A morte atravessa a história do começo ao fim. Falo com ênfase sobre o óbito da palavra falada. O filme tem poucos diálogos.
O roteiro é construído por uma linha narrativa em que as personagens principais conversam pouco em uma história que diz muito sobre as paixões humanas: amor e ódio, principalmente.
Embora comece pelo ruidoso estampido de uma espingarda, na cena em que o caçador dispara contra um animal, a ausência das vozes humanas é marcante.
Mesmo quando o caçador solitário passa a ter a companhia de uma mulher, a palavra falada é escassa, substituída na construção do filme pelos olhares e expressões faciais das personagens e todo o contexto daquela existência no isolamento.
O silêncio no filme dirigido por Samu Fuentes é preenchido com as paisagens sonoras da natureza: a agitação dos ventos no farfalhar das árvores, a maciez do barulhinho bom dos córregos deslizando na montanha, as cascatas, os assovios das frentes frias na nevasca, as onomatopeias dos animais….
Na solidão, o caçador ouve e fala com os sons da natureza. Os deuses primitivos se manifestam em paisagens sonoras para dialogar com as entranhas dos instintos animais do homem rude, brutalizado pela cultura patriarcal.
Tem muita coisa interessante para ver no filme “Sob a pele do lobo”.
Uma delas: quebrar certas impressões equivocadas sobre o bucolismo da vida no campo. Cada dia é uma guerra pela sobrevivência com trabalho incessante: caçar em um ambiente inóspito, tratar as peles dos animais para a venda, subir e descer a montanha para, cuidar dos animais, plantar, rachar lenha…
O resto, só você mesmo vendo para conferir, ou discordar. Filme disponível na Netflix.
Imagem capturada nesse site