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Morre a DJ Nega Glícia, ícone do reggae feito por mulheres no Maranhão

Glicia Helena Silva Landim, a DJ Nega Glícia, morreu nesse sábado (24), em São Luis, vítima de um aneurisma cerebral. Ela estava internada desde o último dia 20 de fevereiro no Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA).

Reproduzo abaixo uma reportagem publicada no Blog do Ed Wilson, em 2012, mostrando a ascensão de Nega Glicia e Donna Roots na cena do reggae feito por mulheres DJs.

As fotos são de Joedson Silva, no antigo espaço Trapiche, um dos lugares mais lindos para curtir a Jamaica Brasileira ao por do sol.

MULHERES DJs CONQUISTAM ESPAÇO NAS RADIOLAS DE REGGAE

Donna e Glicia no comando das pedras, ao por do sol, na Ponta d’Areia, em São Luís. Foto: Joedson Marcos Silva

Blog do Ed Wilson, 12 de agosto de 2012 – As tardes de domingo, ao por do sol na Península da Ponta d’Areia, estão sob o comando de duas mulheres regueiras. Aos 23 anos, Leilimar Tavares, a Donna Roots, pilota o notebook de onde saem as “pedras” – reggae de boa qualidade – para animar o público nas areias do bar Trapiche.

Ex-integrante da banda Kimera, feita só por mulheres, Donna Roots entende o acesso feminino aos microfones das radiolas como uma conquista. “O reggae feito por mulher é mais sensual, bem mais gostoso e quanto mais meninas vierem para somar, melhor, vai pra frente”, garante.

O trabalho na discotecagem é recente (março de 2012), mas Roots conta que foi bem recebida pelos veteranos. “Eles se dispuseram a ensinar e eu a aprender. Não houve repúdio”, destaca. Tocando com o por do sol ao fundo, Donna Roots inspirou-se para definir o reggae: “É libertação, paz de espírito, sensação de que o mundo está nas suas costas e quando toca o reggae eu me sinto vazia do que não merece e cheia de vibrações positivas.”

DESBRAVADORA

O ingresso das mulheres DJs na cena regueira do Maranhão tem uma personagem marcante – Glicia Helena Silva Landir –  a Nega Glicia. Sempre rodeada de amigos, admiradores e seguidores do reggae, destaca-se pelo visual rastafári e a voz enrouquecida e grave, sua marca sonora no comando das radiolas.

Ela começou a freqüentar os salões de reggae aos 16 anos, no Espaço Aberto, tradicional clube da capital, onde tocava idéias e aprendia com os DJs, donos de radiolas, proprietários de bares, montadores de caixas de som e outros operadores da maquinaria regueira.

Assídua no Bar do Nelson, Nega Glicia ampliou a curiosidade sobre os equipamentos de som, as famosas radiolas de reggae, com o apoio fundamental do já consagrado DJ Andrezinho Vibration. A curiosidade de Glicia e a boa vontade de Andrezinho oportunizaram a estréia dela como locutora. “Me ajudou muito também a facilidade de lidar com o público, a comunicação”, acentua.

Ela conta ainda com o suporte das redes sociais para divulgar a agenda de shows e colhe sugestões dos regueiros sobre as preferências musicais. O trabaho de divulgação é feito pelo assessor Junior Carvalho.
2009 foi um ano decisivo na carreira profissional, quando Andrezinho Vibration deixou o reggae e Glicia seguiu sozinha, desbravando um segmento profissional de 40 anos sob domínio dos homens na locução das radiolas.

Ela passou a tocar no bar Deusimar (Litorânea), no projeto Terça Jah; na Casa Sem Teto e no Catarina Mina (ambos na Praia Grande), Creole (Ponta d’Areia), Raízes da Ilha, Trapiche, Chez Moi, Mama África e Daquele Jeito.

DESTAQUE FORA DO MARANHÃO

Nega Glicia é bastante solicitada para pilotar as radiolas nas festas da Baixada Maranhense. Fora do estado, fez apresentações em Salvador, Belém, Macapá, Fortaleza, Rio de Janeiro (Lapa e Niterói) e na Virada Cultural de 2011, em São Paulo.

Ela está à procura de apoio para realizar uma oficina de discotecagem destinada às mulheres interessadas em trabalhar como DJ. O reggae é encarado por Glicia como esperança, ferramenta de luta e sobrevivência. “Eu trabalho de quarta a domingo, pesquiso, vivo do reggae”, acentua.
As preferências musicais de Glicia e Donna, respectivamente, são Jacob Miller e Desiree, dois ícones do reggae.

A experiência da primeira e o entusiasmo da segunda fazem o salão dançar ao som das pedras, intercaladas com os bordões “Toma na tua cara” e “Reggae feito por mulher”. A qualidade musical também é preservada. Elas só tocam reggae roots e dispensam o estilo eletrônico.

NOVOS VALORES DO REGGAE

Os produtores de Nega Glicia começaram a inovar na geração de souvenir para dinamizar o estilo da DJ. Márcia e Pablo Victor Cruz cuidam da imagem da vocalista e já desenvolveram uma sandália estilizada. Segundo Pablo Cruz, a meta é criar bolsas, roupas e bijuterias baseadas no visual da DJ. Já estão disponíveis, além das sandálias, os CDs com as músicas mais tocadas nas festas animadas por Glicia.

O público tem boas impressões das mulheres DJs. Para o estudante Denis Frederico, o reggae é muito bom, não depende de sexo (gênero), mas as mulheres mandam muito bem.

“No reggae feito por mulher a sintonia é mais forte. Sempre vou onde as DJs estão”, avisa Daiane Oliveira, 20 anos, na primeira fila do salão de dança, acompanhando atentamente a performance de Donna Roots e Nega Glicia.

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