município.
Pautada em muito trabalho na pesca, na agricultura familiar, no extrativismo e na criação de animais, a sobrevivência de mulheres e homens do meio rural pobre está diretamente relacionada à quantidade e à qualidade dos recursos naturais. Quando uma família é deslocada do quilombo para a agrovila ocorrem várias mudanças no modo de viver, principalmente na aquisição dos alimentos, comprometendo a segurança alimentar.
Os deslocamentos compulsórios interferem ainda no desmantelamento dos laços familiares e das práticas culturais. Em várias comunidades quilombolas as religiões de matriz africana estão presentes em cultos e terreiros. A iyalorixa Jô Brandão, integrante do Fórum de Mulheres de Axé da Renafro (Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde), classifica Alcântara como terra de encantarias. A Pedra de Itacolomi, exemplifica, é um lugar de oferendas de tantos terreiros do Maranhão, principalmente o tambor de mina.
Nesse contexto, a remoção de uma comunidade envolve também relações com a natureza, os meios de produção, a religiosidade, as práticas e os saberes passados em gerações. “Se os humanos não estão sendo respeitados em dizer que não querem ser deslocados, imagine você escutar ancestrais que são invisíveis, sobrenaturais e respondem de forma diferente na relação com a espiritualidade, a natureza e as pessoas”, compara.
“Nos preocupa muito a resolução porque subentende que não haverá respeito aos templos nem às práticas religiosas das comunidades de terreiro nos quilombos – lyalorixa Jô Brandão, integrante do Fórum de Mulheres de Axé da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde”
Regularização fundiária parada
Enquanto a aprovação do acordo para liberação comercial ocorreu em tempo recorde, a regularização fundiária das áreas se arrasta em um processo judicial. O advogado especialista em direitos humanos Diogo Cabral menciona quatro décadas de conflito envolvendo os quilombolas e as sucessivas gestões na Presidência da República. Entre poucos avanços e muitos recuos, ele cita um progresso em 2008, quando o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) publicado pelo Incra assegurou ao Território Quilombola de Alcântara uma área de 78,1 mil hectares e reservou ao CLA 9,3 mil hectares.
Quando tudo parecia favorável ao andamento da titulação, em abril de 2010 a medida foi contestada pelo Ministério da Defesa e pela própria Aeronáutica. “Ambos requereram a instauração da Câmara de Conciliação da Arbitragem Federal da AGU (Advocacia Geral da União) e a suspensão do processo de titulação”, explica Cabral.
Segundo o advogado Eduardo Corrêa, membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia, a regularização fundiária é um passo fundamental para assegurar a permanência das comunidades tradicionais nas suas áreas de origem. Apesar das sucessivas cobranças, judicialização e lutas políticas, a titulação está parada no tempo.
Paralisada também ficou a gigantesca obra da empresa binacional Alcântara Cyclone Space, uma parceria entre o Brasil e a Ucrânia com o propósito de comercializar e lançar satélites do CLA por meio do foguete espacial Cyclone-4, de tecnologia ucraniana. Criada em 2003, a empreitada consumiu R$ 483,9 milhões do Brasil, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União, mas a obra não foi concluída e nenhum lançamento chegou a ser feito, rendendo ao foguete o apelido de “sucata espacial”. Em abril do ano passado, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (Democratas), promulgou lei extinguindo a empresa.
No mesmo ano de 2003, uma explosão no CLA matou 21 técnicos civis que trabalhavam na operação de lançamento do Veículo Lançador de Satélite (VLS-3).
Embora não determine o prazo para a remoção dos quilombolas, a Resolução nº 11 estabelece a próxima reunião plenária do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro em 20 de agosto de 2020. Até lá, iniciativas judiciais e políticas dos movimentos sociais, no Congresso Nacional, no Ministério Público da União e de outras instituições devem ser tomadas para anular as medidas anunciadas pelo governo federal, garantindo a permanência das famílias.
Na quarta-feira (1), a Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do Ministério Público Federal pediu que o CDPED não desloque famílias quilombolas de Alcântara, sobretudo neste momento. Em acordo firmado na quinta-feira (2) entre representantes do GSI e do MPF, o governo se comprometeu a não fazer as remoções durante a pandemia.
