A primeira emissora comunitária de São Luís completou 27 anos de existência entrando em uma nova era tecnológica. O antigo estúdio foi totalmente reformado, ganhando nova alvenaria, pintura, carpintaria e vestimenta, além dos equipamentos profissionais de alta qualidade adequados à transformação na identidade visual da emissora.
A cerimônia de inauguração foi realizada dia 10 de abril, pela manhã, com transmissão ao vivo, registrando um dos momentos mais importantes na história da emissora. O ato solene teve a participação de toda a equipe de radialistas e técnicos(as), colaboradores(as), parceiros(as), amigos(as) e simpatizantes da Bacanga FM 106,3 Mhz.


Todas essas mudanças foram possíveis graças a uma parceria entre a Vale, a empresa Piatec Construções e os cursos de Arquitetura e Design da Universidade Ceuma.
Para a Analista de Relações com a Comunidade da Vale, Elida Brandão, a reforma da rádio é um momento histórico proporcionado através do Programa Partilhar, que deixa a sua contribuição a partir do que a comunidade define e a rádio Bacanga foi contemplada por tudo que ela representa ao longo da sua existência. “A reforma proporcionou um espaço mais adequado às necessidades da equipe da rádio, dos colaboradores e da comunidade que usufrui desse importante meio de comunicação”, sinalizou Brandão.
Atuando na Gestão de Contratos da Piatec Construções, Michaelly Santos explica que a empresa trabalhou junto ao Programa Partilhar desenvolvido pela Vale. “Fomos convidados pela mineradora e quando nós conhecemos a história da rádio ficamos sensibilizados e fizemos a doação dos recursos que possibilitaram a reforma da rádio. Acompanhamos todo o processo e estivemos presentes para ajudar na execução”, detalhou.
Já a nova concepção da identidade visual da Bacanga FM e todas as adequações do interior da emissora foram resultado de mais duas parcerias envolvendo os cursos de Arquitetura e Design da Universidade Ceuma. “Fizemos um levantamento e descobrimos a importância da rádio, montamos uma equipe com apoio da expertise de estudantes, desenvolvemos o painel semântico e a identidade visual no contexto do projeto arquitetônico”, enumerou o professor de Arquitetura José Henrique Lopes Góes.

Segundo o professor de Design e mestre em Engenharia de Materiais, Helton Bezerra, do Instituto Fibo Inovação Tecnológica, os interiores, a marca renovada e todo o conjunto da obra representam uma transformação na realidade da rádio Bacanga FM.
Do alto-falante à FM
O coordenador geral da Bacanga FM, radialista Luis Augusto Nascimento, interpreta as novas instalações como a realização de um sonho, mas sobretudo uma conquista merecida pela história de luta e resistência da emissora.


“Tudo começou em 1988. Mediante o apoio dos padres combonianos, nós implantamos um sistema de som de alto-falante, a Rádio Popular, na igreja Nossa Senhora da Penha, que foi marcante aqui no bairro do Anjo da Guarda durante 10 anos, até 1998, quando decidimos criar a FM Bacanga”, explicou.
A rádio completou 27 anos transmitindo em FM. Ao longo desse tempo enfrentou a repressão da Polícia Federal, Polícia Militar e da Anatel durante o processo de legalização, além da queda da torre e de muitas dificuldades financeiras para sustentar o sonho da comunicação. “Nós agradecemos os parceiros atuais, a Vale, a Piatec, o Ceuma e toda a equipe da emissora, gente que veio desde o tempo do alto-falante e alguns já partiram e outros chegaram. E agradecemos muito mesmo a comunidade que sempre esteve conosco em todos os momentos bons e ruins”, celebrou Nascimento.

O presidente da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no Maranhão, jornalista e professor da UFMA Ed Wilson Araújo, participou da cerimônia lembrando que a história da rádio está registrada no livro e no podcast “Vozes do Anjo: do alto-falante à Bacanga FM”, fruto de uma pesquisa dos então estudantes do curso de Rádio e TV da UFMA Saylon Sousa, Rodrigo Anchieta, Rodrigo Mendonça e Robson Silva, em 2021.
“Nós tínhamos uma dívida acadêmica e foi paga, qual seja, escrever e registrar em áudio (podcast) um dos capítulos mais emblemáticos da comunicação comunitária e popular do Brasil. O livro Vozes do Anjo condensa uma grande parte da história do Anjo da Guarda e de todo o território Itaqui-Bacanga”, enfatizou o professor, que coordenou o livro.

A cerimônia de inauguração das novas instalações foi prestigiada também pelo titular da Secretaria de RepresentaçãoInstitucional no Distrito Federal (SefiDF) do Governo do Marnahão, Washington Oliveira, um dos apoiadores do movimento de rádios comunitárias desde a década de 1990, quando presidia o Sindicato dos Servidores Públicos Federais (Sindsep). “Essa luta pela democratização da comunicação sempre foi um compromisso nosso e viemos aqui parabenizar a rádio Bacanga por essa conquista em nova fase tecnológica”, registrou Oliveira.

Na oportunidade, o secretário foi cobrado para dar apoio à luta da Abraço Maranhão e da Abraço Brasil para mudar a regulamentação da lei que disciplina o serviço de rádios comunitárias e proíbe as emissoras de receber recursos públicos provenientes de campanhas educativas dos governos municipais, estaduais e federais.
A mudança na lei é uma antiga reivindicação das entidades que organizam as rádios comunitárias. Em maio, a Abraço Brasil vai realizar uma nova plenária, em Brasília, com o objetivo de pressionar os parlamentares e o governo a modificarem a legislação, permitindo o acesso de recursos públicos pelas emissoras.