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A terra redonda na Macondo de Gabriel García Márquez

Relendo “Cem anos de solidão”, eis que numa passagem da obra fui remetido ao cenário contemporâneo do terraplanismo e de outras derivações do obscurantismo.

O trecho abaixo é o desdobramento de várias visitas do cigano Melquíades a Macondo, a cidade imaginária de Gabriel García Marquéz.

Melquíades já havia impressionado a vila com a apresentação do gelo e do imã. As constantes visitas do cigano eram sempre apreciadas por José Arcádio Buendía, até que um dia…

Finalmente, numa terça-feira de dezembro, na hora do almoço, soltou de um golpe só toda a carga de seu tormento. As crianças haveriam de recordar pelo resto de sua vida a augusta solenidade com que seu pai sentou-se à cabeceira da mesa, tremendo de febre, devastado pela prolongada vigília e pela ferida aberta de sua imaginação, e revelou a elas sua descoberta:

– A terra é redonda feito uma laranja.

Úrsula perdeu a paciência. “Se é para ficar louco, pois que fique você sozinho”, gritou. “Não trate de pregar nas crianças suas ideias de cigano.” José Arcádio Buendía, impassível, não se deixou amedrontar pelo desespero da mulher, que numa explosão de cólera estraçalhou o astrolábio no chão. Construiu outro, reuniu no quartinho os homens da aldeia e demonstrou a eles , com teorias que para todos eram incompreensíveis, a possibilidade de regressar ao ponto de partida navegando sempre rumo ao Oriente. A aldeia inteira estava convencida de que José Arcádio Buendía havia perdido o juízo, quando Melquíades chegou para pôr as coisas em ordem. Ele exaltou em público a inteligência daquele homem que através de pura especulação astronômica havia construído uma teoria já comprovada na prática, embora até então desconhecida em Macondo, e como prova de sua admiração deu a ele um presente que haveria de exercer uma influência decisiva no futuro da aldeia: um laboratório de alquimia.

Fonte: Cem anos de solidão (p. 10 – 11). Editora Record, 2015

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Literatura para ouvir: a encantaria de “Remédios, a Bela”

Das entranhas do clássico “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez, a personagem Remédios, a Bela é apresentada em três narrativas na voz do poeta Celso Borges.

No primeiro áudio o trecho do livro discorre sobre a beleza deslumbrante de Remédios, a Bela, a ponto de levar os homens à igreja com o único propósito de ver o rosto dela, que fora proclamada rainha.

Em seguida a narrativa avança sobre a repulsa da personagem diante dos ditames da moda. Enquanto as mulheres “normais” se preocupavam com vestidos e espartilhos, Remédios, a Bela costurou uma batina de estopa “sem abandonar a impressão de estar nua”.

Deixo para a sua audição o detalhe sobre os cabelos da personagem e o seu perfume natural…

A terceira gravação acompanha a evolução de Remédios, a Bela para outra dimensão da realidade, quando ela em carne e osso passa por uma transmutação.

Essa é a segunda série de gravações da obra “Cem anos de solidão” na voz do poeta Celso Borges. Ouça a primeira no link abaixo.

Celso Borges na companhia de García Márquez

Imagem destacada / capa do livro Cem anos de solidão capturada neste site

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Literatura para ouvir: fragmentos de García Márquez em áudio

Tudo começou quando o poeta Celso Borges postou em uma rede social que começaria a reler “Cem anos de solidão”, obra clássica do escritor colombiano Gabriel García Márquez.

Eu também queria revisitar a obra, mas estava impedido pela pandemia de buscar meu livro na antiga casa da minha família, no bairro Apeadouro, guardado em alguma caixa ou armário que eu demoraria a encontrar.

Ainda sou do tipo fissurado em livro de papel e não tenho o hábito de ler grandes obras literárias em pdf nos dispositivos móveis.

Então pedi a Celso que gravasse alguns trechos em áudio e enviasse por WhatsApp. Aos poucos ele está me abastecendo com passagens de um livro marcante para toda a minha vida.

Nas três gravações já enviadas você pode ouvir um trecho descritivo sobre Macondo, a morte do coronel Aureliano Buendía e a reação irada de Aureliano Segundo.

Ando ansioso para o poeta enviar algum trecho da personagem “Remédios, a Bela”

Já que não me interessei em fazer o download do livro de Márquez, fiz o upload dos fragmentos da obra enviados por áudio para a minha nuvem no Soundcloud. Obrigado, Celso.

A pandemia tem dessas coisas. Nós estamos isolados, mas não solitários. Viva a solidariedade.