Imagem destacada: Comunidade rural quilombola no Maranhão / Luís Henrique Wanderley / Agência de Notícia do Estado do MA
A celebração dos 405 anos da Batalha de Guaxenduba, travada no Maranhão em 1614, terá evento acadêmico e cobertura jornalística estrangeira. Uma equipe de TV franco-alemã está produzindo um filme sobre a presença francesa em São Luís e vai abordar também o confronto no litoral maranhense, em Icatu.
Os produtores do programa denominado “Invitation au Voyage”, da rede TV Arte, já entraram em contato com historiadores do Maranhão para produzir a reportagem.
Haverá locações na praia de Santa Maria de Guaxenduba, em Icatu, onde foi travado o combate entre as forças portuguesas lideradas por Jerônimo de Albuquerque e os franceses sob o comando de Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière.
O
confronto foi um dos embates mais importantes no contexto geopolítico do início
do século XVII.
A Batalha de Guaxenduba é um dos temas abordado em vídeo produzido pelo site Agenda Maranhão, especializado em fotografia, história, literatura e turismo (veja abaixo).
Mesa Redonda
O evento
também será abordado na mesa redonda “405 anos da Batalha de Guaxenduba
(1614/2019): uma guerra brasílica”, dia 19 de novembro, às 16 horas, no
auditório da Livraria da Amei, no São Luís Shopping.
A mesa
redonda é uma realização da Academia Icatuense de Letras, Ciências e Artes
(AILCA) e terá a participação do professor, historiador e vice-presidente do
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), Euges Lima; o professor,
historiador e presidente da AILCA, José Almeida (autor do livro: Icatu, Terra
de Guaxenduba); o pesquisador e presidente da Casa dos Açores do Maranhão,
Paulo Matos; e o professor e pesquisador belga Frans Gistelinck, autor do
livro: “1612, A França Equinocial: encontro de dois mundos na Ilha do
Maragnan,” que será lançado na oportunidade.
Uma vasta programação está preparada para comemorar os 405
anos do município de Icatu, localizado no vale do rio Munim, a 109 Km de São
Luís.
Palestras, eventos cívicos, variadas atividades esportivas,
celebrações religiosas e shows musicais serão realizados dias 25 e 26 (sexta-feira
e sábado) de outubro para celebrar a fundação da cidade (veja ao final a
programação completa).
Também conhecido em dialeto indígena como “Águas Boas”, Icatu é marcado por um dos mais importantes conflitos entre portugueses e franceses pelo controle do Brasil – a Batalha de Guaxenduba.
Na praia de Santa Maria foi deflagrado o confronto entre as
forças lideradas pelo português Jerônimo de Albuquerque e o francês Daniel de
La Touche.
Em menor contingente, as tropas portuguesas conseguiram
vencer os adversários franceses. Conta a lenda que no calor da batalha a
intervenção de Nossa Senhora da Vitória transformou areia em pólvora, fato
decisivo para dar a vitória a Albuquerque.
O historiador José Almeida, entrevistado pelo site Agenda Maranhão, explica o contexto da batalha.
Em novembro de 1614, em lugar denominado Águas Boas, após a
vitória dos portugueses sobre os franceses, foi realizada uma procissão em ação
de graças a Nossa Senhora da Ajuda e iniciada a construção de sua Igreja.
Em 1688, fundou-se a Vila, posteriormente transferida para
outro local, na margem direita do rio Munim, de acordo com solicitação do
Congresso aprovada pela Corte Portuguesa através da Provisão Régia de 1758.
Vila de Icatu, inicialmente, chamou-se Arrayal de Santa
Maria de Guaxenduba, denominação dada pelo seu fundador Jerônimo d’ Albuquerque
Maranhão. Adquiriu categoria de Cidade em 1924. Segundo Varnhagen, o topônimo
Icatu ou Hycatu significa Pontes Boas. Já Ayres Casal a traduz por Águas Boas.
Para saber mais sobre a Batalha de Guaxenduba veja também a entrevista com o historiador Euges Lima.
Veja abaixo a programação completa do aniversário de Icatu