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Claudia Santiago e a expectativa do 3º Seminário Comunicação e Poder no Maranhão

Agência Tambor – Fizemos uma entrevista com Claudia Santiago. Ela é jornalista e historiadora. Ao lado de Vito Giannotti, fundou no Rio de Janeiro o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), uma instituição que há 30 anos trabalha com formação na comunicação popular e sindical, tornando-se referência no Brasil.

O Núcleo Piratininga apoia o Seminário de Comunicação e Poder no Maranhão, evento que no próximo dia 11 de novembro realizará sua terceira edição. Claudia Santiago virá para o Seminário. Mas antes de chegar em São Luís, respondeu essas quatro perguntas formuladas por Danielle Louise, Ed Wilson Araújo, Emilio Azevedo e Lívia Lima.

Vejam abaixo nossa entrevista com Claudia Santiago.

Agência Tambor – Como você analisa o cenário da comunicação no novo governo Lula?

Claudia Santiago – O atual governo brasileiro tem uma tarefa imensa. Ele precisa administrar e reorganizar o país, depois da tragédia promovida pela extrema direita.

Os desafios do atual governo brasileiro passam por garantir direitos, por segurança alimentar, educação, saúde, moradia, economia, pela questão fundiária, por segurança, cultura, infraestrutura, pelas questões diplomáticas. É muita coisa.

E tem a luta por democracia. E quando se fala em democracia, a comunicação é uma das prioridades.

Em relação a esse tema específico, a parte que cabe ao governo federal é colocar a democratização da comunicação – colocar a nossa agenda – na pauta política e no orçamento público.

Quando se fala em democracia, a comunicação é uma prioridade

Agência Tambor – Quais os desafios da comunicação popular no Brasil, na atual conjuntura, onde se fala exatamente em retomada da democracia?

Claudia Santiago – Conhecer muito bem as pessoas com quem se quer comunicar, ter periodicidade e credibilidade e estar presente nos bairros, nos locais de trabalho e nas redes sociais.

Além disso, estimular a participação dos setores envolvidos para que a comunidade se sinta parte da comunicação produzida e lute para mantê-la viva, na ativa.

Não podemos fazer uma comunicação vertical. Isso já existe em grande escala. A comunicação popular é feita pelo povo, com o povo, para o povo com a ajuda de profissionais da comunicação que, preferencialmente, sejam moradores das localidades envolvidas e, obrigatoriamente comprometidos com as causas populares.

A democracia é coisa muito séria. Precisamos pensar em que nível de democracia estamos quando, em determinados locais, alguns assuntos são proibidos de se falar para proteger a própria integridade física.

Não podemos, em nenhum espaço que estivermos, deixar de falar da tragédia humanitária que acontece hoje na Faixa de Gaza. Em alguns locais do Rio de Janeiro, a disputa de territórios por grupos criminosos é tão grande que se costuma denominá-los de Faixa de Gaza. Como vive essa população? Que liberdade de imprensa que existe sob o domínio de grileiros, bandidos, jagunços, forças militares e grandes corporações?

Acredito que a comunicação popular seja fruto da organização de moradores de determinada localidade em defesa de direitos. Não há luta política sem comunicação, não há direitos sem luta política, logo não há conquista de direitos sem luta e comunicação.

Para mim o grande desafio é a organização popular. É ela que vai gerar a comunicação popular. Organização popular pressupõe interesses em comum, estudo, cultura e comunicação. A comunicação popular é o fermento da organização popular.

Somado a isso, temos duas questões que foram vividas nos últimos dez anos e com as quais nós precisamos saber lidar cada vez mais, que são as novas tecnologias e o avanço da extrema direita.

O Brasil precisa olhar com atenção o que vem sendo feito no Maranhão, em matéria de comunicação popular.

Agência Tambor – O Brasil é um país continental, com toda uma diversidade social e cultural. Um debate sobre comunicação feito no Maranhão, pode ter interferência para além das fronteiras do nosso estado?

Claudia Santiago – Acredito que sim. Este é um debate que tem que ser feito em todos os cantos do país. No caso do Maranhão, a partir de São Luís, existe um processo que vem de longos anos e resultou na Agência Tambor no ano de 2018, criada após o I Seminário Comunicação e Poder, no ano anterior.

Esse seminário, com a participação do movimento popular, sindical e da universidade foi um marco no jornalismo e na comunicação popular no Maranhão. O NPC estava lá e agradecemos a oportunidade de fazer parte desta história.

Nos últimos anos, a Tambor, com a experiência adquirida por seus criadores no jornal Vias de Fato, na Abraço e no movimento sindical junta diferentes setores. É um veículo de comunicação extremamente importante que trata de temas decisivos para o Maranhão e que certamente vem chamando a atenção para além das fronteiras locais.

Esta terceira edição do Seminário, inclusive, vai contar a participação do presidente do Fórum Nacional de Comunicação, Admirson Medeiros, o Greg. O Brasil precisa olhar com atenção o que vem sendo feito no Maranhão, em matéria de comunicação popular.

Agência Tambor – Como você observa as consequências dos dois primeiros Seminário de Comunicação e Poder no Maranhão?

Claudia Santiago – Como disse anteriormente, a Agência Tambor é filha do primeiro seminário. No segundo, também com a participação do NPC aumentamos a participação do movimento sindical o que muito nos orgulha.

A Tambor nasceu de uma ação coletiva de pessoas apaixonadas pelo jornalismo e outras que compreenderam desde o início a importância da comunicação na vida da classe trabalhadora e vieram participar.

Hoje a Agência consegue diariamente produzir conteúdo jornalístico, com qualidade e de padrão contra hegemônico. Isso não é pouca coisa, em se tratando de Brasil. Isso é muita coisa. Sou fã da Agência Tambor. É um respiro de ar limpo no meio de tamanha poluição em São Luís, como a própria Tambor vem denunciando sistematicamente.

Lembro de uma carta aberta que a Associação Nacional de História (ANPUH-MA) lançou este ano afirmando que a Agência Tambor vem rompendo o silêncio dos carteis oligárquicos

Lembro-me de uma a carta aberta que a Associação Nacional de História – Seção Maranhão lançou em junho deste ano, colocando a Agência Tambor como realizadora de um jornalismo que vem rompendo silêncios dos carteis oligárquicos. Isso trata de algo fundamental na comunicação popular, que é capacidade de incomodar o poder e interferir na agenda pública.

Leia a Carta da Associação Nacional de História : Venha! É democracia e comunicação!

Além da Agência Tambor, esse processo de realização de sucessivos Seminários tem possibilitado um intercâmbio, uma troca de experiências e de informações entre movimentos sociais, estudantes, ativistas, jornalistas, dirigentes sindicais, professores de comunicação e arte.

A Teia de Comunicação Popular do Brasil foi gestada no mesmo período da Agência Tambor. Ambas nasceram em março de 2018. Essa teia, que passa pelo Maranhão, cujo nome foi inspirado na Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão, que está em quase todos os estados do país, tem o dever de atuar organicamente neste momento de crescimento da extrema de direita no mundo. Temos que apertar os laços entre aqueles que acreditam na solidariedade de classe como motor da história e que sentem amor pela humanidade.

Tudo isso é parte de algo que é definitivo para comunicação popular e sindical e, consequentemente, muito importante para a luta por democracia no Brasil.

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