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Cururupu, berço do Carnaval

Cláudio Coutinho (Baiaco)

É chegada a quarta-feira de cinzas. Percebo entre todos, muita alegria, quase um dever cumprido, mas também tristezas pelo fim da folia. 

O som das bandas nas praças e dos blocos tradicionais no “corredor da folia” varam a madrugada.

Recolho-me cansado e moído, antes da meia noite, mas não consigo dormir, tampouco acompanhar os foliões na avenida.

Da janela do meu quarto, aprecio os últimos suspiros desta festa tradicional, que movimenta e enche de orgulho filhos e amigos de Cururupu. A cidade está com o triplo da sua população, mas não se vê um murmurinho que não seja da alegria das escolas de samba e dos blocos tradicionais.

Agora, ao amanhecer, tudo volta ao normal. Vejo o vai-e-vem de carroças descendo e subindo as ruas e os últimos foliões, trôpegos, em verdadeira procissão, indo para as suas casas, silenciosamente, em carros de bois, burros ou de carona em motos e bicicletas, exaustos pelos quatro dias de muita folia.

Morro de inveja por não ter a força e disposição do “irmão Artur” que, aos 86 anos, bebeu o dia inteiro, brincou e dançou até meia noite e, o melhor, não se lembra de nada e amanheceu sem ressaca.

A festa é popular e cheia de religiosidade. São Benedito, sempre citado, é o padroeiro e protetor deste povo ordeiro, por excelência, brincantes fortes e talentosos músicos do sopro, cordas e percussão.  

Por isso, há 40 anos bebo nesta fonte de inesgotável riqueza cultural. 

Blocos e escolas possuem ritmos e composições próprios. Cada agremiação tem seus líderes, da própria comunidade, que dão o ritmo da batida e misturam a ascendência afro do tambor de crioula, mina, sambas de roda ao reggae jamaicano e brega paraense. É um caldeirão de influências movendo o ano inteiro este povo, que respira carnaval. 

O carroceiro, o político, o empresário, o servidor público e o empregado dividem o mesmo palco. 

Que maravilha!  

É tudo que precisamos, harmonia e convivência pacífica. 

Cururupu valoriza os ancestrais e homenageia seus mestres carnavalescos, é  “raiz”. Nada deve aos sambistas cariocas, paulistas ou baianos. Mestre Mandioca, Burrica, Lulu, Cabedá Pilherga, Dorinha, Osvaldino, Mael, Manezinho e muitos outros são lembrados e imortalizados em sambas.

Eu sou Cláudio Coutinho, (Baiaco), quase um Cururupuense. Amo essa gente.

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