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Clausewitz para “ler” Oppenheimer

O filme “Oppenheimer” constrói a trama entre três campos sociais: o científico, o militar e o político. Entre eles, transita o campo filosófico, permeando os temas da moral e da ética.

Cientista renomado, Robert Oppenheimer lidera uma elite de pesquisadores para construir a bomba atômica, sob o argumento de que os Estados Unidos precisavam se antecipar na corrida nuclear contra os nazistas.

A pegada filosófica, no campo das ideias, percorre as três horas do longa. Embora reconhecido e adorado pelos seus feitos científicos, Oppenheimer vive assombrado pela acusação de ter pertencido ao partido comunista.

O imperialismo e o macarthismo (ação de “caça” aos comunistas, liderado pelo senador Joseph McCarthy) souberam usá-lo e descartaram seus serviços quando a tecnologia da bomba já era de pleno domínio dos militares.

As reflexões morais e éticas sobre a bomba ganham evidência na cena em que Oppenheimer tem um encontro com o presidente dos EUA Dwight Eisenhower. No diálogo, o cientista demonstra preocupação e certa dose de arrependimento sobre os futuros efeitos da corrida nuclear, considerando os danos causados em Hiroshima e Nagasaki.

Bem ali, naquele momento da narrativa, Oppenheimer cai na real, quando o presidente diz que o Japão e suas vítimas pouco se importavam com que idealizou a bomba e sim com quem autorizou o bombardeio – o presidente dos EUA.

O personagem de Eisenhouer, no filme, chega a ser sarcástico, quando sugere evitar novos encontros com o “bebê chorão” Oppenheimer.

A palavra final do presidente dos EUA pode ser lida com apoio do livro “Da guerra”, do general prussiano Carl von Clausewitz. A obra é considerada um tratado sobre a arte da guerra e uma das principais referências sobre conflitos bélicos.

General de campo e teórico, Clausewitz ensina que na guerra os objetivos políticos estão acima dos objetivos militares, sendo estes o meio para concretizar a estratégia.

Em síntese, Clausewitz é preciso ao apontar a subordinação da guerra à política e aos objetivos políticos, assunto de decisão exclusiva do Governo de um Estado.

Os ensinamentos do general e teórico prussiano ajudam a entender porque um gênio da Ciência foi devorado pelos interesses maiores da política imperialista dos Estados Unidos.

Dos quatro campos sociais agendados no filme, prevaleceu a combinação político-filosófica: o poder da força guiado pelas ideias da dominação.

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