O texto abaixo (em itálico) foi publicado em julho de 2006, no antigo Blog do Ed Wilson, por ocasião da morte de duas lideranças expressivas do movimento social e partidário de Viana, cidade localizada na Baixada Maranhense: o médico Messias Costa e o jovem comunicador e ativista Ribamar Ribeiro. O artigo, porém, ficou perdido em algum lugar na web.
Recentemente, neste julho de 2023, o vianense e geógrafo José Ribamar Santos Neto recuperou o texto em uma rede social. “Sou fã desse artigo. Gosto muito de escrever também. Conheci bastante doutor Messias e Ribamar Ribeiro era meu vizinho. Homens simples e de muito valor”, enfatizou Ribamar Neto.
O acidente que matou o prefeito Messias Costa foi permeado de controvérsias e suspeitas. À época, o então deputado estadual petista Domingos Dutra questionou o trabalho da perícia.
Naquele tempo, Ribamar Ribeiro engajou-se na rádio comunitária (PPJ FM) de Viana, junto com um grupo de jovens egressos de projetos de capacitação do Instituto Formação. A programação da rádio repercutiu muito na cidade e a emissora foi perseguida até a extinção pelo conservadorismo local.
O jovem idealista chegou a ser suplente de vereador em 2004, pelo PRP, mas teve a vida interrompida por uma tuberculose. Era solteiro e não deixou filhos. Seus parentes vivem hoje no povoado Santa Teresa, na zona rural de Viana.
Os dois filhos de Messias Costa têm nos nomes a marca do pai: Lenimarx Soares Costa é médico formado em Cuba e Frederich Marx Soares Costa advogado.
Veja abaixo o artigo sobre um PT que não existe mais e hoje está totalmente dominado pelo pragmatismo:
Os “Guevara” da Baixada Maranhense
Ed Wilson Araújo
A morte do ex-prefeito de Viana, Messias Costa Neto, abre um vazio na política e no PT, ambos cada vez mais cercados do pragmatismo e do oportunismo, salvo algumas exceções. No geral, a primeira providência de um prefeito recém-empossado é adquirir uma caminhonete Hi-Lux e, no decorrer do mandato, ir aumentando o patrimônio com apartamentos no Calhau e alhures. É assim com muitos! Mas Messias, após dois mandatos em Viana, dirigia um carro popular, trajava camisa do PT e vinha de uma das missões que abraçou com gosto e compromisso: a prática da Medicina junto ao povo.
“Quantas e quantas vezes ouvimos relatos ou presenciamos o prefeito de Viana deixar um compromisso administrativo para atender a um doente na zona rural de Viana? Várias! A profissão de médico e as gestões na prefeitura não foram para ele meios de enriquecimento ou de distanciamento da sua própria realidade. A “corte” de Messias era o seu povo, o baixadeiro, com o qual construía sonhos, utopias e projetos.
A práxis de Messias é um exemplo de reencontro com a humanização da política, tão artificializada pelos efeitos da cosmética publicitária, dos marqueteiros e dos estrategistas que transformam a política em negócio, o parlamento em bolsa de valores, o candidato em ação do mercado e o voto em mercadoria.
Qual marqueteiro seria capaz de tirar dele a “cara” de homem do povo? Messias era avesso aos padrões que a modernidade liberal veio construindo entre nós: luxo, conforto ao extremo, consumismo, status de administrador e médico etc. E assim o seu modo de exercer a Medicina e a política foi se espalhando pelo interior de Viana e por toda a Baixada Maranhense.
Messias foi enterrado com a maior honraria de um revolucionário: a presença do povo que tanto amou e cuidou. Ele deu aos filhos os nomes dos seus gurus ideológicos: Marx e Lênin. Um deles estuda Medicina em Cuba, reforçando as afinidades ideológicas e profissionais entre o ex-prefeito e o guerrilheiro Guevara. Messias embrenhava-se na zona rural da Baixada Maranhense para tratar o povo com remédios e idéias. Queria curá-lo das doenças e libertá-lo das injustiças sociais.
Quase todas as estimativas do PT convergiam para uma grande votação de Messias para deputado estadual em 2006, com amplas possibilidades de conquistar uma vaga na Assembléia Legislativa. Mas o destino foi outro. Na estrada precária, seu carro popular foi de encontro justamente a uma Hi-lux, que ele, após administrar muitos fundos de participação, não comprou.
A perda do ex-prefeito soma-se ao recente desaparecimento de outro guevara de Viana. O jovem Ribamar Ribeiro, de 24 anos, morreu em meados de julho, de tuberculose. Parece absurdo, mas muitas pessoas no interior do Maranhão ainda morrem de tuberculose. Ribamar era um dos mais atuantes membros da Rádio Comunitária PPJ FM, uma emissora feita por jovens oriundos de situação de pobreza que marcou o cenário político de Viana. A rádio foi fechada pela dupla Anatel/Polícia Federal, mas os jovens, liderados por Ribamar, estavam decididos a retomá-la. Dias antes de morrer, ele limpou os equipamentos e reorganizou os documentos da associação mantenedora da rádio.
Esta ação de Ribamar também lembra Che Guevara. Ao subir a Sierra Maestra para deflagrar a Revolução Cubana, o guerrilheiro levou junto um transmissor que daria origem à Rádio Rebelde, uma arma decisiva na guerra de informação travada contra as agências de notícias que tentavam desqualificar Guevara e Fidel Castro, plantando mentiras sobre a revolução na imprensa internacional. A família de Ribamar era muito pobre no interior de Viana. Mas orgulhava-se de ouvir a voz do filho ilustre, de sobrenome Ribeiro, pelas ondas da rádio PPJ FM.
Viana perdeu dois filhos ilustres. Viva Messias! Viva Ribamar! Que surjam outros guevaras na Baixada Maranhense!