A morte de dois colaboradores da Companhia Energética do Maranhão
(Cemar), no Sítio Natureza, serve para refletir sobre o famigerado plano do
governo federal de permitir a posse de armas.
Segundo as primeiras investigações da Secretaria de
Segurança, o duplo homicídio teria sido cometido por homens insatisfeitos com o
corte de energia em uma residência.
Os funcionários foram mortos a tiros dentro do carro da empresa que prestava serviço para a Cemar, no município de Paço do Lumiar, na região metropolitana de São Luís.
É preciso aguardar o resultado das investigações. Mas,
independente da motivação do crime, cabe refletir sobre a posse de armas no
Brasil.
A maioria da população brasileira não está preparada para ter a posse de um equipamento letal de fogo em casa. Além disso, não há condições de fiscalizar o uso de armas em um país tão grande.
Quem garante que o indivíduo com a posse de arma não vai
cair na tentação de transportar um revólver ou pistola no carro ou mesmo para
uma festa?
A posse de arma cria condições para um empoderamento acima
do normal, podendo levar o indivíduo armado a extrapolar a razão em situações
de conflito com um vizinho, por exemplo.
Como serão recebidos os colaboradores da Cemar ou da Caema por um indivíduo com posse de arma em um dia de instabilidade emocional?
O corte de energia elétrica, algo constrangedor, por si só
já é motivo para chateação.
Como vai reagir o indivíduo armado diante de alguém que vai até sua casa interromper a luz ou o fornecimento de água?
Essas perguntas são fundamentais para o debate. Armar a população pode jogar o Brasil em uma guerra de todos contra todos e pavimentar o caminho para a barbárie.
O Procon/MA instaurou nesta semana uma portaria de investigação preliminar para apurar as razões dos problemas de fornecimento de energia elétrica em Santo Amaro do Maranhão – a cerca de 225 km de São Luís. A Companhia Energética do Maranhão (Cemar) deve justificar as constantes oscilações e interrupções que resultaram em um “apagão” na localidade.
A concessionária foi instada a esclarecer sobre a demora na resolução de problemas relacionados aos “apagões” no município; informar quais providências estão sendo ou foram tomadas para solucionar a questão; apresentar um plano de melhorias com metas de curto, médio e longo prazo; e oferecer uma forma de como os consumidores serão ressarcidos pelos possíveis danos.
A presidente do Procon/MA, Karen Barros, garantiu que o órgão irá acompanhar de perto até que a empresa solucione de forma imediata o problema. “É inadmissível que um serviço público como esse seja oferecido dessa forma. O art. 22 da Lei nº 8.078/90 determina que concessionárias, permissionárias, ou sob qualquer outra forma de empreendimento são obrigadas a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos”, disse.
A Cemar tem o prazo de cinco dias, a contar do recebimento da notificação, para apresentar esclarecimentos sobre as indagações formuladas. Convém esclarecer que a recusa à prestação das informações solicitadas, no período indicado, caracteriza crime de desobediência, na forma do art. 330 do Código Penal, ficando a autoridade administrativa com poderes para imposição de sanções administrativas, além de outras providências cabíveis.
Descaso, falta de respeito e humilhação. É assim que a Companhia Energética do Maranhão (Cemar) trata a população de Santo Amaro, localizada há 235 Km de São Luís e apenas 94 Km de Barreirinhas, ambas no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
Somente no fim de semana prolongado pelo feriado do Dia do Trabalhador, quando a cidade recebe maior número de familiares santamarenses e turistas, a cidade ficou sem luz por dois dias.
O primeiro apagão estendeu-se da meia noite de sábado (28) até 11 horas de domingo (29), com suspensão total no fornecimento.
Hoje (1º de maio) a cidade ficou com luz precária, devido às constantes oscilações, do meio dia até 17 horas.
Estes dois episódios são apenas recortes de uma situação que já se transformou em regra na cidade que está posicionada entre as mais importantes do turismo na Rota do Sol, que compreende o litoral do Maranhão até o Ceará.
Nem mesmo a construção da estrada MA-302, que dá acesso a Santo Amaro, fez com que a Cemar melhorasse o fornecimento de energia.
Na verdade a falta de energia passou a ser a rotina, devido às constantes interrupções e oscilações.
Os prejuízos para os moradores, comerciantes e turistas são incalculáveis e vão desde a “queima” de aparelhos eletrodomésticos até a evasão dos visitantes dos hotéis e pousadas.
Potencial desperdiçado
Embora Barreirinhas receba a fama de ser a cidade-polo das belezas do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, Santo Amaro tem um vasto repertório de opções para o turismo.
Às margens do rio Alegre, o município dispõe de um amplo conjunto de dunas e lagoas. Devido à beleza exuberante, a cidade já foi cenário do filme “Casa de Areia”, de Andrucha Waddington, estrelado por Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e Stênio Garcia.
Turistas do mundo inteiro são atraídos pelas lagoas naturais e dunas de Santo Amaro.
A proprietária da pousada e restaurante Sol de Amaro, Maria Aparecida Rocha, viveu mais de 20 anos no Rio de Janeiro, voltou para sua cidade natal, investiu no turismo e repudia o serviço ofertado pela Cemar (veja o vídeo).
Quebra no comércio
Proprietários de restaurantes, pousadas, bares, sorveterias, panificadoras e outros empreendimentos sentem no bolso, duplamente, os estragos causados pela Cemar.
Duplamente porque perdem clientes e pagam contas altíssimas.
A Cemar não é uma empresa perversa apenas porque deixa uma cidade inteira sem energia. Ela é também nefasta porque sequer dá uma satisfação aos usuários do serviço pelas suas falhas.
Pior que o péssimo serviço é a indiferença diante dos maus tratos com a população e os turistas, que fazem da Cemar uma empresa autoritária, pedante, violenta, agressiva, cruel e tantos outros adjetivos necessários para “qualificar” a pior comerciante de energia elétrica de todos os tempos no Maranhão.
A empresa não é ruim apenas devido às falhas. É pior porque extorque seus clientes, é nociva porque cobra absurdamente por um serviço péssimo.
Os usuários sentem a violência da Cemar, literalmente, na pele.
Sem energia elétrica, os moradores e visitantes ficam impossibilitados de ligar ventiladores e ar condicionados para espantar os insetos, mosquitos e muriçocas dentro das casas, principalmente no período das chuvas.
Violência contra todos
Santo Amaro é apenas uma das cidades atacadas pela violência de lucros da Cemar. Na verdade, todos os municípios do Maranhão sofrem com as práticas mercadológicas agressivas desta companhia negociante de energia.
Quantas pessoas pobres são obrigadas a reservar parte do seu orçamento para esta ditadura energética?
Quantos pequenos e médios empreendimentos nas áreas urbanas e rurais tiveram seus negócios inibidos pelos preços abusivos praticados pela Cemar?
Quantas oportunidades de negócios, geração de emprego e renda foram abortadas devido às imposições tarifárias da Cemar?
A população de Santo Amaro, castigada e humilhada, ecoa o grito de todos os municípios. E a Cemar já merece o título de maior inimiga do desenvolvimento do Maranhão.
Imagem: Ed Wilson Araújo / Santo Amaro alagada e sem luz na manhã de 28 de abril/2018.