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A vaga e o vagabundo

Eloy Melonio é contista, cronista, letrista e poeta.

Obstruindo a entrada de veículos no estacionamento preferencial na frente da loja Cantinho Doce, na Cohama, um carro com o pisca-alerta ligado parecia abandonado. Em seu interior, o condutor, esparramado no banco, ouvia música no seu fone de ouvido enquanto esperava seu acompanhante.

Outro veículo chegou, e — impedido de entrar — o motorista buzinou, buzinou. Sem resposta, e já irritado, apertou a mão na buzina umas três vezes seguidas. Finalmente, o carro se moveu, deixando a entrada livre. O barrigudinho recém-chegado estacionou sua SUV Hyundai, desceu e se dirigiu à escadaria da loja, deixando o carro na vaga de gestante.

Tentei entender aquela situação: essa loja não vende fraldas nem produtos para bebês! E que, ao voltar, o gordinho podia se defrontar com um carro-patrulha da SMTT (já vi essa cena antes).

Uma ideia escabrosa me veio à mente. Mesmo se tivesse de enfrentar a lei, seria possível que o nosso anti-herói fosse liberado e saísse fria e tranquilamente, cheio de razão. É que hoje existem “narrativas” para justificar tanta coisa que “duvidar não é preciso” (nem permitido). E, amanhã, talvez ele esteja em outro lugar com a mesma arrogância. E, quem sabe, sua próxima vítima não seja um cadeirante ou um idoso?

Tão repugnante foi a reação de um motorista que, dias antes dessa cena, fez a mesma coisa numa área do João Paulo (bairro desta cidade). Ao voltar e ver que fora multado, tentou negociar com o agente de trânsito, ainda no local. Não atendido, deu um tiro na cabeça do defensor da lei, que teve morte imediata.

Eita Brasilzão arretado! Estás longe do Brasil Brasileiro cantado nos versos de “Aquarela do Brasil” (1982), de João Gilberto.

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