Esse artigo foi publicado em 16 de agosto de 2015 na primeira plataforma do Blog do Ed Wilson. Seis anos depois do texto, há sinais de aproximação entre Lula e Fernando Henrique Cardoso. Veja o texto original de 2015.
A fronteira entre o PT e o PSDB é curta e tênue.
Logo após a campanha de 2014, quando amigos e familiares ainda costuravam as feridas provocadas pelo tom agressivo da guerra eleitoral, a presidente eleita Dilma Roussef negou suas promessas e transformou-se em uma espécie de Aécio Neves de saia.
Dilma adotou o programa econômico do PSDB e efetivou no Ministério da Fazenda um dos principais representantes do neoliberalismo – Joaquim Levy.
Ato contínuo, o governo petista adotou uma série de medidas restritivas aos direitos dos trabalhadores, atingindo salários e aposentadoria.
Tudo aquilo que se esperava de um governo tucano foi antecipado pelo segundo mandato de Dilma.
Portanto, é preciso superar o maniqueísmo entre o PT e o PSDB. Esse fundamentalismo partidário entre vermelhos e amarelos não leva a lugar nenhum.
Para além das paixões eleitorais e afetos partidários, agravou-se uma crise da democracia brasileira que vai perdurar e seguir contaminando este e o próximo governo a ser eleito em 2018.
A crise é grave, ampla e não será resolvida apenas com a vitória eleitoral do PT ou do PSDB. Todo o Estado brasileiro está controlado pela corrupção eleitoral e administrativa.
Diante desse cenário, não será surpresa se Lula e FHC abrirem um diálogo na perspectiva de construir uma agenda mínima para o Brasil.
Afinal, entre eles não há grandes divergências. Os tucanos deram a Lula o mapa para navegar nas águas mansas da estabilidade do Plano Real. Até os economistas do PT reconhecem isso!
Lula aperfeiçoou os programas sociais criados pelo PSDB, transformando o Bolsa Família em uma das maiores plataformas de distribuição de renda do mundo.
INIMIGO MAIOR
Na atual conjuntura e no pós-2018, seja qual for o presidente eleito, o governo será parasitado pelo PMDB e a sua constelação – o PMDBismo.
O PMDBismo é a moeda da governabilidade, o cimento político do conservadorismo democrático e da corrupção. Nos últimos 20 anos, já teve várias denominações: Anões do Orçamento, Centrão, Mensalão e Petrolão.
No retrato atual da conjuntura, a principal figura pública do PMDBismo é o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, síntese da política degenerada em todos os sentidos.
O PMDBismo é a negação da República porque parasita todos os governos. É disso que o Brasil precisa se livrar, atacando a cultura política que domina o sistema partidário brasileiro.
Esse tipo de coronelismo contemporâneo sustenta o ciclo vicioso do financiamento de campanha e amplia essa prática para a compra de apoio dentro do Congresso Nacional, através de cargos, favores e, na versão degenerada, o pagamento em dinheiro aos parlamentares.
PACTO PELO BRASIL
Lula já manifestou interesse em dialogar com FHC. Se a ideia prosperar, petistas e tucanos podem consolidar um bloco partidário para enfrentar o parasitismo do PMDB e construir uma agenda urgente para o Brasil.
A reforma política, cortando o financiamento privado de campanha, deve ser o centro do debate, viabilizando uma Constituinte Exclusiva para rever as regras do jogo.
É fundamental estancar o mecanismo de alimentação financeira dos partidos por meios escusos. Essa é a raiz principal dos esquemas de corrupção que controlaram o Congresso Nacional.
Torna-se impositivo cortar pela raiz o mal da corrupção eleitoral.
Além da reforma política, a agenda entre PT e PSDB deve incluir a pactuação da governabilidade sem submissão ao PMDB, daí a necessidade da aliança entre petistas e tucanos dentro do Congresso Nacional.
Outra questão fundamental é atualizar o programa da social-democracia, comum ao PT e ao PSDB, construindo um conjunto de ações para a retomada do desenvolvimento econômico.
A crise é ruim para todos os partidos que pretendem construir a governabilidade no quadro atual.
Diante das condições políticas e administrativas do Brasil contemporâneo, inviável sob a égide do PMDBismo, a saída é juntar as afinidades e o pragmatismo do PT e do PSDB para salvar o Brasil.
Acima de tudo, é preciso deixar bem claro que o pacto não tem o objetivo de resolver as graves desigualdades do Brasil. Essa é uma questão mais profunda do capitalismo e da luta de classes.
O pacto é uma agenda emergencial, visando impedir o caos político e administrativo, que vai penalizar principalmente os mais pobres.
EVITANDO O PIOR
Assim, o pacto entre o PT e o PSDB visa destruir o inimigo maior – o PMDBismo – para evitar o pior cenário: a ascensão do fascismo e a negação da democracia.
Enquanto petistas e tucanos apaixonados se agridem na internet, enxergando grandes diferenças entre Lula e FHC, a extrema direita cresce, ganhando a simpatia de fanáticos despolitizados.
Nesse oceano de incertezas e vazios na condução do país, há um ambiente fértil para a adesão da massa desempregada e sem esperança aos ideais totalitários. O Congresso Nacional está cheio de Bolsonaros dispostos a conduzir as insatisfações da população ao pior dos mundos.
A democracia foi o melhor regime até agora construído pela humanidade, com todos os seus defeitos. Não podemos abrir mão dela.
O pacto PT+PSDB visa evitar o pior – a emergência de setores fascistas e a abertura de espaço para os golpismos da extrema direita.
Entre a social-democracia de Lula/FHC e o fascismo da extrema direita, é melhor ficarmos com a parceria tucano-petista.
Lula e FHC precisam conversar muito mais.
Imagem destacada / Lula já enviou sinais de que está aberto ao diálogo com os tucanos liderados por FHC