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Os dilemas da federação partidária no plano de Lula

O golpe jurídico-midiático-parlamentar de 2016 deixa um legado terrível para o Brasil: cassou o mandato da presidenta Dilma Roussef, condenou sem provas e prendeu o ex-presidente Lula e disseminou o ódio contra os partidos e a democracia.

As conseqüências desse processo são o avanço da extrema direita e uma ameaça concreta às instituições.

Diante desse cenário, a candidatura de Lula, líder em todas as pesquisas, pensa não só em ganhar a eleição, mas projeta um desafio ainda maior – garantir a governabilidade.

O Centrão de hoje, alinhado ao presidente Jair Bolsonaro, é o mesmo que vai chantagear, usurpar e até ameaçar de cassação um novo mandato de Lula a partir de 2023.

Não nos enganemos. Se Jair Bolsonaro for derrotado, a bancada ultraconservadora ainda estará presente no parlamento e vai mobilizar todo tipo de abuso contra um eventual governo petista liderado por Lula.

Uma das alternativas para sair do cerco do Centrão é a construção de um bloco parlamentar com força política suficiente para assegurar uma relativa maioria no Congresso Nacional.

Assim, o foco da tática para a eleição de 2022 é assegurar o maior número possível de deputados e senadores alinhados ao campo democrático-popular com o objetivo de enfrentar a extrema direita.

A eleição de uma forte e expressiva bancada progressista está pensada mediante a construção da federação partidária, que reúne várias legendas mediadas por um contrato de fidelidade com duração de quatro anos.

Lula está convencido de que a federação é o melhor caminho para garantir a governabilidade.

Mas, se a federação é vantajosa para assegurar uma base fiel a um eventual governo petista, por outro lado ela corta a própria carne do PT.

Em nome da federação, a tendência é desidratar e muito a bancada petista porque a concorrência eleitoral na federação vai colocar todas as legendas federadas em uma corrida agressiva pelo voto.

Diferente da coligação proporcional, quando os partidos se juntam e garantem as suas vagas até mesmo para os candidatos com médio potencial de voto, a federação é um rolo compressor – apenas os mais votados conquistam as vagas.

Assim, a federação configura um velho ditado apropriado para a conjuntura vindoura: vão-se os anéis, ficam os dedos; ou seja, ganha-se a Presidência da República com o candidato do PT – Lula – mas o partido sacrifica o seu potencial de eleger deputados e senadores, inclusive nas bancadas estaduais.

A federação não é consenso nas bases e diretórios do PT. A maioria das instâncias não vê com bons olhos o sacrifício de perder mandatos e enxugar as suas bancadas estaduais e federais.

O PT será subtraído não só em número de parlamentares, mas no tempo de propaganda eleitoral e nos fundos de financiamento partidário e eleitoral.

Do ponto de vista da construção partidária, a federação causa perdas e danos ao PT, mas, pelo visto, é a única saída para ganhar a República e depois arrumar a vida nas paróquias.

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