Ivan Longo: jornalista e repórter especial da Revista Fórum.
Se atualmente a mídia tradicional, impulsionada pela narrativa da operação Lava Jato, apelidou os esquemas ilegais de contratos da Petrobras no século 21 de “petrolão” e se refere a ele como “o maior escândalo de corrupção da história do Brasil”, em 1988 o jornal O Globo estampava em sua capa que a Petrobras “passa pelo maior escândalo de corrupção de sua história”.
É o que mostra, em detalhes, o primeiro episódio do documentário Lava Jato Entre Quatro Paredes, produzido pelo canal Normose em parceria com o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), já disponível no youtube.
O filme será dividido em quatro episódios e foi produzido ao longo de 10 meses com base em pesquisas de materiais da imprensa, livros, entrevistas e outros materiais que compõem um rico acervo para sustentar o roteiro, que visa desmistificar a ideia de que a corrupção na Petrobras é algo recente e ainda destrinchar os reais interesses por trás da espetaculosa operação Lava Jato.
O primeiro episódio, já assistido pela reportagem da Fórum, faz um retrospecto da importância da indústria petrolífera no mundo, partindo pela perfuração do primeiro poço nos Estados Unidos, ainda no século 19, passando pela formação de cartéis e monopólios, a influência do liquido na Segunda Revolução Industrial e detalhando como a indústria petrolífera se estabeleceu no Brasil.
Para isso, o documentário recorre a arquivos históricos que jogam luz à discussão sobre os interesses estrangeiros no petróleo brasileiro ainda antes da criação da Petrobras, que se deu em 1953.
Avançando na linha do tempo, o primeiro episódio do documentário mostra como o petróleo foi se estabelecendo como importante base da indústria nacional e como esse setor se desenvolveu rapidamente, logo nos primeiros anos de atuação, envolvendo muito dinheiro, poder e interesses – fórmula básica para qualquer esquema de corrupção.
Em 1958, apenas cinco anos após a criação da Petrobras, o jornal O Globo já noticiava corrupção na estatal. O filme nos revela, a partir de então, como a ditadura militar, implementada através do golpe de 1964, serviu como um grande motor para o crescimento de empreiteiras brasileiras, que já naquela época passaram a atuar em obras da petrolífera e constituíram um esquema sistemático de propinas, chantagens e corrupção que perdura até os dias de hoje.
“A ditadura foi fundamental para o crescimento das empreiteiras. São empresas de perfil familiar com laços de inserção política. O golpe de 64 alegava que combatia a subversão e a corrupção. Tinha esse discurso moralista, sendo que na ditadura se forjou o cenário ideal para as práticas corruptas – apropriação do estado para interesses privados”, afirma em entrevista ao documentário Pedro Henrique Pedreira Campos, autor do famoso livro “Estranhas Catedrais”, que narra a história de grandes empreiteiras brasileiras e suas relações com os anos de chumbo.
O primeiro episódio de “A Lava Jato Entre Quatro Paredes” fornece uma robusta introdução para se entender o que viria a ser a operação midiática que tem como um de seus heróis o ex-juiz Sérgio Moro. Os reais interesses por trás da força-tarefa, o modus operandi das delações premiadas, a influência e orientação de estrangeiros na política brasileira, bem como tudo o que envolve a operação e a Petrobras, se a empresa é “vítima” ou “ré”, serão destrinchados nos três episódios seguintes do documentário.
A segunda parte estará disponível a partir da próxima terça-feira (29).
Uma resposta em “Documentário desmascara ideia de que corrupção na Petrobras foi inventada pelo PT”
há corrupção mais silenciosamente
perversa e assim também consentida
do que aturar gente explorando gente
como faz o capital do trabalho na vida
de quem só trabalha – e como subgente
obedece ao patrão e padecendo agoniza?
só uma ex-querda também colonizada
é capaz de fazer a isso aí vistas grossas
durante a campanha é “companheirada”
depois de toda a mentira e conversa fora
a militância do mercado impõe suas cartas
e o dia a dia é fazer o lucro de quem explora
recordo-me da lição cabana e amazônida
de quem prefere morrer de pé e em luta
a viver como escravo pagando pela insônia
em trevas que homiziam quem assim atua
para manter tal estado de coisas na colônia
como jogaram os pretos da senzala nas ruas
é assim que se completam estado e mercado
tendo a manada aqui em baixo para trabalhar
supervaloriza-se em nós a ideia de trabalho
elevado à salvação moral de todos a corroborar
com a superexploração sob a capa de um contrato
o trabalhador e a trabalhadora vivem a piorar